Nota do Blog: O texto abaixo é bem esclarecedor e
dá uma boa dimensão da manipulação produzida pela propaganda estadunidense
contra a Coreia do Norte e, sobretudo, porque nos lembra (ou nos inicia a) os
estarrecedores e macabros crimes de guerra contra o povo norte coreano pelos
EUA na guerra da Coreia (1950/53), onde 3 milhões e quinhentos
mil cidadãos norte coreanos foram assassinadas.
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A partir de 4 de
abril, uma força-tarefa com sede nos EUA contra a implantação THAAD vai lançar
sua turnê nacional de fala sobre a luta do povo sul-coreano contraanti-mísseis THAAD. A turnê de oratória incluirá o
Reverendo Sounghey Kim, Co-presidente do Comitê de Luta de Seongju para Parar a
Implantação de THAAD na Coréia do Sul.
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por Christopher Black [*]
Em 2003,
com alguns advogados americanos, membros da Associação Nacional de Advogados,
tive a oportunidade de viajar na Coreia do Norte, isto é, na República Popular
Democrática da Coreia (RPDC), a fim de ter uma experiência em primeira mão
desse país, do seu governo socialista e do seu povo.
Publicado
no nosso retorno, este artigo foi intitulado "O grande embuste
revelado". O título foi escolhido porque descobrimos que o mito pejorativo
da propaganda ocidental sobre a Coreia do Norte é um enorme embuste concebido
para esconder as realizações dos norte-coreanos, que conseguiram criar suas
próprias condições de desenvolvimento, o seu próprio sistema socioeconómico
independente, baseado nos princípios do socialismo, livre do domínio das
potências ocidentais.
Durante
um dos nossos primeiros jantares em Pyongyang, o nosso anfitrião, Ri Myong Kuk,
um advogado, disse em termos apaixonados, em nome do governo, que a força de
dissuasão nuclear da RPDC é necessária dadas as ações e ameaças dos EUA e
aliados contra o seu país. Ele disse-o, e foi-me repetido mais tarde durante a
minha viagem, numa reunião de alto nível com representantes do governo da RPDC,
que se os americanos assinassem um tratado de paz e um acordo de não-agressão
com a RPDC, isso tornaria a ocupação ilegítima e levaria à reunificação da Coreia.
Assim, não haveria mais necessidade de armas nucleares. Com sinceridade disse:
"é importante que os advogados se reúnam para falar sobre isto, porque os
advogados regulam as interações sociais no seio da sociedade e do mundo" e
acrescentou que de boa-fé, "o caminho para a paz requer a abertura do
coração".
Pareceu-nos
então, e é agora evidente, que, em absoluta contradição com o que dizem os
meios de comunicação ocidentais, o povo da RPDC quer paz mais do que qualquer
outra coisa. Ele quer continuar com as suas vidas e ocupações sem a ameaça
constante de ser exterminado pelas armas atómicas dos EUA. Mas, na verdade, por
que são ameaçados de serem exterminados e de quem é a culpa? Não é a sua.
Mostraram-nos
documentos dos EUA apreendidos durante a guerra da Coreia. Trata-se de provas
irrefutáveis que os EUA tinham planeado atacar a Coreia do Norte em 1950. O
ataque foi realizado pelas forças armadas dos EUA e da Coreia do Sul, ajudadas
por oficiais do exército japonês, que tinham invadido e ocupado Coreia
anteriormente durante décadas. Os EUA pretenderam então que a defesa e o contra
ataque eram uma "agressão", os media foram manipulados para
incentivar as Nações Unidas a apoiar uma "operação policial",
eufemismo escolhido para descrever a sua guerra de agressão contra a Coreia do
Norte. Isso resultou em três anos de guerra e 3,5 milhões de vítimas coreanas.
Desde então, os EUA ameaçam de guerra iminente e aniquilação.
