sexta-feira, 29 de abril de 2022

Acerca da manipulação triunfalista

 

Daniel Vaz de Carvalho (de Portugal)

1 - Os media e a lavagem ao cérebro


O jornalismo no dito ocidente alinha num contexto que só se entende numa guerra entre a Rússia e a OTAN. A orientação é dada a partir de Washington, sem sequer tentar manter as aparências.

Factos inverosímeis são dados como certos, as evidências rejeitadas, a paixão suprimiu a lógica. As centrais de desinformação produzem noticias à medida das estratégias EUA/OTAN e os "comentadores" palram (emitem ruídos sem sentido) sobre a realidade virtual que lhes é dada sem preocupação de ter ou confirmar provas. Passaram de especialistas em economia, em climatologia, em virologia, a especialistas militares em estratégia e planejamento tático. O mais espantoso é que recusam ouvir os verdadeiros especialistas destas matérias e, quando não pode deixar de ser, remetem evidências e considerações cientificas para a categoria de "opiniões".

jornalismo ocidental mergulhou num declínio tal que os jornalistas alinham como soldados sob ordens, sem discussão, sem distanciamento, em declarações de natureza política sobre fatos graves que deviam ser exaustivamente apurados, como as atrocidades cometidas nesta guerra. Repetem o argumento imbecil de que os países europeus comprando a energia à Rússia, "financiam a guerra contra a Ucrânia", não pensam que se possa dizer que a Rússia mantém assim as industrias e o poder econômico dos seus adversários para apoiarem militar e financeiramente o poder na Ucrânia? Quando Joe Biden usa as palavras, "carniceiro", "ditador", "criminoso de guerra" em relação a Vladimir Putin, e todos os jornalistas o repetem, que resta da independência?

A lavagem ao cérebro prossegue e agrava-se. Trata-se mesmo de lobotomia quando os mais explorados se deixam seduzir por partidos que se caracterizam pela boçalidade e impreparação em termos de debate político, propostas inconsistentes misturadas num chorrilho de contradições de neoliberalismo radical. Se apesar disto se conseguem tornar o terceiro partido da AR mostra o nível de destruição cultural e ideológica a que a social-democracia (PS e PSD) levaram o país, para se tornarem bem vistos pelo império e seus cúmplices na UE.

A estupidez atingiu tal nível que defender esforços para alcançar a paz (PCP) e não contribuir para o agravar da guerra e seus sofrimentos se tornou "defender a Rússia", pouco falta para ser atribuída "traição nacional".

A propaganda entrou num transe de histeria coletiva que escapa a todo o raciocínio lógico. O "império das mentiras" (na expressão de Andrei Martyanov) produz notícias que se tornam verdade oficial na OTAN e aliados. Na NBC news é divulgada – com orgulho – a estratégia de falsas notícias dos EUA, em que funcionários dos EUA admitem que o Pentágono, os mídias, etc, têm usado a “estratégia” de mentir, inventando falsas informações para “combater a Rússia". A maior parte das informações à volta do conflito são falsas, admitiram.

2 - As atrocidades humanitárias e democráticas e as outras

Ao fim de 46 dias de guerra dados da ONU reportavam 1 892 civis mortos e 2 558 feridos. Claro que é lamentável, mas uma matemática simples dá-nos uma ideia de quantos ucranianos são dignos do nosso luto. Contra as regiões que não aceitaram o fascismo instalado em Kiev (Donetsk e Lubansk) contam-se desde 2014, 14 000 habitantes mortos e 1,5 milhões de deslocados devido aos ataques a que foram sujeitas. Para essas milhares de mortes, homens, mulheres e crianças nunca se ouviu uma palavra de protesto ou solidariedade, dos políticos da UE nem dos "comentadores" que agora esbracejam em nome dos direitos humanos. Perdemos todo o sentido de decência, de moralidade, de proporção. Pode alguém ouvir o ruído das últimas semanas sem interrogar se fizemos de nós mesmos uma nação de grotescos? – pergunta Patrick Lawrence, jornalista, escritor e professor universitário aos seus concidadãos dos EUA.

O número de iraquianos mortos na guerra dos EUA e ocupação do Iraque está estimado em 1 455 590. No Iraque, Raqqa e Mossul foram reduzidas a cinzas, matando milhares de civis, incluindo mulheres e crianças, cujos corpos ficaram por sepultar durante semanas. Sobre o território Iugoslavo, inclusive em Belgrado, foram lançadas (pelos EUA) entre 10 e 15 toneladas de bombas de urânio empobrecido que provocou um desastre ambiental e a multiplicação de doenças oncológicas. Uma guerra civil foi instaurada para desmembrar o país. Da Líbia ao Afeganistão nenhuma tragédia moveu as piedosas almas que choram pelos sofrimentos na Ucrânia, mas apoiam o envio intensivo de material de guerra e condenam quem fala em negociações para a paz.

Uma das histórias da propaganda foi o do bombardeamento da maternidade em Mariupol. Uma empregada chamada Marianne, refutou completamente a "notícia" numa entrevista: não só a maternidade não foi “bombardeada”, como as falsas notícias afirmaram, mas os militares ucranianos invadiram a maternidade e roubaram a comida das pacientes. Os soldados apareceram com jornalista ocidental usaram-na como “adereço” apesar dela  protestar e chorar. A peça da grávida foi utilizada como objeto de propaganda orquestrada. 

O massacre de Bucha é mais uma encenação dos responsáveis pelo massacre de My Lay (Vietnan), das armas de destruição em massa do Iraque, dos criminosos  ataques militares e ocupações à Iugoslávia, Afeganistão, Líbia,(e Síria)que usam, abusam e apoiam a violência contra os palestinos, etc. Não consta que toda a emoção agora exibida se tenha manifestado quando à hora do jantar se assistiu a mísseis caindo sobre a indefesa população de Bagda. A morte de 500 000 crianças no Iraque (guerra e sanções) valeu a pena segundo Madeleine Albraight ( ex-secretária de estado dos EUA).

