segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Washington aproxima-nos mais da guerra

  Todos os problemas podem acabar já se o Ocidente apoiar a desmilitarização da Ucrânia.

Paul Craig Roberts [*]

É importante compreender que, segundo as notícias, o governo dos EUA e a sua marioneta britânica estão a sancionar as pessoas de Putin e Lavrov no momento em que escrevo. Putin já disse que qualquer insulto deste tipo resultará na ruptura das relações diplomáticas. Ou os governos dos EUA e do Reino Unido estão a conduzir intencionalmente a situação para um conflito mais vasto ou são demasiado estúpidos para estarem no poder. Historicamente, uma ruptura nas relações diplomáticas é um passo em direção à guerra.

A sanção é um insulto gratuito, pois Putin não tem bens no estrangeiro para serem congelados e duvido muito que Lavrov os tenha.

Claramente, Washington está a fazer todo o possível para inflamar a situação, não para reduzir as tensões. Todos os problemas podem acabar já se o Ocidente apoiar a desmilitarização da Ucrânia.

Ao invés disso, um governo americano louco, insano e psicopata está a empurrar o mundo para a guerra nuclear. Os republicanos conservadores e os democratas liberais imbecis estão unidos para inflamar uma situação perigosa. O mundo nunca viu tal irresponsabilidade.

Os americanos displicentes deixaram de prestar atenção por tanto tempo que, se a verdade for dita, a situação está fora de controlo. Há zero inteligência em Washington. No seu lugar está uma Russofobia cega. Não há peritos russos objetivos nos EUA para encorajar uma política externa sã. A análise objetiva é considerada como propaganda russa e ignorada. Tudo o que Washington tem feito conduz a um conflito com a Rússia. A mistura de uma total falta de objetividade com armas nucleares é a receita do desastre.

25/Fevereiro/2022

Desarmamento da Ucrânia (5º dia), Guerra monetária à Rússia (1º dia)

 A historiadora Anne Morelli resumiu assim o livro clássico de Arthur Ponsonby, Falsehood in War-Time: (Falsidade em tempo de Guerra)

1- Não queremos a guerra.
2- Só a parte contrária é culpada pela guerra.
3- O inimigo é inerentemente maligno e assemelha-se ao diabo.
4- Defendemos uma causa nobre, não os nossos próprios interesses.
5- O inimigo comete atrocidades de propósito; os nossos contratempos são involuntários.
6- O inimigo usa armas proibidas.
7- Sofremos pequenas perdas, as do inimigo são enormes.
8- Artistas e intelectuais reconhecidos apoiam a nossa causa.
9- A nossa causa é sagrada.
10- Todos os que duvidam da nossa propaganda são traidores.

Como exemplo, apresento-vos a declaração política de ontem de Olaf Scholz, Chanceler da República Federal da Alemanha

O acima exposto é o que se ouve e vê nas atuais notícias 'ocidentais'. Não é a realidade.

Os Estados Unidos e os seus apaniguados (proxies) na UE e noutros locais aplicaram sanções muito duras à Rússia para prejudicar a sua economia.

A intenção final desta guerra econômica é a mudança de regime na Rússia.

A consequência provável será uma mudança de regime em muitos outros países.

Esta guerra é travada a uma dimensão financeira sem precedentes. As consequências em todos os mercados serão de muito significativas a extremas. Mas a experiência do Irã mostra que tais guerras financeiras têm os seus limites à medida que o país visado aprende a sobreviver. Além disso, a Rússia está numa posição muito mais forte do que o Irão alguma vez esteve e está melhor preparada para as consequências.

O rublo caiu hoje cerca de 30%, mas o banco central russo imediatamente mais do que duplicou a sua taxa de juro para 20%. Está disposto a combater a inflação antes que ela realmente se instale. Quanto do investimento e consumo da Rússia depende de importações provenientes do "Ocidente"? Não pode a maior parte ser substituída por importações provenientes da China?

Todo o consumo de energia nos EUA e na UE virá agora a um preço superior. Isto irá empurrar a UE e os EUA para uma recessão. Como a Rússia irá aumentar os preços das exportações de bens em que tem poder de mercado – gás, petróleo, trigo, potássio, titânio, alumínio, paládio, néon, etc – o aumento da inflação em todo o mundo tornar-se-á significativo.

Os bancos centrais "ocidentais" ainda praticam taxas de juro em torno de 0% e estarão relutantes em aumentá-las, uma vez que isso causará uma recessão mais profunda. Isto torna provável que a inflação no mundo "ocidental" aumente a uma taxa mais elevada do que a da Rússia.

A loucura da Alemanha de acrescentar 120 mil milhões de dólares aos gastos com a defesa (dos atuais cerca de 40 mil milhões de dólares por ano) irá criar dentro de poucos anos um forte desequilíbrio militar na Europa, pois a Alemanha irá então dominar todos os seus vizinhos. Isto é desnecessário e historicamente muito perigoso. A renúncia às relações econômicas com a Rússia e a China significa que a Alemanha e o seu novato chanceler Olaf Scholz caíram no esquema estado-unidense de criar uma nova Guerra Fria. A economia alemã tornar-se-á agora uma das suas vítimas.

A 4 de Fevereiro, a Rússia e a China declararam um mundo multipolar, no qual são dois parceiros polares que irão contrariar o americano. O movimento da Rússia dentro da Ucrânia é uma demonstração disso.

Isso mostra também que os EUA não estão dispostos a desistir dos seus impulsos supremacistas sem um grande combate. Mas enquanto os EUA, nos últimos 20 anos, gastaram o seu dinheiro para arrebentar o Médio Oriente, a Rússia e a China aproveitaram o tempo para se prepararem para um conflito maior. Dedicaram mais tempo cerebral ao assunto do que os Estados Unidos.

Os europeus deveriam ter reconhecido isso, ao invés de ajudar os EUA a manterem a sua auto-imagem de uma potência unipolar.

Levará algum tempo para que as novas realidades econômicas se estabeleçam. É provável que mudem a atual visão dos verdadeiros interesses estratégicos da Europa.


Algumas observações táticas:

Este mapa mostra o terreno ocupado pelos militares russos durante os primeiros dias.


Este mapa indica a provável intenção actual das forças russas.


Há 12 a 15 brigadas de forças ucranianas (azuis) na frente do Donbass. Se os russos (vermelhos) se moverem suficientemente rápido podem cortar aquelas forças do resto do país ou bombardeá-las quando tentarem escapar na única grande estrada entre essas duas setas em pinça.

Depois de uma trégua a Rússia reintroduziu os caças Su-34 na Ucrânia. Eles irão atacar concentrações de tropas ucranianas.

Os elementos russos a norte da Crimeia tomaram duas pontes importantes e atravessaram o Dnieper rumo ao oeste. Isto abre o caminho para Odessa mais a oeste, bem como para uma marcha para norte rumo a Kiev, no lado ocidental do Dnieper.

28/Fevereiro/2022

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Amanhã será um grande dia (mesmo que nada aconteça!)

 Para começar, um rápido lembrete do que a máquina de propaganda anglo-saxônica anda a dizer (imagem):

Bem, então uma de duas coisas acontecerá amanhã:

Opção 1: nada acontece
Opção 2: alguma coisa acontece

Opção 1: Se nada acontecer, então, como Lavrov explicitou recentemente, a Administração Biden terá de declarar que "liderada pelos gloriosos e invencíveis EUA, e totalmente unido contra a agressão russa, o Ocidente dissuadiu Putin dos seus planos sanguinários". O problema com esta versão é que, considerando a abjecta e covarde fuga de todas as embaixadas e organizações ocidentais para Lvov ou mesmo para a UE, será difícil explicar como é que uma tal fuga em pânico "dissuadiu Putin". Só pessoas ignorantes e rematadamente estúpidas poderiam levar a sério esse tipo de disparate evidente.

