quarta-feira, 24 de abril de 2013

Injeções com substância desconhecida são aplicadas em presos palestinos antes de serem libertados



Segundo o ministro de Assuntos sobre os Prisioneiros, muitos deles morrem após sair da prisão.

(com informações da Maan News Agency)
O jornal russo "Pravda" disse nesta sexta-feira (19) que as autoridades de ocupação israelenses estão injetando em prisioneiros palestinos, ao fim de suas sentenças, injeções contendo vírus perigosos que leva à morte depois de um tempo.
O ministro de Assuntos dos Prisioneiros, Issa Qarage, afirmou em entrevista para a Agência de Notícias Maan que testemunhas revelaram o procedimento de injetar em  prisioneiros substância desconhecida antes de serem libertados.

Qarage disse que não há nenhuma prova oficial sobre este assunto, mas há testemunhos de prisioneiros libertados que relatam o que aconteceu com eles e as complicações de saúde que tiveram após a libertação, afirmando que o serviço  prisional  injetou neles conteúdo desconhecido.

O jornal russo apontou que as injeções contêm  vírus que provocam câncer de próstata e câncer de fígado crônica, agressivos que levam à morte.O ministro ainda acrescentou  que mais de um prisioneiro declarou a injeção desconhecida antes da libertação da prisão, que foram tratados por médicos treinados, e isso é uma prova clara de negligência e descaso intencional pela vida dos prisioneiros palestinos.No mesmo contexto, disse Qaraqe que o governo e o Ministério dos Prisioneiros exigiram da comunidade internacional que sejam criadas comissões de inquérito para averiguar as condições dos prisioneiros em prisões israelenses. Uma organização do tipo foi formada pela União Europeia em 2010, mas a ocupação israelense impediu a entrada desses comitês nas prisões.Qaraqe disse que o prisioneiro  Mohammed Taj, libertado na quinta-feira, e que segue em estado de crítico de saúde, é um exemplo vivo do sofrimento de prisioneiros doentes em cadeias israelenses. Segundo o ministro, o número de presos adoecidos chega a mais de 1.000 prisioneiros, e ele pede a comunidade internacional que pressione Israel para que os presos sejam libertados.Vale lembrar que muitos prisioneiros foram mortos logo após finalizar a sentença e serem libertados.

Brasileiro é preso acusado de atirar pedras em soldados israelenses


O adolescente Majd Hamad, de 15 anos, filho de uma brasileira e que vinha sendo procurando pelo Exército israelense sob acusação de jogar pedras contra as tropas, se entregou neste domingo em uma delegacia de polícia na Cisjordânia.

Acompanhado pela mãe, Najat Hamad, que nasceu em Goiás, e pelo ministro-conselheiro do escritório de Representação do Brasil em Ramallah, João Marcelo Soares, ele chegou pela manhã ao posto policial Binyamin, perto de Ramallah.


Após cerca de uma hora de interrogatório, durante o qual as autoridades não permitiram a presença da mãe ou do diplomata, Majd ficou detido no local e, de lá, deverá ser transferido para a prisão de Ofer.
De acordo com a mãe, "quando saiu do interrogatório, estava muito nervoso e com olhos vermelhos, mas não me deixaram falar com ele".
O adolescente é acusado de jogar pedras contra soldados israelenses durante uma manifestação no dia 11 de abril, nas proximidades do vilarejo de Silwad, onde mora.
Najat Hamad, nascida na cidade de Anápolis, afirma que seu filho não participou da manifestação em questão.
"Naquele dia, eu e meu marido decidimos não deixar Majd sair de casa, pois a situação estava tensa em Silwad, depois que colonos de um assentamento próximo espancaram um agricultor palestino", disse a mãe à BBC Brasil.
Segundo o porta-voz do Exército israelense, capitão Barak Raz, "o Exército não prende ninguém à toa. Se foi preso, é sinal de que há provas contra ele", disse citando a possibilidade de haver vídeos, fotos ou depoimentos envolvendo o nome do adolescente.

Buscas

De acordo com o relato da mãe, soldados israelenses invadiram a casa da familia às 2 horas da manhã do sábado (13).
"A familia inteira estava dormindo quando ouvimos batidas muito fortes na porta", disse a brasileira. "Minha filha de 13 anos foi abrir e se deparou com um grupo de soldados com fuzis apontados para a cabeça dela."
"Eles entraram rapidamente e começaram a revistar a casa. Reuniram a nossa família na sala e começaram a procurar nos quartos", disse a mãe.
"Eu tinha certeza de que eles estavam procurando meu marido e fiquei muito surpresa quando um dos soldados me disse que vieram prender Majd."
"Eu disse a ele que Majd tinha ido dormir na casa de parentes e que ele é muito pequeno, só tem 15 anos", afirmou.
Ao fim da operação de busca, a mãe prometeu aos militares que entregaria seu filho às autoridades israelenses neste domingo.

Fiança

O diplomata brasileiro João Marcelo Soares, que acompanhou a apresentação do adolescente à delegacia, disse à BBC Brasil que "as autoridades israelenses me informaram que os interrogatórios ainda estão em curso e, ao final, haverá uma decisão sobre o pedido de libertação sob fiança".
"Caso o pedido seja negado, amanhã (segunda-feira), os menores serão levados a um tribunal militar, que deverá reconsiderar o pedido", acrescentou.
Majd Hamad foi preso juntamente com mais quatro colegas da mesma classe, todos de 15 ou 16 anos.
Sua mãe, Najat Hamad, que mudou-se para a Cisjordânia há 17 anos, disse que "não esperava que aqui prendessem crianças desse jeito".
"O que são pedras diante das metralhadoras e dos veículos blindados do Exército israelense?", perguntou.
O Exército israelense define o lançamento de pedras como "atentados terroristas que podem matar".

Unicef

Em março, o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) publicou um relatório acusando Israel de violar os direitos de crianças e adolescentes palestinos presos.
O relatório afirma que "menores de idade palestinos detidos por militares israelenses são sujeitos a maus tratos que violam a lei internacional".
De acordo com o Unicef, a cada ano cerca de 700 menores palestinos, entre 12 e 17 anos, são interrogados e detidos pelo Exército, pela polícia e por agentes de segurança de Israel.
Segundo o presidente da Associação dos Prisioneiros Palestinos, Kadura Farez, atualmente há cerca de 200 menores palestinos presos em cadeias israelenses.
Farez disse à BBC Brasil que, nas cadeias israelenses, os menores "têm o mesmo tratamento que os adultos, não há prisões especiais para as crianças".

Israel entrega os pontos: vai libertar Samir Issawi, há oito meses em greve de fome




