quinta-feira, 30 de novembro de 2023

“A questão palestina: “É uma expressão violenta da decomposição do sistema capitalista, cujas únicas respostas são a barbárie, o terror e a mentira”

 

Entrevista de Louisa Hanoune, secretária-geral do PT da Argélia, ao diário L’Expression, Argel, 20/11/23

Louisa Hanoune, é uma advogada que combateu com êxito pela revisão do opressivo “Código de família”. Luta pelos direitos das mulheres e da língua tamazigh, pela soberania nacional e pelos direitos dos trabalhadores. Foi presa política três vezes, recebendo uma corajosa carta solidária de Lula, desde a sua cela, na Polícia Federal em Curitiba. Sua libertação em 2019, após um ano e meio de detenção, foi produto de uma larga campanha internacional e protestos e pedidos de soltura, assumida no país, entre outros, pelo DAP. Louisa é co-presidente do Comitê Internacional de Ligação e Intercâmbio, do qual o DAP é aderente no Brasil. Louisa foi a primeira candidata à presidente da República no mundo árabe, em 2004, e já foi eleita deputada pelo PT (Redação DAP).

Com seu estilo franco, a secretária-geral do PT falou longamente nesta entrevista sobre a situação em Gaza, onde se realiza uma limpeza étnica com a cumplicidade do Ocidente. Louisa Hanoune não poupa a Liga Árabe que perdeu sua credibilidade e sua razão de ser, a traição de certos países árabes e a propaganda midiática, inteiramente ao serviço da entidade sionista.

L’Expression: A agressão sionista atingiu proporções desumanas. Desde o início dos bombardeios indiscriminados do exército sionista sobre Gaza, o seu partido denunciou com veemência a grave situação vivida pelo povo palestino. Até onde irá essa limpeza étnica?

Louisa Hanoune: Como você sabe, a questão palestina não é uma questão de solidariedade para a nação, o povo e o Estado argelino. Ela faz parte do nosso DNA. É uma questão central, uma componente da questão nacional, pois a libertação da Palestina é uma condição para a plena emancipação de todos os povos da região da dominação imperialista. E a nossa posição não é ditada por considerações étnicas, linguísticas ou religiosas. É ditada por princípios relacionados à luta dos povos pela emancipação do jugo da opressão colonial.

Sim, a entidade sionista despojou o povo palestino da sua terra, usando as piores atrocidades nazistas, com o apoio político e militar do imperialismo estadunidense, o apoio de seus substitutos europeus e a cumplicidade de vários regimes árabes no Oriente Médio e no Magreb (Mauritânia, Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia – NdE). A limpeza étnica e a deportação das populações são crimes contra a humanidade assumidos pela entidade sionista, tal como o objetivo de recolonizar Gaza e o conjunto dos territórios palestinos, o que mostra que a solução de “dois Estados” é uma miragem, uma ilusão, pura farsa.

Aliás, o nazi criminoso, Netanyahu, que não cessa de proclamar em alto e bom som que nunca haverá um Estado palestino na Palestina, publicou um mapa no qual não só a Palestina não existe, mas o futuro Israel se estende sobre os territórios de outros países da região, e explicou que é o Novo Oriente Médio. Esse projeto foi anunciado por Condoleeza Rice em 2006 (secretária de Estado dos EUA), quando da agressão ao Líbano. E este mapa foi publicado no site do exército dos EUA.

Além disso, como argelinos que recusamos qualquer divisão do país durante a guerra de libertação (1954-1962, 1 milhão de mortos – NdE), que não cedemos nem um centímetro dos territórios, não podemos propor a um povo que se contente com uma pequena parte da sua terra, que abandone os seus direitos históricos, incluindo o direito ao retorno dos refugiados às suas aldeias, às suas casas, das quais todos guardaram a chave.

O povo palestino recusa-se a ser confinado em bantustões, portanto, a limpeza étnica pelo genocídio e a deportação do povo palestino só terá fim com o desaparecimento do sistema sionista de apartheid, e centenas de milhões de homens e mulheres que amam a justiça e a liberdade, incluindo os judeus que se manifestam contra o extermínio das populações palestinas em Gaza, colocando-se como a única saída para o restabelecimento da paz na Palestina e na região.

Recusaram-se a normalizar as relações com a entidade sionista, o nosso país, a Tunísia, o Iraque, a Síria, a Líbia, a resistência iemenita e o Líbano. Todos os outros regimes árabes são cúmplices

Na última reunião realizada em Riad, os governos árabes expuseram as suas divergências, impedindo uma iniciativa comum. Uma confissão de impotência da Liga Árabe. Devemos ainda acreditar nesta organização ou é apenas uma sombra de si mesma?

Felizmente, nem todos os regimes árabes têm a mesma posição, ainda existe um eixo de resistência constituído por países que se recusaram a normalizar as relações com a entidade sionista, nomeadamente o nosso país, a Tunísia, o Iraque, a Síria, a Líbia, a resistência iemenita e o Líbano. Todos os outros regimes, nomeadamente os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein, os dois sudaneses, Marrocos e, ainda antes deles, o Egito e a Jordânia, normalizaram relações com a entidade sionista e são todos cúmplices do genocídio em curso em Gaza e na Cisjordânia, enquanto a Arábia Saudita estava prestes a concluir os acordos de normalização antes de 7 de outubro. É por isso que até as crianças palestinas os consideram culpados e responsáveis pela sua tragédia.

Há anos vemos que as cúpulas da Liga Árabe, por terem se tornado um antro dos regimes árabes traidores, conduzem a um nivelamento por baixo das posições dos Estados que resistem, sob o pretexto de preservar a “unidade árabe”. Recorde-se que, para além de venderem a causa palestina, os regimes árabes submetidos, não hesitaram em entrar em guerra contra países “irmãos”, como o Iraque, a Síria e o Iêmen, a mando do imperialismo estadunidense.

E, desde 7 de outubro, são os regimes saudita, egípcio e jordaniano que interceptam os mísseis que a resistência iemenita lança sobre a entidade sionista. Os regimes egípcio e jordaniano reprimem os manifestantes que tentam abrir as passagens de fronteira com Gaza e a Cisjordânia, para aliviar o cerco que estrangula as populações palestinas e vir em seu socorro.

De nossa parte, afirmamos que esta Liga se tornou um perigo para todos os povos da região. O nosso país não pode ser cúmplice dos regimes serviçais do imperialismo e da entidade sionista. Temos de nos retirar desta entidade, a única no mundo que se define com base num critério étnico e não geográfico. Além disso, somos um povo Amazig (berberes, “homens livres” na língua tamazigh – NdE), parcialmente arabizado pelo advento do Islã, assim como todos os povos do Magreb.