A parte mais hilariante desta opção será que os Ukronazis TAMBÉM irão querer o título de "defensor da Civilização Branca Ocidental" e afirmarão que foram *os seus* gloriosos e invencíveis militares que dissuadiram Putin e salvaram a civilização ocidental das hordas asiáticas saqueadoras.

Quanto a Jens Stoltenberg (sempre com aparência constipada e aterrorizada), ele já declarou que o fim dos exercícios militares russos não prova nada: eles, os russos poderiam ter equipamento pré-posicionado perto da fronteira Ukie e que podem voltar num piscar de olhos. Sim, aquele imbecil ainda pensa que verá milhares de tanques russos a atravessar a fronteira como numa recriação histórica de uma famosa batalha de tanques do século XX...

Quanto aos gênios da CIA, provavelmente ainda estão a modelar se a temperatura amanhã vai congelar ou não (aparentemente, pensam que as condições meteorológicas Ukie podem limitar as operações dos tanques russos).

Portanto, se nada acontecer, o resultado final será vitória para a Rússia.

Opção 2: Se algo acontecer, o Ocidente irá culpar a Rússia, independentemente do que realmente tiver acontecido. Então a verborreia mudará para "liderada pelos gloriosos EUA, e totalmente unido contra a agressão russa, o Ocidente imporá sanções do inferno à Rússia e estará ao lado do povo heróico da Ucrânia". O menor problema aqui é que o Ocidente já impôs praticamente todas as sanções que podia e isso só fez prosperar a economia russa. O problema muito maior com essa opção será que isto arruinará a economia da UE, algo que os líderes americanos do Império não só desejam, mas de que precisam desesperadamente. Mas isso é também algo que terá um impacto verdadeiramente devastador na economia e atmosfera política da UE.

Aqui, mais uma vez, uma de duas coisas pode acontecer:

  • Opção 3: as LDNR mantêm a linha com um apoio russo mínimo (C4ISTAR) e talvez uma zona de interdição de voo (que a Rússia pode impor sem mover equipamento para as LDNR ou mesmo sem sair do espaço aéreo russo).

  • Opção 4: a provocação anglo-saxônica não deixa outra opção à Rússia senão a intervenção aberta.

Se a opção 3 acontecer, isto será um verdadeiro triunfo para a Rússia e um pesadelo tornado realidade para o Ocidente.

Será isto possível? Penso que sim, é (discuto isso  aqui).

No entanto, não podemos fazer tal suposição e precisamos examinar as consequências da opção 4.

Opção 4: se a Rússia for for forçada a intervir, então duas coisas acontecerão em simultâneo:

1. Os EUA e a OTAN terão tido êxito nos seus objectivos de forçar a Rússia a intervir e
2. O Ocidente recuará em terror quando vir o que os militares russos podem realmente fazer

Assim, se algo forçar a Rússia a intervir amanhã (ou no futuro), isto será um triunfo para os anglos, um desastre para a UE, e uma derrota política para a Rússia.

Para a Rússia, esta será uma vitória militar fácil, mas que terá um custo, incluindo:

  • Perdas militares e civis

  • A Rússia terá de pagar pela reconstrução de qualquer parte da Ucrânia que libertar

  • A Rússia terá de manter a lei e a ordem em qualquer parte da Ucrânia que libertar

  • A Rússia terá de alimentar, tratar e sustentar todos os civis Ukie que libertar

  • Os nazis em Kiev e os neocons em Washington DC terão uma grande oportunidade de culpar a Rússia de todas as suas crises (no plural)

  • Ao libertar x% da Ucrânia, a Rússia "colocará do outro lado da fronteira russa" muitos ucranianos anti-nazis que reduzirão o problema e uma ameaça potencial para os nazis em Kiev. A ideologia banderista atingirá um novo nível nas partes da Ucrânia que (por qualquer razão) a Rússia não tenha libertado

E, naturalmente, a UE também pagará custos muito reais, economicamente, com certeza (como pensa que os mercados reagirão a uma guerra real na Ucrânia?), mas também social e politicamente. Mas não há absolutamente nada que as "grandes geleias invertebradas supino protoplásmicas" da UE (para usar a expressão muito apropriada de BoJo) possam fazer acerca disso. Saberão que foram lixados, mas não serão capazes de fazer nada a esse respeito. As palavras que Putin dirigiu recentemente aos ucranianos ("não gostas? não gostas mesmo? bem, suporta a minha ousadia, suporta-a simplesmente!") poderiam muito bem ser dirigidas também à UE!

Afinal de contas, se os europeus não têm auto-respeito, porque é que alguém na Rússia lhes haveria de mostrar algum respeito?

Aqui está algo absolutamente crucial que temos de ter em mente, independentemente do que amanhã aconteça ou não:

O Ocidente *JÁ* PERDEU A UCRÂNIA!


Aquele "momento de Cabul" já aconteceu.

E aquela fuga vergonhosa já provou, para além de quaisquer dúvidas razoáveis, que:

  • 1. A Rússia é militarmente mais forte do que os EUA+NATO e todas as ameaças ocidentais são apenas isso, ameaças vazias. A "verdade real" é que os EUA e a OTAN temem os militares russos.

  • 2. Que ninguém combaterá pela Ucrânia e que todas as promessas que lhe foram feitas nas últimas três décadas pelo Ocidente foram tão falsas quanto todas as promessas feitas à Rússia nas mesmas três últimas décadas. O Império Anglo-sionista ficará na história como o "Império da hipocrisia e das mentiras".

  • 3. A OTAN é um tigre de papel cujo único objectivo é "manter os alemães em baixo e os ianques dentro", mas simplesmente não tem os meios para "manter os russos fora". Ainda bem que a Rússia não quer ter nada a ver com a UE. Que a UE "se divirta" com a imigração, a pobreza, as repressões do COVID, os protestos civis, etc, etc, etc.

  • 4. Os EUA querem impor ainda mais o seu domínio sobre a Europa, inclusive pela venda à UE de energia a preços imensamente inflacionados. Estão dispostos a incendiar a Ucrânia e a deixar a UE afundar numa espiral irrecuperável.

Os gigantes das TI dos EUA já estão a impor um bloqueio informativo sobre o Donbass e podemos ter a certeza de que os livres meios de comunicação social ocidentais irão imprimir exactamente o que lhe for dito para imprimirem. Assim, inicialmente, aqueles que ainda prestam atenção aos meios de propaganda ocidentais obterão uma imagem totalmente falsa do que está realmente a acontecer.

Mas esta é a era do smartphone e só por algum tempo os dominadores da Zona A poderão manter a sua grande muralha informativa, até a verdade vir à tona.

Foi fácil mentir sobre MH-17, os Skripals, Navalnyi ou Gouta. Mas em Cabul havia demasiadas pessoas na rua, e muitas delas tinham telemóveis com câmaras (mesmo as câmaras primitivas baratas eram suficientemente boas para a tarefa). E assim o gigantesco desastre americano em Cabul tornou-se famoso por todo o mundo.

Há ainda muitos mais telemóveis em Banderistão e nas LDNR, pelo que o Tio Shmuel não será capaz enfiar tudo debaixo do tapete e fingir que "está tudo bem, nós controlamos a situação".

Se/quando a provocação/ataque acontecer nas LDNR, será impossível parar o constante gotejamento de informação proveniente das LDNR e começarão a aparecer fissuras na propaganda do Ocidente. Isso, por sua vez, resultará em ainda mais denúncias, ameaças, acusações, mentiras e todo o resto do vômito verbal que os media de propaganda ocidentais têm produzido durante anos, séculos e mesmo milênios.