Baby Siqueira Abrão

Samir Issawi, preso político palestino de 32 anos, franzino, com menos da metade de seu peso habitual depois de aproximadamente oito meses de greve de fome, acorrentado pelos oficiais do Serviço Prisional de Israel (SPI) a uma cama de hospital, venceu, sozinho, o assim chamado “poderoso” governo de Israel. Hoje, 23 de abril, foi anunciado um acordo para libertá-lo, em troca do fim da greve de fome. Pelo acerto entre o Shin Bet, o serviço doméstico de segurança de Israel, e os advogados de Samir, ele será solto em dezembro e se comprometeu a encerrar seu protesto em 24 horas.
Segundo fontes bem-informadas de Israel, o governo sionista temia as manifestações que se seguiriam na Palestina caso Samir viesse a morrer. Seu estado, já muito sério, agravou-se ainda mais nas últimas semanas, quando seu coração passou a registrar apenas 24 batidas por minuto. Isso obrigou os médicos a uma série de procedimentos de emergência para mantê-lo vivo. Mesmo sob risco de morte iminente, Samir não apenas se manteve firme em seu propósito de sair livre da prisão israelense – morto ou vivo – como também ditou a seus advogados cartas que comoveram o mundo, desacostumado de atos baseados em dignidade e coerência de princípios.
Durante meses a greve de fome de Samir preocupou apenas a população palestina. Eventos como o reconhecimento da soberania da Palestina sobre uma pequena parte de seu território original – anterior à Guerra dos Seis Dias, provocada por Israel em 1967 para tomar militarmente a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém oriental, além das colinas de Golã (Síria) e do Sinai (Egito) –, as eleições em Israel, a morte de dois outros presos políticos, por tortura e falta de tratamento de câncer, e a visita de Barack Obama à região dominaram os noticiários por longo tempo. Quando o mundo acordou para o caso Issawi, Samir já estava há quase seis meses em greve de fome.
Atos públicos, abaixo-assinados, pressão sobre governos em várias partes do mundo, além dos protestos de organizações e instituições internacionais de direitos humanos (incluindo ONGs, sindicatos, partidos e movimentos sociais brasileiros, reunidos na Frente de Defesa do Povo Palestino) colocaram o governo de Israel contra um lado da parede. Do outro lado, a população palestina prometia um levante (intifada) caso Samir viesse a se tornar mais uma vítima do sistema prisional israelense – e deu uma demonstração da seriedade de suas intenções quando da morte (ou, como eles preferem, martírio) de Arafat Jaradat, barbaramente torturado pelo Shin Bet na prisão israelense de Meggido. Revoltas estouraram por toda a Cisjordânia, e os braços armados dos partidos palestinos declararam-se prontos para defender a população caso Samir fosse martirizado e Israel continuasse a atacar com violência os palestinos.
E tudo que Israel não quer neste momento, em que outra campanha contra o Irã está em curso, dessa vez com o apoio do governo dos Estados Unidos, é causar problemas locais que desviem a atenção das autoridades do país de sua mais recente obsessão. O primeiro-ministro Benjamin Netanyhau até pediu desculpas à Turquia pelo ataque ao navio de bandeira turca Mávi Mármara em 31 de maio de 2010 – quando a marinha israelense matou 9 pacifistas, oito deles cidadãos turcos – com o objetivo, segundo a rede russa RT TV, de instalar bases militares na Turquia para o suposto ataque ao Irã. Enfim, os sionistas pretendem manter o caminho livre para continuar com o bullying aos iranianos.
Nesse contexto, Samir Issawi tornou-se uma enorme pedra no caminho. Disposto a morrer caso continuasse preso sem acusação formal (e, na verdade, sem motivo), e insistindo o tempo todo que sua causa não era apenas pessoal mas sim de todo o povo palestino, ele deixou sem saída o governo israelense. E a própria Autoridade Nacional Palestina (ANP), que não fez muito esforço por sua libertação. Afinal, Samir pertence à Frente Popular de Libertação da Palestina, partido com o qual o Fatah, dominante na ANP, não mantém relações, digamos, cordiais.
Antes do acordo de hoje, o governo israelense ofereceu a Samir a liberdade em troca do exílio em Gaza. Ele recusou a oferta. Sua prisão, argumentou, era injusta, e a busca de justiça é inegociável. Também declarou-se vitorioso por antecipação: se fosse libertado ou se fosse martirizado. Nos dois casos, não teria cedido a Israel.
Samir foi preso várias vezes ao longo da vida, o que o impediu, por exemplo, de ter estudos regulares e uma família própria. A sentença mais pesada, de 30 anos, ele cumpria há 10 anos quando sua libertação entrou no acordo da soltura do soldado israelense Gilad Shalit, em outubro de 2011. Em junho de 2012 ele voltou a ser preso, sem motivo e depois de receber perdão presidencial, sob “detenção administrativa”, procedimento que Israel utiliza para manter palestinos na cadeia indefinidamente, sem acusação, sem direito a processo e a julgamento (isto é, sem direito a defesa). Em agosto iniciou a greve de fome com outros três companheiros, já libertados.
Israel fez algumas exigências para soltar Samir: ele não deve sair das vizinhanças de Issawiya, a vila de Jerusalém oriental onde mora; deve ficar mais oito meses detido, contados a partir da data do início do acordo (o que somará 18 meses desde o início de sua detenção administrativa); precisa prometer não manter contatos com membros de grupos “terroristas” ou com pessoas que cometam atos “terroristas”. Se Samir violar os termos do acordo ou cometer algum crime que o mantenha mais de três meses na prisão, o restante de sua sentença anterior, suspensa em outubro de 2011, será reativada.
Como palavra de sionista sempre volta atrás, Samir exige um acordo por escrito para pôr fim à greve de fome. Caso não seja atendido, promete parar de tomar líquidos, o que o levará rapidamente à morte. De todo modo, sabe-se que o governo israelense não prima pelo respeito nem mesmo aos acordos que assina – e a violenta ocupação da Palestina está aí para provar o fato. Além disso, nada garante que o Shin Bet não monte algum esquema para culpar Samir do que ele não fará. Trata-se, enfim, do tipo de “liberdade” que as autoridades israelenses “permitem” aos palestinos: aquela que mantém uma espécie de espada de Dâmocles sobre suas cabeças.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

MOBILIZAÇÃO EM DEFESA DA VENEZUELA


Ato de solidariedade à Venezuela e em apoio à posse de Nicolás Maduro no Rio de Janeiro

 Nesta sexta-feira, dia 11 horas, na Candelária:



Atividade em apoio à Revolução Bolivariana, à legitimidade das eleições presidenciais e à posse de Nicolás Maduro como novo presidente da Venezuela.

Repúdio à tentativa da direita golpista de solapar o processo revolucionário venezuelano!
Convocam este ato: Brigadas Populares, PCR, PCB, Casa da América Latina, FAFERJ, FIST, MTST-RJ, Movimento Popular de Favelas, UJC, entre outras entidades e organizações.

Acompanhe as notícias da Venezuela: www.resumenlatinoamericano.org

EU APOIO A LUTA POR LIBERDADE DOS PRISIONEIROS POLÍTICOS PALESTINOS , NOS CÁRCERES SIONISTAS


Em homenagem ao Dia dos Prisioneiros Palestinos, a Addameer reforça que agora é o momento de manter a responsabilidade da ocupação por crimes contra os presos e detidos, e lança uma campanha mundial contra a detenção administrativa.



Ocupado Ramallah, 17 de abril de 2013

No Dia dos Prisioneiros Palestinos, a Addameer reafirma seu compromisso de luta pela liberdade dos prisioneiros e detidos palestinos nas prisões da ocupação. A Addameer reafirma que a causa dos presos é a causa do povo palestino como um todo, e que sua luta é fundamental para a libertação da terra palestina e o retorno de seu povo a terra que lhe pertence. A luta representa a primeira linha de paz e justiça.

Desde a ocupação da Cisjordânia e de Gaza em 1967, houve mais de 750 mil detenções de palestinos, número que representa 20% da população palestina dos territórios ocupados (incluindo os territórios de 1948, Gaza e Cisjordânia), 40% da população masculina e 10.000 mulheres.

Desde a Segunda Intifada, que se deu em setembro de 2000, as forças de ocupação prenderam 78.000 palestinos, entre eles 950 mulheres, mais de 9.000 crianças e mais de 50 ministros e membros do Conselho Legislativo Palestino (CLP). Desde 1967, as forças de ocupação emitiram mais de 50 mil ordens de detenção administrativa (ambos novos pedidos e renovações), 23 mil deles emitidos depois de Setembro de 2000.

De acordo com novos dados divulgados em abril de 2013, as forças de ocupação detiveram 4.900 palestinos, incluindo 14 mulheres, 236 crianças e 168 detidos administrativos, incluindo oito membros do CLP. Estes números incluem 183 civis de Jerusalém, 190 palestinos dos territórios de 48 e 433 da Faixa de Gaza. Cerca de 530 deles têm sentenças de prisão perpétua e mais de 77 seguem encarcerados há mais de 20 anos. Vinte e cinco desses prisioneiros passaram mais de 25 anos na prisão e 105 foram presos antes do acordo de Acordos de Oslo, em setembro de 1993.

Como resultado de procedimentos de tortura, negligência médica deliberada, assassinato ou espancamento 204 palestinos foram mortos nas prisões da ocupação. Desde 1 º de janeiro de 2011, cinco presos foram mortos em prisões israelenses. A data de 1º de janeiro de 2011 coincide com a assinatura de um acordo entre o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e o Serviço Prisional de Israel (IPS, em inglês) para reduzir a prestação de serviços médicos por parte do CICV aos prisioneiros doentes, bem como para diminuir as contribuições financeiras do CICV aos médicos, permitindo assim que os IPS comande as tarefas, fornecendo o tratamento aos presos e detidos sob custódia israelense.

Dados de organizações que trabalham em defesa de prisioneiros palestinos indicam que mais de mil presos e detidos sofrem com várias doenças. Entre eles estão 16 presos que residem na Clínica da Prisão Ramleh permanentemente. Atualmente, 85 presos sofrem deficiências variadas, 170 prisioneiros necessitam de cirurgia urgente e 25 prisioneiros sofrem de câncer.

