segunda-feira, 29 de junho de 2009

Abaixo assinado pela libertação de Ahmad Sa’adat Secretario Geral da (FPLP) e todos os presos políticos palestinos


Pedimos seu endosso e/ou de sua organização para a carta abaixo, inspirada pela greve de fome do líder nacional palestino Ahmad Sa'adat que se encontra encarcerado, chamando o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas; Ban Ki-Moon para que sustente suas responsabilidades e tome medidas para proteger os Direitos, saúde e a vida dos prisioneiros palestinos e exija a liberdade de todos os 11.000 prisioneiros políticos palestinos. Esta carta será entregue ao escritório de Ban Ki-Moon no dia 8 de julho de 2009. Por favor envie seu endosso tão depressa quanto possível para assegurar que será incluída, preferivelmente antes de 5 julho de 2009. Esta iniciativa está sendo apoiada pela Campanha para Libertar Ahmad Sa'adat. Por favor envie os endossos a somostodospalestinos@gmail.com

Os endossos de todas organizações, indivíduos, uniões e instituições e sindicatos em favor das metas desta carta e aos Direitos e Liberdade dos prisioneiros palestinos serão bem-vindos.

Caro Secretário-General da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-Moon;

Nós, as organizações abaixo-assinadas e indivíduos, conclamamos à você que tome imediatamente medidas em defesa da vida, saúde e Direitos dos 11.000 prisioneiros políticos palestinos encarcerados nas cadeias israelenses de ocupação. Este número inclui numerosos membros eleitos do Conselho Legislativo Palestino - CLP, entre eles Ahmad Sa'adat, Secretário Geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina - FPLP; Marwan al-Barghouthi, líder do Fateh; 36 membros de Conselhos Legislativo Palestino Abdel-Aziz Dweik, líder do Hamas e Presidente do Conselho Legislativo Palestino, somente recentemente libertado depois de três anos na prisão, e dezenas de outros líderes políticos eleitos, além de milhares de outros ativistas palestinos, membros de união, sindicatos, organizadores de comunidades, pais, mães, filhos e filhas.

Os prisioneiros palestinos sofrem em condições que transgridem os padrões e normas internacionais, estão presos porque se recusam a aceitar uma ocupação brutal de sua terra e de seu Povo.

Ahmad Sa'adat recentemente empreendeu uma greve de fome de nove dias em protesto pela política de isolamento e encarceramento solitário que recentemente foi ampliada contra prisioneiros palestinos. Aos prisioneiros palestinos foram negadas as visitas da família, às vezes por anos, negado o acesso a todos livros e revistas, e negado até mesmo a comunicação entre os prisioneiros nas unidades de isolamento. Aos prisioneiros palestinos, inclusive Sa'adat, atualmente estão sendo negados os cuidados necessário de saúde e tratamento médico.

Os prisioneiros palestinos são colocados em isolamento porque são líderes nacionais e porque o movimento palestino de prisioneiros foi uma inspiração a todos palestinos e a todos que que lutam pela liberdade. A greve de fome de Ahmad Sa'adat impeliu milhares das pessoas ao redor do mundo à apelar pela sua libertação, como um exemplo vivo que simboliza a determinação e força dos prisioneiros palestinos no isolamento e em terríveis condições, e isto deve impulsionar a todos estes que estão fora das prisões à agir. Muitas organizações sociais de Justiça e Direitos Humanos palestinas e internacionais tem clamado pela libertação de Sa'adat e pela proteção e segurança de sua vida e saúde, assim como pela liberdade e proteção para todos prisioneiros palestinos.

O destino destes 11.000 prisioneiros políticos palestinos é uma questão fundamental de Justiça. Os palestinos, na Palestina e no exílio, tem os seus Direitos negados – o de retornar para casa, a Auto-determinação, e a Liberdade, e aqueles que procuram assegurar esses Direitos estão sujeito ao encarceramento, quer seja dentro das prisões a céu abertos de Gaza sob sítio, na Cisjordânia emparedada, ou nas cadeias da ocupação. A silenciosa, e às vezes ativa, cumplicidade dos organismos internacionais, particularmente a Organização das Nações Unidas, na negação dos Direitos palestinos não pode continuar.

Chamamos à você para que assuma suas responsabilidades e exerça toda pressão para acabar com a tortura, tratamento cruel e desumano dos prisioneiros palestinos, e faça com que seja liberto cada prisioneiro político palestino dos cárceres da ocupação israelense.

Sinceramente,



Nome individual :

Organização / Afiliação

Endossamento Organizacional :

Endossamento Individual :

Endereço de email :

Localidade :
Apoio
Comitê de solidariedade a luta do povo palestino - RJ,
Comitê catarinense de solidariedade ao povo palestino
Comitê de solidariedade com a luta do povo palestino - CSLPP - DF
Comitê Democratico Palestino - CDP - Brasil

Esta carta será entregue no escritório de Ban Ki-Moon no dia 8 de julho de 2009. Por favor envie seu endosso tão depressa quanto possível para assegurar que será incluída, preferivelmente antes de 5 de julho de 2009. Esta iniciativa está sendo apoiada pela Campanha para Libertar Ahmad Sa'adat. Por favor envie seu endossos para : somostodospalestinos@gmail.com
Contatos para : somostodospalestinos@gmail.com
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Assinantes:
01- Comite democratico Palestino - Brasil
02- Sociedade Arabe Palestina Brasileira de Corumba - MS
03- Comitê catarinense de solidariedade ao povo palestino .
04- Comitê de solidariedade com a luta do povo palestino - CSLPP - DF
05 - Centro Cultural Arabe Palestino - RS
06- Comitê Viva Palestina Niterói
07- Sergio Caldieri Jornalista - RJ
08- Antonio Carlos Mazzeo - Professor da Universidade Estadual Paulista (Brasil)
09- Federação Democrática Internacional de Mulheres
10- Alexandre Martins Presidente Instituto Arco-Íris - Florianópolis - SC - Brasil
11- Carlos Latuff, cartunista, RJ
12- Eliana de Medeiros Oliveira Funcionaria UFSC
13- Mauri Antonio da Silva, professor de ciencia politica, Florianópolis, SC, Brasil.
14- Raul Longo, Florianapolis SC.
15- A COPPIR (Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial) Florianapolis -SC
16- Danielle Corrêa Tristão - publicitária - Rio de Janeiro - RJ
17- Juarez Armando Brito de Vasconcellos - publicitário - Rio de Janeiro - RJ
18- Antonio Leopoldo Tristão - Engenheiro - Juiz de Fora - MG
19- Angela Maria Corrêa Tristão - Bióloga - Juiz de Fora - MG
20- Luis Rafael Ribeiro Porto Alegre, Rio Grande do Sul
21- Ramez Philippe Maalouf - Mestrando - USP
22- Carlos Antonio Coutrim Caridade - Analista de Sistema/Psicólogo - Brasília-DF.
23- Serge Goulart – Secretário da Esquerda Marxista.
24- José Pedro Hardman Vianna - Advogado - Rio de Janeiro
25- TÂNIA MARA FRANCO PROFESSORA.
26- ROSÂNGELA DE SOUZA - advogada - oab/sc:4305.
27- Karla Sant'Anna de Moura Coutinho - Filiada a Psol - RJ
28- Dr.Cauby Araujo, médico, RJ, Brasil.
29-

domingo, 28 de junho de 2009

CARTA PARA A CRUZ VERMELHA


Nós, representantes de organizações políticas latino-americanas listadas abaixo, viemos solicitar uma visita o Sr. Ahmad Saadat, detido na Prisão em Jerusalém. Estamos muito preocupados com a sua condição de saúde e a condição de todos os prisioneiros políticos palestinos detidos.


Jorge Schafik Handal Vega – Frente Farabundo Marti de Liberacion Nacional (FMLN) – El Salvador
Oscar Vega Camacho – Grupo Comuna and Movimiento al Sociaismo (MAS) - Bolivia
Juan Esteban Centurión – Movimiento Al Socialismo (MAS), Paraguay
Emir Simão Sader – Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO) - Brazil

LETTER TO RED CROSS

We, representants of Latin American political organizations, demand the posiblity to visit M. AHMAD SAADAT, who is in prision in Jerusalem. We are very preocupied about his condition and the condition of all the palestinian priosioners.

Jorge Schafik Handal Vega – Frente Farabundo Marti de Liberacion Nacional (FMLN) – El Salvador
Oscar Vega Camacho – Grupo Comuna and Movimiento al Sociaismo (MAS) - Bolivia
Juan Esteban Centurión – Movimiento Al Socialismo (MAS), Paraguay
Emir Simão Sader – Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO) - Brazil

sábado, 27 de junho de 2009

PFLP felicita o Dr. Aziz Dweik e Jamal Huweil em seu liberação do ocupação prisões


A Frente Popular para a Libertação da Palestina felicitou o Presidente do Conselho Legislativo Palestino - CLP, o Dr. Aziz Dweik, pela sua libertação dos cárceres sionistas, e exige a libertação incondicional de todos prisioneiros do estado racista de ocupação, no dia 23 de junho de 2009.

A Frente também felicitou Deputado Jamal Huweil, do CLP, pela sua libertação. A declaração enfatizou que os prisioneiros palestinos são heróis, prisioneiros de guerra, que dirigem os postos dos movimentos nacionais palestinos confrontantando os crimes da ocupação e lutando por alcançar os objetivos do nosso Povo - Liberdade, Auto-determinação, Independência e Retorno.

O camarada Ahmad Sa'adat, Secretário Geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina - FPLP, e 11.000 outros prisioneiros, inclusive muitos líderes do nosso Povo permanecem dentro dos cárceres da ocupação. A declaração de FPLP exige a liberdade de todos os prisioneiros nos campos de concentração sionistas, que suportam os impactos diários dos crimes e violações dos ocupantes chamando a todos seguirem o exemplo dos prisioneiros em sua determinação e compromisso com a Unidade Nacional, e o compromisso na proteção dos Direitos inalienáveis e imutáveis nacionais do Povo Palestino.

Agencia Internacionais
tradução : Comitê de Solidariedade com a Luta do Povo Palestino – CSLPP –D.F.