Finalmente, temos de assumir que todos os governos da UE/OTAN, incluindo o dos EUA, irão reprimir a dissidência e empenhar-se-ão numa campanha sistemática para reprimir e silenciar qualquer um que se atreva a desobedecer às suas ordens. As coisas ficarão cada vez mais feias, especialmente com hiperinflação e estagflação a atacar. Putin até advertiu acerca de motins por comida mas, claro, ninguém no Ocidente prestou atenção ao seu aviso (não ouvir nada do que Putin diz é considerado o auge da perspicácia política no Ocidente).

Uma advertência final: não podemos deixar a árvore esconder a floresta!

A Ucrânia não é, repito, NÃO, o que preocupa a Rússia. A Rússia quer uma nova ordem internacional, multipolar, que inclua uma nova arquitetura de segurança coletiva na Europa.

Portanto, aconteça o que acontecer, ou não acontecer, amanhã, esta será apenas uma data após a qual nenhuma das questões-chave estará resolvida (não, a Rússia não tem qualquer intenção de "resolver" o problema ucraniano por invasão, isso é um disparate total).

Assim, embora o prazo para uma provocação esteja algures entre "qualquer segundo a partir de agora, amanhã ou talvez dentro de alguns dias", o processo de reforma da arquitetura de segurança da Europa será muito mais longo, vários meses no mínimo, e será apimentado com mais erupções e crises (reais ou imaginadas).

Em conclusão, peço a todos os leitores e comentadores que NÃO cheguem a conclusões, realmente a quaisquer conclusões, amanhã ou nos próximos dois ou três dias. Primeiro, porque não terão acesso nem sequer à informação mínima necessária para chegar a quaisquer conclusões, segundo, porque serão proactivamente visados pelos PSYOPs ocidentais para impedir que as vossas mentes cheguem à Zona A e, terceiro, mesmo que amanhã haja uma batalha de algum tipo, informativa e/ou cinética, o jogo estará muito longe, do fim.

Só conseguiremos aceder com precisão ao que vai acontecer daqui a semanas, se não meses, pois na realidade só vemos os resultados, não os processos!

Vou terminar este post com uma nova piada russa. Duas notas rápidas para esclarecer o contexto:
Nota 1: os Ukies gostam de chamar os russos de "asiáticos" e, no léxico Ukronazi, a palavra "Buriat" significa "negro asiático da neve" ou algo semelhante.
Nota 2: o dia 23 de Fevereiro é o do "Defensor da Pátria" russa.

"Os oficiais da 810º Brigada de Infantaria Naval da frota do Mar Negro telefonaram a um restaurante no centro de Kiev e reservaram uma mesa para a noite de 23 de Fevereiro, mas foi-lhes dito que todas as mesas já haviam sido reservadas pelos oficiais da 5ª Brigada de Tanques de Buryatia! Os russos estão agora a protestar veementemente contra a forma como ucranianos tortuosos estão a tentar introduzir uma cunha entre a irmandade de camaradas russos e de Buriat! Quanto a todos os outros restaurantes de Kiev, já haviam sido reservados pelos soldados e oficiais da Divisão Aerotransportada de Pskov"!

Bem, isto é apenas uma *piada*. A minha fervorosa esperança é que a Rússia não seja obrigada a intervir. Deixem os ucranianos resolverem sozinhos os seus próprios problemas. O que devemos a eles é exactamente e absolutamente *nada* (além, claro, do compromisso que assumimos de não permitir um genocídio nas LDNR).

Finalmente, mais uma vez, insto a que verifiquem as últimas notícias de Andrei Martyanov:  a Rússia enviou tanto o Tu-22M3 como MiG-31K com mísseis hipersónicos Kinzhal à Síria, vejam por si próprios aqui:
https://smoothiex12.blogspot.com/2022/02/messaging.html

15/Fevereiro/2022

[*] Analista militar.

O original encontra-se em thesaker.is/tomorrow-will-be-a-big-day-even-if-nothing-happens/

Este artigo encontra-se em resistir.info

Quando a crueldade é o ponto: Biden decide apreender ativos afegãos. Isso é imoral e desumano

 

O Afeganistão está no meio de uma crise humanitária

 desesperada, e a Casa Branca parece empenhada em 

aprofundá-la.

No verão passado, depois de décadas matando afegãos no Afeganistão, o governo dos EUA decidiu retirar suas forças de ocupação daquele país.

A operação foi mal preparada (ou intencionalmente sabotada pelo Pentágono) e terminou em caos. Mais de 120.000 afegãos, a maioria deles de nível superior, também foram levados para o exterior. Isso por si só foi severamente prejudicial para o Afeganistão.

Os EUA também congelaram os fundos de reserva de mais de US$ 7 bilhões do banco central do Afeganistão, mantidos em Nova York. Este é o dinheiro do povo afegão. Parte dos fundos totais são reservas que os bancos privados afegãos depositaram no banco central. É dinheiro que o povo afegão comum depositou nesses bancos privados.

Agora, o governo Biden, ignorando os vários proprietários desses fundos, decidiu roubá-los todos.

Isso é vingança no nível mais desumano :

O presidente Biden começará a abrir caminho legal para certos parentes de vítimas dos ataques de 11 de setembro de 2001 para buscar US$ 3,5 bilhões de ativos que o banco central do Afeganistão havia depositado em Nova York antes da tomada do Talibã, segundo autoridades familiarizadas com deliberações internas. .

Ao mesmo tempo, Biden emitirá uma ordem executiva invocando poderes de emergência para consolidar e congelar todos os US$ 7 bilhões do total de ativos que o banco central afegão mantinha em Nova York e pedir permissão a um juiz para transferir os outros US$ 3,5 bilhões para um fundo fiduciário. fundo para pagar os esforços imediatos de ajuda humanitária e outras necessidades no Afeganistão, disseram as autoridades.

O Afeganistão precisa urgentemente desses fundos de reserva.

Como seu banco central não tinha acesso aos fundos, não pôde intervir quando a moeda afegã se desvalorizou depois que os EUA e seus asseclas fugiram. Tornou impossível para o governo e o povo adquirir alimentos do exterior. As Nações Unidas e muitas outras organizações alertaram que milhões de pessoas no Afeganistão estão em perigo iminente de morrer por falta de comida. Uma nova e enorme onda de refugiados está fugindo do país e provavelmente desestabilizará seus vizinhos.

Foi uma má jogada congelar esse dinheiro. É inescrupuloso roubá-lo. Também é ilegal sob a lei dos EUA, e é por isso que o governo Biden decidiu falsificá-lo:

É altamente incomum para o governo dos Estados Unidos comandar os ativos de um país estrangeiro em solo doméstico. Dizem que as autoridades discutiram um processo legal em duas partes para Biden projetar esse resultado.

Primeiro, ele usaria poderes de emergência sob uma disposição da Lei Internacional de Poderes Econômicos de Emergência para “dirigir e obrigar” que os ativos de um país estrangeiro nos Estados Unidos fossem transferidos para uma conta segregada. Isso os bloquearia, mas o banco central do Afeganistão ainda os possuiria.

Em segundo lugar, as autoridades discutiram o uso de uma disposição do Federal Reserve Act que permite a alienação de bens pertencentes ao banco central de uma nação estrangeira – desde que tenha a bênção de alguém que o secretário de Estado reconheceu como sendo “o representante credenciado”. ” daquele país estrangeiro.

Mas decidir quem se qualifica como tal pessoa, em um momento em que o antigo governo do Afeganistão não existe mais, levantou complicações significativas. Ainda não está claro qual solução os funcionários do governo Biden escolheram e se o nome de qualquer pessoa ou pessoas que considerem como tal seria divulgado por razões de segurança, como possivelmente colocar em risco familiares ainda no Afeganistão.

