quarta-feira, 24 de junho de 2015

Uma guerra programada para destruir a resistência árabe

Falso Califato: perfeito ativo estratégico dos EUA



[*] Pepe Escobar, Sputnik
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Manifestantes pro-ISIS/ISIL/Daesh em Mosul, Iraque
O ocidente “civilizado” chora abundantes lágrimas de crocodilo, quando a pérola do deserto da Antiga Rota da Seda, Palmira, cai sob as garras do ISIS/ISIL/Daesh.

Contudo, nem o Presidente Barack Obama dos EUA nem qualquer de suas 22 nações-vassalas pesadamente armadas que formam teoricamente a coalizão de vontades dele mandou para lá um drone equipado com míssil Hellfire, que fosse, contra os bandidos vestidos de negro do falso Califato.
Pode-se argumentar que o ocidente “civilizado” prefere negociar com um Califato cheio de wahhabistas medievais intolerantes, a negociar com um “ditador árabe” secular que “se recusa a prostrar-se de joelhos ante o altar do neoliberalismo ocidental”.
Paralelamente, já se disse que os que armaram os degoladores da Frente Al-Nusra, também conhecida como al-Qaeda na Síria, ou ISIS/ISIL/Daesh são predominantemente sauditas – os maiores importadores de armas do planeta – que compram armas principalmente dos EUA, mas também da França e da Grã-Bretanha.
E agora, documento de agosto de 2012, da Agência de Inteligência do Departamento de Defesa dos EUA [Defense Intelligence Agency (DIA)] que circulou por todas as mãos, do CENTCOM à CIA e ao FBI, obtido por ordem judicial pela empresa Judicial Watch, finalmente confirma o que passa por “estratégia” de Washington no Levante e na Península Árabe.
E, assim como a proto-Al-Qaeda original fundada pela CIA, estabelecida nos anos 1980s em Peshawar, o ISIS/ISIL/Daesh, também conhecida como al-Qaeda 2.0, serve ao mesmo objetivo geopolítico.
O resumo é que o ocidente “civilizado”, ombro a ombro com vassalos tipo Turquia e petromonarquias do Golfo, “deram apoio” ao braço da al-Qaeda na Síria para desestabilizar Damasco – apesar de o Pentágono estar prevendo o resultado sinistro que disso adviria, como a emergência do ISIS/ISIL/Daesh (ver também matéria detalhada de Brad Hoff, em 22/5/2015, redecastorphoto: EUA – Agência de Inteligência da Defesa, 2012: Ocidente facilitará ascensão do Estado Islâmico ‘para isolar regime sírio’, Levant Report [traduzido] NTs).
Pelo raciocínio do Pentágono, aí estaria um ativo estratégico de valor incalculável, a ser usado para “isolar o regime sírio”.
É irrelevante que o relatório da Inteligência da Defesa dos EUA não diga, com todas as letras, que o governo dos EUA inventou o ISIS/ISIL/Daesh, ou que favorece a al-Nusra na Síria ou o falso Califato no Iraque.
O ponto chave é que o documento mostra que governo dos EUA fez nada, absolutamente nada, para impedir que a Casa de Saud, os vassalos no Conselho de Cooperação do Golfo e a Turquia “apoiassem” a “oposição” síria – naquele ardente desejo desses todos de facilitar a emergência de um estado salafista à parte no leste da Síria e atravessando a fronteira, incluindo território iraquiano.
ISIS/ISIL/Daesh recebe armas sofisticadas dos EUA
Agora, já não há observador bem informado que não saiba que a “guerra ao terô” iniciado pelo governo Cheney é completa fraude. Assim sendo, não é surpresa que a destruição planejada do “Siriaque” [orig. “Syraq”] atualmente em andamento ofereça ao complexo industrial militar dos EUA o pretexto perfeito para super armar, com bilhões de dólares em armas, a Casa de Saud, outros vassalos reunidos no CCG, Israel e Iraque.
Essa confluência de interesses – geopolíticos, para o Pentágono; comerciais, para o complexo industrial militar – completa o cenário da Casa de Saud virtualmente ditar a política exterior do governo autodefinido de Obama como “Não faça merda coisa estúpida” no Levante e na Península Árabe.