Irã A revolução ao vivo



Carlos Sardiña Galache
http://carlos-enestemundo.blogspot.com/

Tradução Italo Rocha
Passaram-se três dias e estamos longe, muito longe, de saber o que realmente aconteceu na jornada eleitoral, o que não impede que milhões de pessoas no Ocidente e grande parte dos meios de comunicação internacionais tenham tomado claramente partido por um dos grupos e tenham decidido que, efetivamente, houve uma fraude eleitoral, ainda que só existam indícios que, por mais convincentes que pareçam, não são provas concludentes.
Numerosos “ciberativistas” estão animando da comodidade de suas casas a chamada “revolução verde”, enquanto são os iranianos que enfrentam a repressão e a violência dos basijs. Seria interessante analisar esse estranho fenômeno moderno ligado às “revoluções de cores”, que consiste em “solidarizar-se” com elas a partir dos países desenvolvidos da Europa e Estados Unidos quando, curiosamente, aqui ninguém parece estar disposto a levantar-se da sua poltrona por motivos políticos (e não é que faltem razões4 para isso muito mais próximas5). Isso não impede que muitos se apressem a animar da barreira umas revoluções distantes que nem sequer entendem, o que na verdade só serve para difundir rumores e fazer um ruído que não faz mais que aumentar a confusão.6 Além do mais, esses “ciber-revolucionários” de salão são enormemente seletivos: enquanto milhares de internautas ocidentais apóiam a “revolução verde”, quantos se mobilizaram pelos indígenas do Peru assassinados recentemente pelas forças de Alan García7, para levantar só um exemplo?
Não acredito ter mais conhecimentos sobre o Irã que muitos desses “ciber-revolucionários”, mas considero que não é o momento de tomar partido, e sim de observar os acontecimentos com certa distância e tratar de fazer algo muito mais difícil, compreender o que está ocorrendo ali.
A primeira acusação de fraude foi lançada pelo porta-voz de Musavi8, o cineasta radicado em Paris Mohsen Makhbalbaf, que disse que poucas horas depois das eleições o Ministério do Interior havia chamado a sede de campanha de Musavi para informar que tinha ganhado as eleições e que devia preparar a declaração de vitória. No entanto, à medida que avançava a recontagem, Ahmadineyad ia remontando posições9 até dar-se a curiosa situação de que ambos os candidatos se proclamaram vencedores.10 Os resultados finais foram divulgados no da seguinte11: com uma participação recorde de 85% de eleitores, Mahmud Ahmadineyad tinha ganhado as eleições com 64 % dos votos contra 32 % obtido por Mir Hossein Musavi. O aiatolá Khamenei deu por válidos os resultados: a vitória de Ahmadineyad era oficial.12

Desde o momento em que Makhbalbaf lançou as acusações de fraude, cresceriam como uma bola de neve e em muito pouco tempo passou a considerar-se um fato comprovado que Ahmadineyad, o candidato favorito de Khamenei, tinha roubado as eleições, provavelmente com a ajuda do aiatolá. Um dia depois das eleições, Juan Cole, um renomado especialista em Oriente Médio e Irã, publicou um post em seu blog no qual oferecia as principais “provas” de que as eleições tinham sido roubadas e apontava com o dedo diretamente ao líder supremo Khamenei.13
Uns indícios são mais convincentes que outros e alguns deles já foram rebatidos por outros analistas. A primeira “prova” de fraude que Cole menciona é que Ahmadineyad ganhou com 57 % dos votos na cidade de Musavi, Tabriz, de maioria azeri como o próprio Musavi. No entanto, segundo uma pesquisa14 realizada um mês antes das eleições pelas organizações norte-americanas Terror Free Tomorrow15 e New American Foundation16, Ahmadineyad tinha o dobro de apoios de azeris (31 %) de Musavi (16 %). Além disso, como assinala um artigo publicado no Político,17 dedicado a refutar as acusações de fraude, Ahmadineyad passou a falar azeri com fluência após ter sido governador durante seus oito anos de duas províncias de maioria azeri. No sábado Robert Fisk nos contava de Teerã18 que “um velho amigo seu” que “não havia mentido nunca para ele” lhe dizia que os resultados eram corretos e que não era surpreendente o triunfo de Ahmadineyad em Tabriz, onde criou cursos e títulos universitários em língua azeri. Também não se deve esquecer que o mesmo aiatolá Khamenei (o “padrinho” do atual presidente) é azeri.
Cole também afirma que é pouco provável que Ahmadineyad tenha ganhado em Teerã. No entanto, ele ganhou nas eleições de 2005 na capital e foi prefeito da cidade entre 2003 e 2005. Quando apontei este fato nos comentários de seu blog, Cole acrescentou uma frase no post que diz: “Acredita-se amplamente que Ahmadineyad só conseguiu a vitória em Teerã em 2005 porque os setores reformistas estavam desmotivados e ficaram em casa ao invés de ir votar”.
Independentemente do valor explicativo que se queira conceder a esta frase, Juan Cole parece esquecer os multitudinários meetings de Ahmadineyad em Teerã durante a campanha eleitoral. De fato, poucos dias antes das eleições, o presidente se viu obrigado a não comparecer em um deles porque haviam se congregado tantos partidários seus que os guarda-costas lhe avisaram que não podiam garantir sua segurança. 19
Outra suposição na qual se baseiam os que sustentam a teoria da fraude é a elevada participação eleitoral. Os autores do artigo já mencionado20, publicado em Político, afirmam que esse argumento se baseia unicamente em conjecturas. De qualquer forma, seria do mesmo modo razoável especular que a alta participação beneficia Ahmadineyad, que talvez tenha mais seguidores entre as classes humildes, mais numerosas que as classes médias e altas que apoiariam Musavi.
Frente às análises que apresentam o enfrentamento entre Musavi e Ahmadineyad em termos “culturais” como uma oposição entre “reformistas” e “conservadores”21, outros consideram que a autêntica divisão é uma divisão de classes22. Durante a campanha, Musavi se mostrou partidário de políticas econômicas mais neoliberais23 que as de seu oponente.
Em todo caso, é muito provável que uma informação bastante deturpada da campanha eleitoral por parte dos meios de comunicação internacionais explique a surpresa que o triunfo de Ahmadineyad causou fora do Irã, e a razão para que haja tanta gente predisposta a acreditar em acusações de fraude que, por mais razoáveis que pareçam, ainda não foram comprovadas fidedignamente por ninguém. Como assinalava no sábado o iraniano Abbas Barzegar em The Guardian24, a campanha de Musavi recebeu uma atenção muito maior que a de Ahmadineyad nos meios de comunicação não iranianos e se superdimensionou enormemente a sua popularidade. O mesmo está ocorrendo agora: as manifestações em apoio a Musavi estão recebendo uma atenção midiática muito maior que as de apoio a Ahmadineyad.
Tenha havido fraude eleitoral ou não, o que está mais que evidente é que Ahmadineyad tinha muitíssimas possibilidades de ganhar, e provavelmente mais que Musavi. Ken Ballen e Peter Doherty, os principais responsáveis da pesquisa antes mencionada (ver, em pdf25), publicaram na segunda-feira um artigo no Washington Post26, no qual argumentavam que é perfeitamente possível que o resultado eleitoral reflita a vontade popular iraniana. Segundo a pesquisa, realizada um mês antes das eleições, o número de iranianos que tinha a intenção de votar em Ahmadineyad (34 % dos entrevistados) era o dobro dos que tinham previsto votar em Musavi (14 %). 27 % dos entrevistados não sabiam ainda em quem iam votar; se se extrapola esse número às porcentagens de cada candidato, o resultado é muito similar aos votos emitidos finalmente nas eleições.
O artigo contém outros apontamentos enormemente interessantes. A grande maioria dos entrevistados se manifestou a favor de um sistema mais democrático e de normalizar as relações e o comércio com os Estados Unidos. Os iranianos, segundo dizem Ballen e Doherty, consideram que essas aspirações são coerentes com seu apoio a Ahmadineyad, ainda que “não desejam que continue suas políticas conservadoras. Pelo contrário, aparentemente os iranianos consideram Ahmadineyad seu negociador mais duro, a pessoa melhor posicionada para chegar a um acordo mais favorável para eles; como um Nixon persa viajando à China”.
O fato de que muitos iranianos considerem compatível apoiar Ahmadineyad e as reformas democráticas, sem dúvida chocará muitos ocidentais que acreditaram de pés juntos, sem nenhum matiz, na repartição de papéis que outorga a Musavi o personagem “bom reformista” e a Ahmadineyad o de “mau ultraconservador”. É certo que o tom de Musavi em assuntos internacionais soa mais conciliador que o de Ahmadineyad e que prometeu relaxar o férreo controle estatal sobre alguns dos aspectos da vida dos iranianos ou dar um maior protagonismo público às mulheres,27 mas não se deve esquecer que Musavi é, antes de tudo, um homem do regime, em cuja consolidação teve um papel protagonista como primeiro-ministro entre os anos 1981 e 1989, os anos mais duros do mandato do aiatolá Khomeini. Tem algo de excêntrico que meio Ocidente esteja aclamando como um condutor da democracia o homem que em 1981 iniciou uma perseguição implacável28 contra as facções da esquerda que haviam contribuído pelo triunfo da revolução islâmica.29
Talvez o que estamos presenciando no Irã seja na verdade o pulso de poder entre duas fortes personalidades da vida pública iraniana: o encabeçado pelo impiedoso ex-presidente (1989-1997) Akbar Hashemi Rafsanjani no grupo de Musavi e o do aiatolá Khamenei no de Ahmadineyad. “Rafsanjani não tem mantido em segredo sua opinião de que as políticas exterior e econômica aplicadas nos últimos quatro anos seguindo as diretrizes de Khamenei prejudicaram gravemente a República Islâmica. […] Em uma violenta carta acusava Khamenei de não honrar a dignidade nacional. Em um desafio sem precedentes à autoridade de Khamenei, insinuava que o Líder Supremo, que normalmente não é objeto de críticas, era negligente, parcial e possivelmente estava envolvido em um complô para roubar as eleições”, escrevia ontem Simon Tisdall em The Guardian.30
Seja como for, tudo parece indicar que os protestos tomaram um impulso próprio cujo desenlace é totalmente imprevisível, entre outras coisas porque, mais além da suposta fraude eleitoral, é impossível saber o que realmente querem os manifestantes. Mais liberdades? Mudar o sistema político? Parece, em todo caso, que os manifestantes pró-Musavi não são um grupo, quanto menos algo homogêneo31, e que estão expressando inumeráveis reivindicações, algumas delas inclusive contraditórias entre si.
Em 1978, o filósofo francês Michel Foucault viajou ao Irã em duas ocasiões desencantado pelo fracasso do projeto ilustrado na Europa.32 O autor de Vigiar e castigar publicou na revista francesa Le Nouvel Observateur um famoso artigo intitulado “Com o que sonham os iranianos?”,33 no qual expunha sua fascinação pela revolução iraniana, na qual viu o “movimento que permitiria introduzir na vida política uma dimensão espiritual”, e fazia diagnósticos tão atinados como este: “Um fato deve ficar claro: por ‘Governo islâmico’ ninguém no Irã entende um regime político no qual o clero jogue um papel de governo ou controle”. Suspeita-se que na sua tentativa de interpretar os sonhos do povo iraniano, Foucault tenha projetado os seus próprios. Quantos de nós no Ocidente não estaremos vendo agora na “revolução verde” nada mais que aquilo que desejamos ver?
Notas:1 http://www.independent.co.uk/news/world/middle-east/the-day-of-destiny-1706010.html2 http://www.independent.co.uk/news/world/middle-east/seven-killed-as-protesters-launched-attack-1706207.html3 http://www.guardian.co.uk/world/2009/jun/16/iran-elections-protests-recount4 http://www.publico.es/internacional/232282/ultraderecha/italia/rondas/negras/guardia/nacional/italiana5 http://www.juanlusanchez.com/archivos/2008/12/30/detras-de-la-valla-de-melilla-reportaje/6 http://trueslant.com/joshuakucera/2009/06/15/what-if-we-are-all-wrong-about-iran/7 http://www.pmasdh.com/2009/06/matanza-por-la-tierra-indigena-de-peru/8 http://andrewsullivan.theatlantic.com/the_daily_dish/2009/06/a-timeline-of-the-coup.html9 http://www.presstv.com/detail.aspx?id=9795310 http://www.huffingtonpost.com/2009/06/12/iran-election-results-ahm_n_214975.html11 http://www.presstv.com/detail.aspx?id=9799012 http://www.presstv.com/detail.aspx?id=9811513 http://www.juancole.com/2009/06/stealing-iranian-election.html14 http://www.huffingtonpost.com/robert-naiman/based-on-terror-free-tomo_b_215423.html15 http://www.terrorfreetomorrow.org/16 http://www.newamerica.net/17 http://www.politico.com/news/stories/0609/23745.html18 http://www.independent.co.uk/opinion/commentators/fisk/robert-fisk-iran-erupts-as-voters-back-the-democrator-1704810.html19 http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/middle_east/article6458557.ece20 http://www.politico.com/news/stories/0609/23745.html21 http://www.juancole.com/2009/06/class-v-culture-wars-in-iranian.html22 http://djavad.wordpress.com/2009/06/09/the-poor-vs-the-middle-class/23 http://www.presstv.ir/election2009/detail.aspx?id=9582124 http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2009/jun/13/iranian-election25 http://www.terrorfreetomorrow.org/upimagestft/TFT%20Iran%20Survey%20Report%200609.pdf26 http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/06/14/AR2009061401757.html?hpid=opinionsbox127 http://www.time.com/time/world/article/0,8599,1904343-1,00.html28 http://guerraypaz.com/2009/06/16/musavi-y-las-hemerotecas/29 http://hablandodormido.blogspot.com/2007/08/baray-e-azadi-por-la-libertad.html30 http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2009/jun/15/rafsanjani-iran-elections31 http://pulsemedia.org/2009/06/16/a-Musavi-supporter-speaks/32 http://www.boston.com/news/globe/ideas/articles/2005/06/12/the_philosopher_and_the_ayatollah/33 http://www.triunfodigital.com/mostradorn.php?a%F1o=XXXII&num=822&imagen=51&fecha=1978-10-28 http://carlos-enestemundo.blogspot.com/