Hoje, a luta continua enquanto quatro prisioneiros palestinos em greve de fome assumem graves riscos de saúde. Especialmente em risco, segue em greve de fome o prisioneiro Samer Issawi, que está em greve há mais de 262 dias, em protesto contra a nova detenção nos termos do artigo 186 da Ordem Militar 1651. Junto com ele está Ayman Abu Daoud, que anunciou sua greve de fome em 14 de abril de 2013; ele foi preso novamente depois de ganhar sua liberdade na última troca de prisioneiros. Continuando sua greve de fome segue também Younis Huroub, que está protestando contra a política de ocupação de detenção administrativa, bem como detento Samer Al-Barq, que começou a sua terceira greve de fome em protesto contra sua detenção administrativa continuada. Todas as suas vidas estão em perigo.

Estes fatos levam-nos a concluir que as políticas de detenção da Ocupação – especialmente a detenção administrativa - representam uma das muitas formas de punição coletiva contínua e sistemática praticada pela ocupação, bem como algumas das flagrantes violações da 4 ª Convenção de Genebra. Essas violações constituem crimes de guerra e crimes contra a humanidade, de acordo com o Estatuto de Roma, que fundou o Tribunal Penal Internacional.

A prisão, portanto, é uma das muitas políticas da ocupação, que tem como objetivo a limpeza étnica dos palestinos, a supressão da sua identidade cultural e a violação dos seus direitos políticos, todos com o intuito principal de remover os palestinos da história de uma vez por todas.

A Addameer acredita que o compromisso político resultante dos Acordos de Oslo, em 1993, em vez de acabar com a ocupação, consolidou ainda mais o Estado ocupante, que agora governa a Cisjordânia, com base em1,7000 ordens militares que controlam todos os aspectos da vida dos palestinos. Os Acordos de Oslo assegura, dessa forma, que os palestinos vivam sob imposições israelenses, sem a possibilidade ou suficiência para que exista um governo próprio, independente, e não conseguiu garantir a libertação dos prisioneiros palestinos das prisões da Ocupação. Mais importante ainda, o Acordo de Oslo renunciou ao palestino o direito de considerar o estado da ocupação responsável pelos crimes que cometeu.

Addameer acredita que agora é o momento certo para mudar de rumo, terminando este período de aquiescência e submissão. É hora de parar de usar a questão dos prisioneiros como uma motivação para voltar à mesa de negociação, a mover-se após a prestação de assistência jurídica aos presos e detidos e trazer novamente à tona o direito dos prisioneiros serem libertados imediatamente. É hora de posicionar a ocupação como responsável no Tribunal Penal Internacional e em países que respeitam a jurisdição da lei internacional. Estes esforços devem ocorrer em conjunto com um trabalho sério em boicote, desinvestimento e sanções contra o Estado ocupante. Finalmente, é hora de um boicote dos tribunais militares da Ocupação, audiências sobre detenções e, especialmente, as administrativas.


A Addameer apela a organizações palestinas de direitos legais e humanos para:

* Boicotar os tribunais militares, as audiências sobre detenção, especialmente administrativas.

* Intensificar os esforços conjuntos para promover ação legal internacional contra o estado de ocupação, utilizando os mecanismos previstos pela Organização das Nações Unidas e as comissões de direitos humanos.

* Melhorar os esforços conjuntos para expor os crimes das forças especiais israelenses nas sessões do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas e as Comissões de Revisão Periódica Universal.

* Envolver-se em esforços de advocacia para o boicote e desinvestimento do estado de ocupação, tanto dentro da Palestina como internacionalmente.

* Estabelecer um banco de dados eletrônico com imagens, vídeos e materiais escritos destacando depoimentos de vítimas de tortura entre os prisioneiros e detidos palestinos.


A Addameer faz as seguintes recomendações para as organizações internacionais:

* Addameer apela ao secretário-geral Ban Ki-moon da ONU a trabalhar seriamente para forçar o estado de ocupação a respeitar os seus compromissos com base na sua participação nas Nações Unidas e sua adesão à 4 ª Convenção de Genebra, bem como a sua ratificação das convenções de direitos humanos. Addameer apela a Ban Ki Moon para assegurar a aplicação destes acordos em território palestino ocupado, especialmente nos casos de palestinos detidos e presos. Apela também a Ban Ki Moon para trabalhar seriamente pela libertação de todos os presos administrativos, crianças, doentes, prisioneiros e membros do Conselho Legislativo Palestino atualmente sob custódia israelense.

* Addameer insta a Comissão de Direitos Humanos da ONU para forçar o estado de ocupação a permitir o acesso internacional e comissões de investigação para as prisões, para se averiguar as condições enfrentadas pelos prisioneiros. Addameer pede ao Conselho de Direitos Humanos da ONU que iniciem uma investigação séria sobre as denúncias de detidos e prisioneiros palestinos, especialmente aqueles relacionados aos crimes cometidos pelas forças especiais dos IPS.

* Addameer insta a Comissão Internacional da Cruz Vermelha para levar a cabo sua missão de proteger os detentos, de acordo com o seu mandato internacional para garantir o tratamento humano dos prisioneiros e detidos em conformidade com o direito internacional humanitário.

Neste Dia dos Prisioneiros, a Addameer relança a campanha contra a detenção administrativa internacionalmente, divulgando a causa em mais de 70 países. A campanha inclui manifestações e ações em várias cidades em todo o mundo. Addameer preparou fichas e relatórios legais detalhados em mais de 12 idiomas para ajudar na divulgação de informações sobre a prática prisional da Ocupação e da detenção administrativa.

Em homenagem ao Dia dos Prisioneiros Palestinos, dizemos ao nosso povo e aos nossos prisioneiros assim como nosso colega Ayman Nasser, que foi detido em 15 de outubro de 2012, disse uma vez:

"Eu apoio os prisioneiros, mesmo que isso custe a minha liberdade."

quarta-feira, 17 de abril de 2013

CAMPANHA PELO FIM DAS PRISÕES ADMINISTRATIVAS NA PALESTINA


Detenções israelenses e práticas de encarceramentoDesde o início da ocupação sraelense nos territórios palestinos, em 1967, mais de 750.000 palestinos foram detidos pelo exército israelense. Este número representa aproximadamente 40% do total dos homens no território palestino ocupado.

Prisão administrativaPrisão Administrativa é uma prática utilizada por Israel para deter palestinos sobre ordens de detenção que variam de um a seis meses, renováveis indefinidamente. As ordens de detenção são baseadas em informações secretas que nem o detento ou seu advogado tem acesso. A prisão administrativa é frequentemente usada quando não existem provas suficientes para submeter palestinos sob qualquer uma das ordens militares que Israel usa nos territórios da Cisjordânia.

Prisão administrativa indefinidaPrisão administrativa indefinida viola o direito internacional, que estipula que a detenção administrativa - detenção, ordenada pelo executivo, e não por ordens judiciais - só pode ocorrer em situações de emergência, caso em que haja ameaças reais e imediatas para a segurança do Estado, as quais não podem, por definição, ser indefinidas. O palestino detido por mais tempo sob prisão administrativa, Mazen Natsheh, passou cumulativamente quase 10 anos e meio em prisão administrativa, desde 1994.

Prisão administrativa em númerosO uso da detenção administrativa na Palestina tem aumentado desde o início da Segunda Intifada, em 2000. Pouco antes do início da Intifada, Israel mantinha em detenção administrativa 12 palestinos. No início de março de 2003, mais de mil palestinos estavam sendo mantidos neste tipo de prisão. Entre 2007 e 2011, 8.157 ordens de detenção administrativa foram emitidas por Israel. Em fevereiro de 2013, havia 178 palestinos detidos administrativamente sob custódia israelense, em prisão administrativa, incluindo nove membros do Conselho Legislativo Palestino.

Detenção Administrativa & interrupção do processo democrático palestino:

A prisão administrativa também foi usada por Israel como forma de atingir candidatos palestinos eleitos democraticamente, especialmente aqueles do “Bloco de Mudança e Reforma”, que é considerado pró- Hamas, mas inclui membros independentes e não-muçulmanos. Até 2009, quase um terço dos membros do PLC estavam sendo detidos pelos israelenses. Desde 2005, 20 membros do PLC foram detidos em prisão administrativa, dos quais seis foram submetidos a essa forma de detenção mais de uma vez. Todos os partidos políticos palestinos são considerados ilegais sob a lei militar israelense, tornando qualquer palestino ativo politicamente vulnerável a prisão.