É certo que pertencemos ao espaço cultural árabe-muçulmano, mas temos a nossa própria identidade, o que nunca nos impediu de sermos solidários com os povos da região e de defendermos os direitos históricos do povo palestino.

“É uma expressão violenta da decomposição do sistema capitalista, cujas únicas respostas são a barbárie, o terror e a mentira”

Que sentido dá a esta campanha política e midiática, esta propaganda assustadora dos meios de comunicação ocidentais?

A grande maioria dos meios de comunicação ocidentais defende as posições dos seus governos, autores de guerra e de barbáries, de forma caricatural e abjeta, sua “independência” é uma utopia. Ao mesmo tempo é uma expressão violenta da decomposição do sistema capitalista, cujas únicas respostas são a barbárie, o terror e a mentira. Mas esses meios de comunicação que pensavam poder enganar todo o planeta falharam miseravelmente e são desprezados pelos povos que se dão conta rapidamente da armadilha.

A propaganda midiática, inteiramente ao serviço da entidade sionista e das teses dos seus patrocinadores, as grandes potências imperialistas, não impediu a realização de mobilizações populares e sindicais históricas no Ocidente, algumas delas mesmo apesar de proibidas.

Para aqueles que ainda têm dúvida, não temos aqui a face hedionda de um Ocidente que nos dá “lições” sobre o respeito dos direitos humanos, da democracia e da liberdade?

Em crise, o sistema capitalista, tendo à sua frente o imperialismo dos Estados Unidos e todos os regimes que lhe são subservientes, é como uma fera ferida de morte que mata selvagemente. Esta é a época da aceleração da decomposição deste sistema baseado na opressão e na exploração, que arrasta a humanidade para a barbárie e ameaça mergulhar a civilização humana no caos. As máscaras caíram há décadas, no que diz respeito à democracia e aos direitos do homem que este sistema nos serve, conforme os seus próprios interesses, ou ainda sob as bombas e a devastação provocadas pelas intervenções militares estrangeiras.

Os pogroms em Gaza, na Cisjordânia e o apartheid de que são vítimas os palestinos que vivem nas fronteiras de 1948 constituem um golpe fatal para este sistema. Porque a mobilização sem precedentes dos povos em todos os continentes, a começar pelos Estados Unidos e pela Europa, é um ato de acusação, senão um veredito final, contra os governos envolvidos ou cúmplices nesta barbárie.

Postado do: https://petista.org.br/

Jenin continuará sendo um cemitério e um espinho na garganta da ocupação israelense.

 Frente Popular: O crime de ocupação em Jenin e a execução de crianças é um dos capítulos do massacre sionista em curso



A Frente Popular para a Libertação da Palestina confirmou que o crime de ocupação em curso no campo de Jenin, que hoje levou à execução de um grupo de crianças a sangue frio e ao ferimento de vários cidadãos, é um dos capítulos do processo em curso Massacre sionista contra o nosso povo palestino e reflecte a extensão do ódio, das tendências vingativas e fascistas desta entidade sionista derrotada.

A Frente indicou que o fracassado inimigo sionista, que foi derrotado pelos ataques da resistência na Faixa de Gaza, foi uma derrota maligna e foi incapaz de alcançar qualquer dos seus objectivos de acabar com a resistência na Cisjordânia, derramando a sua raiva e brutalidade sobre as crianças e civis indefesos em massacres intermináveis ​​deste exército covarde.

A Frente sublinhou que a resistência, como sempre, responderá a este crime e infligirá mais perdas aos covardes soldados sionistas. Jenin al-Qassam permanecerá, como sempre, um cemitério e um espinho na garganta dos soldados da ocupação. a resistência permanecerá forte e contínua unindo-se à resistência de Gaza para fazer com que o inimigo experimente o inferno e golpes mais dolorosos.

  A Frente concluiu a sua declaração de que agora está madura a oportunidade para a Cisjordânia iniciar um confronto abrangente contra esta entidade sionista em toda a Cisjordânia, sublinhando que os sacrifícios do nosso povo e a nossa resistência não serão em vão e serão sempre combustível acender a chama da resistência no caminho da libertação.


Frente Popular para a Libertação da Palestina

Comunicado de imprensa  29/11/2023

terça-feira, 28 de novembro de 2023

 


O Hamas vence a batalha por Gaza

 

Scott Ritter [*]

O cessar-fogo recentemente anunciado é uma bênção tanto para os palestinos como para os israelenses – uma oportunidade para a troca de prisioneiros, a ajuda humanitária ser distribuída aos necessitados e para as emoções de ambos os lados do conflito arrefecerem.

Embora o cessar-fogo, negociado entre Israel e o Hamas pelo Qatar, tenha sido mutuamente acordado entre as duas partes, ninguém se iluda pensando que se trata de algo menos do que uma vitória do Hamas. Israel havia assumido uma posição muito agressiva que, dado o seu objectivo declarado de destruir o Hamas como organização, não concordaria com um cessar-fogo sob quaisquer condições.

O Hamas, por outro lado, tinha como um dos seus principais objectivos, ao iniciar a actual ronda de combates com Israel, a libertação de prisioneiros palestinos, e em particular de mulheres e crianças, detidos por Israel. Visto sob esta luz, o cessar-fogo representa uma vitória importante para o Hamas e uma derrota humilhante para Israel.

Uma das razões pelas quais Israel evitou um cessar-fogo foi que estava confiante de que a operação ofensiva que tinha lançado no norte de Gaza iria neutralizar o Hamas como uma ameaça militar, e que qualquer cessar-fogo, independentemente da justificação humanitária, apenas permitiria ao Hamas, inimigo prestes a ser vencido, ganhar tempo para descansar, rearmar-se e reagrupar-se. O facto de Israel ter devido assinar um cessar-fogo é o sinal mais seguro de que nem tudo vai bem com a ofensiva israelense contra o Hamas.

Este resultado não deveria ter sido uma surpresa para ninguém. Quando o Hamas lançou o seu ataque a Israel, em 7 de Outubro, iniciou um plano que estava a ser elaborado há anos. A atenção meticulosa aos detalhes que ficou evidente na operação do Hamas sublinhou a realidade de que o Hamas tinha estado a estudar a inteligência israelense e as forças militares mobilizadas contra ele, descobrindo fraquezas que foram posteriormente exploradas. A acção do Hamas representou mais do que um planeamento e execução tácticos e operacionais sólidos – foi também uma obra-prima na conceptualização estratégica.

Uma das principais razões por trás da derrota israelense em 7 de Outubro foi o facto de o governo israelense estar convencido de que o Hamas nunca atacaria, independentemente do que diziam os analistas de inteligência encarregados de observar a atividade do Hamas em Gaza. Esta falta de imaginação resultou do facto de o Hamas ter identificado as metas e objectivos políticos de Israel (a anulação do Hamas como organização de resistência ao empreender uma política baseada na “compra” do Hamas através de um programa alargado de autorizações de trabalho emitidas por Israel para os palestinos que vivem em Gaza.) Ao aderir ao programa de autorização de trabalho, o Hamas embalou a liderança israelense para a complacência, permitindo que os preparativos do Hamas para o seu ataque fossem realizados à vista de todos.