sexta-feira, 26 de junho de 2009

POR QUE ISRAEL NÃO ACEITA UM ESTADO PALESTINO?


Diário 3

26/06/2009
Direto de Ramallah - Palestina
Por Emir Sader
Israel e EUA vão em direções opostas? Enquanto Obama tenta resgatar uma imagem internacional muito desgastada, de que faz parte a retomada de negociações sobre a Palestina, Netanyahu vai na direção oposta. Enquanto seu partido não reconhece, nem formalmente, o direito ao Estado palestino, pressionado por Obama, apresentou uma impossível proposta, mais uma armadilha do que algo que apontasse para a retomada de negociações com os palestinos.
Para que constata, aqui, na Palestina, a ocupação militar, os muros, os assentamentos, protegidos militarmente, é ridícula a proposta do primeiro ministro de Israel de um Estado Palestino desmilitarizado. Porque trazer a paz à Palestina é, antes de tudo, a retirada imediata e incondicional, das tropas israelenses de ocupação dos territórios palestinos. Isso é desmilitarizar.
Por outro lado, não apenas não desmontar, como seguir instalando assentamentos judeus no coração da Palestina – não apenas no campo, mas no centro de cidades como Ramallah -, é sabotar concretamente qualquer solução política pacífica à questão palestina. Dizer que deseja negociações com a Palestina, mas ao mesmo tempo afirmar e seguir instalando assentamentos, é dizer, pela via dos fatos, que Israel quer perpetuar a ocupação genocida dos territórios palestinos.
Israel nega á Palestina o mesmo direito que ele tem: o de ter um Estado soberano, apesar das decisões reiteradas da ONU, que garantem a a existência de dois Estados, um israelense, o outro palestino, com os mesmos direitos. Com territórios contínuos, com soberania, com direito de regresso dos imigrantes.
Por que Israel não aceita a existência de um Estado Palestino? Por que Israel passou de vítima a verdugo?

O argumento usual era o de que os palestinos eram uma ameaça para a sobrevivência de Israel. Mas desde que a Autoridade Palestina, através de Arafath, passou a reconhecer o direito à existência do Estado de Israel, esse argumento desapareceu. Alega Israel que os palestinos são “terroristas”, mas todas as reações à ocupação militar, às agressões cotidianas e as humilhações cotidianas contra os palestinos, em seus próprios territórios, configuram, claramente, um regime de terror contra o povo palestino.
Nestes dias aqui, na Palestina, pudemos constatar a queima de plantações de trigo dos palestinos, feitas por colonos judeus dos assentamentos. A aprovação de mais 250 milhões de dólares por parte do governo israelense, para seguir os assentamentos. Casas palestinas continuam a ser derrubadas, para a construção de novos assentamentos. A expulsão arbitrária de palestinos de Jerusalém, a derrubada de casas e oliveiras, o assedio constante, para incitar o abandono da cidade santa.
Mas, além disso, ao inviabilizar – pelo cerco militar, pela ocupação, pelas incursões genocidas das suas tropas, por ataques genocidas, como o realizado recentemente contra Gaza – o desenvolvimento econômico, Israel estabelece uma situação de super-exploração dos palestinos. Incita aos palestinos ou a emigrar para outros países ou a submeter-se a ser superexplorados pelos israelenses. Os absurdos muros tem menos uma lógica de defesa militar e muito mais de inviabilização econômica da Palestina.
Além de que a ocupação militar serve também para a apropriação dos recursos naturais da Palestina. Como exemplo, Israel utiliza 6 vezes mais água do que os palestinos, embora explore os mananciais situados na Palestina.
Mas o objetivo maior da ocupação é a tentativa de assassinar a identidade do povo palestino, de liquidar sua memória histórica, de liquidar a auto-estima dos palestinos, de desmoralizá-los, de dispersá-los pelo mundo afora, fomentando a diáspora e bloqueando o retorno dos palestinos aos seus territórios.
Se Obama quer, de fato, pressionar a Israel para que reabra negociações reais, o primeiro que deveria fazer seria não mais exercer o direito de veto na ONU em todas as resoluções de condenação de Israel. Além de ameaçar e verdadeiramente suspender o imenso apoio militar que seu país dá a Israel, para que seu país ocupe os territórios dos palestinos.
Quando Israel possui um governo que nega o direito dos palestinos disporem de um Estado, aprovado pelas Nações Unidas, possui um ministro de relações exteriores que deseja a expulsão dos palestinos de Israel, até mesmo o ataque nuclear para destruir aos palestinos – fica claro que a solução política da questão palestina tem que apontar para Telaviv e não para os palestinos.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

OCUPAÇÃO, COLONIALISMO E APARTHEID


Emir Sader


Uma coisa é ouvir falar, ler, falar de ocupação. Outra é ver o que significa. Ramallah, uma cidade pacífica, sem violência, sem problemas de segurança, onde se pode andar por qualquer bairro a qualquer hora do dia ou da noite, uma cidade sem população de rua, sem crianças abandonadas.
A ocupação israelense significa a brutalidade de cortar a cidade com muros, que separam palestinos de palestinos, há uma grande avenida que o muro corta um lado do outro da rua. Os muros separam, segregam, colocam entre palestinos e palestinos os controles, comandados por soldados israelenses armados até os dentes, que exercem sistematicamente seu poder armado, com arbitrariedade e discriminação. Não na lógica nos muros, é um exercício conscientemente arbitrário, para demonstrar – como faz o torturador diante da sua vitima – que o ocupante pode fazer o que bem entender, sem qualquer lógica, só como exercício do poder armado de que dispõe.
Muros para lacerar na carne o orgulho, a auto-estima, para tentar desmoralizar aos palestinos, levá-los ao dilema entre a passividade, a resignação, ou o desespero das ações armadas. Esta seria a atitude espontânea de qualquer ser humano, diante das humilhações a que são submetidos os palestinos, diante da demonstração brutal de força. Parece que os ocupantes querem provocar reações violentas, que justificariam novas ofensivas violentas.
Os palestinos gastam varias horas por dia nas filas dos controles. Para ir de Ramallah a Jerusalém pode-se tomar 10 minutos ou três horas, na dependência do arbítrio das tropas de ocupação. Os palestinos tem que elaborar guias de sobrevivência para sobreviver com os 630 pontos de controle na Palestina atualmente.
Trata-se de uma ocupação ilegal, injusta, de discriminação racial, do tipo do apartheid sul-africano. Os israelenses querem impedir aos palestinos de ter um Estado como foi reconhecido a Israel no fim da segunda guerra mundial. Se julgar um “povo escolhido” – também isto eles tem em comum com os norte-americanos. Como disse Edward Said, os palestinos são as “as vítimas das vítimas”. Os israelenses se consideram vitimas, mas passaram a ser verdugos, colonialistas, imperialistas, racistas.
Ver os muros, sua violência, sua brutalidade, a frieza da sua desumanidade, diante das casas humildes, das oliveiras – tantas casas e oliveiras destruídas para a construção dos muros – dos palestinos, permite sentir no mais profunda de cada um. os dois mundos que se contrapõe aqui. A neutralidade, a passividade, se tornam impossíveis, cúmplices, diante de tanta injustiça e violência.
Um Estado terrorista, um Exército do terror, tropas de ocupação coloniais, ações imperiais – essa a ocupação israelense do que deveria ser território palestino. Do que deverá ser território de uma Palestina livre, democrática e soberna.