Em 1950,
uma vez que a Rússia não estava presente no Conselho de Segurança, a votação
das Nações Unidas a favor da "operação policial" foi ela própria
ilegal. Ao abrigo dos regulamentos internos, o quórum no Conselho de Segurança
exige a presença de todas as delegações membros. Todos os membros devem estar
presentes, caso contrário não pode se realizar a sessão. Os americanos
aproveitaram a ocasião do boicote dos russos ao Conselho de Segurança,
introduzido para defender a posição da República Popular da China, que deveria
ter lugar à mesa do Conselho de Segurança e não o governo derrotado do
Kuomintang. Como os americanos se recusaram a conceder esse direito, os russos
recusaram sentar-se à mesa até que o governo chinês legítimo o pudesse
fazer.
Os
americanos aproveitaram esta oportunidade para fazer uma espécie de golpe de
estado nas Nações Unidas. Tomando o controlo dos seus mecanismos,
utilizaram-nos para os seus próprios interesses. Organizaram-se com os
britânicos, os franceses e os chineses do Kuomintang, para apoiar a guerra na
Coreia, na ausência dos russos. Os aliados, como os americanos lhes tinham
pedido, votaram a favor da guerra contra a Coreia, mas a votação foi inválida e
a operação da polícia não foi uma operação de manutenção da paz, nem
justificada pelo capítulo VII da carta das Nações Unidas, dado que o artigo 51,
estipula que as nações têm o direito de se defender contra qualquer ataque
armado – justamente o que tinham de fazer os norte coreanos. Mas os EUA nunca
se preocuparam muito com a legalidade. E não se preocuparam em todo o seu
projeto, que era conquistar e ocupar a Coreia do Norte, como um passo para
invadir a Manchúria e a Sibéria e a legalidade não ia impedi-los de prosseguir
esse caminho.
Muitos
ocidentais não têm ideia das destruições infligidas pelos americanos e seus
aliados na Coreia. Pyongyang encontrou-se sob um tapete de bombas, civis
fugindo à carnificina foram metralhados pelos aviões dos EUA em voos rasantes.
O New-York Times escreveu na altura que 17 milhões de toneladas
de napalm foram lançadas apenas durante os 20 primeiros meses da guerra na
Coreia. Os EUA deixaram cair uma tonelagem de bombas mais importante sobre a
Coreia do que sobre o Japão durante a Segunda Guerra Mundial. As forças armadas
dos EUA assassinaram não apenas os membros do partido comunista, mas também as
suas famílias. Em Sinchon, vimos evidências que soldados dos EUA obrigaram 500
civis a colocar-se numa vala, regaram-nos com gasolina e queimaram-nos.
Estivemos num abrigo com paredes ainda enegrecidos com a carne queimada de 900
civis, incluindo mulheres e crianças que procuravam proteger-se durante um
ataque dos EUA. Soldados americanos foram vistos despejar gasolina em aberturas
de ventilação do abrigo e fazê-los morrer carbonizados. Esta é a realidade da
ocupação dos EUA para os coreanos. É a realidade que eles ainda temem e não
querem mais ver repetida. Podemos censurá-los?
Apesar de
todos estes casos, os coreanos estão dispostos a abrir seus corações para seus
antigos inimigos. O major Kim Myong Hwan, que na época era o principal
negociador em Panmunjom, na linha da DMZ, revelou que seu sonho era ser
escritor, poeta, jornalista, mas contou com ar sombrio, como ele e seus cinco
irmãos estavam fazendo rondas na linha da zona desmilitarizada, como os
soldados, por causa do que aconteceu à sua família. Ele disse que sua luta não
era contra os americanos, mas o seu governo. Manteve-se o único de sua família
perdida em Sinchon; seu avô tinha sido pendurado num poste e torturado, a avó
dele morreu com uma baioneta no estômago. "Veja, nós temos de o fazer.
Temos de nos defender. Nós não nos opomos aos norte-americanos. Somos contra a
política dos EUA e os seus esforços para controlar totalmente o mundo e
infligir calamidades aos povos."