No início de junho/2015 haverá em Paris uma reunião de todos os 22 estados membros da coalizão de Obama. Até lá, o Pentágono terá de ter algum plano de o que fazer do seu ISIS/ISIL/Daesh; ir ao tudo ou nada e tentar aniquilá-lo (muito improvável), ou empurrar os esquadrões de paus-mandados na direção do Cáucaso (nada improvável). O mais provável, em todos os casos, é que a coisa continue como está.
E a Rússia sabe de tudo
O coronel-general Igor Sergun, chefe do Diretorado Superior de Inteligência [orig. Main Intelligence Directorate (ru. GRU)] do Comando Geral das Forças Armadas da Rússia praticamente jamais fala em público. Por isso, quando ele fala, as placas geopolíticas tectônicas se agitam.
A análise de Sergun encaixa-se perfeitamente ao relatório da AID. Já há anos a inteligência militar russa concluiu – e agora está divulgando publicamente – que “o terrorismo islâmico” ou, de fato, a “guerra ao terô” toda ela, é ferramenta ocidental usada para esmagar nações soberanas que se atrevam a fazer oposição ao hegemon.
E como todos nós sabemos, é claro que é muito mais fácil subverter e/ou esmagar Iraque, Líbia ou Síria, que Rússia ou China. Ou, por falar disso, o Irã.
ISIS/ISIL/Daesh ataca vilas no Siriaque
Entrementes, o Império do Caos tem de se empenhar muito para conseguir lidar com – ou exibir cara de quem estaria conseguindo lidar – com o revide gerado por sua posição de Dividir e Governar. No Iraque, a queda de Ramadi deu ao ISIS/ISIL/Daesh um grande impulso de Relações Públicas, em termos de alcance estratégico, para recrutar novos soldados e para levantar cada vez mais dinheiro. Fizeram a equipe-aquela, de “Não façam merda coisa estúpida”, de idiotas.
E os EUA não foram sequer espectadores secundários da queda. Ramadi caiu porque o governo de Bagdá recusou-se a dar armas às tribos sunitas da província de Anbar. O falso Califato atacou a cidade com uma frota de 30 caminhões carregados de explosivos e com suicidas-bomba ao volante. As tribos que defendiam a cidade tiveram de desaparecer, porque sabiam que seriam massacrados pelos bandidos do Califato.
E o que fazia o Pentágono naquele momento? Nada – contradizendo a errada acusação do El Supremo do Pentágono, Ash Carter, para quem as forças iraquianas não tinham “vontade de lutar”. O Pentágono também nada fez em Tikrit, quando os norte-americanos recusaram-se a lutar contra o falso Califato ao lado de milícias xiitas comandadas por oficiais vindos do Irã e que se reportavam diretamente ao famosíssimo super comandante da Força al-Quds, brigadeiro-general Qassem Suleimani.
É Irã contra os degoladores
Agora a queda de Ramadi deixa bem claro que a verdadeira potência que está dando combate ao ISIS/ISIL/Daesh no Iraque é o Irã, não os EUA. Milícias xiitas já estão sendo incorporadas às forças de segurança do Iraque.
Milícias xiitas defendem Ramadi
Ezzat al-Douri, ex-n.2 de Saddam Hussein – que os EUA não prenderam até hoje – tem distribuído mensagens sobre a urgente grande necessidade de ajuda armada que venha dos suspeitos de sempre, Arábia Saudita, ainda que os sauditas tenham tentado armar as tribos em Anbar, através da Jordânia. Adivinhem quem disse “não”? Washington. Segundo as tortuosas e vacilantes regras do governo Obama, a Jordânia só poderia fazer o jogo dos sauditas se viesse uma autorização de Bagdá, que nunca veio.
Essa confusão quase impenetrável é só um exemplo do jogo duplo que o Império do Caos joga nessa “guerra ao terô” – que se resume à elaborada farsa que é a “luta” contra o ISIS/ISIL/Daesh em todo o “Siriaque”.
Aconteça o que acontecer em Washington no futuro próximo, sob Hillary “Viemos, vimos, ele morreu” Clinton ou sob Jeb “Meu irmão acertou na invasão” Bush, não se vê nem sinal de que o governo dos EUA pare algum dia de usar o “terrorismo islamista” como ativo estratégico.
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[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: SputinikTom Dispatch, Information Clearing HouseRed Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today, e Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009. 