Diario da Palestina (2) - 24/06/2009

A RESISTENCIA CULTURAL PALESTINA


Diario de Emir Sader


Uma ocupação colonial não é apenas uma ocupação militar. Ela precisa tentar impedir a sobrevivência da cultura, da memória do povo ocupado. Mais ainda se se trata da ocupação de um povo com uma das mais antigas histórias e mais ricas culturas.
Como era impossível que a Capital da Cultura Árabe pudesse ser Bagdá, pela ocupação das tropas norte-americanas, foi decidido que Jerusalem (que eles chamam de Al-Quds) fosse a Capital da Cultura Árabe de 2009. As comemorações tem sido vitimas das mais violentas e odiosas repressões das tropas israelenses de ocupação. Organizar lindas atividades em torno da cultura árabe passaram a ser um imenso desafio para o Comitê Palestino de Organização, por dificuldades de recursos, de convidar pessoas – poetas, músicos, cantores, artistas do mundo árabe e de outras regiões do mundo - para vir a uma região cercada e ocupada, que deveriam realizar-se nas ruas e praças de Jerusalém.
O ato de apresentação do logotipo dos eventos, programada para ser dar no Teatro Nacional de Jerusalém, em abril do ano passado, foi proibida por Israel, declarado ilegal e reprimido brutalmente por forças militares para tentar impedir sua realização. Foram três dos membros do grupo organizador.
Apesar de todas as dificuldades, deu-se inicio às comemorações no dia 21 de março deste ano, com atividades populares nas ruas de Jerusalém, que terminaram com uma noite de fala em Bethlehem. Israel enviou tropas contra crianças que carregavam balões com as cores da bandeira palestina – vermelhas, brancas, verdes e pretas. As tropas de ocupação atacaram os jovens que iam realizar danças tradicionais palestinas, com suas roupas típicas, produzindo cenas de pânico e desespero.
Como reação, todas as escolas, universidades, centros culturais, prefeituras de dentro ou de fora da Palestina, decidiram assumir a celebração organizando atividades sobre a bandeira e o logotipo de Jerusalém Capital da Cultura Árabe de 2009. Centenas de eventos aconteceram em muitos países como mostra de solidariedade e de protesto contra a repressão israelense. Fica claro, cada vez mais, que não se trata da ocupação e da ação militar contra “forças terroristas”, como alegam os ocupantes, mas contra a resistência da cultura palestina.
Os palestinos adotaram o lema: “Jerusalém nos une e não deve dividir-nos”, reforçando a necessidade de união de todos os palestinos para derrotar a ocupação e pela conquista do direito de um Estado palestino, reconhecido pelas Nações Unidas, mas impedida pelos EUA e por Israel.
“Uma vez liberada, Jerusalém não será apenas a inquestionável capital da cultura árabe, mas será a cidade da diversidade cultural e religiosa, da tolerância e do respeito pelos outros. Uma cidade aberta para a paz cujos tesouros históricos e religiosos serão desfrutados por todos, do leste e do oeste. O único muro que a cercará será o muro histórico de sua Cidade Velha e suas 12 portas, incluindo a Porta de Ouro, que uma vez aberta, levará todos os povos do bem para o céu.”
As palavras são de Ragiq Husseini, presidente do Conselho Administrativo do Comitê Nacional pela Celebração de Jerusalém como Capital da Cultura Arabe em 2009. Estar aqui, chegar a Ramallah revela, com toda força, como este é um território ocupado, cruzado por muros que dividem aos próprios palestinos, povoado de tropas e de carros militares, submetendo a este heróico povo à ocupação, à opressão, à humilhação, na mais grave situação de violação dos direitos humanos – políticos, sociais, econômicos, culturais – no mundo de hoje.
Diario da Palestina (1) - 23/06/2009

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sa'adat da FPLP encoraja a unidade em mensagem do cárcere


Jerusalém (Al-Quds Ocupada ) – O líder da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) está em melhores condições depois de terminar sua greve de fome a pouco mais de uma semana atrás, de acordo com o membro de Knesset Muhammad Barakeh, que visitou o oficial de esquerda na prisão nesta segunda-feira.

Sa’adat esteve em greve de fome por nove dias no início deste mes depois que as autoridades de prisão o colocaram em encarceramento solitário.

Numa mensagem transmitida por Barakeh, Sa’adat disse que não há nenhuma necessidade para que os presos sejam colocados na solitária, eles já estão isolados do mundo exterior em virtude de estarem na prisão.

Sa’adat também disse que ele está preocupado com a situação interna política palestina. Informado por Barakeh sobre a iminente rodada de negociações entre o Hamas e o Fatah, Sa’adat disse que todas facções devem ser incluídas no diálogo para a formação do próximo governo. Ele também disse que o movimento de esquerda palestino deve ser reconstruído.

No reunião Barakeh sublinhou sua visão de que os palestinos enfrentam um regime racista, e chamou a unidade palestina.

Ambos homens sublinharam a necessidade "proteger a Resistência".


Agencia Internacionais
tradução : Comitê de Solidariedade com a Luta do Povo Palestino – CSLPP –D.F.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Irão: A mentira das "eleições roubadas"


por James Petras

"Mudança para os pobres significa comida e empregos, não um código de vestuário descontraído ou recreações diversas... A política no Irão é muito mais sobre guerra de classe do que sobre religião". Editorial do Financial Times, 15/Junho/2009


Introdução

Dificilmente haverá qualquer eleição, na qual a Casa Branca tenha um interesse significativo, em que a derrota eleitoral do candidato pró EUA não seja denunciada como ilegítima por todos os políticos e mass media da elite. Nos últimos tempos, a Casa Branca e os seguidores gritaram infracção após as livres (e monitoradas) eleições na Venezuela e em Gaza, enquanto alegremente fabricaram um "êxito eleitoral" no Líbano apesar do facto de a coligação liderada pelo Hezbollah ter recebido mais de 53% dos votos.


As eleições concluídas a 12 de Junho de 2009 no Irão são um caso clássico. O candidato à reeleição, o nacionalista-populista presidente Mahmoud Ahmadinejad (MA) recebeu 63,3% da votação (ou 24,5 milhões de votos), ao passo que o principal candidato da oposição liberal, apoiado pelo Ocidente, Hossein Mousavi (HM) recebeu 34,2% (ou 13,2 milhões de votos).


A eleição presidencial iraniana atraiu um comparecimento recorde de mais de 80% do eleitorado, incluindo uma votação sem precedentes 234.812 do estrangeiro, na qual HM obteve 111.792 e MA 78.300. A oposição liderada por HM não aceitou a sua derrota e organizou uma série de manifestações de massa que se tornaram violentas, resultando na queima e destruição de automóveis, bancos, edifícios públicos e confrontações armadas com a polícia e outras autoridades. Quase todo o espectro de fazedores de opinião ocidentais, incluindo todos os grandes media electrónicos e impressos, os principais sítios web liberais, radicais, libertários e conservadores, reflectiram a queixa da oposição de fraude eleitoral desenfreada. Neo-conservadores, conservadores libertários e trotsquistas juntaram-se aos sionistas louvando os protestários da oposição como a guarda avançada de uma revolução democrática. Democratas e republicanos condenaram o regime, recusaram-se a reconhecer o resultado da votação e louvaram os esforços dos manifestantes para subverter o resultado eleitoral. O New York Times, a CNN, o Washington Post, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel e toda a liderança dos presidentes das principais organizações judias americanas clamaram por sanções mais duras contra o Irão e anunciaram o proposto diálogo de Obama com o Irão como esforço inútil.


A mentira da fraude eleitoral


Os líderes ocidentais rejeitaram os resultados porque "sabiam" que o seu candidato reformista não podia perder... Durante meses publicaram entrevistas diárias, editoriais e reportagens de campo "pormenorizando" os fracassos da administração de Ahmadinejad. Mencionaram o apoio de clérigos, antigos oficiais, comerciantes do bazar e acima de tudo mulheres e jovens de cidades fluentes em inglês para provar que Mousavi estava destinado a uma vitória esmagadora. Uma vitória de Mousavi foi descrita como uma vitória das "vozes moderadas", pelo menos na versão da Casa Branca daquele vago cliché. Eminentes académicos liberais deduziram que a contagem de votos fora fraudulenta porque o candidato da oposição, Mousavi, perdeu no seu próprio enclave étnico entre os azeris. Outros académicos afirmaram que o voto da juventude" – baseado nas suas entrevistas com estudantes universitários da alta e média classe média das vizinhanças do Norte de Teerão eram esmagadoramente a favor do candidato "reformista".


O que é espantoso acerca da condenação universal do Ocidente do resultado eleitoral como fraudulento é que nem uma única partícula de evidência, tanto na forma escrita como de observação, foi apresentada tanto antes como uma semana após a contagem de votos. Durante toda a campanha eleitoral, nenhuma acusação crível (ou mesmo dúbia) de interferência junto aos eleitores foi levantada. Como os media ocidentais acreditaram na sua própria propaganda de uma vitória intrínseca do seu candidato, o processo eleitoral foi descrito como altamente competitivo, com debates públicos candentes e níveis sem precedentes de actividade pública e desembaraçada pelos prosélitos dos candidatos. A crença numa eleição livre e aberta era tão forte que os líderes ocidentais e os mass media acreditaram que o seu candidato favorito venceria.


Os media ocidentais confiaram nos seus repórteres que cobriam a manifestações de massa dos apoiantes da oposição, ignorando e subestimando o enorme comparecimento a favor de Ahmadinejad. Pior ainda, os media ocidentais ignoraram a composição de classe das manifestações competidoras – o facto de que o candidato à reeleição estava a ter o apoio da muito mais numerosa classe trabalhadora pobre, camponeses, artesões e empregados de sectores públicos ao passo que o grosso dos manifestantes da oposição provinha de estudantes da classe alta e média, da classe dos negócios e dos profissionais.


Além disso, a maior parte dos líderes de opinião e repórteres ocidentais baseados em Teerão extrapolou as suas projecções a partir das suas observações na capital – poucos aventuraram-se nas províncias, cidades e aldeias de pequena e média dimensão, onde Ahmadinejad tem a sua base de massa de apoio. Além do mais, os apoiantes da oposição eram uma minoria activista de estudantes facilmente mobilizada para actividades de rua, ao passo que o apoio de Ahmadinejad provinha da maioria da juventude trabalhadora e donas de casa que exprimiriam o seu ponto de vista na urna eleitoral mas tinham pouco tempo ou inclinação para empenhar-se em política de rua.


Um certo número de sabichões dos jornais, incluindo Gideon Rachmn do Financial Times, apresenta como evidência de fraude eleitoral o facto de Ahmadinejad ter ganho 63% dos votos numa província de língua azeri contra o seu oponente, Mousavi, de etnia azeri. A suposição simplista é que a identidade étnica ou a pertença a um grupo linguístico é a única explicação possível do comportamento eleitoral, ao invés de outros interesses sociais ou de classe.