O ataque de 7 de Outubro perpetrado pelo Hamas não foi uma operação isolada, mas antes parte de um plano estratégico que possuía três objectivos principais: colocar a questão de um Estado palestino de volta ao primeiro plano do discurso internacional, libertar os milhares de prisioneiros palestinos detida por Israel, e obrigar Israel a cessar e a desistir quando se tratasse da profanação da Mesquita de Al Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado do Islão. O ataque de 7 de Outubro, por si só, não conseguiu alcançar estes resultados. Pelo contrário, o ataque de 7 de Outubro foi concebido para desencadear uma resposta israelense que criaria as condições necessárias para que os objectivos do Hamas se concretizassem.

Declaração do Hamas.

O ataque de 7 de Outubro foi concebido para humilhar Israel até ao ponto da irracionalidade, para garantir que qualquer resposta israelense seria governada pela necessidade emocional de vingança, em oposição a uma resposta racional concebida para anular os objectivos do Hamas. Aqui, o Hamas foi guiado pela doutrina israelense estabelecida de punição coletiva (conhecida como Doutrina Dahiya, em homenagem ao subúrbio ocidental de Beirute que foi fortemente bombardeado por Israel em 2006 como forma de punir o povo libanês pelo fracasso de Israel em derrotar o Hezbollah em combate). Ao infligir uma derrota humilhante a Israel que destruiu tanto o mito da invencibilidade israelense (no que diz respeito às Forças de Defesa de Israel) como da infalibilidade (no que diz respeito à inteligência israelense), e ao tomar centenas de israelenses como reféns antes de se retirarem para o seu tugúrio subterrâneo sob Gaza, o Hamas preparou uma armadilha para Israel na qual o governo do Primeiro-Ministro israelense Benjamin Netanyahu previsivelmente se precipitou.

O Hamas preparou uma rede de túneis por baixo da Faixa de Gaza que, no total, se estende por mais de 500 quilómetros. Alcunhados de “Metro de Gaza”, estes túneis consistem em bunkers subterrâneos profundos interligados, utilizados para comando e controlo, apoio logístico, tratamento médico e alojamento, juntamente com outras redes de túneis dedicadas a operações defensivas e ofensivas. Os túneis estão enterrados a uma profundidade suficiente para evitar a destruição pela maioria das bombas na posse de Israel e foram preparados para resistir a um cerco de até três meses (90 dias) de duração.

O Hamas sabe que não pode envolver Israel num clássico encontro de força contra força. Em vez disso, o objectivo era atrair as forças israelenses para Gaza e depois sujeitá-las a uma série interminável de ataques de atropelamento e fuga por parte de pequenas equipas de combatentes do Hamas que emergiriam dos seus covis subterrâneos, atacariam uma força israelense vulnerável e depois desapareceriam de volta ao subsolo. Em suma, submeter os militares israelenses ao que equivale a uma morte por mil cortes.

E funcionou. Embora as forças israelenses tenham conseguido penetrar nas zonas menos urbanizadas do norte da Faixa de Gaza, tirando partido da mobilidade e do poder de fogo das suas tropas blindadas, o progresso é ilusório, uma vez que as forças do Hamas atormentam continuamente os israelenses, utilizando foguetes mortíferos com ogivas tandem. para desativar ou destruir veículos israelenses, matando dezenas de soldados israelenses e ferindo outras centenas. Embora Israel tenha sido reticente em divulgar os números de veículos blindados perdidos desta forma, o Hamas afirma que o número está na casa das centenas. As reivindicações do Hamas são reforçadas pelo facto de Israel ter suspendido a venda de tanques Merkava 3 mais antigos e, em vez disso, ter organizado o seu inventário destes veículos em novos batalhões blindados de reserva para compensar as pesadas perdas sofridas tanto em Gaza como ao longo do norte. fronteira com o Líbano, onde as forças do Hezbollah estão envolvidas numa guerra mortal de desgaste com Israel em operações destinadas a apoiar o Hamas em Gaza.

Mas a principal razão da derrota de Israel até à data é o próprio Israel. Depois de morder a isca e cair na armadilha do Hamas, Israel prosseguiu com a execução da sua Doutrina Dahiya contra a população palestina de Gaza, realizando ataques indiscriminados contra objectos civis, num flagrante desrespeito pela lei da guerra. Estima-se que 13 mil civis palestinos foram mortos por estes ataques, incluindo mais de 5 mil crianças. Muitos milhares de vítimas continuam soterradas sob os escombros das suas casas destruídas.

Embora Israel possa ter conseguido angariar apoios na comunidade internacional no rescaldo do ataque de 7 de Outubro perpetrado pelo Hamas, a sua reacção exagerada e grosseira virou a opinião pública mundial contra si – algo com que o Hamas contava. Hoje, Israel está cada vez mais isolado, perdendo apoio não só no chamado Sul Global, mas também nos redutos tradicionais do sentimento pró-Israel nos EUA, no Reino Unido e na Europa. Este isolamento, combinado com o tipo de pressão política que Israel não está habituado a receber, ajudou a contribuir para a aquiescência do governo de Netanyahu relativamente ao cessar-fogo e à subsequente troca de prisioneiros.

Resta saber se o cessar-fogo será válido ou não. Assim, também, a questão de transformar o cessar-fogo numa cessação duradoura das hostilidades permanece uma questão em aberto. Mas uma coisa é certa: tendo declarado que a vitória é definida pela derrota total do Hamas, os israelenses prepararam o terreno para uma vitória do Hamas, algo que o Hamas consegue simplesmente sobrevivendo.

Mas o Hamas está a fazer mais do que apenas sobreviver – está a vencer. Depois de ter combatido as Forças de Defesa de Israel até à paralisação no campo de batalha, o Hamas viu todos os seus objectivos estratégicos neste conflito concretizarem-se. O mundo está a articular activamente a necessidade absoluta de uma solução de dois Estados como pré-requisito para uma paz duradoura na região. Os palestinos mantidos prisioneiros por Israel estão a ser trocados pelos israelenses que o Hamas tomou como reféns. E o mundo islâmico está unido na condenação da profanação da Mesquita Al Aqsa por parte de Israel.

Nenhuma destas questões estava em cima da mesa no dia 6 de Outubro. O facto de estarem a ser abordadas agora é uma prova do sucesso que o Hamas obteve no dia 7 de Outubro e nos dias e semanas que se seguiram, quando as forças israelenses foram derrotadas por uma combinação da tenacidade do Hamas e a sua própria predileção pela violência indiscriminada contra civis. Longe de ser eliminado como força militar e política, o Hamas emergiu como talvez a voz e autoridade mais relevante quando se trata de defender os interesses do povo palestino.