− Adquira seu novo livro Empire of Chaos, publicado no final de 2014 pela Nimble Books.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Israel bombardearam clinicas médicas em Gaza, para "elevar moral"!?


Las fuerzas israelíes atacaron deliberadamente instalaciones civiles durante la guerra de Gaza del pasado verano, señaló el mayor Amihai Harach, en declaraciones efectuadas a la emisora Galei Yisrael y recogidas por el diario Haaretz. Él manifestó que el ataque contra una clínica médica en la Franja de Gaza fue deliberado.

Esta incidente saltó de nuevo a los medios cuando fue publicada una entrevista con un teniente coronel israelí en la que él afirmó que había ordenado a las tropas atacar la clínica para “honrar” al capital de un Cuerpo Acorazado, Dima Levitas, que fue muerto en una operación palestina. El ataque contra la clínica tuvo lugar al mismo tiempo que el funeral de Levitas.

El comandante del batallón al que pertenecía Levitas, teniente coronel Neria Yeshurun, dijo en efecto a la publicación de las fuerzas terrestres Bayabasha que él y su compañía no pudieron asistir al funeral de Levitas y “de este modo decidimos enviar varios obuses” contra la clínica.

Al ser preguntado si este incidente era inusual, Harach dijo: “Lo único inusual que él (Yeshurun) hizo fue que convirtió el incidente en un acto de homenaje a Dima, el jefe de la compañía muerto. Esto buscaba elevar la moral... y animar los soldados a continuar la misión”. Los soldados grabaron el bombardeo de la clínica “para que pudiéramos distribuirlo a todo el batallón”.

El ataque contra la clínica mató a cinco personas, cuatro de las cuales eran civiles que buscaban tratamiento, y otras 45 resultaron heridas. Los grupos pro-derechos humanos condenaron el ataque, que fue uno más de los muchos llevados a cabo por Israel contra objetivos civiles en aquel conflicto, como un crimen de guerra.

Responsables israelíes mintieron al insistir en que Hamas estaba operando desde la clínica y ellos han mantenido esta ficción hasta el día de hoy, a pesar de las declaraciones de los dos oficiales israelíes, que dejaron claro que dicho bombardeo tenía por objetivo el de “reforzar la moral” de sus fuerzas y llevar a cabo un ataque de venganza contra un objetivo civil.

Durante la guerra de agresión contra Gaza numerosas escuelas, clínicas y hospitales fueron objeto de ataques por parte del Ejército israelí.

http://www.almanar.com.lb/spanish/adetails.php?fromval=1&cid=23&frid=23&eid=97579

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Síria denuncia o Qatar no Conselho de Segurança da ONU

Duas cartas, de igual teor, datadas em 09/06/2015, dirigidas ao Secretário Geral das Nações Unidas e ao Presidente do Conselho de Segurança, por parte do Ministério das Relações Exteriores e Expatriados da República Árabe da Síria.


A República Árabe da Síria exige das Nações Unidas e, em especial, do Conselho de Segurança, a adoção de medidas imediatas contra o regime do Qatar, apoiador dos grupos terroristas armados na Síria, que cometeram os mais brutais e sanguinários crimes contra o Estado e o povo da Síria, e a punição dos responsáveis, de acordo com as resoluções do Conselho de Segurança sobre o combate ao terrorismo, especialmente as cinco resoluções supracitadas