Um olhar mais atento ao padrão de votação na região Leste-Azerbaijão do Irão revela que Mousavi venceu apenas na cidade de Shabestar entre as classes alta e média (e apenas por uma pequena margem), dado que foi completamente derrotado nas áreas rurais mais vastas, onde as políticas redistributivas do governo Ahmadinejad ajudaram os de etnia azeri a cancelarem dividas, obterem créditos baratos e empréstimos fáceis para os agricultores. Mousavi venceu na região do Azerbaijão Ocidental utilizando suas ligações étnicas para ganhar os eleitores urbanos. Na altamente populosa província de Teerão, Mousavi bateu Ahmadinejad nos centros urbanos de Teerão e Shemiranat ao ganhar o voto dos distritos da classe média e alta, ainda que tenha perdido duramente nos subúrbios adjacentes da classe trabalhadoras, pequenas cidades e áreas rurais.


A ênfase descuidada e distorcida sobre "votação étnica" citada por redactores do Financial Times e do New York Times a fim de apresentar a vitória de Ahmadinejda como uma "eleição roubada" é acompanhada pela obstinada e deliberada vontade dos media de recusarem um rigoroso inquérito de opinião à escala nacional efectuado por dois peritos dos EUA apenas três semanas antes da votação, o qual mostrava Ahmadinejad a liderar por uma margem de 2 para 1 – ainda maior do que a sua vitória eleitoral de 12 de Junho. Este inquérito revelava que entre os de etnia azeri Ahmadinejad era favorecido por uma margem de 2 para 1 em relação a Mousavi, demonstrando como os interesses de classe representados por um candidato podem ultrapassar a identidade étnica do outro candidato ( Washington Post, 15/Junho/2009). O inquérito também demonstrava como as questões de classe, dentro de grupos etários, eram mais influentes na moldagem de preferências políticas do que o "estilo de vida geracional". De acordo com este inquérito, mais de dois terços da juventude iraniana era demasiado pobre para ter acesso a um computador e aqueles com idade dos 18 aos 24 anos "incluíram o bloco eleitoral mais forte a favor de Ahmadinejad entre todos os outros grupos" ( Washington Post, 15/Junho/2009).


O único grupo de apoiou fortemente Mousavi foi o dos estudantes universitários e dos licenciados, donos de negócios e classe média alta. O "voto da juventude", o qual os media ocidentais louvou como "pró reformista", era uma clara minora de menos de 30% mas veio de um grupo altamente privilegiado, eloquente e que em grande parte falava inglês, com um monopólio sobre os media ocidentais. A sua presença esmagadora nas reportagens ocidentais criou o que foi mencionado como o "Síndroma de Teerão Norte", o confortável enclave da classe alta do qual provieram muitos destes estudantes. Se bem que eles pudessem ser articulados, bem vestidos e fluentes em inglês, no segredo da urna eleitoral foram profundamente derrotados.


Na generalidade, Ahmadinejad saiu-se muito bem nas províncias produtoras de petróleo e petroquímica. Isto pode ter sido um reflexo da oposição dos trabalhadores do petróleo ao programa "reformista", o qual incluía propostas para "privatizar" empresas públicas. Da mesma forma, o presidente em exercício saiu-se muito bem junto às províncias fronteiriças devido à sua ênfase no fortalecimento da segurança nacional em relação às ameaças estado-unidenses e israelenses depois de uma escalada de ataques terroristas transfronteiriços patrocinados pelos EUA a partir do Paquistão e de incursões apoiadas por Israel a partir do Curdistão iraquiano, as quais mataram grande número de cidadãos iranianos. O patrocínio e o financiamento maciço dos grupos por trás destes ataques é uma política oficial dos EUA desde a administração Bush, a qual não foi repudiada pelo presidente Obama. De facto, ele escalou-a como preparação para as eleições.


O que os comentadores ocidentais e os seus protegidos iranianos ignoraram é o impacto poderoso que as devastadoras guerras dos EUA e a sua ocupação do Iraque e do Afeganistão têm sobre a opinião pública iraniana: a posição forte de Ahmadinejad em matéria de defesa contrastou com a postura pró ocidental e fraca de muitos dos propagandistas da campanha da oposição.


A grande maioria dos eleitores favoráveis ao presidente em exercício provavelmente sentiu que os interesses da segurança nacional, da integridade do pais e do sistema de previdência social, com todas as suas falhas, podiam ser melhor defendidos e melhorados com Ahmadinejad do que com os tecnocratas das classe alta apoiados pela juventude privilegiada orientada para o ocidente que aprecia mais os estilos de vida individualistas do que os valores da comunidade e solidariedade.


A demografia dos votos revela uma polarização de classe real contrapondo capitalistas individualistas de alto rendimento e orientados para o mercado livre à classe trabalhadora, de baixo rendimento, apoiantes de uma "economia moral" baseada na comunidade na qual a usura e a especulação são limitadas por preceitos religiosos. Os ataques abertos de economistas da oposição às despesas do governo com a previdência, com o crédito fácil e com os pesados subsídios a alimentos básicos não os favoreceram junto à maioria dos iranianos beneficiários daqueles programas. O Estado era encarado como o protector e benfeitor dos trabalhadores pobres contra o "mercado", o qual representava riqueza, poder, privilégio e corrupção. O ataque da oposição à "intransigência" da política externa do regime e a posições "isolando" o Ocidente só tinha eco junto a estudantes liberais da universidade e grupos de negócios do import-export. Para muitos iranianos, o fortalecimento militar do regime foi vista como tendo impedido um ataque dos EUA ou de Israel.


A escala do défice eleitoral da oposição deveria contar-nos quão fora de sintonia ela está em relação às preocupações vitais do seu próprio povo. Deveria recordar-nos que ao mover-se para mais perto da opinião ocidental, ela removeu-se dos interesses quotidianos da segurança, habitação, emprego e preços subsidiados dos alimentos que tornam a vida tolerável para aqueles que vivem abaixo da classe média e do lado de fora dos portões privilegiados da Universidade de Teerão.


O êxito eleitoral de Ahmadinejad, visto na perspectiva do contexto histórico, não deveria surpreender. Em competições eleitorais semelhantes entre nacionalistas-populistas contra liberais pró ocidentais, os populistas ganharam. Os exemplos passados incluem Perón na Argentina e, mais recentemente, Chávez da Venezuela, Evo Morales na Bolívia e mesmo Lula da Silva no Brasil, todos eles tendo demonstrado uma capacidade para assegurar margens próximas ou mesmo superiores a 60% em eleições livres. As maiorias votantes nestes países preferem a previdência social em relação a mercados sem restrições, a segurança nacional e não alinhamentos com impérios militares.


As consequências da vitória eleitoral de Ahmadinejad estão abertas a debate. Os EUA podem concluir que continuar a apoiar uma minoria barulhenta, mas pesadamente derrotada, tem poucas perspectivas de assegurar concessões sobre o enriquecimento nuclear e um abandono do apoio do Irão ao Hesbollah e ao Hamas. Uma abordagem realista seria abrir uma discussão ampla com o Irão e reconhecer, como o senador Kerry destacou recentemente, que o enriquecimento de urânio não é uma ameaça existencial para ninguém. Esta abordagem diferiria agudamente daquela dos sionistas americanos, incorporada no regime Obama, que segue a orientação de Israel de pressionar por uma guerra antecipativa com o Irão e que utiliza o argumento especiosos de que nenhuma negociação é possível com um governo "ilegítimo" em Teerão que "roubou uma eleição".


Acontecimentos recentes sugerem que líderes políticos na Europa, e mesmo alguns em Washington, não aceitam a linha dos mass media sionistas de "eleições roubadas". A Casa Branca não suspendeu a sua oferta de negociações com o governo recém-eleitos mas centrou-se ao invés na repressão dos protestatários da oposição (e não na contagem de votos). Da mesma forma, os 27 países da União Europeia exprimiram "séria preocupação acerca da violência" e apelaram a que "as aspirações do povo iraniano sejam alcançadas através de meios pacíficos e que a liberdade de expressão seja respeitada" ( Financial Times, 16/Junho/2009, p.4). Excepto quanto a Sarkozy da França, nenhum líder da UE questionou o resultado da votação.


A interrogação na sequência das eleições é a resposta israelense. Netanyahu assinalou aos seus seguidores sionistas americanos que eles deveriam utilizar o ardil da "fraude eleitoral" para exercer a máxima pressão sobre o regime Obama no sentido de acabar com todos os planos para encontrar-se com o novamente reeleito Ahmadinejad.


Paradoxalmente, comentaristas estado-unidenses (da esquerda, direita e centro) que "compraram" a mentira da fraude eleitoral estão de forma não intencional a proporcionar a Netanyahu e seus seguidores americanos argumentos e falsificações: Onde eles vêm guerras religiosas, nós vemos guerras de classe; onde eles vêem fraude eleitoral, nós vemos desestabilização imperial.


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© Copyright James Petras, Global Research, 2009 O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=14018


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

De Mossadegh a Ahmadinejad A CIA e o laboratório iraniano


por Thierry Meyssan [*]
A notícia de uma possível fraude eleitoral espalhou-se em Teerão como um rastilho de pólvora e levou à rua os partidários do aiatola Rafsanjani contra o do aiatola Khamenei. Este caos é provocado com muita astucia pela CIA, que semeia a confusão inundando os iranianos de mensagens SMS contraditórias. Aqui esta o relato desta experiência de guerra psicológica.



Em Março de 2000 a secretária de Estado Madeleine Albright admitiu que a administração Eisenhower havia organizado uma mudança de regime no Irão, em 1953, e que este acontecimento histórico explica a hostilidade actual dos iranianos face aos Estados Unidos. Na semana passada, aquando do seu discurso no Cairo dirigido aos muçulmanos, o presidente Obama reconheceu oficialmente que "em plena Guerra Fria os Estados Unidos desempenharam um papel na derrubada de um governo iraniano eleito democraticamente" [1] .




Na época, o Irão era controlado por uma monarquia de opereta dirigida pelo xá Mohammad Reza Pahlavi. Ele fora colocado no trono pelos britânicos, que haviam forçado o seu pai, o oficial cossaco pro-nazi Reza Pahlavi, a demitir-se. Contudo, o xá teve de ajustar-se a um primeiro-ministro nacionalista, Mohammad Mossadegh. Este, com a ajuda do aiatola Abou al-Qassem Kachani, nacionaliza os recursos petrolíferos [2] .