III - Tratamentodetentos administrativos enfrentam várias formas de maus-tratos, incluindo

negligência médica, péssimas condições de aprisionamento, acesso limitado a advogado e visita familiar, e tortura.

Visitas Familiaresdetentos administrativos recebem normalmente poucas, se alguma, visitas

familiares. As visitas são negadas às famílias, em geral, por ambíguas razões de “segurança". A visitação torna-se é ainda mais difícil em virtude do fato de que Israel mantém seus detidos em prisões e centros de detenção que se localizam dentro dos territórios de 1948 em contravenção ao artigo 76 da IV Convenção de Genebra, que proíbe a transferência de prisioneiros de territórios ocupados. Isso, conjuntamente ao sistema de permissões restritivo utilizado por Israel para controlar o movimento de palestinos, significa que muitas famílias não podem visitar seus familiares em prisão administrativa.

TorturaAs confissões obtidas sob tortura são admissíveis nos julgamentos militares israelenses e seus tribunais. Desde 1967, 72 presos morreram sob custódia como resultado de tortura. Sob a lei militar israelense, os detentos podem ser interrogados por até 60 dias sem acesso a um advogado, impedindo controles adequados dos métodos de interrogatório. Isto representa uma violação do direito internacional.

Aparato legalPrisão administrativa, originalmente baseada nas Regulações (1945) de Defesa

(emergência) do Mandato Britânico, está autorizada tanto no direito interno de Israel, que é aplicado aos cidadãos israelenses que vivem em territórios de 1948 e para os 500 mil colonos ilegais que vivem na Cisjordânia, quanto na lei militar israelense, aplicada aos palestinos que vivem na Cisjordânia. Na prática, porém, a forma de prisão administrativa no direito interno de Israel é quase exclusivamente aplicado a palestinos que têm cidadania israelense, os quais são cerca de 20% da população de Israel e enfrentam discriminação sistemática sob a lei israelense.

Cumplicidade corporativaMuitos dos centros de detenção e prisões onde os detentos são mantidos sob prisão administrativa utilizam os serviços da G4S, a maior empresa de segurança do mundo. A sociedade civil palestina pediu à comunidade internacional para boicotar, desinvestir e sancionar a G4S, como parte do movimento de BDS, a fim de responsabilizar a empresa pela sua participação em violações dos direitos humanos e do direito internacional.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

DEBATE NA ABI DIA 16 - TERÇA FEIRA - 18: 30 : SOBRE FILME PALESTINO "5 CÂMARAS QUEBRADAS"




Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI vai promove no nesta dia 16, 3.ª feira, às 18h30, a exibição do filme “5 Câmaras Quebradas”, de Emad Burnat e Guy Davidi,
seguida de debate com a participação do cineasta Silvio Tendler
da jornalista Baby Siqueira Abraão, correspondente do jornalBrasil de Fato na Cisjordânia; do jornalista Mario Augusto Jakobskind, Presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos;
e do cartunista Carlos Latuff.

O filme conta a história de  Emad Burnat, um agricultor palestino que vive em Bil’in, na Cisjordânia, comprou uma câmera em 2005 para acompanhar o crescimento de seu filho Gibreel. Na mesma época o exército israelense iniciou a construção de um muro entre Bil’in e um assentamento de colonos judeus.
As gravações, de caráter familiar, documentam os protestos dos moradores da região palestina contra o bloqueio, originando o documentário, que levou cinco anos para ficar pronto, usou recursos mínimos e equipamento amador. Burnat teve suas câmeras quebradas cinco vezes por soldados israelenses. Uma delas salvou a vida dele. O tiro entrou pela lente quando ele estava rodando. A bala continua dentro da câmera.
Vizinhos mortos, protestos contra as forças israelenses e imagens de máquinas de demolição fazem parte do cenário da produção, que conquistou o prêmio de melhor direção no Festival de Sundance em 2012, e foi indicado ao Oscar 2013 na categoria Documentário.
Ao chegar a Los Angeles, nos EUA, para participar da cerimônia do Oscar, Burnat foi detido por cerca de 40 minutos na imigração. Os oficiais exigiram que ele comprovasse sua candidatura à premiação.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A VANGUARDA CARIOCA EM MANIFESTAÇÃO CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DO MARACANÃ , AS REMOÇÕES E A FEIRA DA MORTE


ABAIXO A FRENTE DO PANFLETO QUE A COMITÊ SE SOLIDARIEDADE À LUTA DO POVO PALESTINO DO RIO DE JANEIRO distribuiu, ONTEM, 11/04, durante a manifestação contra a privatização do Complexo Maracanã e a Feira da Morte, no Rio de Janeiro, mantendo, assim, sua tradição, de mais de 20 anos, de atuar em unidade com os Movimentos Populares, Sindicais, Estudantis e Partidos de Esquerda na luta em defesa do povo palestino e demais povos oprimidos pelo sionismo. Lamentamos que um setor tenha rompido esta unidade, atuando de forma isolada na denúncia contra a ”Feira Da Morte”. Fazemos um chamado a todos aqueles que estão nas trincheiras da solidariedade internacionalista  com o povo árabe, tão violentamente agredido pelo imperialismo sionista  a serrar fileiras para garantir essa unidade!




quinta-feira, 11 de abril de 2013

Presidente Bashar al-Assad, da Síria: “Estamos cercados por países que estimulam o terrorismo”


5/4/2013, ENTREVISTA DO PRESIDENTE DA SÍRIA, BASHAR AL-ASSAD À REDE ULUSAL KANAL, TURQUIA. EXTRAÍDA DO INFORMATION CLEARING HOUSE

Full Interview of Pres. Assad with Turkish Media: “Syria’s Breakup Will Cause Mideast to Blow Up” (38')

Vídeo e entrevista traduzida (do inglês) pelo pessoal da Vila Vudu


Ulusal Kanal (1): Senhor presidente, obrigado por nos receber. Minha primeira pergunta pode soar um pouco estranha, mas tenho de perguntar. O senhor pode confirmar, por favor, que está vivo e não deixou a Síria?

Bashar al-Assad, presidente da Síria: Em primeiro lugar, meus votos de boas vindas à Síria, a você e sua equipe. É um prazer para mim falar com vocês hoje. E, através de vocês, também com o povo da Turquia. Você pode ver que estou aqui, plenamente em campo. Não estou escondido num subterrâneo, como chegaram a dizer. São mentiras que se divulgam, de tempos em tempos, para abater o moral do povo sírio, que eu estaria vivendo no Irã, ou num navio de guerra. Vocês podem ver que estou aqui, na Síria, é claro.

Ulusal Kanal (2)Como o senhor sabe, em recente reunião da Liga Árabe, a cadeira que cabe à representação da Síria foi dada à oposição, o que abriu uma discussão sobre a sua legitimidade. Significará que a Liga Árabe retirou sua legitimidade, ao admitir o voto da oposição e pelo fato de que o senhor já não tem representação na Liga Árabe?

Presidente Bashar al-Assad: Falando bem francamente, a Liga Árabe, essa sim, não tem qualquer legitimidade. É organização que representa estados árabes, não os povos árabes. E não tem qualquer legitimidade já há muitos anos, pelo fato evidente de que os estados lá representados não manifestam a vontade do povo daqueles estados. Mesmo quando a Síria ainda participava da Liga Árabe, já sabíamos disso. Portanto, a Liga Árabe absolutamente não está em posição de “dar” ou “retirar” legitimidade a seja quem for ou a seja que país for.

Além disso, o movimento que se viu na Liga Árabe não passou de jogo de cena, um movimento apenas simbólico, para gerar uma ilusão de legitimidade. Nenhuma legitimidade brota de participar ou não participar de organizações políticas, internacionais ou quaisquer outras, nem nasce por doação de alguma nação estrangeira. Na Síria, só o povo sírio é fonte de legitimidade. E só isso nos interessa. O resto não nos diz respeito, nem nos interessa.

Ulusal Kanal (1): Há medidas, decisões, ações empreendidas contra seu país por alguns países árabes e também por países ocidentais. Por outro lado, os países BRICSs, que são observadores da situação síria, tomaram decisões diferentes das que foram tomadas pelos países árabes e outros países ocidentais. Como o senhor avalia as atitudes e posições tomadas pelos países BRICSs?