24/Novembro/2023


29 DE NOVEMBRO - DIA INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE À LUTA DO POVO PALESTINO


 

sábado, 11 de novembro de 2023

“Israel dá seu último suspiro” titula o jornal hebreu Haaretz

 Sob este título, o jornal hebreu “Haaretz” publicou um artigo do famoso escritor sionista Ari Shabet.

Em Resumen Latinoamericano.

Ari Shabet dizia:

“Parece que estamos perante as pessoas mais difíceis da história e para isso não há outra solução senão reconhecer os seus direitos e acabar com a ocupação. “Parece que ultrapassamos o ponto sem retorno e “Israel” pode já não ser capaz de acabar com a ocupação, parar os colonatos e alcançar a paz. Parece que já não é possível reformar o sionismo, salvar a democracia e dividir o povo deste país.

“Se a situação é assim, então não há prazer em viver neste país, não há prazer em escrever no “Haaretz” e não há prazer em ler o “Haaretz”. Devemos fazer o que Rogel Alfer sugeriu duas vezes, anos atrás, que devemos sair do país.”

O escritor continuou: “Coloquei o dedo nos olhos de Netanyahu, Lieberman e dos neonazistas, para acordá-los do seu delírio, porque Trump, Kushner, Biden, Barack Obama e Hillary Clinton não são os que farão isso. . acabar com a ocupação, e não serão as Nações Unidas e a União Europeia que irão impedir o acordo.”

“A única força no mundo capaz de salvar “Israel” de si mesmo são os próprios “israelenses”, criando uma nova linguagem política que reconheça a realidade  que os palestinos têm as suas raízes nesta terra. Recomendo a busca de uma terceira via para sobreviver aqui e não morrer.

O redator do jornal Haaretz confirma isso: Desde o momento em que chegaram à Palestina, os “judeus” perceberam que são o produto de uma mentira criada por um movimento que usou todos os enganos de caráter judeu ao longo da história.

“Ao explorar e exagerar o que Hitler chamou de Holocausto, o movimento conseguiu convencer o mundo de que a Palestina é a “Terra Prometida” e que o suposto templo está localizado abaixo da Mesquita de Al-Aqsa. Assim, o lobo tornou-se um cordeiro criado com o dinheiro dos contribuintes americanos e europeus, até se tornar um monstro nuclear. 

Ele enfatizou que “a maldição das mentiras é o que assombra os israelenses, dia após dia, esbofeteando-os na forma de uma faca nas mãos de um Maqdisi, um Jalili e um Nabulsi, ou com uma pedra ou uma pedra ou um motorista de ônibus de Jafa, Haifa e Acre.”

Os “israelenses” percebem que não têm futuro na Palestina, uma vez que não é uma terra sem pessoas como mentiram.

Parece que os palestinos têm uma natureza diferente do resto da humanidade. Ocupamos suas terras e chamamos seus jovens de prostitutas e drogados. Dissemos que alguns anos se passariam e eles esqueceriam  sua pátria e  sua terra, e então a  geração mais jovem irrompeu a Intifada de 1987. Colocámo-los nas prisões e dissemos: “Vamos criá-los nas prisões”.

Anos mais tarde, quando pensámos que tinham aprendido a lição, eles voltaram  com uma revolta armada no ano 2000, devorando tudo o que era verde e seco. Dissemos que iríamos demolir as suas casas e sitiá-los durante muitos anos, e  retiraram mísseis impossíveis de destruir, atacaram-nos, apesar do cerco e da destruição, por isso começamos a planejar os muros e arames farpados. E eis que eles vieram até nós do subsolo e através de túneis, até que nos infligiram mortes graves na última guerra. Nós os dominamos com nossas mentes e então eles assumiram o controle do satélite “israelense” (Amós)? Eles levaram o terror a todos os lares de “Israel”, transmitindo ameaças e ameaças, como aconteceu quando os seus jovens conseguiram tomar o controle do Canal 2 “israelense”.

"Em suma, parece que estamos perante as pessoas mais difíceis da história e não há outra solução para elas senão reconhecer os seus direitos e acabar com a ocupação.”

Fonte: jornal Haaretz.

https://desacato.info/israel-da-seu-ultimo-suspiro-titula-o-jornal-hebreu-haaretz/

 


quinta-feira, 9 de novembro de 2023

A amizade árabe-Irã é uma realidade geopolítica

 Por:   M. K. Bhadrakumar

Palestinos trabalham nos escombros de edifícios alvo de ataques aéreos israelenses no campo de refugiados de Jabalia, norte de Gaza, 1º de novembro de 2023

A próxima primeira visita do Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, à Arábia Saudita, em 13 de Novembro, marca um marco na aproximação entre os dois países mediada pela China em Março. A relação está a adquirir rapidamente um nível qualitativamente novo de solidariedade no contexto do conflito Palestina-Israel. 

Isto marca uma mudança nas placas tectónicas na política regional, que há muito é dominada pelos Estados Unidos, mas já não o é. A mais recente iniciativa China-Emirados Árabes Unidos, na segunda-feira, para promover um cessar-fogo em Gaza foi encerrada com um extraordinário espetáculo de diplomacia na sede da ONU em Nova Iorque, enquanto os enviados dos dois países liam juntos uma declaração conjunta à mídia. Os EUA não estavam em lugar nenhum. 

Os acontecimentos desde 7 de Outubro deixam perfeitamente claro que as tentativas dos EUA de integrar Israel na sua vizinhança muçulmana nos seus termos são uma quimera – isto é, a menos e até que Israel esteja disposto a transformar a sua espada em relhas de arado. A ferocidade dos ataques de vingança israelitas contra o povo de Gaza – “animais” –   cheira a racismo e genocídio. 

O Irão sempre soube da bestialidade do regime sionista. A Arábia Saudita também deve estar com um humor moderado após o alerta de que deve, antes de mais nada, aprender a viver na sua região. 

Raisi dirige-se para a Arábia Saudita no contexto de uma mudança histórica na dinâmica do poder. O rei Salman convidou Raisi para falar sobre os crimes de Israel contra os palestinos em Gaza numa cimeira especial de estados árabes, que ele acolhe em Riade. Isto significa uma profunda compreensão saudita de que mesmo a sua vontade de se envolver nos Acordos de Abraham sob a persuasão americana alienou o público árabe. 