A opinião
da nossa delegação foi que devido à instabilidade que mantêm na Ásia, os EUA
conservam uma presença militar maciça que dificulta as relações entre a China e
a Coreia do Sul, a Coreia do Norte e o Japão. Usam sua presença como moeda de
troca contra a China e a Rússia. Com a constante pressão no Japão para eliminar
as bases dos EUA em Okinawa, as operações militares na Coreia e as manobras de
guerra são um aspecto central dos seus esforços visando dominar a região.
A questão
não é saber se a RPDC tem armas nucleares, como tem o direito, mas se os EUA –
que têm capacidades nucleares na península coreana, e que ali instalam
atualmente o seu sistema de defesa antimísseis THADD, um sistema que ameaça a
segurança da Rússia e da China – estão dispostos a trabalhar com a Coreia do
Norte num tratado de paz. Encontrámos norte-coreanos ansiosos pela paz e não
fazendo questão em manter armas nucleares se a paz puder ser estabelecida. Mas
a posição dos EUA continua mais arrogante, agressiva, ameaçadora e perigosa do
que nunca.
Na época
das "mudança de regime'", das "guerras preventivas" e das
tentativas dos EUA para desenvolver armas nucleares miniatura, bem como o seu
abandono e a sua manipulação do direito internacional, não é surpreendente que
a Coreia do Norte, jogue a carta nuclear. Esta escolha foi feita pelos coreanos
do Norte desde que os EUA os ameaçam numa base diária com uma guerra nuclear. A
Rússia e a China, dois países que a lógica dita apoiar os norte-coreanos contra
a agressão norte-americana, juntar-se-ão aos norte-americanos para responsabilizar
os coreanos por se terem armado com a única arma que pode atuar como dissuasor
de um ataque.
A razão
para isto não está clara, uma vez que os russos e os chineses têm armas
nucleares e estão equipados para dissuadir qualquer ataque dos EUA, exatamente
como fez a Coreia do Norte. Algumas declarações dos governos russo e chinês
indicam que eles temem não ter controlo da situação, e que as medidas
defensivas da Coreia do Norte atraiam um ataque dos EUA e de serem também
atacados.
Essa
ansiedade é compreensível. Mas isso levanta a questão de saber por que não
podem apoiar o direito da Coreia do Norte à autodefesa e exercer pressão sobre
os americanos para concluírem um tratado de paz, um acordo de não-agressão e
retirar sua forças armadas e nucleares da Península coreana. Mas a grande
tragédia é a óbvia incapacidade dos norte-americanos em pensarem por si
próprios perante os embustes incessantes e exigir dos seus líderes que sejam
esgotados todos os canais de diálogo e restabelecida a paz antes de encarar uma
agressão na península coreana.
A base
essencial da política da Coreia do Norte é alcançar um pacto de não-agressão e
um Tratado de paz com os EUA. Os norte-coreanos afirmaram repetidamente que não
querem atacar ninguém, nem ferir ninguém, não estão em guerra contra ninguém.
Mas eles viram o que aconteceu com a Jugoslávia, o Afeganistão, o Iraque, a
Líbia, a Síria e inúmeros outros países, e não têm intenção de serem os
próximos. É óbvio que vão defender-se vigorosamente contra qualquer invasão dos
EUA e que a nação poderia suportar uma longa e difícil luta.
Num outro
lugar da zona desmilitarizada, conhecemos um coronel que tinha instalado um par
de binóculos, através do qual conseguimos ver para além da linha divisória
entre o norte e o sul. Podemos ver uma parede de cimento construída no lado do
Sul, em violação dos acordos de tréguas. O major Kim Myong Hwan disse que
aquela estrutura fixa é uma "vergonha para os coreanos que são um povo
homogéneo. Um alto-falante transmitia sem interrupção propaganda e música que
vinha de alto-falantes do lado sul. Ele disse que esse barulho irritante dura
22 horas por dia. De repente, outro momento surreal, os alto-falantes do bunker
começaram a entoar a Abertura Guilherme Tell de Rossini, mais conhecida nos Estados
Unidos como o tema do Lone Ranger .