Presidente Bashar al-Assad: Sua pergunta chama a atenção para um ponto importante. Para começar, o conflito na Síria não é conflito local, doméstico. Há ativadas dinâmicas externas à Síria, a maioria das quais visam a redesenhar o mapa dessa região. E há na questão síria uma disputa, também, de interesses conflitantes das grandes potências. A criação do bloco de países chamados países BRICSs implica que os EUA já não são a única potência no mundo. Hoje, já é impossível ignorar os interesses difusos de outras forças, quando se tomam decisões na arena internacional.

BRICSs
Os países BRICSs não apoiam o presidente Bashar al-Assad ou o estado sírio: eles apoiam a estabilidade nessa região. Todos sabem que a agitação na Síria cria o risco de que forças terroristas assumam o controle na região. Todos sabem que, se o conflito em que a Síria foi jogada alcançar o ponto de rachar o país, ou se forças terroristas conseguirem chegar a controlar a Síria, ou no caso de que aconteçam as duas coisas, o que acontecer aqui imediatamente contagiará primeiro os países vizinhos, depois,
por efeito dominó, chegará a países em todo o Oriente Médio. 

Nesse quadro, os países BRICSs apoiam uma solução política para a Síria, contra as demais potências ocidentais.

Se se consideram outros líderes árabes que se posicionaram contra a Síria, sabe-se que não são independentes, em termos políticos, daquelas mesmas potências ocidentais. São líderes que agem conforme o diktat daquelas potências ocidentais. Internamente, pessoalmente, é possível que também apoiem uma solução política. Mas quando o ocidente lhes dá ordens, são obrigados a obedecer. Em termos bem gerais, essa é a situação, na região e no plano internacional.

Ulusal Kanal(2)Nos dois últimos anos, temos assistido aos conflitos sobre a Síria e dentro da Síria. Esses conflitos são apoiados, por um lado, pelos EUA, França, Turquia e alguns regimes do Golfo. Esses regimes dizem que os grupos dentro da Síria combatem contra o seu governo. E mais de cem países declararam que o senhor deve deixar o governo. Isso posto, o senhor considera a possibilidade de deixar o governo e permitir que outro nome o substitua?

Presidente Bashar al-Assad: Sua pergunta implica que um grande número de países ocidentais, e nossos aliados, inclusive a Turquia, e muitos países árabes estariam contra essa presidência. Ao mesmo tempo, sua pergunta implica também [que os grupos internos] também estariam contra essa presidência. Nada disso explica que a Síria se tenha mantido firme, já há três anos. Não me incomoda que haja oposição ao meu governo. Sou presidente eleito pelo povo sírio. Disso se conclui que o presidente ficar na presidência ou deixar a presidência é uma grave decisão nacional, a ser tomada, exclusivamente, pelo povo sírio, não por outros estados que digam que desejam que a presidência fique ou saia. Sejamos francos. Será que todos esses estados estão preocupados com a Síria ou com o sangue do povo sírio?

A começar pelos EUA, que apoiam há décadas os crimes cometidos por Israel, desde que Israel foi criada em nossa região. Os EUA cometeram massacres no Afeganistão e no Iraque, que resultaram em milhões de mortos, feridos e mutilados. A França e a Grã-Bretanha cometeram massacres na Líbia, sempre com o apoio dos EUA. O atual governo turco está metido até os joelhos em sangue sírio. Volto a perguntar: quais desses estados estão preocupados com o sangue dos sírios?

A questão de se o presidente fica ou sai, é decisão que cabe ao povo sírio. Nenhum país do mundo tem qualquer coisa a ver com isso.

Ulusal Kanal (1): O senhor disse que o que está acontecendo na Síria é efeito de apoio que vem do exterior. Mas estamos em Damasco e se ouve o som de explosões e o som dos bombardeios, em diferentes distâncias nunca param. Por que isso tudo está acontecendo?

Presidente Bashar al-Assad: A Síria está cercada por países que estão ajudando terroristas a entrar em território sírio. Claro. Nem todos os países fazem intencionalmente e sabendo o que fazem. Por exemplo, o Iraque é contra esse movimento de infiltrar terroristas em território sírio, mas há circunstâncias que impedem que o estado tenha pleno controle de todas as fronteiras. No Líbano, a situação é de divisão: alguns partidos apoiam e outros se opõem à política de mandar terroristas para dentro do território sírio. A Turquia apoia e hospeda terroristas em termos oficiais e os está mandando para território sírio. Alguns grupos terroristas entram na Síria pela Jordânia e não se sabe ainda se com ou sem o apoio do governo jordaniano. Enquanto perdurar essa ação de contrabandear terroristas e armas para dentro do território sírio, nós continuaremos a lhes dar combate. É normal. É guerra, em qualquer sentido da palavra. Não há como separar os diferentes incidentes de segurança. Só é possível que terroristas continuem a entrar em território sírio, aos milhares, talvez dezenas de milhares – é difícil quantificar com precisão – se recebem apoio externo. E estão chegando de várias direções. Por isso há combates em várias regiões do país.

Recep Endorgan
Ulusal Kanal(2)Senhor presidente, o senhor disse que o governo turco apoia oficial e publicamente grupos terroristas, garantindo diferentes tipos de ajuda e apoio àqueles grupos terroristas. Mas sabe-se que, até bem recentemente, havia relações amigáveis entre Erdogan, o governo turco e o senhor. O que aconteceu, que mudou tanto essa situação?

Presidente Bashar al-Assad: É possível que Erdogan tenha visto, nos eventos em curso no mundo árabe, uma oportunidade para prolongar a própria vida política. É a mesma mentalidade da Fraternidade Muçulmana. Nossa experiência, na Síria, com a Fraternidade Muçulmana, ao longo de 30 anos, ensina que são um grupo de oportunistas. Usam a religião para obter vantagens pessoais. Ele [Erdogan] viu que em todos os países onde houve revoluções, ou golpes de Estado, ou intervenção estrangeira, a Fraternidade Muçulmana está hoje no poder. Erdogan viu, nisso, uma grande oportunidade para permanecer no poder, sob diferentes formas, ainda por muitos e muitos anos. Virou-se contra a Síria, porque viu aqui uma boa oportunidade para manter-se no poder. De início, tentou interferir em assuntos internos da Síria.

Já antes da crise, Erdogan estava mais interessado na Fraternidade Muçulmana, do que nas relações entre Síria e Turquia, muito mais do que no destino da Síria.

Esse pessoal pensa dessa forma. Dadas algumas circunstâncias, eles sempre pensam, primeiro, nos próprios interesses pessoais. Como já disse, Erdogan tentou, primeiro, interferir em assuntos internos da Síria. E depois o governo turco começou a apoiar publicamente vários grupos terroristas dentro da Síria. Hoje, estão muito profundamente envolvidos no derramamento de sangue dentro da Síria. Nesse contexto, as nossas relações deterioraram-se muito gravemente.

Ulusal Kanal (1): Perguntamos ao senhor Erdogan sobre as relações sírio-turcas. Ele diz que foi franco com o senhor e lhe fez várias propostas sobre reformas, que o senhor rejeitou. Por que o senhor não considerou as propostas que lhe foram feitas pelo senhor Erdogan?

Presidente Bashar al-Assad: Infelizmente, Erdogan não disse uma palavra franca e confiável desde que essa crise começou. Nenhuma. E não estou exagerando. As propostas eram muito gerais. Eu disse a ele que só o povo sírio decidiria quem seria presidente e que sistema de governo teríamos. Já comentei as propostas de Erdogan, com muitos detalhes, em vários pronunciamentos. Temos de preparar eleições, nas quais os vários grupos políticos apresentem candidatos. E assim decidiremos qual a melhor via para prosseguir. Por melhores e mais importantes que fossem as propostas de Erdogan, em nenhum caso seriam mais importantes ou melhores que eleições livres para saber o que o povo quer. O que poderia ser melhor que essa solução? Haverá eleições, e o que o povo decidir será implementado.

Mas há uma pergunta simples, que vocês deveriam fazer. Se Erdogan continua a dizer que suas propostas teriam resolvido todos os problemas na Síria, que relações haveria entre aquelas propostas que eu ouvi e o apoio que ele dá hoje a grupos terroristas? Hoje, nesse momento, Erdogan está recrutando, entregando armas, dando dinheiro, garantindo equipamento médico e outros detalhes de apoio logístico. E abriu a fronteira para que esses grupos entrem na Síria. O que isso tudo teria a ver com as propostas de Erdogan, que, sim, ouvi atentamente?