Acerca do alegado massacre de Bucha (arredores de Kiev) o representante russo na ONU pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança que foi recusada pela presidente em exercício, representante do Reino Unido. A recusa em convocar a reunião pedida é algo inacreditável e sem precedentes. As Regras do Conselho de Segurança determinam que a Presidência deve convocar uma reunião a pedido de qualquer membro do Conselho. Trata-se, pois, de um abuso sem precedentes. O representante russo convocou então uma conferência de imprensa onde apresentou provas das mentiras propaladas. Claro que os media "presstitutos" (Paul Craig Roberts) escondem tudo isto:

  • Enquanto a cidade esteve sob controlo das forças armadas russas os habitantes puderam mover-se livremente e usando telemóveis mostrar ou denunciar quaisquer ocorrências de "maus tratos", coisa que não aconteceu.
  • A 30 de março, no seguimento das conversações em Ancara as forças russas se retiraram de várias regiões, incluindo Bucha. O presidente da câmara considerou-o uma vitória das forças ucranianas, porém não mencionou atrocidades, mortes, ou algo parecido. No vídeo, então exibido na TV ucraniana, não há qualquer menção a atrocidades na cidade, ao contrário. Um deputado ucraniano visitou Bucha, na reportagem sorri alegremente, nos seus relatos não há qualquer referência a corpos de pessoas mortas ou massacres nas ruas.
  • A 2 de abril um vídeo mostra as forças da Ucrânia a entrarem em Bucha e a entrevistarem pessoas em diferentes locais da cidade. Nenhuma diz uma palavra sobre massacres. Em resumo, quatro dias após a retirada dos militares russos não havia quaisquer sinais de "atrocidades", nem uma única referência.
  • O vídeo dos cadáveres expostos apareceu a 3 de abril. Os corpos teriam estado portanto no mínimo quatro dias expostos, contudo não apresentavam sinais de decomposição. Alguns dos "mortos" movem-se, mostram sinais de vida. Bucha, foi uma encenação, uma falsa notícia, uma provocação.

Segundo Scott Ritter, ex-oficial dos Marines dos EUA, é absurdo falar em brutalidade de tropas russas contra civis. É possível haver baixas civis, mas os objetivos têm sido militares. Os soldados russos têm-se mantido dentro das leis internacionais de combate. No Afeganistão houve casos de quebra da lei, envergonhando o exército dos EUA. (O mesmo no Iraque, na Líbia, na Coréia, no Vietnan , na Ioguslávia, na Síria e na Palestina)

Apareceram notícias de civis retidos em Mariupol, porém foram abertos corredores humanitários e todos os bairros habitacionais foram libertados – é o termo visto saírem das mãos de grupos nazis – sendo o último reduto a fábrica Azovstal. É espantoso como não se questiona a razão de aí poderem estar civis, ilibando os nazis do batalhão Azov que os  conservaram como reféns. O mesmo se passa aliás nos ataques a instalações militares em cidades tornadas centros de concentração de soldados e equipamento.

3 - A Rússia já teria perdido a guerra

 

Enquanto "comentadores" vão dissertando sobre como a Rússia "já perdeu a guerra". Mais o exército russo continua a avançar tomando várias cidades na Ucrânia, outras estão cercadas e sob ataque visando o controlo de centros estratégicos. Zelinsky, continua a sua tragicomédia garantindo que Mariupol será retomada pelas forças que estão a ser preparadas. Também se habituou a copiar processos nazis, neste caso os reforços alemães que nunca chegaram a Stalinegrado e a Berlim.

Entretanto no ponto mais alto de Mariupol foi hasteada a bandeira da República Popular de Donetsk. A limpeza e reconstrução da cidade e arredores foi já iniciada. Em maio está previsto um referendo na região de Kherson para criar outra República Popular. Será também realizado um referendo na região de Kharkov logo que esteja totalmente libertada.

Infraestruturas ferroviárias têm sido bombardeadas, bem como concentrações de material e tropas ucranianas. Na região de Kharkov foi tomado um enorme arsenal subterrâneo com milhares de toneladas de armamento e munições fornecidas pela OTAN. A maior parte dos blindados e artilharia pesada do exército de Kiev está em aglomerados urbanos, fora dos quais serão rapidamente destruídos. O seu abastecimento é também muito difícil. Dentro de algumas cidades – foi feito um vídeo em Kharkov – estão a formar-se células  de resistência (populares) contra o regime de Kiev.

As perdas ucranianas têm atingido várias centenas por semana com dezenas de prisioneiros diariamente, apesar de ser espalhado entre os soldados alegadas torturas e assassinato de prisioneiros pelas tropas russas. Os próprios relatam isto, espantados pelo bom tratamento que lhes é dado, como é devido. (A fake) É mais um processo copiado dos nazis.

Durante toda a "operação especial" tem sido dada oportunidade à evacuação da população civil e a possibilidade de rendição pacifica às tropas regulares ucranianas. Quanto aos batalhões nazis, serão ou mortos em batalha ou capturados e levados a julgamento. Daqui a lentidão com que as operações têm decorrido o que é aproveitado para confundir as pessoas.

De qualquer forma, na visão do comando russo, o tempo joga a seu favor, já que os milhares de milhões que a OTAN tem investido encontram-se transformados em sucata, mostrando também o obsoletismo, face ao armamento russo, da maioria do material que a OTAN europeia dispõe e que tem sido fornecido. Com que dinheiro irá ser reposto é algo que não preocupa os prolixos "comentadores".

4 - Bloquear o racional

Fala-se em genocídio, crimes de guerra, Putin não tem direito de viver, etc. O próprio decoro diplomático foi perdido. Com a perda de memória coletiva ninguém se questiona sobre o que aconteceu antes, nem quais os contextos desta guerra. Trata-se de bloquear o racional pela emoção do horror.

A russofobia tornou-se política de Estado na OTAN logo que os russos deixaram de ser olhados com sobranceria e desprezo como no tempo em que sofriam as misérias que a "democracia liberal" de Ieltsin e Chubais, assistidos "conselheiros" dos EUA. Apesar disto Putin tudo fez durante década e meia para acordos com os "parceiros" ocidentais.

Os nacionalismos russofóbicos foram então fomentados. Nos Estados Bálticos instaurou-se desde logo um poder fascizante, retirando direitos aos cidadãos russos, privando-os de direitos políticos, proibindo as crianças falarem russo nas escolas. A versão oficial passou a ser: “fomos independentes entre 1918 e 1944, quando fomos invadidos pelos russos”. Omitia que estiveram ocupados pela Alemanha nazi, donde partiram ataques à URSS, foram formadas unidades locais SS e realizados massacres sobre a população.

Na Finlândia, que foi base nazi e participou na agressão contra a URSS, foi dada a mesma versão da “invasão russa” em 1944. Na Polônia, na Ucrânia após 2014, a libertação dos povos da agressão e da barbárie nazi foi transformada em “invasão russa”, fomentando o nazifascismo nesses países.

O Exército Vermelho, que perdeu centenas de milhares de homens para libertar a Ucrânia, passou oficialmente a ser considerado um exército de ocupação. Foram glorificadas antigas brigadas de colaboracionistas das forças nazis durante a Segunda Guerra Mundial, que tinham Stepan Bandera como principal líder desses gangs – responsáveis por centenas de milhares de assassinatos naquele período – foi declarado herói nacional.

A propaganda procura incutir uma dupla moral. Os refugiados ucranianos são considerados vítimas de um inenarrável drama; os refugiados e emigrantes do Médio Oriente e África são tão indesejados como incômodos parasitas que entrassem em casa, são alocados em verdadeiros campos de concentração ou sujeitos a semi escravatura quando obtêm trabalho. Tudo isto é conhecido.