O coronel
pediu-nos para ajudar as pessoas a entender o que realmente está a acontecer na
Coreia do Norte, em vez de basearem as suas opiniõrs na desinformação. Disse:
"Nós sabemos que, como nós, as pessoas amantes da paz na América têm
crianças, parentes, famílias". Dissemos-lhe que tínhamos a missão de ir
para casa com uma mensagem de paz e esperamos voltar um dia e andar com ele
livremente nestas belas colinas. Fez uma pausa e disse: "Também creio que
é possível".
Assim,
enquanto o povo da Coreia do Norte espera a paz e a segurança os EUA e seu
fantoche no sul da península coreana farão a guerra ocupando-se durante os
próximos três meses nos maiores jogos de guerra até agora organizados, com
porta-aviões, submarinos carregados de armas atómicas e bombardeiros furtivos,
aviões e um grande número de tropas, artilharia e tanques.
A
campanha de propaganda atingiu níveis perigosos nos meios de comunicação, que
acusam o Norte de ter assassinado um parente do líder da Coreia do Norte na
Malásia, ainda que não haja provas e que o Norte não tivesse nenhum motivo para
o fazer. Os únicos a beneficiar do assassinato são os EUA e os seus meios de
comunicação controlados, que usam isso para atiçar a histeria contra Coreia do
Norte, que agora teria armas químicas de destruição em massa.
Sim, meus
amigos, eles pensam que todos nós nascemos ontem e que não aprendemos nada
sobre a natureza do domínio doa EUA e da sua propaganda. Será assim tão
espantoso que os norte-coreanos temam que estes 'jogos' de guerra se
transformem um dia em realidade e que estes "jogos" não sejam senão a
cobertura para um ataque e para criar ao mesmo tempo um clima de terror na população,
coreana?
Haveria
muitas coisas a dizer sobre a natureza real da RPDC, seus habitantes, seu
sistema socioeconómico e sua cultura. Mas não há espaço para isso agora neste
texto. Espero que as pessoas sejam capazes de dar-se conta por si próprias da
experiência do nosso grupo. Termino com o último parágrafo do relatório comum
que fizemos no retorno da RPDC, e espero que as pessoas o compreendam bem,
reflitam e ajam de forma a apelar à paz.
"Aos
povos do mundo tem de ser divulgada a história completa acerca do que se passou
na Coreia e o papel do nosso governo fomentando desequilíbrios e conflitos.
Devem ser tomadas medidas pelos advogados, grupos comunitários e ativistas pela
paz e todos os cidadãos do planeta, para impedir o governo dos EUA de levar a cabo
uma campanha de propaganda visando apoiar a agressão contra a Coreia do Norte.
Os norte-americanos têm sido alvo de um grande embuste. O que está em jogo é
muito importante para nos permitimos ser enganados novamente. Esta delegação de
paz aprendeu na Coreia do Norte, um elemento importante da verdade essencial
nas relações internacionais. É que só com ampla comunicação e negociação,
seguida do respeito pelas promessas e profundo compromisso com a paz, se pode –
literalmente – poupar o mundo a um sombrio futuro nuclear. A experiência e a
verdade nos libertarão da ameaça de guerra. A nossa viagem à Coreia do Norte,
este relatório e nosso projeto atual são esforços para nos
libertarmos".
Ver
também:
· www.zoominkorea.org
[*] Advogado especialista em direito penal internacional, com escritório em Toronto. É conhecido pelos casos de crimes de guerra mediatizados que analisou. Publicou recentemente o romance Beneath the Clouds . Escreve ensaios sobre direito internacional, política e acontecimentos mundiais. A versão em francês encontra-se em www.legrandsoir.info/coree-du-nord-la-grande-tromperie.html e o original em journal-neo.org/2017/03/13/north-korea-the-grand-deception-revealed/ Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
Comitê de solidariedade a luta do povo palestino - RJ, Comitê catarinense de solidariedade ao povo palestino
terça-feira, 11 de abril de 2017
Coreia do Norte: O grande embuste revelado
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