Com base nas instruções do Governo da República Árabe da Síria, gostaria de transmitir, a Vossas Senhorias, a rejeição do Governo do meu país às falsas alegações citadas na carta do regime do Qatar, emitida através do documento No. S/332/2015, que vêm no contexto de suas tentativas desesperadas de melhorar a sua imagem, de suas práticas de apoio ao terrorismo, da distorção dos fatos e de dispersar as atenções dos países membros das Nações Unidas, de modo geral, e do Conselho de Segurança, de modo especial, quanto ao apoio direto dado pelo regime do Qatar aos grupos terroristas armados, para aterrorizar o povo sírio e atingir a segurança e a estabilidade do Estado sírio. A seguir, alguns dos fatos que provam o envolvimento direto do Qatar no derramamento de sangue sírio e no apoio ao terrorismo:
  1. Ironicamente, o regime do Qatar uniu-se ao refrão dos países que apresentam cartas, de igual teor, ao Conselho de Segurança e ao Secretário Geral contra a Síria, recheadas de distorções e de inversões dos fatos, especificamente quando alegam que a Síria usou armas químicas contra o seu povo, ao tempo em que a Organização para a Proibição de Armas Químicas afirmou que a Síria cumpriu com o seu compromisso, de acordo com o Tratado de Não Proliferação de Armas Químicas e em cooperação total com a Comissão Técnica da Organização. As alegações, nas quais se basearam as cartas do Qatar, não despertam senão a zombaria, porque foi a Síria quem pediu a investigação sobre uso de armas de cloro, por parte dos grupos terroristas armados, contra os civis inocentes nas cidades e vilarejos sírios. A posição das autoridades do Qatar e outros é uma defesa clara de seus aliados declarados, como a Jabhat Al Nusra e o ISIS (Daesh), além de outros grupos terroristas ligados à Al Qaeda, especialmente porque as informações disponíveis indicam que os governos do Qatar, da Arábia Saudita, da Turquia e outros estão suprindo os terroristas com estes materiais tóxicos para difamar o Governo da República Árabe da Síria e denegrir a sua imagem. 
  2. Os meios midiáticos do Qatar, em todos os níveis, promovem uma campanha de propaganda e promoção dos grupos terroristas armados ativos em território sírio e os defendem à exaustão. O Canal Al Jazeera recebeu como convidado, em 27 de maio de 2015, em seu programa ‘Sem Fronteiras’, o conhecido como ‘Abu Mohamad Al Jolani’, emir da organização Jabhat Al Nusra, (citado na lista da comissão do Conselho de Segurança sobre a Al Qaeda), com o qual realizou uma entrevista para promover o terrorismo e as organizações terroristas e para dirigir mais ameaças ao Governo e ao povo sírio. A aparição do chamado ‘Abu Mohamad Al Jolani’ num canal de mídia, nada mais é do que uma prova definitiva e reiterada sobre a relação orgânica e a cooperação estreita entre esta organização terrorista, o canal Al Jazeera e as autoridades qataris, detentoras deste canal, que fala em nome da família governante do Qatar, responsável pela definição das políticas midiáticas, promocionais e de incitação do mesmo. A realização desta entrevista é uma flagrante violação das resoluções das Nações Unidas, relativas ao combate ao terrorismo, especialmente a resolução No. 1624, relativa à incitação ao terrorismo.
  3. O Ministro de Relações Exteriores do regime do Qatar considerou, durante uma entrevista com o jornal francês Le Monde, em 11 de maio de 2015, realizada no coração de um país membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que a cooperação com a organização Jabhat Al Nusra e com os grupos terroristas ligados à ela ou ramificados dela é um fato inevitável. Citamos o seguinte trecho da entrevista: “Nós somos contra qualquer extremismo, mas todos estes grupos, com exceção do ISIS (Daesh), lutam para derrubar o regime e os moderados não podem dizer à Jabhat Al Nusra: ‘Fique em casa! Não atuaremos com vocês’…temos que olhar para a situação no terreno e sermos realistas”. Esta declaração feita pelo Ministro das Relações Exteriores do regime do Qatar é considerada um franco reconhecimento do chefe da diplomacia qatari sobre o apoio e a aceitação da cooperação com a organização terrorista Jabhat Al Nusra, o que representa uma flagrante violação das resoluções do Conselho de Segurança relativas ao combate ao terrorismo, especialmente as resoluções Nos. 1373, 2170, 2178 e 2199. 
  4. A carta do representante do regime do Qatar cita o chamado ‘esforço de mediação’ promovido pelas instituições governamentais do Qatar. Neste sentido, o Governo da Síria assinala que tais instituições governamentais diferem das demais instituições governamentais do mundo todo, ao atuar como mediadoras junto aos vários grupos terroristas, como a Al Qaeda e a Jabhat Al Nusra, para libertar os reféns e as pessoas sequestradas pelas organizações terroristas na Síria, incluindo o conhecido sequestro dos membros das forças da UNDOF e outros no mundo todo. A atitude apressada do regime do Qatar em servir de mediador e em avalizar o pagamento de resgates, avaliados em milhões de dólares, somente confirma o seu contato, a sua estreita coordenação com os grupos terroristas armados e a utilização destas situações como meio de fornecer um financiamento declarado aos grupos terroristas armados.
A República Árabe da Síria exige das Nações Unidas e, em especial, do Conselho de Segurança, a adoção de medidas imediatas contra o regime do Qatar, apoiador dos grupos terroristas armados na Síria, que cometeram os mais brutais e sanguinários crimes contra o Estado e o povo da Síria, e a punição dos responsáveis, de acordo com as resoluções do Conselho de Segurança sobre o combate ao terrorismo, especialmente as cinco resoluções supracitadas.