O 'representante credenciado' será simplesmente alegado existir e ter dado 'a bênção', mas nunca será nomeado.

Dar dinheiro que pertence ao banco central do Afeganistão e é necessário para ajudar o povo afegão a parentes de pessoas que morreram no 11 de setembro é completamente injustificado. Os talibãs que agora governam o Afeganistão não são os mesmos que governavam o país anteriormente. Além disso, nenhum Talibã jamais soube de antemão que o 11 de setembro foi planejado por algumas pessoas que naquela época viviam no Afeganistão. Eles não são responsáveis ​​pelo 11 de setembro.

Além disso, o dinheiro simplesmente não é deles. Os ativos do banco central são de propriedade do banco central e não de um governo governante de qualquer tipo. O Federal Reserve dos EUA não está com dinheiro de democratas ou republicanos, nem o banco central afegão está com dinheiro do Talibã.

Em uma entrevista, Dr. Mehrabi – que também é professor de economia no Montgomery College em Maryland [e um membro de longa data do conselho do banco central afegão] – argumentou que o banco central deveria ser visto como independente do governo afegão agora liderado pelo Taleban. . Ele disse que muitos funcionários públicos sabiam como administrar o banco e que privá-lo dos fundos necessários para manter a estabilidade de preços levaria a corridas a bancos comerciais, inadimplência em massa de empréstimos e, finalmente, um desastre mais amplo.

"Você está falando em avançar para um colapso total do sistema bancário", disse ele. “Acho que é uma visão míope.”

Mas um funcionário do governo familiarizado com as deliberações do governo argumentou que a “triste realidade” era que mesmo que o banco central recuperasse o acesso aos ativos em Nova York e os transferisse para o Afeganistão para uma última injeção de capital, isso não resolveria os problemas mais profundos. problemas estruturais que levaram a economia do país à ruína.

O povo afegão morrerá dos 'problemas estruturais' que foram causados ​​pela ocupação norte-americana, seu fim abrupto, e agora são causados ​​pelo roubo de seu dinheiro.

Postado por b em 11 de fevereiro de 2022 às 15:53

https://www.moonofalabama.org/2022/02/when-cruelty-is-the-point-us-decides-to-kill-more-afghan-people.html

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Análisando a crise construída pelo Imperio sionista, na Ucrânia

 Os verdadeiros adversários dos EUA são os seus aliados, europeus e outros

O objetivo estado-unidense é impedi-los de negociar com a China e a Rússia

Michael Hudson [*]   08/Fevereiro/2022

A Cortina de Ferro das décadas de 1940 e 1950 era ostensivamente concebida para isolar a Rússia da Europa Ocidental – para afastar a entrada da ideologia comunista e da penetração militar. O regime de sanções de hoje é voltado para dentro, para impedir que a NATO dos EUA e outros aliados ocidentais abram mais o comércio e investimentos com a Rússia e a China. O objetivo não é tanto isolar a Rússia e a China, mas sim manter esses aliados firmemente dentro da própria órbita económica dos EUA. Os aliados devem privar-se dos benefícios da importação de gás russo e dos produtos chineses, comprando GNL dos EUA a preços muito mais elevados e outras exportações, culminando por mais armas dos EUA.

As sanções que os diplomatas dos EUA insistem que seus aliados imponham contra o comércio com a Rússia e a China visam ostensivamente impedir uma escalada militar. Mas uma tal escalada não pode realmente ser a principal preocupação russa e chinesa. Eles têm muito mais a ganhar oferecendo benefícios económicos mútuos ao Ocidente. Assim, a questão subjacente é se a Europa descobrirá a sua vantagem em substituir as exportações dos EUA por fornecimentos russos e chineses e as ligações económicas mútuas associadas.

O que preocupa os diplomatas americanos é que a Alemanha, outras nações da NATO e países ao longo da rota Belt and Road entendam os ganhos que podem ser obtidos com a abertura de comércio e investimentos pacíficos. Se não há planos russos ou chineses para invadi-los ou bombardeá-los, qual é a necessidade da NATO? Qual é a necessidade de compras tão pesadas de equipamentos militares dos EUA pelos aliados ricos dos EUA? E se não existe uma relação inerentemente adversa, por que países estrangeiros precisam sacrificar seus próprios interesses comerciais e financeiros confiando exclusivamente nos exportadores e investidores dos EUA?

Estas são as preocupações que levaram o primeiro-ministro francês Macron a invocar o fantasma de Charles de Gaulle e instar a Europa a se afastar do que ele chama de “morte cerebral” da Guerra Fria da NATO e romper com acordos comerciais favoráveis aos EUA que estão impondo custos crescentes à Europa, negando-lhe ganhos potenciais do comércio com a Eurásia. Até a Alemanha está a recusar-se a exigências de que ficar congelada até Março próximo, ficando sem o gás russo.

Ao invés de uma ameaça militar real da Rússia e da China, o problema para os estrategas americanos é a ausência de tal ameaça. Todos os países perceberam que o mundo chegou a um ponto em que nenhuma economia industrial tem mão-de-obra e capacidade política para mobilizar um exército permanente da dimensão que seria necessária para invadir ou mesmo travar uma grande batalha com um adversário significativo. Esse custo político torna não econômico para a Rússia retaliar contra o aventureirismo da OTAN a espicaçar a sua fronteira ocidental tentando incitar uma resposta militar. Não vale a pena tomar a Ucrânia.

A pressão crescente dos EUA sobre seus aliados ameaça expulsá-los da órbita estado-unidense. Durante mais de 75 anos, eles tiveram pouca alternativa prática à hegemonia dos EUA. Mas isso agora está a mudar. Os Estados Unidos não têm mais o poder monetário e o excedente aparentemente crônico das balanças comercial e de pagamentos que em 1944-45 lhe permitiram elaborar as regras mundiais de comércio e investimento. A ameaça à dominância dos EUA é que a China, a Rússia e o cerne da Ilha Mundial Eurasiana de Mackinder estão a oferecer melhores oportunidades de comércio e investimento do que as disponíveis nos Estados Unidos com sua exigência cada vez mais desesperada de sacrifícios da sua OTAN e de outros aliados.

O exemplo mais gritante é a tentativa dos EUA de impedir a Alemanha de autorizar o gasoduto Nord Stream 2 a fim de obter gás russo para o tempo frio que se aproxima. Angela Merkel concordou com Donald Trump em gastar US$1000 milhões na construção de um novo terminal metaneiro para se tornar mais dependente do GNL dos EUA, de alto preço. (O plano foi cancelado depois de as eleições americanas e alemãs mudarem ambos os líderes.) Mas a Alemanha não tem outro meio de aquecer muitas de suas casas e prédios de escritórios (ou abastecer suas empresas de fertilizantes) senão o gás russo.

A única maneira que resta para os diplomatas dos EUA bloquearem as compras europeias é incitar a Rússia a uma resposta militar e depois alegar que vingar tal resposta supera qualquer interesse econômico puramente nacional. Como a falcoa Victoria Nuland, subsecretária de Estado para Assuntos Políticos, explicou numa coletiva de imprensa do Departamento de Estado em 27 de janeiro: “Se a Rússia invadir a Ucrânia de uma forma ou de outra, o Nord Stream 2 não avançará”. [1] O problema é criar um incidente adequadamente ofensivo e retratar a Rússia como o agressor.