Se falamos nas mortes causadas pelas intervenções da OTAN, as pessoas dizem sim, mas... a Ucrânia. Este mas anula o que se disse antes. Não se quer ouvir mais, isso poria em causa o que adquiriram como convicção. Podem morrer crianças iemenitas, líbias, sírias, iraquianas, palestinas, na África devastada pelas transnacionais e noutros países. Podem morrer mulheres e homens cuja única culpa é serem de países que caíram no desagrado do "ocidente", para estes apenas a indiferença ou, pior, considera-los culpados da sua sorte e que "valeu a pena".

O raciocínio é idêntico ao dos tempos feudais quanto à morte violenta de gente do povo e a um atentado contra a vida de um grande senhor ou de um monarca. Dado o direito divino dos reis, ofendia-se a própria divindade. Na Síria um súbdito rebelde interferiu com os planos do imperador, na Ucrânia esse rebelde atenta contra o direito divino de governar o mundo. É disto que se trata.

5 - Como a UE acarinha o nazifascismo

Vídeos mostram forças ucranianas abusando de prisioneiros russos. Num vídeo um jornalista ucraniano mostra três corpos carbonizados, que se considera serem prisioneiros de guerra. Aisling Reidy, consultora jurídica da Human Rights Watch, disse: “Deve ser possível verificar se houve abuso e, a partir daí, responsabilizar os responsáveis”. Outro vídeo mostra cinco homens em uniforme militar no chão com as mãos amarradas e dois deles com sacos na cabeça. Pelo menos três dos prisioneiros têm ferimentos nas pernas consistentes com ferimentos de bala.

Os captores têm uma mistura de uniformes, armas e equipamentos e nenhuma insígnia claramente identificável. Não está claro se fazem parte do exército regular, de uma unidade de defesa territorial (geralmente grupos nazis) ou outra força. Alguns dos prisioneiros têm faixas brancas nos braços (civis ucranianos) um deles tem uma faixa vermelha, ambas usadas pelas forças pró-russas. Muitos dos captores têm braçadeiras azuis (forças de segurança ucranianas).

Quando as forças ucranianas entraram na cidade dispararam contra pessoas com braçadeira branca matando civis. Um vídeo mostra uma conversa entre um membro da "defesa territorial". Um destes radicais pergunta se pode disparar contra pessoas sem braçadeira azul. O outro confirma que sim. Os "radicais nacionalistas" a pretexto de executarem "traidores" massacram pessoas inocentes.

Os nazis do batalhão Azov torturaram e mataram soldados russos prisioneiros. Violaram mulheres e mataram os seus próprios concidadãos para os transformar em "vitimas dos russos". É este o regime que a UE e EUA defendem. A repressão brutal contra democratas ucranianos pode ser conhecida aqui e aqui. Não apenas a propaganda segue Goebbels, como há unidades  ucranianas que adotam os procedimentos das SS.

A descoberta de dezenas de laboratórios de guerra biológica clandestinamente construídos na Ucrânia, financiados e controlados pelos serviços secretos dos EUA, também não chocou nem sequer preocupou os defensores dos direitos humanos nas mídia.

Eis em que transformaram um país que em 1989, 70% da população votou a favor da manutenção da URSS. As forças armadas são financiadas e treinadas do exterior, o país está falido desde 2014, a corrupção excede todos os padrões "normais" do capitalismo. Das primeiras medidas do governo saído do golpe de 2014, foi colocar na ilegalidade o Partido Comunista da Ucrânia, um dos mais influentes do País e prender centenas de militantes, comunistas e de outras organizações de esquerda, perseguir sindicalistas e opositores em geral. A miséria da sua situação social é descrita por Sara Flauders.

Forças nazis apoiadas, treinadas e armadas pela NATO, controlam governo e exército. O governo ucraniano incorporou estes nazistas na estrutura militar do País. A situação tem equivalente ao papel das SS na fase final da guerra. Os paramilitares nazistas comportam-se como verdadeiros esquadrões da morte, matando comunistas e barbarizando a população de origem ou simpatias pela Rússia.

comediante que faz de presidente da Ucrânia assume-se como porta-voz dos neocons dos EUA e continua a pedir mais armas, mais poderosas e a intervenção direta da OTAN. Os papagaios "comentadores" repetem a lição. Se estivessem preocupados com direitos humanos exigiam negociações e que se estabelecesse um armistício parando os combates.

Zelensky foi ouvido e aplaudido no Congresso dos EUA e também em parlamentos da UE. A audiência concedida nos parlamentos da UE ao presidente da Ucrânia mostra o carinho com que os nazi-fascistas são apoiados pelo ocidente.

Falou também para os deputados da AR. Como de costume, a dita esquerda "radical" não faltou à chamada e disse: presente. Um único partido, o PCP,(Partido Comunista Português) teve a dignidade de não participar neste dislate. Os "comentadores" não deixaram fugir a oportunidade de o atacar, branqueando o nazifascismo do regime de Kiev.

25/Abril/2022

Este artigo encontra-se em resistir.info


O apelo de Faina Savenkova, uma menina ucraniana de 12 anos

Faina Savenkova [*]

 

Faina Savenkova é uma jovem de 12 anos de Lugansk. Eis uma das suas "Cartas da Frente":

Olá, bisavô Vasily!

Estamos novamente na véspera do Dia da Vitória. E eu quero pedir o seu perdão. Perdoe-nos por falhar, esquecendo as suas façanhas e os heróis da guerra. Nas eternas disputas perdemos o principal – a nossa história. Afinal, você defendeu Moscovo, congelou nos pântanos da Bielorrússia, libertou Praga. E agora dizem que foi em vão. Que a sua vitória foi uma ocupação, que Leningrado poderia ter-se rendido, que eu deveria ter pena dos nazistas e que a Parada da Vitória é uma psicose da vitória. Posso fazer isso? Claro que não!

Olá, avô Miron!

Eles contaram-me como você perseguia os bandeiristas pelas florestas da Ucrânia sem pensar em dormir ou se aquecer. Libertando e avançando lentamente. Ver aldeias incendiadas por eles e crianças mortas. Você nos livrou dessa escória, sem poupar sua vida. E agora os descendentes deles dizem que foram heróis. E agora tenho de dizer: “Glória aos heróis” e renegar você, soldado soviético. Dizem que venceram a guerra, mas, como antes, estão lutando contra crianças e velhos, destruindo cidades e aldeias, deixando para trás terra queimada e cinzas em suas botas. Pode ser assim, se apenas 77 anos se passaram desde a Vitória? Pode. Lamento não podermos destruí-los todos.

Olá, bisavó Elsa

Desculpe pela estrela amarela estar em voga novamente, só que desta vez para os russos. Agora dizem que um russo não é um libertador, mas um subumano. Quão familiar. Eles costumavam dizer a mesma coisa sobre você durante os progroms em Lviv e Kiev. Quem lhes deu o direito de decidir quem é digno de ser chamado de humano e quem não é? Nós fizemos. Pela nossa indiferença à nossa história.

Olá, soldado russo!