Tradução: Jihan Arar
Sana.sy


quarta-feira, 10 de junho de 2015

“Carta da prisão”, por Khalida Jarrar*

“Carta da prisão”, por Khalida Jarrar*

O texto que se segue é de Khalida Jarrar, prisioneira palestiniana detida por Israel desde o passado dia 2 de Abril de 2015. Escreveu esta carta na prisão no dia 2 de Junho de 2015. 
No dia 20 de Agosto de 2014, as forças armadas israelitas entraram na sua casa, em Ramallah, para lhe dar a ordem de exílio na cidade de Jericó, com a interdição de sair durante um período de seis meses. Khalida recusou e montou um acampamento de protesto à frente do Conselho Legislativo Palestiniano, em Ramallah. A sua luta, nesse momento, foi vitoriosa. A 2 de Abril de 2015, mais de 60 soldados israelitas atacaram novamente a sua casa e detiveram-na. Foi-lhe ordenada detenção administrativa com 12 processos de culpa, nomeadamente o de pertencer a uma organização ilegal e de participar em manifestações. Interrogada no centro de detenção de OFER (Cisjordânia), foi em seguida levada para a prisão de Hasharon, na Palestina Ocupada. 

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"Envio-vos esta mensagem da prisão, quando ainda não sei qual será o meu destino,
quando ainda não sei quanto tempo vou passar nesta prisão suja que não é feita para seres humanos, 
ainda não sei se encontrarei um médico digno desse título se ficar doente,
não sei se a comida que me dão é poluída ou se a água não está envenenada, 
não sei quando é que o meu carrasco vai investir a minha cela para me impedir de dormir e violar a minha intimidade.
 Não sei quando é que vou poder agarrar os meus filhos, Yafa e Suha, nos meus braços, 
não sei quando é que vou ver o meu marido ou abraçar os meus pais.
Sei que para tudo isto preciso de vós, de cada voz livre neste mundo, para que ele repita com o meu povo e eu própria: Abaixo a ocupação, viva o povo da Palestina Livre.
“Nunca deixei de falar na causa dos prisioneiros políticos: o número, as condições de detenção, das estatísticas e percentagens… eu falo de um milhão de palestinianos que passaram pelas prisões israelitas desde 1967 – este número significa que um em cada quatro palestinianos esteve detido pelo menos uma vez na sua vida. Falo das centenas de mulheres que foram detidas. Falo também dos milhares de crianças que foram presas numa violação constante a todas as leis e convenções internacionais. Neste mesmo instante, 240 crianças estão na prisão entre os 11000 prisioneiros palestinianos. Entre estes existem doentes graves e sem acesso a tratamento, o que significa uma condenação à morte. Alguns deles são pessoas com uma idade bastante avançada. Há também cerca de 600 prisioneiros, sem ter o número exacto à mão, que passam por períodos de detenção administrativa sem nenhuma justificação jurídica ou acusação, exceptuando a utilização de um decreto militar britânico que data da colonização britânica na Palestina há 70 anos, sincronizada com o fim da época Nazi, o que nos reenvia infelizmente àquilo que eu descrevo da nossa época. Há 9 anos que ocupo o lugar de Presidente da comissão dos prisioneiros palestinianos nas prisões israelitas, como deputada eleita pelo povo palestiniano em luta pela sua libertação. Fui durante 13 anos a Directora Geral da Associação Addameer pelos direitos dos palestinianos e direitos humanos, uma das associações mais importantes que tem por missão a defesa dos prisioneiros. Isto significa que consagrei os últimos vinte anos da minha vida a trabalhar na defesa dos prisioneiros da Palestina nas prisões do colonizador e no seu combate por uma liberdade que lhes foi roubada por uma das últimas ocupações coloniais que resta no nosso planeta.