Erdogan sabe que, desde o primeiro dia, nós sempre aprovamos qualquer solução que implicasse diálogo político. Ele sabe. Nós anunciamos que aceitávamos o diálogo com todos os partidos políticos sírios. Quando nada disso funcionou, com a presteza que Erdogan precisava que funcionasse, ele mudou de conversa. E passou imediatamente a armar grupos terroristas. Erdogan mente. Aquelas propostas serviram-lhe como uma máscara.

Nós sempre aceitamos conselhos e contribuições de qualquer partido, em qualquer circunstâncias. Mas não aceitamos intervenção em assuntos internos da Síria. Parece que Erdogan entendeu mal nossa posição. Ele entendeu que as relações fraternas entre Turquia e Síria permitiriam intervenção em nossos assuntos internos, com o objetivo de derrubar um governo sírio legítimo. Mas, para mim, essa situação já estava bem clara, desde os primeiros dias.

Ulusal Kanal (2):  Há notícias na imprensa turca, de que há pessoal dos serviços de segurança envolvidos com em atividades terroristas e ajudando grupos terroristas, trabalhando para infiltrá-los em território sírio. Alguns jornais dizem que a Turquia comete crime, encobrindo esse tipo de atividade. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Presidente Bashar al-Assad: Como já disse, o atual governo turco não está, de modo algum, contribuindo para pôr fim à matança do povo sírio. Há quem esteja à espera de que a Síria adote a via da retaliação. Não o faremos.

Estamos contra o crime de infiltrar terroristas em território sírio, e contra todos os atos criminosos. Mas entendemos que o povo turco é povo irmão dos sírios. Em terceiro lugar, retaliação é, precisamente, o que Erdogan deseja. Ele quer criar um conflito entre o povo turco e o povo sírio, tentando angariar apoio popular para suas políticas. Está tentando restaurar parte da popularidade que teve, e já perdeu.

Os sírios não cairemos nessa armadilha. Por dois motivos: por princípios e porque os interesses sírios estão alinhados com os interesses do povo sírio, embora não, no momento, com os interesses do atual governo turco. Nenhum conflito entre o povo sírio e o povo turco jamais servirá a qualquer interesse dos nossos povos. E só fará complicar ainda mais as coisas. O que fizemos nos últimos dez, doze anos, desde que o presidente [Ahmet Necdet] Sezer foi eleito, em 2000, foi construir o debate entre nossos povos, entre árabes e turcos. Agora, o presidente Erdogan quer pôr a perder tudo o que foi feito. Não cometeremos nenhuma retaliação contra o povo turco. Para saber, consultem os serviços turcos de inteligência.

Mas, até agora, não capturamos nenhum agente da inteligência ou do exército turco que estivesse agindo na Síria. Isso não significa que não estejam aqui. Estão apoiando os grupos terroristas. Os serviços de inteligência da Turquia estão fornecendo todo o treinamento, todo o equipamento, todas as estruturas de comunicação – o necessário apoio da imprensa, indispensável – a grupos terroristas para que se infiltrem em território sírio.

Do que vários terroristas já confessaram, já sabemos que há indivíduos envolvidos na Turquia. O princípio desse envolvimento está no apoio que o atual governo turco dá à ação dos grupos terroristas. O fato de que não haja pessoal da inteligência turca operando dentro da Síria não implica que não estejam ativos.

Ahmet Davutoğlu
Ulusal Kanal (1): Suas declarações, senhor presidente, são bem claras sobre as políticas turcas. O Ministro de Relações Exteriores da Turquia, Davutoglu, disse que preferiria renunciar ao cargo, se tivesse de apertar a mão do presidente Bashar al-Assad, se ele permanecer no poder. O que significa isso, em termos das relações entre os dois países?

Presidente Bashar al-Assad: Não posso honrar essa declaração, com alguma resposta. Absolutamente não é o caso. Essa fala desonra o alto padrão moral do povo turco, que sempre testemunhei em minhas muitas visitas à Turquia. De minha parte, respeitado o alto padrão moral do povo sírio, não há o que responder. Minhas relações com Erdogan foram construídas como pontes entre nossos povos. Se o Primeiro-Ministro Erdogan e o atual governo turco já estão envolvidos na guerra que faz correr sangue sírio, já não se pode cogitar de pontes, nem pessoais, entre nós, nem entre eles, nem entre eles e o povo sírio.

Ulusal Kanal (2): Como o senhor deve ter sabido, quando o presidente Barack Obama esteve em Israel, o primeiro-ministro Netanyahu pediu desculpas à Turquia, sobre o que houve com o navio turco que levava ajuda a Gaza. Como o senhor interpreta esses desenvolvimentos?

Presidente Bashar al-Assad: Há uma pergunta clara e óbvia, nessa situação. O Primeiro-Ministro Netanyahu já era primeiro-ministro quando ocorreu o ataque ao navio turco, há três anos. Continua no mesmo posto. Por que jamais aceitou pedir desculpas antes, durante tanto tempo? O que mudou? É o mesmo Erdogan. É o mesmo Netanyahu. A grande mudança, de lá até hoje, é a situação na Síria. O que aconteceu prova, precisamente e muito claramente, que há um acordo entre Israel e Turquia, relacionado à situação síria. Também confirma que Erdogan está agora alinhado com Israel, trabalhando para agravar cada vez mais a situação na Síria. Nos últimos anos, Erdogan conseguiu mobilizar a opinião pública turca, como bem entendeu, contra a Síria. Também nunca desistiu de tentar cravar suas garras no estado sírio. A Síria continua a defender-se nessa batalha feroz. Erdogan não teria outro a quem recorrer, se não a Israel, potência ocupante, inimigo de todos os povos árabes.

Ao mesmo tempo, essas desculpas também ajudam Erdogan a restaurar, pelo menos em parte, a própria credibilidade, que ele perdeu, na Turquia.

Abdullah Ocalan
Ulusal Kanal (1): Quero retomar o que aconteceu em passado recente. Dia 21 de março, reuniram-se Erdogan e [Abdullah] Öcalan [do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) [1]]. Nessa reunião, discutiram a formação de um novo Oriente Médio, com árabes, sírios, curdos e turcos. O senhor acompanhou o desenrolar dessas reuniões e declarações?

Presidente Bashar al-Assad: Por hora, só temos a informação distribuída pela mídia. Ainda não recebemos os detalhes dessas conversações, de nenhum dos lados. Já há alguns anos, em todos os passos adotados para resolver a questão curda, nossa posição declarada sempre foi aceitar qualquer solução que satisfaça aos curdos e aos turcos, porque nunca quisemos mais e mais derramamento de sangue na Turquia, que sempre teria impacto negativo por aqui. Qualquer solução negociada e aceita entre essas duas partes terá nosso apoio, porque o povo curdo é parte natural do tecido da região. Não são hóspedes nem imigrados. Vivem aqui há séculos, há milhares de anos. Mas qualquer solução estável para a questão turco-curda depende hoje da credibilidade de Erdogan. É homem em quem não confio. Não cumpre o que promete. Todos os passos que está empreendendo hoje visam exclusivamente a angariar apoio político para ele mesmo. Aqui, outra vez, cabe a mesma pergunta óbvia: por que não tomou exatamente a mesma providência, de negociar com os curdos, há poucos anos? Outra vez a resposta é a mesma: isso, agora, também está relacionado à situação na Síria. E às eleições na Turquia.

Ulusal Kanal (2): O senhor disse que resolver a questão turco-curda é tema importante para toda a região. Podemos ouvir de Vossa Excelência uma opinião mais ampla sobre como resolver essa questão?

Presidente Bashar al-Assad: Temos de ser bem claros: nacionalidade é diferente de etnicidade. Vivemos em região mestiça. O fato de você ser turco não implica que não possa ser curdo ou armênio, ou de origem árabe. Somos árabes pela cultura e pela língua. A situação na Turquia é semelhante à situação na Síria. Quando digo “árabe” não falo de etnia ou raça.

Os dois nacionalismos, o turco e o árabe, mostram o quanto o modelo nacionalista pode ser civilizado, de inclusão de diferentes. O problema é que esse conceito, no passado, foi adotado por uma mentalidade de exclusão, de uma cultura rejeitar ou eliminar a outra. Eu entendo que um dos aspectos mais belos dessa região é a diversidade. E um dos maiores perigos que corremos é não ver essa diversidade como fator de enriquecimento e de empoderamento. Mas em vez disso, temos assistido a pessoas que convocam forças e interesses de fora, para nos lançar uns contra os outros e criar conflitos por aqui. Foi o que se viu acontecer no início do século passado, quando começaram os conflitos entre turcos e árabes, nos dias finais do Império Otomano.