Perdoe-nos por não sermos capazes de manter nosso mundo longe da guerra. Nós nos acalmamos e pensamos que uma vida pacífica era para sempre, e que a liberdade é concedida sem luta. Acontece que não é. O fascismo está em nosso redor. Está mais uma vez marchando por nossa terra, exibindo suas bandeiras e divisas de Azov, Aydar e o Setor Direita. Está tudo em nossa volta. Já está aqui. E é por isso que você está de novo na fila, como estava naquele terrível ano de 41. Você é um checheno, um bashkir, um ossetiano, um abkhaz, um ucraniano, um buriato ou um bielorrusso. Você é um soldado russo, seja você quem for! Você veio para defender aqueles que são fracos e indefesos. Você veio para vencer. De novo e de novo. Como uma vez nas trincheiras de Estalingrado, agora nas estepes de Donbass. Esta guerra será tão difícil quanto foi então. Nem todos poderão viver para esta vitória, mas o fascismo será destruído e nunca mais levantará a cabeça. Acredito que a vitória virá. As cidades reconstruídas da Ucrânia e Donbass celebrarão o dia 9 de maio. Kiev, Donetsk, Luhansk, Odessa, Sloviansk, Kharkiv, Dnipropetrovsk e outras cidades farão um desfile, onde, como há muitos anos, será transportada a Bandeira da Vitória. E as bandeiras daquela Ucrânia nazista serão lançadas aos monumentos dos heróis. E vamos esperar por essa vitória.

- Z -

Escreve Andrei Martyanov:

Talvez tenham ouvido falar acerca do “Mirotvorets” (Peacemaker) Ukronazi website: https://myrotvorets.center/

É um semioficial website que lista todos os "inimigos da Ucrânia", com foto e morada. Poderíamos chamá-lo de “lista de linchamento” online. Listam pessoas que não aprovam a ideologia Banderista Ukronazi e alguns casos realmente ridículos. Mas agora, eles atingiram um ponto ainda baixo:   listaram uma menina de 12 anos, Faina Savenkova, uma jovem autora que escreveu para o blog The Saker e fez uma sessão de perguntas e respostas para nós. Agora Faina está oficialmente listada como inimiga da Ucrânia e designada para linchamento, junto com sua família.

Quero perguntar aos meus leitores, o que pensam do silêncio ensurdecedor dos vários defensores dos "direitos humanos" e das organizações do ocidente "promotoras da democracia"?
Andrei

- Z -

Os media tão atentos aos apelos de jovens (quando convém às oligarquias) como com a menina Greta, silencia tudo isto. Guterres que foi gaguejar para Moscovo, foi para Kiev verter lágrimas (de crocodilo talvez, bem mas ele depois vai à confissão...) que faltaram para os crimes dos ucronazis e os milhares de mortos no Donbass e os queimados vivos em Odessa. Tal como faltaram para todas as outras guerras do imperialismo.

Não o "mundo livre" não suporta jovens como Faina Savenkova, pelo contrário nem um momento deixa de apoiar os ucronazis que colocaram esta jovem num "lista negra" para ser linchada bem como à sua família. De facto já nada nos admira daqueles que se calam perante as injustiças e o sofrimento de Julian Assange.
DVC

27/Abril/2022

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terça-feira, 26 de abril de 2022

A criação de um mundo perigoso

Por Daniel Vaz de Carvalho

1

Não, não se trata de uma oratória de Haydn, é a realidade atual. De um lado EUA/OTAN e aliados/súditos mais fieis, do outro Rússia, China e países ligados a estes como o Irã, Bielorússia e outros. De um lado a "comunidade internacional", uns 15% da população mundial, do outro 25%. O "terceiro mundo" volta a reconstituir-se como se viu na votação na ONU sobre a aplicação de sanções à Rússia.

Há muito que o dito ocidente, sob a hegemonia dos EUA, abandonou o conceito de "direito internacional" da Carta da ONU adotando a "ordem mundial baseada em regras", que ditam ao resto do mundo, achando-se no direito de sancionar, conspirar, atacar, invadir os que não as sigam. É este o fundamento do mundo extremamente perigoso em que vivemos. Chris Hedges descreve exemplarmente os seus "ideólogos" e aproveitadores: os oligarcas e parasitas ao seu serviço.

É em função destes interesses que se criou um mundo no qual a potência hegemônica dita, sem admitir ser questionada, como os demais povos têm de ser governados. Um mundo gerado na base de crises e conflitos permanentes, sempre à beira de guerras, aproximando-se perigosamente de um confronto global entre potências com armas nucleares.

Nos finais de 1989 quando o muro de Berlim foi derrubado, multidões exultavam: era a paz, a liberdade (do neoliberalismo...), o fim do socialismo, tenazmente preparado com a colaboração de laxistas, vendidos ao imperialismo e corruptos. Cena que faz lembrar uma outra em circunstâncias que adivinhavam a tragédia que se seguiu.

Em 30 de setembro de 1938, o primeiro-ministro francês Daladier regressava a Paris, vindo de Munique, após ter celebrado o acordo que entregava aos nazis uma parte da Checoslováquia. Ao sair do avião uma multidão espera-o com cartazes que festejavam o acordo: "a paz tinha sido salva". Daladier olha-os espantado, esperava ser vaiado, e murmura: "Idiotas… se eles soubessem".

Em 1989 uma idiótica euforia, percorreu as hostes anti-marxistas desde a extrema-direita a uma dita extrema-esquerda, juntando-os num triunfalismo inconsequente. Na realidade, tal como em Munique se preparou a entrega aos nazis do domínio sobre a Europa, o derrube do Muro de Berlim preparou a entrega do domínio mundial aos EUA, como líder do grande capital transnacional.

A direita exultava com a derrota do seu arqui-inimigo, a social-democracia acompanhava-a fantasiando o enterro do "comunismo", defendendo "um socialismo de rosto humano", na realidade de rosto oligárquico e financeiro. Na sua cegueira acreditavam que afastado o "espectro do comunismo" as massas populares pertenciam-lhe política e sindicalmente. Para uns e para outros era a "paz social" através da colaboração de classes.

As massas foram submersas em propaganda que prometia a "economia social de mercado" ou a "economia de mercado com justiça social". Contudo, o derrube do Muro de Berlim e o fim da URSS vieram exaustivamente confirmar as teses marxistas-leninistas: o capitalismo humanista não existe. Avanços sociais e civilizacionais conquistados à custa de duras lutas e sacrifícios contra o capital dominante iam ser eliminados. A criação de um mundo cada vez mais desigual, injusto e perigoso estava em curso.


2

Rand Corp, que tinha ajudado a elaborar a estratégia para destruir a União Soviética forçando-a a consumir os seus recursos econômicos disponíveis no confronto geoestratégico, elaborou um novo plano, Overextending and Unbalancing Russia, que fundamentalmente constituía a preparação para uma guerra global. O relatório especificava que os EUA deviam procurar com os seus aliados, uma estratégia abrangente explorando as vulnerabilidades russas, analisando vários meios de a levar ao desequilíbrio, indicando probabilidades de sucesso, benefícios, custos e riscos para os EUA. Como forma de prejudicar a economia da Rússia, a emigração de pessoal qualificado deveria ser incentivada. No domínio ideológico e informativo, estimulavam-se as disputas internas, minar a imagem da Rússia no exterior, excluindo-a dos fóruns internacionais, boicotando eventos desportivos internacionais que organizasse, etc.