Há uma falácia no discurso ocidental sobre um eixo Rússia-China-Irão na Ásia Ocidental. Esta é uma interpretação errada e sem sentido. Um triplo princípio consistente da política externa que o Irão perseguiu desde a Revolução Islâmica em 1979 é que, primeiro, a sua autonomia estratégica é sagrada; segundo, os países da região devem tomar o seu destino nas suas próprias mãos e resolver eles próprios as questões regionais, sem envolver potências extra-regionais; e, terceiro, promover a unidade muçulmana, por mais longo e tortuoso que esse caminho possa parecer. 

Este princípio teve severas limitações devido à força das circunstâncias – principalmente, nas condições geradas pela política colonial de dividir para governar seguida pelos EUA. As circunstâncias foram até deliberadamente arquitetadas, como a guerra Iraque-Irão, onde os EUA encorajaram os estados regionais a colaborar com Saddam Hussein no lançamento de uma agressão contra o Irão para impedir a revolução islâmica na sua infância. 

Outro episódio doloroso foi o conflito sírio. Aí, mais uma vez, os EUA fizeram campanha activa entre os estados regionais para uma mudança de regime em Damasco com o objectivo final de atingir o Irão, utilizando os grupos terroristas que Washington incubou no Iraque Ocupado. 

Na Síria, os EUA conseguiram de forma brilhante colocar os estados regionais uns contra os outros e o resultado é evidente nas ruínas daquilo que costumava ser o coração palpitante da civilização islâmica. No auge do conflito, várias agências de inteligência ocidentais operavam livremente na Síria, ajudando os grupos terroristas a atacar o país cujo pecado capital era que, tal como o Irão, o país também consistentemente deu primazia à sua autonomia estratégica e políticas externas independentes durante a guerra fria. e nas eras pós-guerra fria. 

Basta dizer que os EUA e Israel tiveram grande sucesso na fragmentação do Médio Oriente muçulmano, exagerando as percepções de ameaça e convencendo vários Estados Árabes do Golfo de que enfrentavam ameaças directas ou mesmo ataques por representantes iranianos, bem como alegado apoio iraniano a movimentos dissidentes.

É claro que os EUA capitalizaram isso vendendo enormes volumes de armas e, mais importante, para tornar o petrodólar um pilar fundamental do sistema bancário ocidental. Quanto a Israel, beneficiou directamente da demonização do Irão, a fim de desviar a atenção da questão palestina, que sempre foi a questão central da crise no Médio Oriente.

Basta dizer que a implementação do acordo Irão-Saudita-China reduziu a hostilidade que existiu entre Riade e Teerão durante a maior parte das últimas décadas. Ambos os países procuraram aproveitar o impulso gerado pelo sucesso das conversações secretas de Pequim no que diz respeito ao seu compromisso de não interferência. Deve notar-se, no entanto, que as relações entre os países árabes do Golfo e o Irão já melhoraram significativamente nos últimos dois anos. 

O que os analistas ocidentais não percebem é que os estados ricos do Golfo estão fartos da sua vida subalterna como ajudantes dos EUA. Querem dar prioridade à sua vida nacional nas direcções que escolherem e com parceiros que os respeitem, evitando qualquer mentalidade de soma zero, ao contrário da era da Guerra Fria, por razões de ideologia ou dinâmica de poder. 

É por isso que a administração Biden não pode aceitar que os sauditas trabalhem hoje com a Rússia na plataforma OPEP+ para cumprir o seu compromisso de cortes voluntários adicionais no fornecimento de petróleo, ao mesmo tempo que negociam com os EUA sobre tecnologia nuclear e, ao mesmo tempo, avançam na via diplomática. trabalhar com Pequim para extinguir o fogo que ardeu no Levante há um mês e que se espalhou pelo resto da região da Ásia Ocidental. 

Evidentemente, os sauditas já não se contentam com a perspectiva de um confronto EUA-Irão. Por outro lado, os sauditas e os iranianos partilham a preocupação de que o seu novo pensamento com primazia no desenvolvimento se dissipe, a menos que haja estabilidade e segurança regionais.

Assim, é pura ingenuidade da parte de Washington agrupar o Hezbollah, o Hamas e o Irão como um único grupo – como Blinken fez durante a sua última visita a Tel Aviv na segunda-feira – e justapô-lo com o resto da região. A boato de que o Hezbollah e o Hamas são movimentos “terroristas” está prestes a ser exposta. Verdade seja dita, em que diferem do Sinn Féin, que foi historicamente associado ao IRA? 

Tal ingenuidade sublinha a absurda aventura EUA-Israel-Indiana de criar um QUAD 2 da Ásia Ocidental (“I2U2”), que hoje parece ridícula – ou a conspiração quixotesca eclodida recentemente em Nova Deli durante a cimeira do G20 para colocar os sauditas a bordo da Índia -Projecto do Corredor Médio Oriente-Europa, com a esperança de que “integre” Israel e crie negócios para o Porto de Haifa, isole o Irão e a Turquia, destrua o Corredor Internacional Norte-Sul liderado pela Rússia e mostre o dedo médio à Cinturão e Rota de Pequim. Considerando que a vida é real. 

Tendo tudo em conta, foi a visita regional do Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, a Israel e a sua cimeira com um seleto grupo de estados árabes em Amã, no último fim de semana, que se transformou num momento decisivo na crise de Gaza.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros árabes recusaram-se terminantemente a aceitar qualquer uma das propostas invejosas apresentadas por Blinken com intenções maliciosas de preservar os interesses judaicos –   “pausa humanitária” em vez de cessar-fogo; campos de refugiados para as pessoas de Gaza que escapam dos ataques horríveis e brutais de Israel, que seriam financiados com dinheiro árabe, mas que acabariam por levar a colonatos judaicos em Gaza; os contornos de um acordo pós-guerra para Gaza que deixará os escombros a serem tratados pela Autoridade Palestiniana e a reconstrução a ser financiada pelos Estados do Golfo, enquanto Israel continua a dominá-la na importantíssima esfera de segurança; impedindo o Irão de ir em socorro do Hezbollah e do Hamas enquanto estes são colocados em moedores de carne israelitas de fabrico americano. 

Foi uma hipocrisia total. Os ministros dos Negócios Estrangeiros árabes falaram numa só voz para articular a sua contraproposta ao cessar-fogo imediato de Blinken. O presidente Biden parece finalmente ver o que está escrito na parede – embora, intrinsecamente, ele continue a ser o sionista número um do mundo, como alguém uma vez o chamou, e suas motivações sejam em grande parte sustentadas por sua própria sobrevivência política à medida que as eleições de 2024 se aproximam. mais perto. 