Durante todos estes anos, e em particular desde a minha eleição, onde me tornei representante dos palestinianos, defendi com toda a minha força os prisioneiros e o seu direito a lutar contra as condições das detenções e os métodos utilizados nos interrogatórios, entre confidências forjadas e falsas acusações. Defendi os seus direitos a ter acesso a serviços médicos, o direito à vida e à libertação. Eles não são culpados de defender a liberdade do seu povo oprimido, uma acção reconhecida por todas as leis internacionais e pelas Nações Unidas, cujas leis e convenções deveriam aplicar-se a todos nós.
Sempre me enderecei aos povos de todo o mundo, pedi aos deputados, aos representantes dos governos e presidentes, para se meterem ao lado dos detidos palestinianos, ao lado daqueles que procuram justiça, liberdade, valores e direitos humanos. Sempre exigi a condenação da ocupação, a sua sanção e o seu fim. Acredito que isto é o nosso dever, é o vosso dever tal como é o nosso, nós, os Palestinianos.
Hoje, afirmo não ter mudado de ideias: as minhas posições, as minhas convicções e as minhas vontades permanecem intactas, no entanto, o meu olhar é diferente, observo a realidade de uma outra perspetiva, a partir da qual vejo as coisas mais claramente. Hoje, faço eu mesma parte das prisioneiras de que falei anteriormente, uma entre os 6000 prisioneiros, uma entre aqueles que sofrem a violência dos carrascos, que sofrem o peso da injustiça a cada dia, a cada hora, a cada instante.
Hoje, desde que fui detida na minha casa, em frente da minha família e do meu companheiro, fui privada do meu dever de servir aqueles que me elegeram. Hoje, sofri eu própria as técnicas dos soldados dos ocupantes, armados até aos cabelos, chegando à minha casa, com toda a atrocidade, no meio da noite, algemando-me, tapando-me os olhos e conduzindo-me para um lugar que desconheço.
Hoje fui informada que a minha detenção administrativa foi ordenada, uma detenção fundada sobre um decreto mais velho do que eu, um decreto que não se coaduna nem com a humanidade nem com a nossa época. Hoje o governo do ocupante tremeu depois de ter sofrido a pressão de pessoas livres de todo o mundo (condenando a minha detenção sem nenhuma acusação). Mas isso não impede o ocupante com as suas leis racistas de me enviar diante um tribunal, que todos sabemos ilegítimo, diante juízes que todos conhecemos a sua incompetência, pois um carrasco nunca poderá ser o juiz da sua vítima.
Mesmo que consigamos encontrar erros nestas leis caducas, falta uma última palavra, a do representante do ocupante, o procurador, uma vez que nenhuma autoridade está à altura da colonização e das suas regras, o ocupante não respeita mesmo as sua próprias leis injustas e o seu sistema jurídico já implicado por si mesmo.
Isto é para nós o preço a pagar pela nossa libertação, pela nossa dignidade e a do mundo inteiro. Nós ficamos mais fortes com a vossa solidariedade, nós ficamos de pé e continuamos a nossa luta enquanto ouvimos a vossa voz solidária com a nossa resistência.
Envio-vos esta mensagem da prisão, quando ainda não sei qual será o meu destino, quando ainda não sei quanto tempo vou passar nesta prisão suja que não é feita para seres humanos, ainda não sei se encontrarei um médico digno desse título se ficar doente, não sei se a comida que me dão é poluída ou se a água não está envenenada, não sei quando é que o meu carrasco vai investir a minha cela para me impedir de dormir e violar a minha intimidade. Não sei quando é que vou poder agarrar os meus filhos, Yafa e Suha, nos meus braços, não sei quando é que vou ver o meu marido ou abraçar os meus pais.Sei que para tudo isto preciso de vós, de cada voz livre neste mundo, para que ele repita com o meu povo e eu própria: Abaixo a ocupação, viva o povo da Palestina Livre.
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* Khalida Jarrar, 52 anos, é militante feminista, dirigente do FPLP (Frente Popular de Libertação da Palestina), deputada do Conselho Legislativo Palestiniano.