Furiosos, os britânicos convencem os Estados Unidos de que é preciso travar a deriva iraniana antes que o país afunde no comunismo. A CIA põe então em acção a Operação Ajax visando derrubar Mossadegh, com a ajuda do xá, e substituí-lo pelo general nazi Fazlollah Zahedi, até então detido pelos britânicos. Ele instalará o regime de terror mais cruel daquela época, ao passo que o xá servirá de cobertura para as suas exacções posando para as revistas populares ocidentais. A operação Ajax foi dirigida pelo arqueólogo Donald Wilber, pelo historiador Kermit Roosevelt (neto do presidente Theodore Roosevelt) e pelo general Norman Schwartzkopf Sr. (cujo filho homónimo comandou a operação Tempestade do Deserto). Ela permanece um modelo de subversão. A CIA imagina um cenário que dá a impressão de um levantamento popular quando se trata de uma operação secreta. O auge do espectáculo foi uma manifestação em Teerão com 8000 figurantes pagos pela Agência a fim de fornecer fotos convincentes à imprensa ocidental [3] .




A história repetir-se-ia? Washington renunciou a atacar militarmente o Irão e dissuadiu Israel de tomar uma tal iniciativa. Para chegar a "mudar o regime", a administração Obama prefere jogar a carta — menos perigosa, mas mais aleatória — da acção secreta. Após a eleição presidencial iraniana, vastas manifestações opuseram nas ruas de Teerão os partidários do presidente Mahmoud Ahmadinejad e do guia Ali Khamenei, de um lado, aos partidários do candidato perdedor Mir-Hossein Mousavi e do ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani do outro. Elas traduziam uma profunda clivagem na sociedade iraniana entre um proletariado nacionalista e uma burguesia que lamenta ser mantida afastada da globalização económica. Agindo debaixo do pano, Washington tenta pesar nos acontecimentos para remover o presidente eleito. Mais uma vez, o Irão é um campo de experimentação de métodos inovadores de subversão. A CIA apoia-se numa arma nova: o domínio dos telefones móveis. Desde a generalização dos telefones móveis, os serviços secretos anglo-saxões multiplicaram as suas capacidades de intercepção. Enquanto a escuta dos telefones por fio precisa da colocação de ganchos de derivação, portanto de agentes no local, a escuta dos portáteis pode ser feita à distância graças à rede Echelon. Contudo, este sistema não permite intercepção das comunicações telefónicas via Skype — daí o êxito dos telefones Skype nas zonas de conflito [4] . A National Security Agency (NSA) acaba de fazer diligências junto aos fornecedores de acesso Internet do mundo inteiro para obter a sua colaboração. Aqueles que aceitaram foram muito bem pagos [5] . Nos países que ocupam — Iraque, Afeganistão e Paquistão —, o anglo-saxões interceptam a totalidade das conversações telefónicas quer seja emitidas por telemóveis ou por aparelhos com fio. A finalidade não é dispor de transcrições de tal ou tal conversação, mas identificar as "redes sociais". Por outras palavras, os telefones são espiões que permitem saber com quem uma dada pessoa está em relação. Partindo daí, pode-se esperar identificar as redes de resistência. Num segundo tempo, os telefones permitem localizar os alvos identificados — e "neutralizá-los". Eis porque, em Fevereiro de 2008, os insurrectos afegãos ordenam aos diversos operadores para cessarem a sua actividade a cada dia das 17 horas às 3 da manhã, de maneira a impedir os anglo-saxões de seguirem os seus deslocamentos. As antenas-relais daqueles que contrariaram esta ordem foram destruídas [6] . Inversamente, – excepto uma central telefónica atingida por erro –, as forças israelenses trataram de não bombardear as antenas de telemóveis em Gaza, aquando a operação Chumbo endurecido, em Dezembro/2008-Janeiro/2009. Trata-se de uma mudança completa de estratégia da parte dos ocidentais. Desde a guerra do Golfo prevalecia a "teoria dos cinco círculos" do coronel John A. Warden: o bombardeamento das infraestruturas telefónicas era considerado como um objectivo estratégico tanto para mergulhar a população na confusão como para cortar as comunicações entre os centros de comando e os combatentes. Doravante, é ao contrário: é preciso proteger as infraestruturas de telecomunicações. Durante os bombardeamentos de Gaza, o operador Jawwal [7] ofereceu crédito aos seus assinantes, oficialmente para ajudá-los, de facto no interesse dos israelenses. Dando mais um passo, os serviços secretos anglo-saxões e israelenses desenvolveram métodos de guerra psicológica baseados na utilização extensa dos telemóveis. Em Julho de 2008, após a troca de prisioneiros e feridos entre Israel e o Hezbollah, robots lançaram dezenas de milhares de mensagens para telemóveis libaneses. Um voz em árabe advertia contra toda participação na Resistência e difamava o Hezbollah. O ministro libanês das telecomunicações, Jibran Bassil [8] , apresentou uma queixa à ONU contra esta flagrante violação da soberania do país [9] . Com base no mesmo modelo, dezenas de milhares de libaneses e sírios receberam uma chamada automática em Outubro de 2008 propondo-lhes 10 milhões de dólares contra toda informação que permitisse localizar e entregar soldados israelenses prisioneiros. As pessoas interessadas em colaborar eram convidadas a ligar para um número no Reino Unido [10] . Este método acaba de ser empregue no Irão para intoxicar a população difundindo notícias chocantes, e para canalizar o descontentamento que elas provocam. Em primeiro lugar, trata-se de difundir por SMS durante a noite dos tumultos a notícia segundo a qual o Conselho dos Guardiões da Constituição (o equivalente ao Tribunal Constitucinal) havia informado Mir-Hossein Mousavi da sua vitória. A partir daí, o anúncio, várias horas mais tarde, dos resultados oficiais — a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad com 65% dos votos expressos — parecia uma fraude gigantesca. Entretanto, três dias antes, o sr. Mousavi e os seus amigos consideravam a vitória maciça do sr. Ahmadinejad como certa e esforçavam-se por explicá-la pelos desequilíbrios na campanha eleitoral. Assim, o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani pormenorizava as suas queixas numa carta aberta. Os institutos de sondagem dos EUA no Irão prognosticavam um avanço de 20 pontos percentuais do sr. Amadinejad sobre o sr. Mousavi [11] . Em momento algum a vitória do sr. Mousavi pareceu possível, mesmo sendo provável que fraudes tenham acentuado a margem entre os dois candidatos. Num segundo tempo, foram seleccionados cidadãos, ou deram-se a conhecer na Internet, para conversar no Facebook ou assinar mensagens do Twitter. Eles receberam então, sempre por SMS, informações — verdadeiras ou falsas — sobre a evolução da crise política e as manifestações em curso. Eram mensagens anónimas que difundiam notícias de fuzilamentos e numerosos mortos; notícias até hoje não confirmadas. Por um infeliz azar de calendário, a sociedade Twitter devia suspender o seu serviço durante uma noite, o tempo necessário para a manutenção das suas instalações. Mas o Departamento de Estado dos Estados Unidos interveio para lhe pedir que adiasse esta operação [12] . Segundo o New York Times, estas operações contribuem para semear a desconfiança na população [13] . Simultaneamente, num esforço novo, a CIA mobiliza os militantes anti-iranianos nos EUA e no Reino Unidos para aumentar a desordem. Um Guia prático da revolução no Irão foi-lhes distribuído. Ele inclui vários conselhos práticos, tais como:
acertar as contas Twitter no fuso horário de Teerão;
centralizar as mensagens nas contas Twitter @stopAhmadi, #iranelection et #gr88;
não atacar os sítios internet oficiais do Estado iraniano. "Deixem isso para o exército dos EUA" (sic).
Uma vez aplicados, estes conselhos impedem toda autenticação das mensagens Twitter. Já não se pode saber se eles são enviados por testemunhas das manifestações em Teerão ou por agentes da CIA em Langley, e não se pode mais distinguir o verdadeiro do falso. O objectivo é criar cada vez mais confusão e levar os iranianos a lutarem entre si. Os estados-maiores, por toda a parte do mundo, seguem com atenção os acontecimentos em Teerão. Cada um deles tenta avaliar a eficácia deste novo método de subversão no laboratório iraniano. É evidente que o processo de desestabilização funcionou. Mas não é seguro que a CIA possa canalizar os manifestantes para que eles façam por si mesmos aquilo que o Pentágono recusou fazer e que eles não têm qualquer vontade de fazer: mudar o regime, acabar com a revolução islâmica.

sábado, 20 de junho de 2009

Refugiados palestinos no Brasil - “Pelo fato de sermos refugiados pobres ...


“Pelo fato de sermos refugiados pobres o governo brasileiro não olha para nós” - Causa Operária entrevista nesta semana um grupo de refugiados palestinos no Brasil. A entrevista foi feita com o auxílio de uma intérprete do Árabe. E para preservar uma maior exposição dos palestinos identificaremos apenas um deles, o Farouq. Hoje 23 dos 117 refugiados palestinos no Brasil estão em Brasília reivindicando o direito de um novo assentamento. O caso deles revela o verdadeiro caráter da política de refugiados das Nações Unidas e o tratamento desferido aos palestinos
7 de junho de 2009 - jornal Causa Operária (www.pco.org.br/conoticias)

Causa OperáriaVocês poderiam contar um pouco sobre vocês?


Farouq: Estou refugiado desde 67. Fui refugiado aos 19 anos quando fugi da guerra entre Israel e Palestina indo para o Iraque. Depois fui para Arábia Saudita, Líbia e voltei para o Iraque onde vivi até a invasão do pelos EUA, quando tive que fugir e me tornar mais uma vez refugiado na fronteira com a Jordânia no campo Rweished [de refugiados].
Esse campo na fronteira da Jordânia era do exército. Não tinha casa não tinha nada. Só um pedaço de tecido, uma barraquinha que vivíamos dentro dela.
Ficamos quatro anos e meio nesse campo [em 2007 ampliou-se a ofensiva contra os campos de refugiados palestinos, com pressões para que perdessem a condição de refugiados palestinos e ganhassem cidadania jordaniana].
Se fizermos uma comparação com esse campo e a situação que enfrentamos aqui no Brasil, nós vivemos muito melhor, com muito mais orgulho, nos sentíamos muito mais humanos lá no campo do que aqui. Porque aqui nós nos sentimos tratados pior do que se trata um animal. Para o animal existem leis, direitos, nós não temos nada.
Aqui no Brasil, as Nações Unidas e o governo que nos trouxe nunca nos trataram como humanos, nem protegidos como prometeram. A única coisa nós queríamos era o orgulho. Mas aqui eu nunca vou encontrar.
A ACNUR, as Nações Unidas, não nos trata como refugiados, aqui não tivemos nem direitos humanos, então não temos direitos de nada.
Nós não aceitamos mais isso, essa situação. Por isso estamos pedindo nossa saída do Brasil. Não é porque não gostamos do Brasil, mas porque fomos maltratados pelas Nações Unidas, por essas ONG’s [Cáritas do Brasil e Associação Antônio Vieira-ASAV] que disseram que nos acolheriam, mas nunca o fizeram.
Acabaram com nosso orgulho. Nós viemos para cá com esperança. Eu sou um velho. Sofri um acidente no campo e eles me prometeram ‘você vai para o Brasil e lá vamos te dar um tratamento’, mas eu nunca fui tratado. A parte de saúde foi zero, tudo foi zero.