Seja como for, a grande probabilidade é que seja agora uma questão de tempo até que a comunidade global insista em travar o estado de apartheid israelita. Pois, quando os países muçulmanos se unem, eles dão as cartas na ordem mundial multipolar emergente. A sua exigência de que a resolução do problema palestino não permita mais atrasos ganhou ressonância, inclusive no Hemisfério Ocidental. 

https://www.indianpunchline.com/arab-iran-amity-is-a-geopolitical-reality/

EUA e Israel abrirão uma segunda frente no Líbano

 

MK Bhadrakumar- 6 de novembro de 2023

Uma reunião conjunta dos EUA e de cinco ministros das Relações Exteriores árabes ocorreu em Amã em 4 de novembro de 2023 para discutir a questão da Palestina

anúncio na noite de domingo pelo Comando Central dos EUA [CENTCOM], com sede em Doha, sobre a chegada de um submarino nuclear americano da classe Ohio à sua “área de responsabilidade” pressagia uma escalada significativa da situação em torno do conflito Palestina-Israel.

É muito raro que a utilização destes submarinos seja divulgada. O CENTCOM não forneceu detalhes adicionais, mas publicou uma imagem que aparentemente mostrava um submarino da classe Ohio na ponte do Canal de Suez, no Egito. Curiosamente, o CENTCOM também partilhou separadamente a imagem de um bombardeiro B-1 com capacidade nuclear operarando no Oriente Médio.

Tomados em conjunto, estes destacamentos dos EUA, que se somam à presença formidável de dois porta-aviões e navios de guerra com centenas de caças avançados no Mediterrâneo Oriental e no Mar Vermelho, respectivamente, estão de olho no “outro lado da equação”, como o secretário de Estado, Antony Blinken, descreveu curiosamente o Hamas, o Hezbullah e o Irã durante a sua última visita a Tel Aviv na sexta-feira.

Num desenvolvimento relacionado, talvez, o diretor da CIA, William Burns, chegou a Israel no domingo para consultas urgentes. O jornal New York Times relatou que os EUA estão “procurando expandir a sua partilha de inteligência com Israel”.

Indiscutivelmente, a explicação mais simples para a implantação de um submarino nuclear dos EUA, que faz parte da “tríade nuclear” do Pentágono – os barcos da classe Ohio são os maiores submarinos alguma vez construídos para a Marinha dos EUA – perto da zona de guerra é que a Administração Biden está se preparando para uma escalada da guerra no Líbano para eliminar o Hezbollah, o que pode, por sua vez, desencadear uma reação iraniana.

No seu discurso de sexta-feira, o chefe do Hezbollah, Hassan Nasrullah, parecia antecipar precisamente essa reviravolta quando alertou explicitamente os EUA para as consequências que não poderiam ser diferentes do catastrófico envolvimento americano na guerra civil do Líbano no início da década de 1980. Ironicamente, este é também o 40º aniversário do atentado bomba suicida contra o quartel que alojava as forças dos EUA no Aeroporto Internacional de Beirute, em Outubro de 1983, no qual 220 fuzileiros navais, 18 marinheiros e três soldados foram mortos, forçando a retirada dos EUA do Líbano. (Veja Hezbollah assume terreno elevado.)

É evidente que o locus da estratégia dos EUA na situação atual do Oriente Médio pode estar se afastando da diplomacia, que de qualquer forma perdeu força. As tentativas desesperadas de Blinken para responder às crescentes críticas internacionais aos horríveis crimes de guerra de Israel, desviando a atenção para uma “pausa humanitária” nos combates, et al, foram derrubadas sem cerimônia por Netanyahu.

A questão é que, depois de atacar Gaza e o seu povo com artilharia e bombas, o exército israelense avançou na sexta-feira. Até agora, teria avançado para os arredores da Cidade de Gaza, mas não entrou no reduto do Hamas. Lutas urbanas ferozes são esperadas quando isso acontecer.

Da mesma forma, a tentativa apressada da administração Biden de promover um esboço vago para uma Gaza do pós-guerra que poderia incluir uma combinação de uma Autoridade Palestina revitalizada, uma força de manutenção da paz, etc., foi recebida com uma nítida falta de entusiasmo na reunião de Blinken no fim de semana, em Amã, com os ministros das Relações Exteriores árabes – da Jordânia, do Egito, da Arábia Saudita, do Qatar e dos Emirados Árabes Unidos – que, em vez disso, exigiram um cessar-fogo imediato, enquanto Blinken disse que Washington não iria pressionar por um.

Blinken viajou de Amã para Ramallah, onde o chefe da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, também lhe deu pouca atenção, dizendo que a AP só estaria pronta para assumir total responsabilidade pela Faixa de Gaza no quadro de uma “solução política abrangente” que incluiria o Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza – e, além disso, que a segurança e a paz só podem ser alcançadas pondo fim à ocupação dos territórios do “Estado da Palestina” e reconhecendo Jerusalém Oriental como a sua capital. A reunião durou menos de uma hora e terminou sem declarações públicas.

Entretanto, a China e os Emirados Árabes Unidos apelaram desde então para uma reunião a portas fechadas do Conselho de Segurança da ONU em mais uma tentativa de procurar um cessar-fogo imediato, ao qual a Administração Biden certamente se oporá. Basta dizer que a administração Biden se sente encurralada e a única saída é algo ceder através do exercício de meios coercivos.

Os EUA observam com frustração o aparecimento de novas equações regionais entre as nações muçulmanas. Os ministros das Relações Exteriores do Irã e da Arábia Saudita mantiveram hoje outra conversa telefônica. A OIC anunciou mais tarde que uma cúpula extraordinária será realizada em Riade, em 12 de Novembro, a pedido do atual presidente, a Arábia Saudita, para discutir os ataques de Israel ao povo palestiniano.

Certamente, a reaproximação Irã-Arábia Saudita, mediada por Pequim, transformou profundamente o ambiente de segurança regional, com os estados regionais preferindo claramente encontrar soluções para os seus problemas sem interferência externa, e os velhos cismas e xenofobia promovidos pelos EUA para perpetuar o seu domínio, sem mais apoiadores.

À medida que o número de mortos em Gaza ultrapassa os 10.000, os sentimentos estão de fato em alta no mundo muçulmano. O Líder Supremo do Irã, Ali Khamenei, disse hoje que “todas as provas e indicações mostram o envolvimento direto dos Americanos na condução da guerra” em Gaza. Khamenei adicionou que à medida que a guerra prossegue, as razões por trás do papel direto dos EUA se tornariam mais explícitas.

A Agência de Notícias Fars, próxima do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, também divulgou que Khamenei realizou uma “recente reunião em Teerã” com o chefe do gabinete político do Hamas, Ismail Haniyeh, onde disse a este último que o apoio de Teerã aos grupos de resistência é a sua “política permanente”.

Evidentemente, Teerã já não vê problema em reconhecer os seus laços fraternos com os grupos de resistência. Esta é uma mudança de paradigma indicativa da alteração da dinâmica de poder, que os EUA e Israel são obrigados a combater através do uso da força, uma vez que a diplomacia de Washington não conseguiu fazer progressos para isolar o Irã.