Falava em armar a Ucrânia, como ponto de maior vulnerabilidade externa da Rússia. Sair do Tratado INF e implantar na Europa novos mísseis nucleares de alcance intermédio. O relatório concluía que a Rússia acabaria por ceder ao ter de pagar um preço demasiado alto neste confronto. Os EUA teriam também que investir grandes recursos subtraindo-os de outros objetivos, devendo haver um aumento acentuado dos gastos militares da OTAN em detrimento dos gastos sociais.[1]

Desde o início do século que a Rússia voltava a ser vista como um forte adversário dos EUA. Na Ucrânia, V. Yanukovych, então presidente, ciente das consequências adversas que a economia sofreria após a assinatura do Acordo de Associação com a UE, quis adiar a assinatura até se ver como mitigar o inevitável impacto negativo. Foi então posto em prática o golpe "Maidan", desencadeado em 2014 com o dinheiro e a liderança dos EUA.

A agressividade acentuou-se dado que o golpe de Estado não atingiu todos os objetivos devido à reação russa com apoio da população na Crimeia – onde os EUA/OTAN previam instalar uma base militar (como no Kosovo) substituindo a base russa – e no Leste do país (o Donbass) onde a população também não aceitou o nazifascismo de Kiev.

O conflito atual é no entanto mais vasto e ultrapassa o confronto na Ucrânia. A China é considerada o inimigo principal devido ao sucesso do PCC e do seu "socialismo de caraterísticas chinesas" (do qual não está ausente a meritocracia confucionista) que se torna para muitos povos atraente como  alternativa ao capitalismo neoliberal e financeirizado.

Em 2021 a Rússia propõe um tratado de segurança coletiva na Europa, baseado no princípio da OSCE de que a segurança de uns não pode ser feita à custa da segurança de outros. Era quase uma repetição das tentativas da URSS em 1938/1939 para conter o imperialismo nazi através de um tratado com a França e a Grã-Bretanha. A resposta foi idêntica: uma displicente indiferença. Entretanto, a OTAN predispunha-se a continuar a expansão para Leste ignorando os acordos de 1989, instalar mísseis e armas atômicas na Ucrânia.

Neste contexto, a UE tornou-se uma colônia dos neocons instalados em Washington. O bloqueio do Nord Stream 2 representa a rendição da Alemanha aos EUA, arrastando consigo a UE (com exceção da Hungria). Como frisou Michael Hudson em O dólar devora o euro, o objetivo é impedir que a Europa Ocidental (“OTAN”) possa prosperar por meio de comércio e investimentos mútuos com a China e a Rússia. Os efeitos destas decisões já se sentem, com aumento de preços (inflação), retração da economia, escassez de cereais e de fertilizantes, encarecimento dos transportes, etc, tendência que se irá acentuar. Além da construção de terminais para a receção de gás liquefeito dos EUA, os países da OTAN são obrigados a comprar armas aos EUA. O suicídio econômico da UE está aliás inscrito nas próprias regras, (as algemas monetárias) que limitam sua capacidade de criar dinheiro para investir na economia e o limite de 3% do PIB no défice.

A aliança transatlântica, não passa de uma aliança entre as oligarquias como em qualquer republica das bananas. O desvario vai ao ponto da política oficial da OTAN e da UE ser de que a guerra na Ucrânia deve ser resolvida vencendo no campo de batalha!

3

A potência hegemônica está perante um mundo que uma série de bajuladores disseram que lhe pertencia e agora lhe escapa. A Ucrânia é apenas um peão geopolítico, deixado ser "comido" para o rei continuar a jogar. Por isso os acordos de Minsk foram sabotados, com o apoio da Alemanha e da França, segundo ordens dos EUA. Na recusa de Kiev em implementar os acordos, o Donbass foi sujeito a ataques de que resultaram 14 mil mortes, cujo sacrifício deixa indiferentes os que nas mídias se exibem como grandes defensores dos direitos humanos.

Há muito que a decisão sobre o papel geostratégico da Ucrânia tinha sido tomada. Há oito anos que o seu exército era armado e treinado pela OTAN, pronto para desencadear uma ofensiva contra o Donbass (para o que concentraram pelo menos 60 mil efetivos). Nas bravatas do comediante propunha-se atacar a Crimeia, ter acesso a armas nucleares e aderir à OTAN.

Apesar de tudo isto, o exército ucraniano não tem um mínimo de condições para realizar quaisquer movimentos estratégicos, as ações táticas resumem-se a estabelecer pontos de resistência em algumas cidades. O exército russo fez um muito bom trabalho ao transformar rapidamente o exército ucraniano numa entidade fragmentada, as suas várias partes isoladas e incapazes de se apoiarem umas às outras. Considerando que os ucranianos têm a dupla vantagem de estar na defesa e ter uma força maior, esta é realmente uma ação militar notável. Note-se que a Rússia só comprometeu na Ucrânia, até ao momento, apenas uma pequena parte de seu exército e quase nenhuma de suas forças mais modernas (além de recentemente mísseis hipersónicos).

Acrescente-se o dinheiro, armas e quadros militares dos EUA/OTAN. Através da Polônia são enviados elementos de forças especiais, mercenários e material de guerra pesado (tanques, munições de artilharia, mísseis de vários modelos, etc.). Grande parte deste material é destruído nos pontos onde é concentrado. As forças ucranianas têm ainda alguns blindados e artilharia pesada, a maior parte escondida em aglomerados urbanos fora dos quais são rapidamente destruídos. O seu abastecimento é também muito difícil. Na manhã do passado dia 19, a artilharia russa atacou 1 260 objetivos militares, além de 60 objetivos visados pela aviação em locais com grande presença de tropas e material.


Segundo dados do Kiel Institute for the World Economy recolhidos pela jornalista Katharina Buchholz, desde 24 de fevereiro a meados 27 de março os EUA despenderam 4,8 mil milhões de dólares em ajuda militar. Isto sem contar com mais de mil milhões que países europeus da OTAN estão a despejar na Ucrânia.

A intenção de Washington é instigar um conflito de longa duração que esgote as forças russas, deixando os ucranianos a realizar uma rebelião sem possibilidades de sucesso. Os EUA ficariam assim de mãos livres para tratarem dos seus problemas com a China. O futuro do mundo está, pois pendente do resultado do conflito Rússia-Ucrânia e da posição que os países da UE vierem a tomar em relação à China, acompanhando ou não os EUA (se é que poderão deixar de o fazer).