Muitos grupos nacionalistas árabes quiseram que diferentes nacionalismos árabes florescessem dentro do Império Otomano. Mas isso gerou conflitos e levou a erros de todos os lados, o que facilitou a intervenção por atores estrangeiros.
Hoje, temos de ver a situação com interesse em promover a inclusão de todos. Somos feitos do mesmo tecido diverso, entretecidos de diferentes cores.

Ulusal Kanal (2): Senhor presidente, uma das questões mais difíceis atualmente em discussão na Turquia é a questão do PKK. Há discussões sobre organizações que estariam operando na Síria e teriam ligações com o PKK, que teria forte influência sobre aquelas organizações. O que se diz é que essas organizações estariam muito interessadas em criar um vácuo militar no norte da Síria, a ser preenchido por aquelas organizações. Como o senhor, presidente, lê essas informações?

Presidente Bashar al-Assad: Quando há caos em qualquer estado, como é o caso hoje na Síria, sempre aparecem muitos grupos interessados em preencher os vácuos. Às vezes, são gangues, interessados só em matar e roubar. Às vezes são grupos políticos, às vezes são partidos, com programa político. Existem na Síria, na Turquia, no Iraque, em outros locais. Não se pode generalizar, e incluir todos os curdos no que é agenda só de pequenos grupos. Muitos curdos são patriotas, querem viver na Síria. A emergência de alguns casos específicos não é motivo para que generalizemos, como se houvesse situação homogênea. A separação depende de outro tipo de ambiente. Tem de haver amplo apoio popular. Ou a luta é feita com interessados externos. Entre curdos sírios e curdos turcos, as circunstâncias são muito diferentes. No momento, essa questão não me preocupa.

Ulusal Kanal (1): Senhor presidente, temos agora uma questão muito importante. Desde o início dos eventos na Síria, alguns partidos e pesquisadores insistem em discutir outro projeto, envolvendo a superação dos estados no norte da Síria, norte do Iraque, sul e leste da Turquia, separando essas regiões de seus respectivos estados centrais. O senhor acha que há o risco de o norte da Síria acabar por superar o estado central?

Presidente Bashar al-Assad: Como eu já disse, as atuais circunstâncias na Síria não sugerem qualquer movimento nessa direção, sobretudo se se considera a opinião pública em geral. O povo sírio rejeita completamente qualquer ideia de separação do estado sírio. Nenhum estado soberano aceitaria que partes do território sejam cortadas do território principal. Essa posição é categoricamente inaceitável e absolutamente indiscutível.

Ulusal Kanal (1): Baseados em nossas perguntas e suas respostas: parece haver um plano bem claro, construído por países ocidentais, em cooperação e coordenação com alguns países da região, para criar um Grande Curdistão, que seria formado de uma parte do norte do Iraque, leste do Irã, norte da Síria, e sul e leste da Turquia. Parecem decididos a alcançar esse objetivo. Estamos andando nessa direção?

Presidente Bashar al-Assad: Não acredito que esses quatro países, Iraque, Síria, Irã e Turquia, subscreveriam essa proposta. Estados independentes, hoje, trabalham pela integração, não pela subdivisão e separação. Infelizmente, nossa região é uma exceção, e sinal de atraso. Hoje, o que se vê é a formação de grandes blocos de países. Os BRICSs são bom exemplo. Os estados buscam unir-se em blocos maiores, porque isso é uma exigência dos tempos que vivemos. Por que, então, em nossa região, andaríamos na direção contrária, buscando a segmentação? O que impediria que pessoas de diferentes nacionalidades, religião, etnia, vivam juntas?

Se aceitarmos a noção da separação, teremos de viver com as consequências, a saber: fragmentação em vários pequenos miniestados baseados em etnicidade, reforçando as diferenças. Assim se cria uma situação extremamente perigosa, que só gerará mais guerras no futuro. Por isso não me parece que essa proposta de divisão seja proposta a considerar, nem que seja proposta séria.

Esses quatro estados que a proposta divisionista considera deveriam, isso sim, dedicar-se a fazer com que todos os seus cidadãos sintam-se como cidadãos de primeira classe. Todos com direitos e acesso igual aos direitos. A solução, por essa via é clara e simples. Mas se, por outro lado, há cidadãos que se sentem humilhados, é normal que pensem em separação.

Ulusal Kanal (2): Senhor presidente, o senhor teve um projeto interessante. O senhor falava da construção de meios para a unificação política e econômica dos cinco ‘'curdistões'’ [orig. Five “Cs”]. Pode falar ao público turco sobre como todos poderíamos nos beneficiar do seu projeto?

Presidente Bashar al-Assad: É exatamente o que já disse, quando falei sobre a exigência, no mundo contemporâneo, de integração e unificação. A quem interessaria criar mais um estado, à maneira dos estados que existiam antigamente, em vastos impérios territoriais? Hoje é possível nos unirmos nós mesmos, com vistas aos nossos próprios objetivos gerais de todo o Oriente Médio. Por exemplo, todos podemos construir estradas, e diferentes vias para transporte terrestre. Vias regionais de fornecimento de água, gás, petróleo, outras formas de energia. Criar redes que unam nossos países, nessa região crucialmente estratégica do mundo que se designa como “os cinco curdistões”. Todos os países devem dirigir investimentos para essa região. Assim se fortaleceriam todos os países e também os vários nacionais de etnia curda.

Essa visão exige determinação, vontade e capacidade para tomar decisões independentes na nossa região, sobretudo se muitos grandes estados ocidentais não têm interesse algum em qualquer projeto que vise a beneficiar os cidadãos da nossa região, a fortalecer a região. Não têm qualquer interesse em promover a estabilização do Oriente Médio.

Não me parece que, hoje, haja condições objetivas para trabalhar na direção desse nosso projeto. Há muitos problemas na Síria, no Líbano, no Iraque. Praticamente todos esses problemas são resultado da intervenção do ocidente. E, na Turquia, por exemplo, entendo que não há governo independente. E a Turquia seria elemento central para implementar esse projeto, sobretudo por sua posição estratégica.

Mas nada disso significa que o projeto tenha sido cancelado. Temos de manter na cabeça a ideia de que o futuro dessa região depende de grandes projetos como esse. Se todos continuarmos confinados em nossas respectivas fronteiras nacionais, continuaremos a ser países pequenos, na escala global. Mesmo no caso de países de grande território, como Turquia e Irã, não conseguirão manter-se sozinhos, se não estruturarmos esses grandes projetos transfronteiras.

Ulusal Kanal (2): A partir de sua resposta, gostaria de passar a outra questão, relacionada às guerras sectárias. Muita gente fala de guerra entre sunitas e xiitas na região. Na sua opinião, os conflitos em curso podem ser vistos como sectários por natureza?

Presidente Bashar al-Assad: Essa questão foi levantada pela primeira vez em 1979, a partir da Revolução Iraniana, que derrubou do poder um dos mais importantes aliados dos EUA na região. A única solução foi apresentar aquela revolução como se fosse revolução xiita, para que outras seitas se opusessem a ela. Nesses termos, inventaram a guerra Irã-Iraque, que foi apoiada por alguns países do Golfo. Pouco depois, a Fraternidade Muçulmana na Síria foi usada para o mesmo objetivo: para criar oposições sectárias. Falharam nos dois casos, na primeira e na segunda tentativa. Agora, três décadas depois, não há outra escolha, além de criarem novamente a alternativa sectária. Por isso, voltam a levantar a mesma questão agora.

No início da crise, as posições foram sectárias. Falharam, até agora. Se tivessem sido bem sucedidos, o regime teria sido fragmentado, em resultado desse conflito. O aspecto positivo disso tudo, é que a opinião pública vai-se tornando cada dia mais consciente das ideologias sectárias. Mas há bolsões sectários, alimentados pela ignorância, que sempre há, em qualquer sociedade.

Acredito que, agora, a essência do conflito não é sectária. O conflito hoje se trava entre forças e estados que querem empurrar os povos para aqueles estágios atrasados, e forças e estados que querem que os povos da região possam avançar. Entre os que querem que os povos da região encontrem aqui uma pátria onde possam viver livres, e outros que querem que aqui só haja estados-satélites, exclusivamente para promover interesses daqueles estados e forças, não dos povos da região. Ao mesmo tempo, aquelas forças são parte de uma luta internacional de interesses conflitantes, da qual Síria e Turquia são parte. Essa luta está sendo afetada por diferentes fatores que podem levar à fragmentação dessa região, de modo a permitir que potências globais passem a controlar nosso destino e nosso futuro.