Nuland mostrou sucintamente quem ditava as políticas dos membros da OTAN em 2014: “Foda-se a UE”. Isso foi dito quando ela informou ao embaixador dos EUA na Ucrânia que o Departamento de Estado estava a apoiar o fantoche Arseniy Yatsenyuk como primeiro-ministro ucraniano (removido após dois anos em um escândalo de corrupção) e as agências políticas dos EUA apoiaram o sangrento massacre de Maidan que deu iniciou a oito anos de guerra civil. O resultado devastou a Ucrânia tanto quanto a violência dos EUA na Síria, Iraque e Afeganistão. Isto não é a política de paz mundial ou democracia que os eleitores europeus endossam.

As sanções comerciais dos EUA impostas a seus aliados da OTAN estendem-se por todo o espectro comercial. A Lituânia, dominada pela austeridade, abriu mão do seu mercado de queijos e agricultura na Rússia e está a impedir a sua ferrovia estatal de transportar potássio da Bielorrússia para o porto báltico de Klaipeda. O principal proprietário do porto queixou-se de que “a Lituânia perderá centenas de milhões de dólares ao interromper as exportações da Bielorrússia através de Klaipeda” e de que “pode enfrentar reivindicações legais de US$15 mil milhões por rupturas de contratos”. [2] A Lituânia até concordou com a solicitação dos EUA para reconhecer Formosa, o que resultou na recusa da China a importar produtos alemães ou outros que incluam componentes fabricados na Lituânia.

A Europa deve impor sanções à custa do aumento dos preços da energia e da agricultura, dando prioridade às importações dos Estados Unidos e renunciando às ligações russas, bielorrussas e outras fora da área do dólar. Como Sergey Lavrov colocou a questão: “Quando os Estados Unidos pensam que algo atende aos seus interesses, podem trair aqueles de quem eram amigos, com quem cooperaram e que atenderam às suas posições em todo o mundo”. [3]

As sanções dos EUA aos seus aliados prejudicam suas economias, não as da Rússia e da China

O que parece irônico é que tais sanções contra a Rússia e a China acabaram por ajudá-los ao invés de prejudicá-los. Mas o objetivo principal era prejudicar, não ajudar as economias russa e chinesa. Afinal, é axiomático que sanções forçam os países visados a se tornarem mais auto-suficientes. Privados do queijo lituano, os produtores russos produziram o seu próprio queijo e não precisam mais importá-lo dos estados bálticos. A rivalidade econômica subjacente dos Estados Unidos visa manter os países europeus e asiáticos aliados na sua própria órbita econômica cada vez mais protegida. Alemanha, Lituânia e outros aliados são instruídos a impor sanções destinadas a atingir o seu próprio bem-estar econômico ao não negociar com países fora da órbita da área do dólar americano.

Independentemente da ameaça de guerra real resultante da belicosidade estado-unidense, o custo para os aliados dos EUA de se renderem às suas exigências de comércio e investimento está a tornar-se tão alto que acaba por ser politicamente insustentável. Durante quase um século, houve pouca alternativa a não ser concordar com regras de comércio e investimento que favorecessem a economia dos EUA como preço pelo apoio financeiro e comercial dos EUA e mesmo por segurança militar. Mas agora ameaça surgir uma alternativa – aquela que oferece benefícios da iniciativa BRI da China, a Estrada da Seda, e do desejo da Rússia de investimentos estrangeiros para ajudar a modernizar sua organização industrial, como parecia ter sido prometido em 1991, há trinta anos.

Desde os fins da Segunda Guerra Mundial, a diplomacia dos EUA tem como objetivo prender a Grã-Bretanha, a França e especialmente a Alemanha e o Japão derrotados, tornando-os dependências econômicas e militares. Como documentei em Super Imperialism, diplomatas americanos desmembraram o Império Britânico e absorveram a sua Área do Esterlino com os termos onerosos impostos primeiro pelo Lend-Lease e a seguir pelo Anglo-American Loan Agreement de 1946. Os termos deste último obrigaram a Grã-Bretanha a abandonar a sua política de Preferência Imperial e a desbloquear os saldos em libras esterlinas que a Índia e outras colônias haviam acumulado com as suas exportações de matérias-primas durante a guerra, abrindo assim a Commonwealth britânica às exportações dos EUA.

A Grã-Bretanha comprometeu-se a não recuperar seus mercados anteriores à guerra através da desvalorização da libra. Diplomatas americanos criaram então o FMI e o Banco Mundial em termos que promoviam os mercados de exportação dos EUA e afastaram a concorrência da Grã-Bretanha e de outros antigos rivais. Debates na Câmara dos Lordes e na Câmara dos Comuns mostraram que os políticos britânicos reconheciam estarem a ser relegados a uma posição econômica subserviente, mas sentiam não terem alternativa. E uma vez que desistiram, os diplomatas dos EUA tiveram liberdade para confrontar o resto da Europa.

O poder financeiro permitiu que os Estados Unidos continuassem a dominar a diplomacia ocidental, apesar de serem forçados a abandonar o ouro em 1971 devido aos custos na balança de pagamentos dos seus gastos militares no exterior. Durante o último meio século, países estrangeiros mantiveram suas reservas monetárias internacionais em dólares americanos – principalmente em US Treasury securities, contas em bancos americanos e outros investimentos financeiros na economia dos EUA. O padrão letras do Tesouro obriga os bancos centrais estrangeiros a financiarem o défice de base militar na balança de pagamentos dos Estados Unidos – e, neste processo, o défice orçamental interno do governo.

Os Estados Unidos não precisam desta reciclagem para gerar moeda. O governo pode simplesmente imprimir a moeda, como demonstrou a Moderna Teoria Monetária (MMT). Mas os Estados Unidos precisam desta reciclagem dos dólares dos bancos centrais estrangeiros para equilibrar seus pagamentos internacionais e sustentar a taxa de câmbio do dólar. Se o dólar declinasse, países estrangeiros achariam muito mais fácil pagar dívidas internacionais em dólar nas suas próprias divisas. Os preços de importação dos EUA aumentariam e seria mais caro para investidores americanos comprarem ativos estrangeiros. E os estrangeiros perderiam dinheiro com ações e títulos dos EUA denominados nas suas próprias divisas e os abandonariam. Os bancos centrais, em particular, teriam uma perda com os títulos em dólar do Tesouro mantidos nas suas reservas monetárias – e descobririam que seu interesse está em fugir do dólar. Assim, tanto a balança de pagamentos dos EUA como a sua taxa de câmbio estão ameaçados pela beligerância e os gastos militares estado-unidenses por todo o mundo – ainda que os seus diplomatas tentem estabilizar as coisas através do aumento de ameaças militares até ao nível de crises.

Os esforços dos EUA para manter seus protetorados europeus e do leste asiático trancados na sua própria esfera de influência são ameaçados pela emergência da China e da Rússia independentes dos Estados Unidos, enquanto a economia dos EUA está a desindustrializar-se como resultado das suas próprias escolhas políticas deliberadas. A dinâmica industrial que tornou os Estados Unidos tão dominantes desde o final do século XIX até a década de 1970 deu lugar a uma missionária financiarização neoliberal. É por isso que os diplomatas dos EUA precisam torcer o braço dos seus aliados a fim de bloquear as suas relações econômicas com a Rússia pós-soviética e a China socialista, cujo crescimento supera o dos Estados Unidos e cujos acordos comerciais oferecem mais oportunidades de ganho mútuo.

A questão é quanto tempo os Estados Unidos podem impedir seus aliados de aproveitarem o crescimento econômico da China. Será que a Alemanha, a França e outros países da OTAN buscarão a prosperidade para si próprios ao invés de deixar que o padrão do dólar americano e as preferências comerciais suguem o seu superávit econômico?