Os objetivos em prolongar a guerra têm em vista: uma acumulação de notícias falsas sobre crimes de guerra que justifique na OTAN os sacrifícios pedidos às populações; o aumento da exploração inscrito no plano neoliberal há muito preparado; desarticular a economia russa, levando a opinião pública contra Putin, criando conflitos possibilitando que os liberais afetos ao ocidente tomem o poder, voltando-se aos "bons tempos" de Ieltsin; minar a moral do exército e o alto comando desacreditando a liderança de Putin incapaz de alcançar a vitória ou pôr fim à guerra.

Claro que os efeitos da guerra vão produzir consequências idênticas, de sinal contrário, nos países da OTAN. A guerra de desgaste pretendida está a transformar-se numa armadilha particularmente para os países europeus da UE e OTAN, basta ver os milhares de milhões que estão a ser gastos.

Também o objetivo das sanções falha e quem paga as custas são os demais países da Europa, o que pouco importa aos EUA, já que: "Fuck UE" (Nuland). A popularidade de Putin está acima dos 80%, enquanto o desagrado pelos "liberais", a 5ª coluna ocidental, é total.

Nos terceiros países há uma crescente consciência e necessidade de proteger as suas economias, evitando ficarem sequestradas pela hegemonia financeira ocidental e que o ocidente não deve mais ser deixado sem controlo nas suas economias.

4 - A guerra atual e as forças progressistas


Vivemos num mundo cada vez mais perigoso. Os EUA tendem a tornar-se mais agressivos à medida que a sua hegemonia é contestada e são confrontados com o declínio do seu domínio global sem o qual o dólar passa a ser uma moeda como qualquer outra. Com a sua economia e dos seus aliados em crise, com gritantes desigualdades e convulsões sociais internas, o dólar não poderá sustentar-se como moeda mundial.

Para dominarem o mundo os EUA não querem ficar limitados a qualquer obrigação de levar em conta os interesses dos outros. Isso seria reconhecer a incapacidade de vencer adversários, precisamente num momento em que se acumulam desaires em intervenções militares e políticas (revoluções coloridas, caso das sanções contra a Rússia na ONU, aliados que se distanciam, etc).

O diálogo com a Ucrânia está portanto muito comprometido, visto que Zelenski, sem qualquer preparação para o cargo, não passa de um títere telecomandado incapaz de gerir os interesses do seu país, falido e sob a prepotência de grupos nazis desde 2014. No entanto, a agenda russa era bastante simples: fim dos ataques ao Donbass; que a Ucrânia não disponha de nenhuma arma que represente uma ameaça à segurança da Rússia; que a ideologia nazi não subsista na Ucrânia.

Cada vez mais o império só consegue a adesão de dirigentes corruptos e mentirosos ou que obtêm o poder à custa de perseguições e crimes. As suas intervenções, têm causado um impressionante número de mortes, populações deslocadas e refugiados, como nunca desde a 2ª Guerra Mundial. Contudo os milhares de mortes no Mediterrâneo graças a "levar a democracia" e "intervenções humanitárias" pouco ou nada perturbaram a consciência dos incansáveis defensores de direitos humanos segundo a pauta da OTAN.

A guerra na Ucrânia faz parte de uma luta existencial em que tanto a Rússia como os EUA estão envolvidos. Os EUA querem manter o seu império, a Rússia luta pelo direito à soberania e igualdade nos fóruns internacionais. Para a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, a Rússia estará disposta a envolver todos os meios à sua disposição impondo a neutralidade de Kiev. A Rússia não esquece a agressão nazi, os tempos de horror sob a "democracia liberal" de Ieltsin e conselheiros dos EUA, a tentativa de desmembramento a partir da Chechênia. A ideia é que só não lhe aconteceu o mesmo que à Iugoslávia porque dispunham de bombas nucleares.

A presença da China na Ásia, África, América Latina, impede que o "ocidente" continue a devastar sem entraves essas regiões. A aliança entre a Rússia e a China cria um polo de oposição ao poder de Washington demasiado forte para, na perspetiva da sua hegemonia ser tolerado.

A entrada na OTAN da Finlândia e da Suécia está já configurada. Mesmo informalmente a participação em ações da OTAN são um rastilho que pode alterar para pior tudo o que acontece na Europa. As soluções negociadas que se podiam prever, perdem nesta situação oportunidade. Até um armistício como o da Coreia pode tornar-se inviável, caminhando-se para um confronto global.

Em junho de 2020, segundo a nova doutrina nuclear russa, a Rússia reserva-se o direito de usar armas nucleares, especificando"o direito de utilizar o seu arsenal nuclear em resposta à utilização de armas nucleares ou outras armas de destruição massiva contra ela ou seus aliados, assim como no caso de uma agressão contra a Federação Russa com armas convencionais desde que a própria existência do Estado seja ameaçada".

Face a isto, os governos europeus da OTAN mostram-se incapazes de alterar o discurso alinhando com os neocons dos EUA e os nazifascistas da Europa do Leste. 

Quanto ao radicalismo de fachada, adapta a sua tese dos dois imperialismos às presentes circunstâncias, favorecendo o imperialismo e desarmando ideologicamente as massas proletárias na total prioridade da luta pela paz, pela soberania nacional e pelo fim de um Estado hegemônico decidir, em função dos interesses da sua oligarquia, como os demais devem ser governados.

Só a plena soberania nacional permitirá criar oportunidades para os trabalhadores emergirem numa nova conjuntura como protagonistas de uma nova ordem econômica que atenda aos seus interesses. Só a alteração da relação de forças sociais nos EUA e na UE pode trazer alguma luz a este tempo de trevas, permitindo a construção de uma ordem internacional na qual nenhum Estado exerça funções de policiamento político sobre os demais.

No dia que as pessoas se apercebam de tudo isto haverá uma oportunidade para a paz. O que as populações fizerem em termos de luta pela paz e soberania nacional será decisivo.

24/Abril/2022

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Declaração da Frente Popular de Libertação da Palestina por ocasião do Dia do Prisioneiro Palestino 17/04/2022

 Frente Popular pela Libertação da Palestina : Dia do Prisioneiro representa uma profunda intensificação da disposição e da  luta do nosso povo e sua valente resistência 

Aos filhos de nosso povo palestino... aos filhos de nossa nação árabe... ao povo livre do mundo

Saudamos com vocês o Dia da Solidariedade ao Preso Palestino nas prisões do inimigo sionista, este dia que foi marcado a ferro e fogo com lutas, sacrifícios, determinação e firmeza do movimento nacional cativo, e sua lendária firmeza diante da opressão, violência , terrorismo e abusos praticados contra os palestinos presos. O meio pelo qual confrontam nosso inimigo é baseado em armas. greves de propósito e prazos, e confrontos diretos com a administração da Autoridade Prisional, marcado  de sangue em todos os centros de detenção, daí nesce  uma escola revolucionária nacional pioneira, que foi e ainda é um importante e original afluente da nossa luta e movimento nacional.