Causa Operária: Vocês antes de virem para o Brasil estavam num campo de refugiados da Jordânia? A ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) foi a responsável por essa realocação de vocês. Como se deu essa vinda dos 117 palestinos para o Brasil?


Farouq: Nós descobrimos que estamos nas mãos de pessoas que não são humanas. Essas pessoas são ACNUR, que nos entregou como refugiados palestinos a duas ONG’s – Cáritas do Brasil e Associação Antônio Vieira [ASAV]. Elas deveriam cuidar dos palestinos, mas infelizmente não cuida, não faz nada, esse cuidado está apenas no papel.
O ACNUR prometeu muita coisa para nós. Mas a única alternativa era vir para o Brasil. Eles falaram assim, ‘ou o Brasil ou vocês voltam lá para a fronteira do Iraque’. ‘Vocês ficam lá para sofrerem a morte e a guerra. Ou vocês vão para o Brasil agora.’
E no Brasil vocês vão achar saúde, trabalho, educação, faculdade, tudo isso eles prometeram, alimentação, moradia, salário mensal, “colocaram chão como se fosse flor”, mas tudo isso era mentira porque não tinha esse paraíso que eles falaram.
Primeiro, porque 90% dos refugiados estão doentes. E não é qualquer doença. Então a primeira coisa que deveríamos ter tido aqui era tratamento e aprender o idioma, pra nos adaptarmos. Então como vamos nos adaptar se não temos saúde nem para trabalhar e nem temos tratamento?


Palestino refugiado (não quis se identificar): Nunca fizeram nada para nós. Prometeram tudo. A única coisa que fizeram quando chegamos aqui no Brasil foi um exame de urina e um exame de sangue, acho que para ver se tínhamos alguma doença ou não.
90% de nós têm doenças gravíssimas. Eu sou um deles e outro, o Saff, não teve nem condições de estar aqui agora.
Como nossas doenças são graves temos de tomar remédios que nós pagamos do nosso bolso, aliás, que é pouco, e não tem, então a gente passa fome para comprar os remédios.


Sarah: Com a nossa vinda para o Brasil nossas famílias foram divididas. Foi uma separação familiar, e não uma união familiar. Tem gente que foi pra a Suécia, Estados Unidos, Chile, Argentina. Minha família está toda nos Estados Unidos, mas me mandaram para cá.


Causa Operária: E quando vocês chegaram no Brasil o que encontraram? O que vocês encontraram quando chegaram aqui?


Intérprete: Aqui no Brasil, dividiram os palestinos. Não colocaram os 117 juntos. Uma parte ficou em Mogi das Cruzes [SP] outro grupo foi para o Rio Grande do Sul, outra para o Paraná. Se eles estivessem ficado juntos, pelo menos um ajudava o outro. Mas não, deixaram um isolado do outro.


Ahmad: Os imóveis eram usados e cheios de mofo, a casa foi assaltada. Esposa: quem foi para o Rio Grande do Sul não foi direto para as casa. Ficaram duas semanas dentro de uma Igreja, sem roupa lavada, a roupa que eles trouxeram tava mofada, estragou toda a roupa. O primeiro salário mensal foi roubado não foi gasto com a gente.


Causa Operária: Quem fez isso?


Ahmad: Antonio Vieira e Cáritas. ONG`s contratadas pela ACNUR para serem responsáveis pelos refugiados no Brasil.
Eu antes de vir apresentei um documento à ACNUR dizendo que não queria vir para o Brasil. Entreguei para Carmem, a advogada responsável pelo nosso caso. Ela me respondeu com ameaça “se você não for para o Brasil nós vamos te entregar para as forças do Iraque” aqueles que mataram Saddam [Hussein]. Mesmo minha família, irmão, tia, não sabem onde eu estou. Estou ameaçado de morte, então não tenho como voltar para lá então falaram “ou você vai para o Brasil ou te entregamos para eles”.
Quando cheguei no Brasil entreguei outro documento pedindo para sair daqui, entreguei na mão de uma pessoa chamada José, mandado para ACNUR. Mas é como dizem, “não tem a vida para quem chama”. E desde que eu cheguei até agora eu estou sendo castigado por essas ONG’s e pela ACNUR. Eu não sei o motivo nem o para que isso.
Fiquei castigado duas três semanas dentro de uma Igreja. Eu e meus filhos, com minha filha sofrendo com pneumonia. Colocaram-nos em Santa Maria, distante quatro horas da ASAV [Associação Antônio Vieira, em Porto Alegre], pra reclamar de alguma coisa.
Na primeira semana eu descobri o roubo que fazem conosco, reclamamos e encaminhamos para a ACNUR, tudo documentado. Mas ninguém nos procurou para resolver o problema.
Até hoje o governo brasileiro não se envolveu em nada. Todo mundo fala que a responsabilidade é do ACNUR, e ACNUR fala que a responsabilidade é da Asav, da Cáritas, um verdadeiro crime de omissão.
Uma vez foi uma pessoa do Conare [Comitê Nacional de Refugiados] foi até Mogi das Cruzes, ela disse “vocês estão reclamando do quê? Nós tiramos vocês da guerra” e nunca mais o governo nos procurou. Nunca mais.
Ahmad: Meus filhos ficam doentes, minha filha tem asma, meu filho teve catapora. Vários problemas e ninguém ligou para um médico ou deu atenção. Eu que paguei as consultas deles, eu ia lá sozinho, pedia dinheiro emprestado. E aqui em Brasília quando cheguei aqui eu fiz greve de fome, para receber e poder pagar para aquelas pessoas.
Quando chegamos aqui o Javier, chefe da ACNUR, prometeu “vocês vão pra Suécia”, porque queríamos fazer uma reunião familiar.
Então o que Javier prometeu? [enquanto estavam acampados em frente à sede da ACNUR] e temos testemunhas “não fiquem na rua, eu alugo para vocês uma quitinete, coloco os seus filhos na escola até o visto de vocês para qualquer país sair”, eu prometo, minha palavra”.
Eles pediram isso documentado ele deu. Foram para o apartamento que foi alugado com pagamento adiantado por quatro meses. Mas o apartamento foi colocado em nome da Sarah [esposa do Ahmad] e não da ACNUR. E agora eles estão ameaçados de saírem do apartamento [ameaçados de despejo porque venceu o aluguel] e a ACNUR sumiu, ninguém sabe o endereço dela. Agora estamos perdidos.
Advogado: Quando o ACNUR mandou que o contrato da imobiliária fosse feito em nome da família, foi a preparação de uma armadilha, porque na medida em que está atrasado o aluguel a imobiliária pode entrar com uma ação contra eles e qualquer queixa policial, quem dirá ação judicial, contra qualquer um deles imediatamente eles perdem a condição de refugiados e também o direito de naturalização. E a própria ACNUR disse que não paga mais o aluguel e sugeriu à imobiliária que entrasse com uma ação contra eles.


Intérprete: E eles vieram sob orientação da ACNUR. Venderam tudo o que tinham para vir pra cá e agora está acontecendo isso.


Causa Operária: Diante de todo esse quadro, qual foi a situação limite que fez com que um primeiro grupo desses 117 refugiados visse à Brasília, e acampassem em frente à sede da ACNUR no Brasil em maio de 2008?


Palestino refugiado (não quis se identificar):

Quando tínhamos uma reclamação, fazíamos um documento. Tudo foi documentado, no papel e também por telefone, [os advogados tem toda essa documentação].
Cada vez que nós reclamávamos para de ACNUR da Cáritas ou da Asav quando a ACNUR ia embora nos castigavam. Pagávamos muito alto, uma verdadeira tortura psicológica e financeira, uma tortura pela vida toda. Tudo porque a gente reclamava. E nós avisávamos isso à ACNUR. Porque a Asav ficava com raiva e descontava.
Esse é um dos principais motivos para estarmos aqui. Depois de um ano e meio de tortura lá, viemos para falar com eles, cara a cara. Porque não temos mais tempo. Em um ano e meio, não nos adaptamos aqui. Não falamos português, não tivemos nada dos serviços que eles falaram. E daqui três meses [7 de setembro] o programa vai acabar e para onde vamos? Para a rua?
Então acho que esse é o principal motivo para virmos para Brasília.


Causa Operária: E qual a reivindicação do acampamento e da vinda para Brasília?

Farouq: Tem quatro pessoas que estão há um ano na rua eu Farouq e outros três.
Nesse tempo de greve que estivemos na frente, na porta do ACNUR, na QL 24 Conjunto 4 casa 36, eles usaram todo tipo de tortura, de terrorismo contra a gente. Sendo que nós estávamos lá só para exigir um direito nosso.
Uma vez uma pessoa chamada Margarida [funcionária da ACNUR], eu estava dormindo às 6h40 da manhã, sendo que o ACNUR abre, às 9h, 9h30.
Ela subiu em cima dele com um jipe [tudo isso está filmado, a advogada foi até lá e registrou até a marca do pneu em cima dele].
Como se não bastasse, a noite eles sofreram uma tortura ainda maior. Ela chamou a Polícia Federal, a polícia do governo brasileiro para tirar dois velhos refugiados de lá. Foram mais de 90 policiais federais naquela noite para tirara gente de lá à força.


Intérprete: Ela falou que eles tinham ameaçado ela, de matá-la. Eu era testemunha, eu que traduzia. Eles nunca tinham falado isso. Eu falei isso para a Polícia Federal.

Então ela foi mandada embora. Mas, agora cadê o governo brasileiro?


Farouq: Nos deixaram sem salário um ano e dez meses. Eles estão nos matando, sem comer, sem beber, sem nada, então não vamos fazer greve?