Mustafá Gamal Ataturk
Ulusal Kanal (2): Mesmo assim, fora da Síria, estão sendo adotadas políticas oficiais baseadas em divisões e fragmentação baseadas em etnicidade e por seitas religiosas. Por outro lado, vivemos e testemunhamos na Turquia o processo do qual o senhor fala, especialmente depois que a República secular foi criada e dirigida por Mustafá Gamal Ataturk. Mas, infelizmente, esses estados e governos afastaram-se daquele projeto, que trocaram por projetos religiosos e sectários. Como o senhor vê o futuro desses sistemas políticos?

Presidente Bashar al-Assad: Esses sistemas políticos e establishments que buscam a divisão e a fragmentação estão preparados para guerras que se arrastem por anos, mesmo séculos em nossa região. Destruir tudo. Impedir qualquer prosperidade, qualquer desenvolvimento, devolver à Idade Média vários aspectos de nossa vida. Isso é muito perigoso. Quando penso em secularismo, falo em liberdade para todas as nossas religiões e práticas religiosas. Nossa região é basicamente conservadora. Muitos são religiosos e devem ser livres para praticar a religião que prefiram, para cumprir seus rituais. Não devemos pensar nem por um momento, que haja alguma contradição entre etnicidade e religião. Essa é a essência de nosso pensamento sobre secularismo. Por isso, sempre trabalharei pela unificação dos nossos povos nessa região.

Como já disse antes, não importa a natureza das nossas questões entre Síria e Turquia, não se pode permitir que coisa alguma afete as relações entre nossos povos, entre os sírios e os turcos. Porque na aproximação entre nossos povos está a única garantia que temos para preservar a diversidade, que é a riqueza de nossas sociedades.

Ulusal Kanal (1): Senhor presidente, o senhor acompanha de perto os desenvolvimentos na Turquia?

Presidente Bashar al-Assad: É normal que acompanhe. O que acontece na Turquia acontece em outros grandes países, que ocupem posição estratégica e tudo que aconteça nesses países afeta a situação síria. Ao mesmo tempo, há tantas semelhanças: a natureza do povo, as emoções, a textura do tecido social na Turquia. Há muitas semelhanças. Repito: o que aconteça na Turquia sempre terá impacto sobre a Síria, Por isso entendemos que a estabilidade na Turquia é do mais alto interesse também da Síria. E vice-versa. Se vocês sofrerem turbulências, nós seremos afetados. O desafio, hoje, é convencer o atual governo turco, especialmente o Primeiro-Ministro Erdogan, de que fogo na Síria queimará a Turquia. Infelizmente, ele não vê essa realidade.

Ulusal Kanal (2): Quanto ao diálogo com a oposição, o senhor sempre falou a favor de solução política e diálogo direto com a oposição. Há prazos e limites [orig. red lines, linhas vermelhas] para esse diálogo?

Presidente Bashar al-Assad: A única “linha vermelha” é qualquer intervenção estrangeira. Qualquer diálogo terá de ser diálogo sírio, exclusivamente entre sírios. Não se admite nenhuma intervenção estrangeira nesse diálogo. Exceto por esse limite, absolutamente não há qualquer outro limite. Os sírios podem discutir tudo que queiram discutir, qualquer tema, qualquer questão. A Síria é a pátria deles todos e todos podem discutir o que queiram. Não há “linhas vermelhas”.

Mohammad al-Bouti
Ulusal Kanal (2): Muitos veículos de imprensa insistem em que a Síria seria governada por uma ditadura alawita, interessada exclusivamente em eliminar os sunitas. E até o assassinato de Mohammad Said Ramada al-Bouti entra nesse quadro. Como o senhor responde a essas acusações?

Presidente Bashar al-Assad: Falamos no início sobre a diversidade dessa região. E vivemos estáveis por muitas décadas, sem qualquer problema interno. Como teríamos conseguido aquela estabilidade, se não houvesse aqui um governo que é a imagem do próprio povo? Seja onde for, se o governo é controlado por um ou mais grupos, contra outros grupos sociais e, assim, não reflete as características de toda a população, o governo não pode sobreviver. Nenhuma dessas acusações é verdadeira. Vivemos em paz na Síria durante décadas, porque o governo sempre foi expressão da diversidade do próprio povo.

Quanto à morte do Dr. al-Bouti [muçulmano sunita tradicionalista], é ridículo acusar a Síria de qualquer envolvimento naquele assassinato. Essas acusações são feitas pelos mesmos grupos que, antes, o acusavam, apenas poucos dias antes, de ser porta-voz de autoridades religiosas, em assuntos religiosos. É operação pensada para ferir a popularidade do Dr. al-Bouti entre os sírios e entre seus seguidores no mundo muçulmano. Ele nunca teve autoridade, nem foi porta-voz de nenhuma autoridade. Jamais quis para ele qualquer autoridade. Nunca quis ser ministro, ou moufti, nunca pediu dinheiro a ninguém e era homem de vida simples. Seu único crime é que se pôs à frente do grupo de religiosos [sunitas] ativamente envolvido no trabalho de promover divisões sectárias entre os sírios. O Dr. al-Bouti estava à frente daquele grupo, primeiro, por sua posição na Síria e no mundo muçulmano. Segundo, porque tinha grande dificuldade para entender o que realmente está acontecendo.

Não há dúvida de que sem a concordância desses líderes religiosos é praticamente impossível criar os conflitos religiosos, mas os líderes acabam pagando com a própria vida, pelo sectarismo que pregam. Não há dúvidas de que o Dr. al-Bouti tinha grandes defeitos, sobretudo na posição que adotou nessa guerra. Não apoiava o Estado sírio e aliou-se aos estrangeiros. Por esse e outros erros, pagou com a vida, numa luta religiosa que ele mesmo incentivou. Mas outros líderes religiosos que não compactuam com o movimento para separar os grupos religiosos também têm sido assassinados. Mais um deles foi assassinado, há poucos dias, em Aleppo. Todos os líderes religiosos que não preguem divisionismos e ensinem sobre tolerância religiosa, sobre moderação, opõem-se a guerras religiosas, não as incitam.

Ulusal Kanal (1): Muito obrigado, senhor presidente, por essa entrevista a Ulusal Kanal. Há mais alguma coisa que o senhor queira dizer ao povo turco?

Ulusal Kanal (2): Estamos agora num momento crucial da história. Falo da Síria, da Turquia, de toda a região. Tudo que se vê acontecendo aqui tem alguns elementos espontâneos e tem também elementos planejados fora daqui, e que foram planejados com o objetivo de alcançar pleno controle de toda essa região. O que acontece hoje é, na essência, similar ao que aconteceu há 100 anos, em termos de projeto para redividir a região. Mas há 100 anos, nós aceitamos a redivisão da região: uma parte para eles, uma parte para nós, uma parte para outros interessados. Dessa vez, contudo, não podemos aceitar nenhum redesenho da região que não considere os interesses dos próprios povos da região. O povo terá de tomar suas decisões. Nós decidiremos. Infelizmente, vários governos da região não veem as coisas desse modo. E aceitam ordens e agem em obediência ao diktat dos interesses de estados estrangeiros, na maioria estados ocidentais.

Nos últimos tempos já se viram várias tentativas para semear a discórdia entre os povos sírio e turco. Quero dizer que o trabalho que iniciamos há dez anos, com o presidente Sezer deve ser retomado e continuado. Refiro-me ao trabalho para construir solidariedade e amizade entre turcos e sírios. Nada disso será jamais possível se não houver relações normais entre nossos estados. Como já disse, a prosperidade de um dos estados da região refletir-se-á nos demais. Pela mesma razão, o que haja de divisões e conflito num de nossos países, respingará fatalmente sobre o outro.

Governos passam e é importante que passem. Por isso temos de construir projetos que fortaleçam os povos da região, não projetos que só interessam a potências estrangeiras. É a mensagem que tenho para o povo turco. [despedidas e fim da entrevista]



Nota dos tradutores:
[1] Partiya Karkerên Kurdistanem português, Partido dos Trabalhadores do Curdistão. O PKK tem um braço armado, Força de Defesa do Povo (conhecido pela sigla HPG), listado como “organização terrorista” pela Turquia e pelos EUA; até recentemente, também pela União Europeia, que o deslistou por ordem judicial.