A diplomacia do petróleo e o sonho dos Estados Unidos para a Rússia pós-soviética

A expectativa de Gorbachev e outros responsáveis russos em 1991 era que sua economia se voltasse para o Ocidente para uma reorganização nos moldes que tornaram tão prósperas as economias dos EUA, Alemanha e outras. A expectativa mútua na Rússia e na Europa Ocidental era que investidores alemães, franceses e outros reestruturassem a economia pós-soviética em linhas mais eficientes.

Esse não era o plano dos EUA. Quando o senador John McCain chamou a Rússia de “um posto de gasolina com bombas atómicas”, esse era o sonho dos Estados Unidos do que eles queriam que fosse a Rússia – com as empresas de gás russas a passarem para o controle de acionistas americanos, a começar com a planejada compra da Yukos, conforme combinado com Mikhail Khordokovsky. A última coisa que os estrategas dos EUA queriam ver era o renascimento de uma Rússia próspera. Os conselheiros dos EUA procuraram privatizar os recursos naturais da Rússia e outros ativos não industriais, entregando-os a cleptocratas que poderiam “sacar” o valor do que haviam privatizado apenas vendendo aos EUA e outros investidores estrangeiros por divisas fortes. O resultado foi um colapso econômico e demográfico neoliberal em todos os estados pós-soviéticos.

De certa forma, os Estados Unidos vêm se transformando na sua própria versão de um posto de gasolina com bombas atómicas (e exportações de armas). A diplomacia do petróleo dos EUA visa controlar o comércio mundial do óleo para que os seus enormes lucros sejam acumulados para as principais empresas dos EUA. Foi para manter o petróleo iraniano nas mãos da British Petroleum que em 1954 Kermit Roosevelt da CIA trabalhou com a Anglo-Persian Oil Company, da British Petroleum, para derrubar o líder eleito do Irão, Mohammed Mossadegh, quando procurou nacionalizar a empresa depois de ela se ter recusado, década após década, a cumprir as contribuições que prometera para a economia. Depois de instalar o Xá cuja democracia era baseada num estado policial cruel, o Irão ameaçou mais uma vez atuar como o dono de seus próprios recursos petrolíferos. Por isso, foi mais uma vez confrontado com sanções patrocinadas pelos EUA, que permanecem em vigor até hoje. O objetivo de tais sanções é manter o comércio mundial do petróleo firmemente sob o controle estado-unidense, porque o petróleo é energia e energia é a chave para produtividade e o PIB real.

Nos casos em que governos estrangeiros como a Arábia Saudita e petro-estados árabes vizinhos assumem o controle, as receitas de exportação de seu petróleo devem ser depositadas nos mercados financeiros dos EUA a fim de apoiar a taxa de câmbio do dólar e a dominação financeira dos EUA. Quando eles quadruplicaram os preços do petróleo em 1973-74 (em resposta à quadruplicação dos preços de exportação de cereais pelos EUA), o Departamento de Estado dos EUA estabeleceu a lei e disse à Arábia Saudita que poderia cobrar o quanto quisesse pelo seu petróleo (aumentando assim o guarda-chuva de preços para os produtores de petróleo dos EUA), mas tinha de reciclar suas receitas com a exportação de petróleo para os Estados Unidos em títulos denominados em dólares – principalmente em títulos do Tesouro e contas bancárias dos EUA, juntamente com algumas participações minoritárias em ações e títulos (mas apenas como investidores passivos, sem utilizar este poder financeiro para controlar políticas corporativas).

O segundo modo de reciclar os ganhos da exportação de petróleo era comprar as exportações de armas dos EUA, com a Arábia Saudita tornando-se um dos maiores clientes do complexo industrial-militar. A produção de armas dos EUA, na verdade, não é primariamente de caráter militar. Como o mundo está a ver agora na comoção sobre a Ucrânia, a América não tem um exército de combate. O que tem é o que costumava ser chamado de “exército da comilança” (“eating army”). A produção de armas dos EUA emprega mão-de-obra e produz armamento como uma espécie de instrumento de prestígio para governos exibirem, não para combates reais. Como a maior parte dos produtos de luxo, a margem (markup) é muito alta. Essa é a essência da alta moda e estilo, afinal de contas. O complexo militar-industrial usa seus lucros para subsidiar a produção civil dos EUA de um modo que não viole a letra das leis de comércio internacional contra subsídios governamentais.

Por vezes, é claro, a força militar é de facto usada. No Iraque, primeiro George W. Bush e depois Barack Obama usaram os militares para tomar as reservas de petróleo do país, juntamente com as da Síria e da Líbia. O controle do petróleo mundial tem sido o alicerce da balança de pagamentos dos Estados Unidos. Apesar do esforço global para retardar o aquecimento do planeta, as autoridades americanas continuam a encarar o petróleo como a chave para a supremacia econômica dos Estados Unidos. É por isso que os militares dos EUA ainda se recusam a obedecer às ordens do Iraque para deixar seu país, mantendo suas tropas no controle do petróleo iraquiano, e por isso concordou com os franceses em destruir a Líbia e ainda tem tropas nos campos petrolíferos da Síria. Mais perto de casa, o presidente Biden aprovou a perfuração offshore e apóia a exploração das areias betuminosas de Athabasca (Canadá), ambientalmente o petróleo mais sujo do mundo.

Juntamente com as exportações de petróleo e alimentos, as exportações de armas apoiam o financiamento do padrão de financiamento das despesas militares dos EUA nas suas 750 bases no estrangeiro por meio de títulos do Tesouro. Mas sem um inimigo permanente a ameaçar constantemente nos portões, a existência da OTAN desmorona. Qual seria a necessidade dos países comprarem submarinos, porta-aviões, aviões, tanques, mísseis e outras armas?

À medida que os Estados Unidos se desindustrializaram, seu défice comercial e de balança de pagamentos tornou-se mais problemático. O país precisa das vendas de exportação de armas para ajudar a reduzir seu crescente défice comercial e também para subsidiar suas aeronaves comerciais e sectores civis relacionados. O desafio é como manter sua prosperidade e dominação mundial à medida que se desindustrializa enquanto o crescimento econômico avança na China e agora até na Rússia.

A América perdeu a sua vantagem de custo industrial pelo aumento drástico do seu custo de vida e de fazer negócios na sua economia financiarizada pós industrial rentista. Além disso, como Seymour Melman explicou na década de 1970, o capitalismo do Pentágono é baseado em contratos por administração (cost-plus contracts): Quanto mais altos os custos do hardware militar, mais lucros seus fabricantes recebem. Assim, as armas dos EUA são demasiado complexas – daí os assentos sanitários de US$500 ao invés de um modelo de US$50. Afinal, a principal atratividade dos bens de luxo, incluindo equipamentos militares, é seu preço elevado.

Este é o pano de fundo para a fúria dos EUA no seu fracasso em aproveitar os recursos petrolíferos da Rússia – e ao ver a Rússia também se libertar militarmente para criar suas próprias exportações de armas, as quais agora são tipicamente melhores e muito menos custosas do que aquelas dos EUA. Hoje a Rússia está na posição do Irão em 1954 e novamente em 1979. Não só as suas vendas de petróleo rivalizam com as do GNL dos EUA, como a Rússia mantém seus ganhos de exportação de petróleo em casa a fim de financiar a sua reindustrialização, de modo a reconstruir a economia que fora destruída pela “terapia” de choque patrocinada pelos EUA na década de 1990.

A linha de menor resistência para a estratégia dos EUA que busca manter o controle do fornecimento mundial de petróleo enquanto mantém seu mercado de exportação de armas de luxo via OTAN é Gritar Lobo e insistir em que a Rússia está prestes a invadir a Ucrânia – como se a Rússia tivesse algo a ganhar com a guerra no atoleiro da economia mais pobre e menos produtiva da Europa. O Inverno de 2021-22 viu uma longa tentativa de instigação dos EUA à OTAN e à Rússia para combaterem – sem êxito.