A possível extinção do Estado de Israel

8/3/2013: Jovem manifestante palestino Un manifestante palestino foge dos guardas de fronteira israelense, durante confrontos contra a expropriação de terras palestinas em Kafr Qaddum
8/3/2013: Jovem manifestante palestino foge dos guardas de fronteira israelense, durante confronto contra a expropriação de terras palestinas em Kafr Qaddum

Por Boaventura de Sousa Santos*
Criá-lo foi ato desumano de colonialismo. Extinto, pode dar lugar a Estado plurinacional e secular, onde judeus e palestinos convivam pacífica e dignamente
Por Boaventura de Sousa Santos
Podem simples cidadãos de todo o mundo organizar-se para propor em todas as instâncias de jurisdição universal possíveis uma ação popular contra o Estado de Israel no sentido de ser declarada a sua extinção, enquanto Estado judaico, não apenas por ao longo da sua existência ter cometido reiteradamente crimes contra a humanidade, mas sobretudo por a sua própria constituição, enquanto Estado judaico, constituir um crime contra a humanidade? Podem. E como este tipo de crime não prescreve, estão a tempo de o fazer. Eis os argumentos e as soluções para restituir aos judeus e palestinianos e ao mundo em geral a dignidade que lhes foi roubada por um dos atos mais violentos do colonialismo europeu no século XX, secundado pelo imperialismo norte-americano e pela má consciência europeia desde o fim da segunda guerra mundial.
O termo sionismo designa o movimento que apoia o “regresso” dos judeus à sua suposta pátria de que também supostamente foram expulsos no século V AC. Há, no entanto, que distinguir entre sionismo judaico e sionismo cristão. O sionismo judaico tem origem no antissemitismo que desgraçadamente sempre perseguiu os judeus na Europa e que viria a culminar no holocausto nazi. O sonho de Theodor Herzl, judeu austríaco e grande poponente do sionismo, era a criação, não de um Estado judaico, mas de uma pátria segura para os judeus. O sionismo cristão, por sua vez, é antissemita, e a ideia de um Estado judaico deveu-se a políticos britânicos, sionistas e anglicanos devotos, como Lord Shaftesbury, que, acima de tudo, [1]desejavam ver o seu país livre dos judeus-enquanto-judeus. Eram tolerados os judeus cristianizados (como Benjamin Disraeli, que chegou a ser Primeiro Ministro), mas só esses. Esta tolerância estava de acordo com a profecia cristã de que é destino dos judeus converterem-se ao cristianismo. O mesmo sentimento se encontra hoje entre os evangélicos norte-americanos, que apoiam Israel como Estado judaico, bem como a sua desapiedada expansão colonialista contra os palestinos, por acreditarem que a redenção total ocorrerá no fim dos tempos, com a conversão dos judeus na Parusia (o regresso de Jesus Cristo).
Terá sido Lord Shaftesbury quem, ainda no século XIX, formulou o pensamento “uma terra sem povo para um povo sem terra” que ajudaria mais tarde a justificar a criação do Estado de Israel na Palestina em 1948. E alguns anos mais tarde, foi outro sionista não judeu (Arthur James Balfour) quem propôs a criação de “uma pátria para os judeus” na Palestina, sem consultar os povos árabes que habitavam esse território há mais de mil anos.
“Os Grandes Poderes” (Áustria, Rússia, França, Inglaterra), lê-se no Memorandum Balfour de 11 de Agosto de 1919, “estão comprometidos com o Sionismo. E o Sionismo, correto ou incorreto, bom ou mau, tem as suas raízes em antiquíssimas tradições, em necessidades atuais e em esperanças futuras, que são bem mais importantes do que os desejos de 700.000 árabes que neste momento habitam aquele antigo território”. Urgia, pois, transformar esses árabes em um não-povo. Em 1948, com o beneplácito dos poderes ocidentais, especialmente da Inglaterra, foi criado o Estado de Israel numa Palestina povoada de árabes e 10% de judeus imigrantes.