Causa Operária - E qual a reivindicação para o acampamento? Para vocês estarem aqui agora?
Farouq:
Não queremos ficar aqui no Brasil. Queremos ir para onde estão nossos familiares.
Interprete: Eles já fizeram essa solicitação oficialmente. Cada um deles. Uma documentação grande com advogado. Mas até agora nada.
Tem um refugiado que está sofrendo uma doença gravíssima, e que por que nós fomos atrás ele está sendo tratado no Hospital de Base [hospital público de Brasília].
No caso desse palestino o primeiro castigo que eles deram para ele quando ele veio aqui para buscar o tratamento, só para reclamar para o ACNUR avisar o que estava acontecendo tiraram o salário dele. Com isso como ele poderia voltar? Então ficou na rua sete meses e isso e nesse período, eles entraram no apartamento deles, tiraram todos os móveis dele fecharam a porta, trocaram a fechadura, até a roupa dele, as coisas pessoais, todas as coisas foram tiradas de lá. Então como ele pode voltar pra lá? Se não tem mais nada?
Ele gosta do povo brasileiro, mas está muito chateado com o governo brasileiro que até agora mantém a mão dele por cima só apoiando a ACNUR, acreditando na ACNUR.


Causa Operária: E vocês acham que existe algum tipo de exigência ou de influência dos EUA ou de Israel para que os palestinos refugiados no mundo sejam tratados dessa maneira?


Advogado - Na medida em que existe essa pressão. Fica a dúvida sobre a serviço de quem a ACNUR realmente está.
Depois de tudo o que eu sofri com o Estado de Israel é um inimigo que identificamos. A gente sabe. Mas a ACNUR? Era para ser mais humana.

Ahmad - O Javier prometeu, eu pago tudo pra ti, mas não cumpriu nada.


Salin - Nós não temos nenhum problema com o povo brasileiro, nem com o Brasil, como país. Nosso problema é que foi tudo mentira o que o ACNUR colocou. E esse problema acaba com o futuro dos nossos filhos.
Minha filha, por exemplo, tem 17 anos e está noiva do primo dela, mas a representante da Asav, Karin, disse que não dava autorização para eles casarem. Então eles estão invadindo nossa vida pessoal. Esse é um dos primeiro ponto.
E agora como nós viemos aqui para reclamar com o ACNUR, o que a ONG [Asav] fez? Tirou todo o serviço financeiro, tudo o que a tínhamos agora está cortado. Por quê? Porque eu vim pra cá para que minha filha se casasse com o primo dela e meu filho estudasse. Eu estou pagando por isso. Então não dá mais para continuar aqui, eu só quero sair do Brasil. Esse é o nosso problema.
[No Rio Grande do Sul], a mulher responsável pelos refugiados através da Asav era uma judia que sempre usava aquela estrela e fala com muito orgulho de Israel, que é israelense e sempre repetia isso. O que por si só já deixava a gente muito mal. Mas nunca tínhamos sentido nada a respeito dela até que ela proibiu minha filha de se casar com o primo. Mas qual pecado nisso? Em qualquer religião do mundo as pessoas se casam. Aqui no Brasil todo mundo namora. Na nossa cultura tem que ter casamento para eles terem a vida sexual, familiar e tudo. É uma menina virgem e um menino virgem que querem se casar e eles proibiram isso. E a gente quer manter, cuidar da nossa cultura na criação dos nossos filhos, mas não respeitaram isso.
Na ACNUR a situação é a mesma. Os altos funcionários da ACNUR, aqui [em Brasília] também de Israel, são judeus. Então eles proibiram o casamento dos nossos filhos porque quem não quer a união familiar de uma pessoa palestina com outra, querendo acabar com a família palestina, ou com o futuro da Palestina, aliás com o povo palestino é o Mossad, Israel. Então esse foi o maior motivo para ela proibir o casamento dos nossos filhos. Por que eles querem acabar com todos os palestinos do mundo.
A decisão de eles se casarem faz parte da nossa religião, da nossa cultura é nosso direito.

Causa Operária: Então a situação piorou depois que vocês decidiram protestar contra a ACNUR e vieram lutar por seus direitos aqui em Brasília?


Huda: Alguns ainda estão recebendo o salário, mas não temos serviço médico, então tudo que entra vai pra dívidas, para remédios... Eu estou na rua. Não tenho casa para eu voltar. Para onde eu vou voltar? Então eu fico aqui em Brasília para protestar.


Causa Operária: No fim das contas vocês foram trazidos para serem “cuidados” por israelenses?


Palestino refugiado (não quis se identificar
) - Porque eles foram e só poderiam trabalhar na Sadia? Porque eles não sabem falar português e nessa fábrica no Paraná os donos são árabes. Se nós não fossemos mulçumanos, nem árabes eles nem dariam esse emprego. Porque o jeito que eles usam para matar frango é um jeito mulçumano.
Mais uma coisa, nós não somos racistas. Não é que não queremos nos misturar com brasileiro. O palestino, mesmo na religião mulçumana ele pode casar com brasileiro e tem muitos exemplos de refugiados que se casaram com brasileiros. Porque o amor não vê isso e a religião permite. Os primos decidiram casar porque se amam. Só para deixar isso claro.
Dá para ver que todo mundo lá, nas ONG’s e na ACNUR não gostam de nós. Porque a maioria deles estão lá como funcionários, mas não foram treinados para trabalhar com refugiados, nem psicologicamente nem nada. Porque só pelo olhar dá pra ver que eles olham com humilhação para gente. Tratavam mal a gente. Quando estávamos na frente da ACNUR alguns deles só saíam com policiamento. Tratavam-nos muito mal. Uma verdadeira tortura. Direta e indiretamente. Podem ter diploma e tudo, mas não estão preparados para lidar com pessoas. Não parecem humanos. Nos tratavam como escravos. E dizem fazer programa para refugiado. Cadê o programa para refugiado que diz a sigla da ACNUR?
Nós não sabemos quais são os nossos direitos aqui no Brasil. Ninguém nunca esclareceu quais são os direitos dos refugiados aqui no Brasil. Quais são os nossos direitos? Não tem nenhum protocolo, não tem nada documentando que explique e apresente uma saída para os nossos problemas. .


Causa Operária: Ocorreu o ataque a Faixa de Gaza no começo deste ano. Na ocasião os tanques de combate israelenses entraram em território palestino e atacaram escolas da ONU matando mulheres e crianças.
Na sua opinião, quais os interesses desse ataque do Estado de Israel?


Entrevistado: Uma guerra que acaba com qualquer ser humano, é uma coisa terrível e torturante. Ninguém poderia aceitar isso.
Não aceitamos o que está acontecendo no Iraque, na Faixa de Gaza etc.
O que acontece aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, por exemplo, nas favelas, com as crianças drogadas na rua, tudo isto mexe conosco.
Todos nós somos humanos e qualquer tipo de sofrimento nos faz mal, independente do local.
Não é possível não nos envolvermos com estes acontecimentos da [Faixa de Gaza] porque somos palestinos, mesmo que não estejamos lá.
Como humano o que ocorreu na Faixa de Gaza não é aceitável contra qualquer povo do mundo, seja palestino ou não.
Uma desculpa terrível que Israel usa é dizer que “a gente está se defendendo desse povo [palestinos]”.
Se fosse em qualquer outro lugar eu já seria contra, mais ainda quando se trata da minha terra que até agora não conheci pois tive que me refugiar por causa da guerra.
Eu peço desculpas por não ter me adaptado. Eu tinha o sonho de ficar no Brasil. Mas agora eu tenho dois desejos: quero voltar para a Palestina ou ir para o campo de refugiados onde eu estava.
Torço para que o governo brasileiro nos escute. Esperamos que o governo nos escute e discuta com a gente o nosso problema e deixe realizar uma dessas duas opções.
Estamos deprimidos e traumatizados pela tortura psicológica que sofremos.


Causa Operária: Porque isto que parece ser tão simples se tornou algo muito complicado?


Refugiado: Porque até agora nenhuma pessoa do governo se dispôs a ajudar a gente ou encaminhou nossa situação.
Isto ocorre porque lei aqui no Brasil é para quem é rico, quem tem poder. Estamos aqui há um ano e sete meses e o governo não nos escuta, só escuta o ACNUR. Pelo fato de sermos refugiados pobres o governo brasileiro não olha para nós.
Estamos refugiados no Brasil e o governo não deveria deixar a situação chegar neste ponto, o que é algo muito feio para o governo brasileiro e para quem gosta deste País.
Agradecemos aos brasileiros. Quem nos ajudou neste período foram nossos vizinhos brasileiros e os amigos que fizemos aqui. Parece que o programa [para refugiados] foi feito por eles. E não por quem ficou de nos acolher e cuidar.
Já faz dois meses que não temos nenhum contato com a ACNUR. Eles se mudaram [do local onde os refugiados ficaram acampados anteriormente] e só o governo brasileiro sabe onde eles estão. Mas o governo brasileiro não nos procura. O programa vence agora em setembro, vão ser pelo menos cinco meses abandonados. O que vai ser de nós?


Causa Operária - Vocês têm informações sobre outros refugiados palestinos? Qual a situação deles?


Refugiado - Eles estão bem, 90% dos nossos familiares estão morando em países como a Suécia e a Dinamarca. Lá existem programas específicos destes países. Programas dos países e não da ACNUR, das Nações Unidas. Na América Latina [Chile, Brasil] é que esse programa está sendo feito através da ONU, da ACNUR.


Causa Operária - Como a imprensa tem tratado o problema de vocês, e a questão palestina de uma forma geral?


Refugiados:
Não tem justiça na imprensa. Eles favorecem e são financiados pelos Estados Unidos e Israel. A imprensa só publica o que eles querem.
Existem poucos jornalistas com consciência e é por isso que a verdade não aparece.
Já demos várias entrevistas, mas as coisas não são publicadas de forma completa.
Os assessores de imprensa da ACNUR controlam tudo o que é publicado, enviam a sua versão dos fatos e essa versão que é divulgada.

Causa operária: Na opinião de vocês, como é possível solucionar o problema de vocês e da Palestina?


Refugiado:
Quando for criado o Estado Palestino, quando for resolvida a causa Palestina será resolvida também a nossa causa. Mas parece que uma coisa é tão difícil quanto a outra.
No Brasil as forças contra os palestinos que estão aqui, o ACNUR, o Mossad, os sionistas as pessoas que tem mais dinheiro tentam falar contra os palestinos acusando-os de terroristas para sujar o nome dos palestinos e eles que são os responsáveis por tudo isso, ficarem bem na história.
Nós defendemos Brasil quando o Brasil nos defende. Nós gostamos de trabalhar com os trabalhadores, os sem-terra, a esquerda, nós somos pessoas que procuramos paz.
Finalmente eles fizeram algo muito errado contra nós. Nos roubaram e enganaram e nós descobrimos isso. E apesar de poderosos eles tem medo da gente.