Os EUA sonham com uma China neoliberalizada como filiada corporativa dos EUA

Os Estados Unidos se desindustrializaram como uma política deliberada de cortar custos de produção, uma vez que as suas empresas de manufatura buscaram mão-de-obra de baixos salários no exterior, sobretudo na China. Essa mudança não foi uma rivalidade com a China, mas era encarada como um ganho mútuo. Esperava-se que bancos e investidores americanos assegurassem o controle e os lucros da indústria chinesa à medida que ela fosse comercializada. A rivalidade era entre o patronato dos EUA e os trabalhadores dos EUA, e a arma da guerra de classes era a deslocalização (offshoring) e, no processo, cortar gastos sociais do governo.

Semelhante à busca russa por petróleo, armas e comércio agrícola independente do controle dos EUA, a ofensa da China é manter os lucros de sua industrialização em casa, retendo a propriedade estatal de corporações significativas e, acima de tudo, mantendo a criação de moeda e o Banco da China como um serviço público para financiar a sua própria formação de capital ao invés de permitir que bancos e corretoras norte-americanas forneçam seu financiamento e extraiam seu excedente na forma de juros, dividendos e taxas de administração. A única graça salvadora para os planejadores corporativos dos EUA foi o papel da China em impedir o aumento dos salários dos EUA, providenciando uma fonte de mão-de-obra barata para permitir que fabricantes americanos se deslocalizassem e terciarizassem a sua produção.

A guerra de classe do Partido Democrata contra o trabalho sindicalizado começou no governo Carter e acelerou muito quando Bill Clinton abriu a fronteira sul com o NAFTA. Uma série de maquilhadoras foi estabelecida ao longo da fronteira para fornecer mão-de-obra de baixo custo. Isso se tornou um centro de lucro corporativo tão bem-sucedido que em dezembro de 2001 Clinton pressionou para admitir a China na Organização Mundial do Comércio, no último mês do seu governo. O sonho era que se tornasse um centro de lucro para investidores americanos, produzindo para empresas americanas e financiando seu investimento de capital (e habitação e gastos governamentais também, esperava-se) tomando dólares emprestados e organizando sua indústria num mercado de ações que, como o da Rússia em 1994-96, tornar-se-ia um fornecedor líder de ganhos de capital financeiro para os EUA e outros investidores estrangeiros.

A Walmart, Apple e muitas outras empresas norte-americanas organizaram instalações de produção na China, o que necessariamente envolveu transferências de tecnologia e a criação de uma infraestrutura eficiente para o comércio de exportação. A Goldman Sachs liderou a incursão financeira e ajudou o mercado de ações da China a subir. Tudo o que a América estivera a insistir.

Onde o sonho neoliberal da Guerra Fria da América deu errado?

Para começar, a China não seguiu a política do Banco Mundial de orientar os governos a tomar empréstimos em dólares a fim de contratar empresas de engenharia dos EUA para fornecer infraestrutura de exportação. Ela industrializou-se da mesma forma que os Estados Unidos e a Alemanha o fizeram no final do século XIX: Por meio de pesados ​​investimentos públicos em infraestrutura para atender às necessidades básicas a preços subsidiados ou gratuitamente, desde assistência médica e educação até transporte e comunicações, a fim de minimizar o custo de vida que empregadores e exportadores tinham de pagar. Mais importante, a China evitou o serviço da dívida externa criando a sua própria moeda e mantendo as instalações de produção mais importantes nas suas próprias mãos.

As exigências dos EUA conduzem seus aliados para fora da órbita comercial e monetária do dólar-OTAN

Tal como numa tragédia grega clássica, a política externa dos EUA está a provocar precisamente o resultado que mais teme. Abusando dos seus próprios aliados da OTAN, os diplomatas dos EUA estão a provocar o cenário de pesadelo de Kissinger, unir Rússia e China. Enquanto os aliados dos EUA são instruídos a arcar com os custos das sanções dos EUA, a Rússia e a China estão a beneficiar-se ao serem obrigadas a diversificar e tornar suas próprias economias independentes da dependência dos fornecedores americanos de alimentos e outras necessidades básicas. Acima de tudo, estes dois países estão criando seus próprios sistemas de crédito e de compensação bancária desdolarizados e mantendo suas reservas monetárias internacionais na forma de ouro, euros e divisas um do outro para conduzirem seu comércio e investimento mútuos.

Esta desdolarização proporciona uma alternativa à capacidade unipolar dos EUA de obterem crédito externo gratuito por meio do padrão dos títulos do Tesouro por reservas monetárias mundiais. À medida que os países estrangeiros e seus bancos centrais desdolarizam, o que sustentará o dólar?  Sem a linha de crédito gratuita fornecida pelos bancos centrais a reciclarem automaticamente as despesas das forças armadas no estrangeiro dos Estados Unidos e outros gastos no exterior de volta para a economia dos EUA (apenas com um retorno mínimo), como podem os Estados Unidos equilibrar seus pagamentos internacionais face à sua desindustrialização?

Os Estados Unidos não podem simplesmente reverter sua desindustrialização e dependência da mão-de-obra chinesa e de outros países asiáticos trazendo a produção de volta para casa. O país construiu uma sobrecarga rentista demasiado alta na sua economia para que seu trabalho seja capaz de competir internacionalmente, dadas as necessidades orçamentais dos assalariados dos EUA a fim de pagar altos e crescentes custos de habitação, educação, serviço da dívida, seguro de saúde e serviços de infraestrutura privatizados.

O único meio de os Estados Unidos sustentarem seu equilíbrio financeiro internacional é por meio dos preços de monopólio das exportações das suas armas, produtos farmacêuticos patenteados e tecnologia da informação e pela compra do controle da produção mais lucrativa e setores potencialmente extratores de renda no exterior – por outras palavras, espalhando a política econômica neoliberal por todo o mundo de um modo que obrigue outros países a dependerem de empréstimos e investimentos dos EUA.

Este não é o modo como crescem economias nacionais. A alternativa à doutrina neoliberal são as políticas de crescimento da China que seguem a mesma lógica industrial básica pela qual Grã-Bretanha, Estados Unidos, Alemanha e França chegaram ao poder industrial durante seus próprios arranques industriais com forte apoio governamental e programas de gastos sociais.

Os Estados Unidos abandonaram esta política industrial tradicional desde a década de 1980. Estão a impor sobre a sua própria economia as políticas neoliberais que desde 1991 desindustrializaram o Chile pinochetista, a Grã-Bretanha thatcheriana e as ex-repúblicas soviéticas pós-industriais, os Bálticos e a Ucrânia. Sua prosperidade altamente polarizada e alavancada por dívida baseia-se na inflação do imobiliário e dos preços dos títulos, bem como na privatização da infraestrutura.

Este neoliberalismo tem sido um caminho para se tornar uma economia fracassada e, de facto, um estado fracassado, obrigado a sofrer deflação da dívida, preços crescentes da habitação e das rendas respectivas à medida que as taxas de ocupação por proprietários diminuem, bem como custos médicos exorbitantes e outros custos resultantes da privatização daquilo que outros países fornecem gratuitamente ou a preços subsidiados como direitos humanos – saúde, educação, seguro médico e pensões.

O êxito da política industrial da China com uma economia mista e controle estatal do sistema monetário e de crédito levou estrategas dos EUA a temerem que economias da Europa Ocidental e da Ásia possam descobrir a vantagem de se integrarem mais estreitamente com a China e a Rússia. Os EUA parecem não ter resposta a tal reaproximação global com a China e a Rússia, exceto sanções econômicas e beligerância militar. Essa postura de Nova Guerra Fria é cara, e outros países estão a recusar-se a arcar com o custo de um conflito que não traz benefícios para si mesmos e, na verdade, ameaça desestabilizar seu próprio crescimento econômico e independência política.