Argumentava-se então que havia de se encontrar um espaço para o povo judeu, que ninguém queria receber depois do genocídio alemão. Muito antes dessa catástrofe, os sionistas judeus tinham já pensado em vários locais para[2] o seu futuro Estado. No final do século XIX, a região do Uganda, no que é hoje o Quénia, então colónia inglesa, foi ponderada como um possível local para o futuro Estado de Israel. Um espaço na Argentina chegou também a ser considerado. Mais tarde, auscultado sobre um local no norte de África (no que é hoje a Líbia), o rei da Itália, Victor Emmanuel, terá recusado, respondendo: “Ma è ancora casa di altri”. Mas nenhum europeu, por mais preocupado com a situação dos judeus, jamais pensou num lugar dentro da própria Europa. Havia que inventar-se “uma terra sem povo para um povo sem terra”. Mesmo que fosse necessário obliterar um povo. E assim se vem paulatinamente eliminando um povo da face da terra desde há sessenta e seis anos. A Cisjordânia palestiniana vem sendo desmantelada pelos colonatos ilegais e a Faixa de Gaza transformada em prisão a céu aberto. A extrema-direita israelita é apenas mais estridente do que o governo ao reclamar que os “árabes fedorentos de Gaza sejam lançados ao mar”. O que é espantoso, comenta o historiador judeu israelita, Ilan Pappé em The Ethnic Cleansing of Palestine (2006), é ver como os judeus, em 1948, há tão pouco tempo expulsos das suas casas, espoliados dos seus pertences e por fim exterminados, procederam sem pestanejar à destruição de aldeias palestinianas, com expulsão dos seus habitantes e massacre daqueles que se recusaram a sair. O controverso comentário de José Saramago de há alguns anos de que o espírito de Auschwitz se reproduz em Israel faz hoje mais do que nunca.
Assim foi sacrificada a Palestina, invocadas razões bíblicas e históricas, que a Bíblia não sanciona e a história viria a desmistificar. Muitos judeus, como os que constituem a Jewish Voice for Peace, não são sionistas e consideram que o Estado de Israel, nas condições em que foi criado (um território, um povo, uma língua, uma religião) é uma arcaica aberração [3] colonialista fundada no mito de uma “terra de Israel” e de um “povo judaico”, que a Bíblia nem sequer confirma. Como bem demonstra, entre outros, o historiador judeu israelita, Shlomo Sand, a Palestina como a “terra de Israel” é uma invenção recente (The Invention of the Land of Israel, 2012). Aliás, ainda segundo o mesmo autor, também o conceito de “povo judaico” é uma invenção recente (The Invention of the Jewish People, 2009).
A criação do Estado judaico de Israel configura um crime continuado cujos abismos mais desumanos se revelam nos dias de hoje. Declarada a sua extinção, os cidadãos do mundo propõem a criação na Palestina de um Estado secular, plurinacional e intercultural, onde judeus e palestinos possam viver pacifica e dignamente. A dignidade do mundo está hoje hipotecada à dignidade da convivência entre palestinianos e judeus.
*Boaventura de Sousa Santos é doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, diretor dos Centro de Estudos Sociais e do Centro de Documentação 25 de Abril, e Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa - todos da Universidade de Coimbra. Sua trajetória recente é marcada pela proximidade com os movimentos organizadores e participantes do Fórum Social Mundial e pela participação na coordenação de uma obra coletiva de pesquisa denominada Reinventar a Emancipação Social: Para Novos Manifestos.