O Chefe do Estado-Maior Israelense, Herzi Halevi, disse no domingo durante uma reunião no Comando do Norte: “Estamos prontos para atacar no Norte a qualquer momento. Compreendemos que isso pode acontecer… Temos um objetivo claro de restaurar uma situação de segurança significativamente melhor nas fronteiras, não apenas na Faixa de Gaza.”

Nenhum poder na terra pode parar Israel no seu caminho agora. A sua estabilidade e defesa estão indissociavelmente ligadas a esta guerra, o que também garantirá o compromisso permanente dos EUA com a sua segurança como um modelo fundamental das estratégias globais americanas para o futuro previsível. Portanto, a melhor hipótese de sobrevivência de Israel reside na expansão do âmbito da guerra em Gaza para o Líbano – e possivelmente até para a Síria – ombro a ombro com os Americanos.

Não há dúvida de que a localização do submarino nuclear dos EUA a leste de Suez é uma tentativa de intimidar o Irã para que não intervenha, enquanto Israel, com o apoio dos EUA, procede à abertura de uma segunda frente no Líbano. As autoridades israelenses anunciaram a evacuação de pessoas de colonatos localizados numa zona até cinco quilômetros da fronteira com o Líbano.

Uma guerra com prazo indeterminado está prestes a começar no Oriente Médio. Quando o apelo da jihad começar, inevitavelmente, não se sabe como o presidente americano de 80 anos irá responder.

Não, isso não se transformará em uma guerra mundial. Será travada apenas no Oriente Médio, mas o seu resultado terá um impacto significativo na construção de uma nova ordem mundial multipolar. O último mês mostrou o declínio precipitado da influência dos EUA e o ambiente global altamente volátil desde o início da guerra na Ucrânia, em Fevereiro do ano passado.

https://sakerlatam.org/eua-e-israel-abrirao-uma-segunda-frente-no-libano/

Após o discurso de Nasrallah, EUA e Israel escalam a guerra em Gaza

 Por Hasan Illaik em 6 de novembro de 2023

Não há mais enrolação e indecisão em Washington e Tel Aviv, à medida que mais armas, planos de batalha, tropas e aliados são reunidos para aprofundar a guerra em Gaza e destruir a resistência palestina.

Trinta dias depois que a Operação Al-Aqsa Flood destruiu a dissuasão psicológica de Israel, Washington e Tel Aviv continuam a tomar medidas perigosas para expandir sua guerra em Gaza em uma conflagração regional.

Duas semanas atrás, tanto os EUA quanto Israel começaram a recuar um pouco de seu objetivo inicial de “eliminar completamente o Hamas” – um alvo que muitos sentiam ser irrealista e inatingível. 

Mas agora, Tel Aviv reiterou seu objetivo de erradicar a resistência palestina em sua guerra na Faixa de Gaza, e os EUA estão fornecendo cobertura completa para a brutal campanha israelense.

A escala do bombardeio de Israel é semelhante às campanhas aéreas de Washington no Vietnã, Coréia e Camboja, e nos primeiros dias de sua invasão iraquiana de “Choque e Pavor”. Esse nível de bombardeio destrutivo é historicamente sem precedentes em uma área geográfica de apenas 365 quilômetros quadrados. 

Para descrever a situação com mais precisão, as bombas lançadas por Israel na Faixa de Gaza superam a bomba nuclear com que os Estados Unidos atingiram a cidade japonesa de Hiroshima na Segunda Guerra Mundial. Nas últimas semanas, Gaza suportou a dor de 25.000 toneladas de explosivos – em comparação com as 15.000 toneladas da bomba de Hiroshima, de acordo com o Monitor Euro-Mediterrânico dos Direitos Humanos.

Mais de 10.000 civis – incluindo 4.000 crianças – foram mortos pelo poder de fogo israelense indiscriminado. Outros 2.200 palestinos estão desaparecidos sob os escombros, metade dos quais são crianças. 

Apesar disso, as autoridades dos EUA afirmam publicamente que seus aliados em Tel Aviv têm tido o cuidado de não causar baixas civis e que continuam a alertar Israel para não infligir mais mortes de civis em Gaza.

Mas as ações falam mais alto do que as palavras, e os comportamentos de Washington apoiam estrondosamente a escalada da violência. Até o momento, apesar da deslumbrante demonstração de diplomacia “de translado” regional no fim de semana passado pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, os EUA se recusam a firmar um acordo de cessar-fogo. Washington também convenceu seus aliados árabes a concordar em continuar a guerra – por enquanto. 

Os regimes árabes que normalizaram as relações com Israel – Egito, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos – ainda não sofreram a ira pública de seus cidadãos que se opõem veementemente à agressão de Israel a Gaza. Washington e Tel Aviv jogaram algumas migalhas nesses aliados árabes para ajudá-los a afastar a dissidência doméstica em massa. Por exemplo, Blinken deu ao rei Abdullah II da Jordânia um “passe de corredor” para lançar suprimentos de ajuda aérea para o hospital jordaniano em Gaza no domingo. Este gesto sem sentido seguiu-se ao recall da semana passada do embaixador da Jordânia em Tel Aviv: duas ações no espaço de uma semana sugerem muito calor vindo das ruas em algumas capitais árabes. 

Mas, na verdade, a defesa aérea jordaniana está profundamente envolvida nos sistemas israelenses e americanos no combate aos mísseis iemenitas e iraquianos que se dirigem para os territórios ocupados da Palestina.

Durante sua rápida visita às principais capitais da Ásia Ocidental, Blinken também carregou consigo mais ameaças ao Eixo de Resistência regional pró-palestino, reiterando o aviso de que os militares dos EUA, posicionados na Ásia Ocidental, no Mar Vermelho, no Golfo Pérsico e no leste do Mediterrâneo, contraporiam qualquer tentativa de ir à guerra. 

Isso, enquanto Washington está acumulando ainda mais forças terrestres, aéreas e navais na região para deter os inimigos de Israel. A implantação de dois porta-aviões com um grupo de navios de guerra cada; quatro outros grupos navais; caças e bombardeiros; sistemas de defesa aérea Patriot e THAAD; e o reforço de todas as bases militares regionais dos EUA com mais tropas – e hoje, um anúncio militar dos EUA de que um submarino nuclear foi despachado para o “Oriente Médio”.

Todos os reforços do Pentágono para proteger a guerra desenfreada de Israel em Gaza – que não pararam desde a operação de resistência liderada pelo Hamas em 7 de outubro – aparentemente não foram suficientes para deter o Eixo da Resistência. E há evidências práticas disso:

Primeiro, Blinken visitou a capital iraquiana usando um colete à prova de balas, onde foi transmitir suas ameaças às inúmeras facções de resistência do país. Assim que ele partiu do aeroporto de Bagdá, a Resistência Islâmica no Iraque realizou mais de um bombardeio às bases dos EUA no Iraque e na Síria.