O Dia do Prisioneiro Palestino, que deriva seu simbolismo da luta e firmeza do movimento cativo, representa uma profunda intensificação da disposição  e luta de nosso povo palestino e sua valente resistência, em prol de arrancar sua liberdade, independência, autodeterminação e seus plenos direitos nacionais e humanos. Mas não há evidências, ainda, da vitória, mesmo no momento de intensificação do confronto com o inimigo sionista em todas as partes da terra da Palestina, em Jerusalém, passando por Ramallah, Jenin e Umm al-Fahm. E, da mesma forma, ainda não é o fim das prisões e centros de detenção, essas aberrações desumanas sionistas  que estão diariamente lotados de novos militantes, como meio e  tentativa do inimigo  de quebrar a espinha  da resistência. Resistência,  cuja popularidade e meios estão se expandindo, juntao a  convicção de que é a principal opção para enfrentar o inimigo e seus objetivos de liquidação, apesar de todas as medidas terroristas sionistas cada vez mais agressivas contra nosso povo, incluindo contra nossos prisioneiros homens e mulheres, que estão enfrentando circunstâncias trágicas e inesperadas. Seus direitos humanos e dignidade são violados, por meio de estratégias e políticas sistemáticas, em desafio e violação explícita das regras do direito internacional humanitário e das convenções e tratados internacionais relevantes.

Nosso povo livre

O dia do prisioneiro encarna uma etapa de luta, que exige de todos nós uma posição para avaliar nosso desempenho e trabalho e corrigi-lo em prol do movimento cativo, visto que a questão dos presos representa um consenso nacional, e ninguém ganha vantagem ao distanciar ou aceitar transformá-lo em apenas uma memória sazonal. De acordo com um plano estratégico nacional temos muito trabalho sério e sistemático.  Esta questão confere à sua dimensão política, libertadora e humanitária, uma missão que deve estar na vanguarda do programa de trabalho das forças de resistência, órgãos e instituições populares e societárias, e instituições humanitárias e de direitos humanos.

No mesmo contexto, apelamos aos atores e instituições internacionais preocupados com a questão dos prisioneiros palestinos, comitês de solidariedade, movimento de boicote e instituições internacionais de direitos humanos para que se esforcem em preparar  arquivos sobre os crimes cometidos pela ocupação contra os prisioneiros, submetê-los ao Tribunal Penal Internacional e processar os líderes da ocupação como criminosos de guerra, com base na questão dos prisioneiros, da liberdade e da emancipação de todo  povo palestino das garras da ocupação e de sua contínua agressão, com bases as  cartas internacionais, acordos e resoluções que os incluíam.

Nossos cativos... Nossos valentes cativos    
 
No dia 17 de abril, em seu honrado dia de luta, renovamos nossas saudações de orgulho e honra a  você e por você, e nos curvamos à sua firmeza e sacrifícios. Como você sempre esteve na linha de frente da resistência e nas  campanha das brigada,  você  nos mostra  a determinação, a vontade de desafio  e firmeza encarnada nos  heróis da Operação Túnel da Liberdade, como uma expressão gritante de sua demanda e da demanda de seu povo pela liberdade, retorno e independência. Em seu nome, saudamos e honramos todos os presos políticos associados à causa palestina em nível internacional, e que lutaram por sua liberdade e pela liberdade de seu povo, liderados pelo camarada lutador Jorge Abdullah; O preso político mais antigo do mundo, que ainda está preso em prisões francesas, e se recusa a trocar a causa palestina por seu direito à liberdade.

Glória aos mártires

Liberdade para mulheres presas

Vitória para o nosso povo e sua resistência

Frente Popular de Libertação da Palestina 

17/4/2022

sábado, 16 de abril de 2022

A resistência palestina confronta o ninho da serpente!

  


Uma série de ações militares de iniciativa do povo palestino afronta a colonização/ocupação sionista e seu exército criminoso, desde março. As ações militares desfechadas pelos combatentes palestinos devem ser entendidas como  reações e  resistência de um povo que luta com pedras contra uma ocupação/colonização devastadora, assassina  e fascista, que cresce há 74 anos, como uma serpente  que devora corpos,  infância,  juventude e as terras do povo autóctone, os palestinos.

As bravas reações dos palestinos soam como gritos de desespero diante da situação de viver sobre o domínio de forças estrangeiras fascistas, com tudo que isso implica, desde assassinatos, prisões arbitrárias, inclusive de crianças e mulheres,  torturas, racismo, humilhações de todos os tipos, demolições das casas das famílias dos presos,  demolição de bairros inteiros para construção de colônias para judeus que chegam do exterior, exílio, fome e miséria.

Segundo o site almayadeen , a entidade sionista ocupante já assassinou 5 vezes mais palestino este ano (3 meses e meio) do que em todo o ano de 2021.

No mês em curso, abril de 2022, metade dos 18 palestinos mortos pelo exército da colonização/ocupação militar sionista aconteceu após a declaração, desta vez oficial, do primeiro-ministro israelense Naftali Bennett : "Não há e não haverá limites para essa guerra. Estamos concedendo total liberdade de ação ao exército, ao Shin Bet (Agência de Segurança) e a todas as agências de segurança para derrotar o terror".

Nada de novo na declaração do ministro! Há longos e dolorosos 74 anos os palestinos sentem e sofrem  o peso mortal de uma máquina militar  de colonização fascista que sempre contou com a proteção da impunidade dos órgão internacionais e do império anglo-saxão sionista (EUA) para matar palestinos e roubar suas terras. Ele mente quando diz que é uma guerra, nunca foi uma guerra! Sempre foi uma ocupação militar com objetivos de subjulgar, colonizar e expulsar a população histórica e autóctone palestina.

Essa é uma colonização do tipo  clássica,  onde matam e roubam as terras dos nativos.  No entanto,  a mídia ocidental apresenta a resistência do povo   como ato terrorista, quando, na verdade, se trata do direito legítimo de autodefesa da sua vida e suas terras usurpadas.  O Direitos de resistir a tirania consagrado nas leis internacionais, não está à disposição dos povos oprimidos pelo fascismo.

Resumo dos principais acontecimentos dos últimos dias:

  • Entre 22 a 29  de março houve várias iniciativas de atingir o exército e os colonos com facas ou revolveres, iniciativa rebelde que na maioria das vezes resultou em morte para o palestino, mas que tem um saldo militar de 11 inimigos mortos .
  • Em 31 de março, o IDF (Exercito sionista) invadiu a cidade de Jenin, na Cisjordânia. Dois palestinos foram mortos e outros 15 ficaram feridos;
  • Em 31 de março, um palestino esfaqueou um israelense em uma rodoviária no assentamento de Neve Daniel, na Cisjordânia;
  • Em 2 de abril, três membros da Jihad Islâmica Palestina foram mortos por forças israelenses na cidade de Arraba.
  • No final de 7 de abril, duas pessoas foram mortas e mais de dez outras ficaram feridas como resultado de um ataque a tiros no coração da cidade israelense de Tel Aviv. O guerrilheiro palestino foi morto a tiros pela polícia perto de uma mesquita em Jaffa no início de 8 de abril após uma caçada maciça. Seu nome era Ra'ad Hazem, 29, um palestino do campo de refugiados de Jenin.
  • Em 9 de abril, as forças de segurança israelenses invadiram a casa do palestino no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia.