Sem os subsídios desses países, especialmente porque China, Rússia e seus vizinhos desdolarizam suas economias, como podem os Estados Unidos manter os custos em balança de pagamentos dos seus gastos militares no exterior? Cortar esses gastos e, de fato, recuperar a auto-suficiência industrial e o poder econômico competitivo exigiria uma transformação da política americana. Tal mudança parece improvável, mas sem ela, por quanto tempo a economia pós-industrial rentista da América conseguirá forçar outros países a fornecer-lhe a riqueza econômica (economic affluence) (literalmente fluxo de entrada, flowing-in) que ela já não produz mais em casa?

[1] www.state.gov/briefings/department-press-briefing-january-27-2022/. Ignorando os comentários de repórteres de que "o que os alemães disseram publicamente não corresponde exatamente ao que você está a dizer", ela explicou as táticas dos EUA para travar o Nord Stream 2. Contrariando o argumento de um repórter de que "tudo o que eles precisam fazer é ligá-lo”, ela disse: “Como o senador Cruz gosta de dizer … atualmente é um pedaço de metal no fundo do mar. Ele precisa ser testado. Precisa ser certificado. Precisa ter aprovação regulamentar”. Para uma revisão recente da geopolítica cada vez mais tensa em acção, consulte John Foster, “Pipeline Politics hits Multipolar Realities: Nord Stream 2 and the Ukraine Crisis”,  Counterpunch, 3/fevereiro/2022.


[2] Andrew Higgins, “Fueling a Geopolitical Tussle in Eastern Europe: Fertilizer”,  The New York Times, 31/janeiro/2022. O proprietário planeja processar o governo da Lituânia por danos avultados.


[3] Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, “Respostas do ministro dos Negócios Estrangeiros Sergey Lavrov às perguntas do programa Voskresnoye Vremya do Channel One”, Moscovo, 30/Janeiro/2022. Johnson’s Russia List, 31/janeiro/2022, #9.

08/Fevereiro/2022

[*] Economista.

O original encontra-se em thesaker.is/americas-real-adversaries-are-its-european-and-other-allies-the-u-s-aim-is-to-keep-them-from-trading-with-china-and-russia/

Este artigo encontra-se em resistir.info

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Abbas acusado de golpe pelas organizações palestinas

 O presidente da AP  (Autoridade Palestina) usou a reunião do Conselho Central Palestino para consolidar seu poder e garantir seu sucessor.

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Ramallah, Cisjordânia ocupada – Os principais grupos palestinos consideraram ilegítimas as novas nomeações para cargos de liderança na OLP e uma tentativa de consolidar o poder do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e garantir o sucessor favorito do presidente de 86 anos.

O Conselho Central Palestino (PCC) anunciou as nomeações para a Organização para a Libertação da Palestina – uma organização guarda-chuva dos partidos políticos palestinos – após uma reunião de dois dias em 6 e 7 de fevereiro na cidade ocupada de Ramallah, na Cisjordânia.

A reunião foi criticada pelo Hamas, pela Jihad Islâmica e pela Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), de esquerda, que disse em comunicado conjunto na quarta-feira que as nomeações não tinham "reconhecimento nem legitimidade", e que eram " uma violação de decisões baseadas no consenso nacional”.

Durante a reunião, a primeira desde 2018, três funcionários considerados leais a Abbas foram nomeados para o comitê executivo de 16 membros da OLP, incluindo o controverso funcionário da AP Hussein al-Sheikh, que provavelmente substituirá o falecido negociador-chefe Saeb Erekat como secretário-geral do comitê.

Duas outras cadeiras foram ocupadas por assessores próximos de Abbas: Mohammad Mustafa, um independente, e Ramzi Khoury, membro do partido Fatah de Abbas.

O PCC também nomeou como seu presidente e presidente do Conselho Nacional Palestino (PNC), de 747 membros, o membro do comitê central do Fatah e assessor de Abbas, Rawhi Fattouh.

'Consolidação' de poder

Analistas e críticos dizem que as nomeações apropriam-se de direitos que pertencem ao PNC, que foi criado como parlamento da OLP e é o mais alto órgão de governo palestino.

“O que aconteceu foi o confisco dos direitos do PNC, o tomador de decisões para tais nomeações”, disse o membro do PNC Tayseer al-Zabbari à Al Jazeera.

A principal função do comitê executivo da OLP é executar as políticas e decisões estabelecidas pelo PNC e pelo PCC – que deveria ser apenas um intermediário entre o OLP e o PNC.

Ativistas e políticos dizem que o PNC foi lentamente marginalizado ao longo do tempo. Só conseguiu realizar uma sessão completa uma vez, em 1996.

As últimas eleições legislativas palestinas ocorreram em 2006, quando o Hamas venceu por maioria esmagadora, desferindo um golpe no Fatah. Em 2007, semanas de violência entre as facções terminaram com a AP dominada pelo Fatah administrando partes da Cisjordânia ocupada e o Hamas governando a Faixa de Gaza sitiada.

O PNC foi posteriormente em grande parte extinto.

Em 2018, a PNC realizou uma sessão que foi boicotada pelo Hamas, Jihad Islâmica e FPLP. Nessa sessão, o órgão – com os membros presentes majoritariamente pertencentes ao Fatah – transferiu formalmente seus poderes legislativos para o PCC.

Mas o analista político Khalil Shaheen disse à Al Jazeera que o PCC não tem o direito legal de nomear cargos executivos e legislativos importantes na liderança palestina, e que as nomeações anunciadas na quarta-feira foram “uma consolidação de personalidades próximas ao presidente”.

“É uma continuação de sua abordagem política e adesão à política de manutenção da AP”, acrescentou.

“Isso exige que ele [Abbas] tenha uma equipe ao seu redor, instituições compatíveis e uma relação econômica e de segurança com o estado ocupante que representa os pulmões pelos quais a AP respira”, disse ele, referindo-se à controversa política de coordenação de segurança da AP com Israel.

No domingo, pequenos protestos ocorreram em Ramallah e Gaza rejeitando a convocação do PCC.

Placas que diziam “Não a um conselho central que aprofunde as divisões e fortaleça a coordenação de segurança e a paz econômica com o inimigo” e “eleições do PNC são o caminho para a unidade, resistência e perseverança” eram vistas na manifestação.

A sucessão de Abbas

Em abril de 2021, Abbas foi duramente criticado por adiar as eleições presidenciais e parlamentares que ocorreriam nos meses seguintes.

Al-Sheikh é  o favorito de Abbas para o substituir.  O mandato de Abbas como presidente expirou em 2009. Ele foi eleito nas últimas eleições presidenciais de 2005, após a morte do ex-líder Yasser Arafat.

Al-Sheikh – que mantém uma estreita ligação com Israel em seu papel como ministro de assuntos civis – agora provavelmente se tornará o secretário-geral do comitê executivo, mas ainda precisa ser formalmente eleito pelo comitê.

A presença e o envolvimento político de Al-Sheikh tornaram-se mais proeminentes desde a morte de Erekat, conduzindo reuniões políticas internacionais e participando da recente reunião controversa entre Abbas e o ministro da Defesa israelense, Benny Gantz.

Ele foi criticado por desempenhar um papel importante na manutenção da política de coordenação de segurança.

Ainda assim, Shaheen disse que, embora acredite que a questão do sucessor de Abbas “não esteja vinculada a uma pessoa específica, parece que o presidente está interessado em manter suas políticas e, portanto, aproxima aqueles que acredita que podem salvaguardar essas políticas”.

FONTE AL JAZEERA