Em segundo lugar, os lançamentos de foguetes e drones continuam do Iêmen em direção às bases militares israelenses na Palestina ocupada, que são combatidas pelos sistemas de defesa antimísseis dos EUA a partir da Arábia Saudita, Jordânia e Egito antes das defesas antimísseis israelenses.  Apesar das ameaças dos EUA à liderança da resistência Ansarallah do Iêmen, as barragens de foguetes não pararam e continuarão “até que seus alvos sejam atingidos”, conforme anunciado pelo secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em seu aguardado discurso na última sexta-feira.

“O Hamas deve vencer”, diz Nasrallah

Nasrallah falava em nome da aliança do Eixo da Resistência da região à qual ele pertence. Durante seu discurso, ele expôs diretamente os dois principais objetivos de sua aliança na guerra atual: primeiro, um cessar-fogo; segundo “a resistência em Gaza deve vencer e o Hamas deve vencer”.

Muitos no mundo árabe e além interpretaram o discurso de Nasrallah como cauteloso e atenuante. Mas seu segundo objetivo contradisse seu tom calmo, impondo um patamar bem elevado nesta guerra. Enquanto Israel e os Estados Unidos estabeleceram como objetivo mútuo a derrota total do Hamas e seu domínio em Gaza, o Hezbollah e sua aliança estabeleceram como objetivo a vitória final da resistência palestina.

Nasrallah então ameaçou os Estados Unidos, dizendo que a resistência havia preparado “o que é necessário” para enfrentar suas frotas navais. Como Tel Aviv bem sabe de décadas de análise de seus discursos, o líder do Hezbollah nunca exagera suas capacidades militares. E essa era a mensagem mais clara possível de que a mobilização militar dos EUA não desencorajou o Eixo.

A liderança israelense declarou que sua guerra contra Gaza será longa e que não tem intenção de fechar um acordo de cessar-fogo. Ao fornecer cobertura total para as atrocidades israelenses, os EUA desencadearam uma escalada de ataques do Eixo da Resistência em várias frentes, de acordo com a confirmação de fontes do Eixo. 

A possibilidade de a guerra se expandir para outras frentes geográficas contra bases e interesses militares dos EUA agora aumenta exponencialmente. Os acúmulos militares de Washington na Ásia Ocidental são um incentivo para alimentar a guerra, em vez do “dissuadí-la”, o que os americanos acreditam que impedirá a expansão do conflito. 

Esses desdobramentos americanos servem apenas para encorajar a liderança israelense, fornecendo-lhes licença total para expandir e intensificar seu campo de extermínio em Gaza – não apenas massacrando civis impunemente, mas destruindo parte significativa da infraestrutura que garantirá que grande parte do território permaneça inabitável. 

Enquanto isso, a resistência palestina não tem planos de se render, pois isso fará com que a devastação israelense sem precedentes em Gaza não tenha sentido. O Eixo da Resistência fará tudo o que estiver ao seu alcance para impedir uma vitória israelense nesta guerra, o que significa que a região está caminhando para um estado de grande guerra, além de qualquer cenário de “escalada lenta e gradual” que Tel Aviv ou Washington antecipem ou pensem que possam controlar. 

A ‘Operação Terrestre’ está apenas começando

Em suma, a única coisa que impede uma guerra regional hoje é uma decisão americano-israelense de parar o bombardeio de Gaza.

Existem várias maneiras de ajudar a acelerar essa decisão – uma é garantir que o exército israelense pague um preço pesado e insuportável durante suas operações terrestres na Faixa de Gaza. Até agora, dez dias após a guerra terrestre, as forças de ocupação ainda não entraram nas áreas mais populosas de Gaza, onde encontrarão pesadas perdas de tropas. A desculpa de Tel Aviv é que o norte de Gaza – onde seu exército entrou com um plano para separá-lo do Sul – ainda contém 400.000 residentes palestinos. Assim, os militares de Israel aumentaram a frequência e a intensidade dos bombardeios no Norte para forçar o deslocamento dos residentes remanescentes da área.

Apesar dessas precauções israelenses, as Brigadas Al-Qassam do Hamas têm enfrentado as forças invasoras, infligindo pesadas perdas tanto às tropas quanto aos veículos blindados. Quanto mais perto o exército de ocupação chega de áreas povoadas, mais fáceis se tornam os alvos para a resistência. 

Para pintar uma imagem mais clara dessa realidade do campo de batalha, um correspondente da Fox News que acompanhou soldados israelenses até a linha de frente revelou que, apesar da campanha de bombardeio de Israel sobre Gaza, seu exército só penetrou uma milha no território palestino. Em outras palavras, a operação terrestre ainda está no início e mal arranhou a superfície das perdas que pode esperar incorrer.

Tentativas de negociação

Em meio a essa escalada, os EUA agora tentam ganhar tempo propondo uma “trégua humanitária” para permitir que os israelenses organizem suas fileiras, que estão constantemente expostas a ataques da resistência. Por esta razão, Washington intensificou novamente a mediação do Catar com o objetivo de conseguir uma troca de prisioneiros entre o Hamas e Israel. 

De acordo com fontes bem-informadas, as negociações estão atualmente limitadas a aprovar uma trégua por um período de 48 horas. Durante o período de dois dias proposto, a passagem de fronteira Egito-Gaza Rafah será aberta para a entrada de toda a ajuda humanitária presa no Egito, e todas as mulheres e crianças palestinas presas em centros de detenção israelenses serão trocadas pelas mulheres e crianças capturadas pelo Hamas em 7 de outubro, independentemente de sua nacionalidade.

Essa mediação, se bem-sucedida, dificilmente abrirá caminho para um cessar-fogo prolongado – atuará como uma pausa para os beligerantes e permitirá que Washington organize um “sucesso” de relações públicas para o governo Biden.

Nenhum dos lados pegar fôlego por muito tempo. As frotas navais dos EUA e as transferências de ajuda militar para a região são uma garantia de que a guerra de Israel em Gaza continuará e antecipará uma grande escalada na Ásia Ocidental, a partir da qual os EUA e Israel tentarão impor um novo fato consumado que “integre Israel ao seu entorno” via normalização e outras iniciativas. 

Mas a Ásia Ocidental não é mais exclusivamente o campo de jogo dos EUA ou de Israel e, nas últimas décadas, Washington só foi surpreendida por circunstâncias imprevistas em suas inúmeras intervenções regionais. Hoje, esses adversários nunca foram tão fortes ou mais próximos.

https://sakerlatam.org/apos-o-discurso-de-nasrallah-eua-e-israel-escalam-a-guerra-em-gaza/