A resistência palestina reagiu e revidou os tiros das forças ocupantes.  De acordo com o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina, um palestino foi morto e pelo menos 13 outros ficaram feridos na batalha, incluindo uma mulher de 19 anos que foi atingida no estômago.

O palestino morto era Ahmed as-Saadi, um combatente da Jihad Islâmica Palestina do campo de refugiados de Jenin. 

  • O ataque supostamente tinha como objetivo vasculhar a casa do atirador de Tel Aviv, Ra'ad Hazem, e mapeá-la antes de uma potencial demolição. 

Hazem matou três pessoas e feriu várias outras na movimentada rua Dizengoff no final de 7 de abril, antes de ser morto a tiros pela polícia israelense. Desde então, as Brigadas dos Mártires de al-Aqsa assumiram a responsabilidade pelo ataque.

  • Israel demoli as casas de palestinos acusados ​​ou presos sem acusação, como parte de sua política de punir as massas.
  • No início de 10 de abril, as forças de segurança israelenses realizaram ataques em larga escala em Jenin, na aldeia vizinha de Ya'bad e no campo de refugiados de Balata, na Cisjordânia.
  • As Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que forças especiais, incluindo tropas da unidade naval de elite Shayetet 13, participaram dos ataques.
  • Em Ya'bad, tropas da IDF invadiram a casa de Diaa Hamarsheh, que atirou e matou cinco pessoas na cidade de Bnei Brak, perto de Tel Aviv, em 28 de março. No entanto, nenhum soldado ficou ferido. O IDF informou a família de Hamarsheh que sua casa será demolida.
  • As tropas da IDF também realizaram ataques em Tulkarem, onde enfrentaram resistência. As forças de ocupação israelenses foram confrontadas com fogo. 
  •  A Mesquita de Al-Aqsa não foi poupada da agressão das forças israelenses, e foi invadida várias vezes, e os fiéis foram atacados violentamente. Mais de 150 palestinos ficaram feridos e mais de 400 foram detidos.
  • Na sexta-feira, as forças de ocupação israelenses invadiram violentamente a mesquita e a esvaziaram de fiéis.
  • De acordo com o correspondente de Al Mayadeen , as forças de ocupação dispararam granadas de som, gás lacrimogêneo e balas de metal revestidas de borracha contra os fiéis, ferindo vários deles.
  • O Crescente Vermelho relatou 67 feridos em palestinos.
  • De acordo com a Euro-Med, a invasão da mesquita indica um desejo de escalada por parte da ocupação israelense.
  •  
  •   Mesquita de Al-Aqsa há algum tempo... dezenas de feridos e confrontos continuaram com os soldados da ocupação dentro de seus pátios.*
  • ocupação prende 450 palestinos estavam dentro de "Al-Aqsa"*
  • Segundo a mídia da ocupação: 8 policiais "israelenses" ficaram feridos durante os confrontos na mesquita de Al-Aqsa depois de serem apedrejados, e 3 deles foram transferidos para o hospital.
  • Em vários incidentes em 2022, o Euro-Med Monitor relatou o assassinato de 47 palestinos, incluindo 8 crianças e 2 mulheres. 
  • Informes do Crescente Vermelho sobre o confronto na Mesquita: 224 feridos por balas, bombas sonoras e espancamentos nos confrontos na Cisjordânia e Jerusalém desde esta manhã, distribuídos da seguinte forma: Jerusalém: 158 feridos ,  Qalqilya: 16 lesões , Nablus/Beta: 17 lesões , Nablus / Beit Dajan: 18 lesões  e Qalandia Checkpoint: 15 feridos
  • Nesse interim, a Suprema Corte da ocupação decidiu não entregar o corpo do mártir o prisioneiro Aziz Musa Owaisat de Jabal Mukaber em Jerusalém, que foi morto dentro das prisões da ocupação em maio do ano de 2018 como resultado do ataque bárbaro que foi submetido na prisão de Eshel, o seu corpo ainda está sendo mantido.

Informações de várias mídias :voltairenet.org, pflp.ps, pbc.ps3467-2 e almayadeen.net 

Comitê de Solidariedade à Luta do 

Povo Palestino do Rio de Janeiro



sexta-feira, 8 de abril de 2022

Míssil ucraniano causa a morte de dezenas de civis ucranianos na cidade de Kramatorsk, em Donbas

 

Em 8 de abril, um míssil ucraniano Tochka-U atingiu a estação ferroviária na cidade de Kramatorsk. Como resultado, houve dezenas de mortes de civis.

O chefe das Ferrovias Ucranianas, Alexander Kamyshin, informou que dois foguetes atingiram a estação ferroviária de Kramatorsk.

De acordo com dados preliminares, cerca de 30 civis foram mortos e cerca de 100 ficaram feridos.

A julgar pelas imagens, os civis estavam se preparando para a evacuação da cidade.

A Ucrânia alegou imediatamente que o ataque foi realizado por forças russas com um míssil Iskander com uma ogiva de fragmentação.

Imagens compartilhadas da cena revelaram que o ataque foi realizado com um míssil Tochka-U, que é usado apenas pelas forças ucranianas.

As autoridades de Kiev já estão perdidas em suas reivindicações. Embora alguns líderes ucranianos afirmassem que era um míssil russo Iskander, o presidente Zelensky mudou de ideia e esclareceu que não era um míssil Iskander, mas um míssil Tochka-U.

Tal provocação por parte da Ucrânia tem várias razões benéficas para o regime de Kiev. As forças ucranianas consideram a população ucraniana de Donbass, incluindo Slavyansk e Kramatorsk, desleal, então podem facilmente matá-los. Outro escândalo mediático contra as forças russas visa obter mais apoio dos aliados ocidentais do regime de Kiev e aumentar o abastecimento militar às forças ucranianas, bem como assegurar aos países europeus que são necessárias mais sanções contra a população russa, apesar do facto que essas sanções prejudiquem a população dos países europeus.

Este não é o primeiro caso de ataques de forças ucranianas contra civis na região de Donbas, onde eles deliberadamente atacaram multidões de civis.

Na manhã de 14 de março, por volta das 11h20, hora local, unidades ucranianas atacaram o centro de Donetsk com um míssil tático Tochka-U equipado com munições cluster. Dezenas de civis foram mortos. O ataque teve como alvo o centro da cidade, onde não há infraestrutura ou equipamento militar. Os civis foram deliberadamente escolhidos como alvos. As unidades nacionalistas do regime de Kiev, usando munições cluster, tentaram matar o maior número possível de habitantes da parte central da cidade.

Fonte: Southfront.og

https://spanish.almanar.com.lb/603968