segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Urgente: Manifesto em defesa de um jovem brasileiro preso por Israel


Solicitamos a assinatura das entidade,  movimentos sociais e partidos políticos. Este manifesto será protocolado amanhã, por favor envie o email com sua assinatura para:
alinebaker@gmail.com



Manifesto ao Governo Brasileiro 



Por proteção e repatriação a Islam Hamed

Na madrugada de 24 de outubro último, enquanto dormia, o cidadão brasileiro Islam Hamed foi preso por Israel em domicílio na cidade de Jenin, na Cisjordânia, Palestina ocupada. Atualmente, encontra-se em cárcere em Jerusalém. Embora não haja qualquer acusação formal ou prova contra ele, Israel não permitiu que ele fosse repatriado ao Brasil até hoje, afirmando que está sendo investigado por um suposto ataque a colonos israelenses há cinco anos, em território palestino ocupado ilegalmente. Já houve duas audiências em Tribunal Militar e a perspectiva é que Islam tenha o mesmo destino de centenas de palestinos: seja mantido em detenção administrativa, regime que Israel adota em que os encarcerados têm sua prisão renovada de tempos em tempos, sem julgamento, provas ou condenação. Na última audiência, em 12 de novembro, sugeriu-se que Islam não quer “colaborar” e por isso, ficará sob interrogatório praticamente pelas próximas duas semanas. Ele vem sendo interrogado diariamente por horas ininterruptas, sempre com as mãos amarradas para trás. Além disso, as temperaturas em sua cela são alteradas pelos carcereiros ao extremo: ou muito frio ou muito calor. 

Islam Hamed permaneceu 101 dias em greve de fome, em cárcere da Autoridade Nacional Palestina (ANP), até ser finalmente libertado em 21 de julho último – havia ordem de soltura desde 2013, data em que a família apresentou o primeiro pedido ao Itamaraty pela sua repatriação. Desde sua libertação após o longo período em greve de fome, impedido de vir ao Brasil e tendo que se responsabilizar por sua vida, Islam Hamed mantinha-se escondido na Palestina ocupada, sem segurança e com a saúde debilitada. 

O governo brasileiro deve exigir o salvo conduto para repatriação de Islam Hamed e que Israel se explique sobre a tortura durante interrogatório e essa investigação, já que se passaram cinco anos e não há qualquer prova ou evidência contra Islam Hamed. Em um estado democrático de direito, prevalece a presunção de inocência, não de culpa. Ademais, Islam Hamed é brasileiro e deve ser protegido por este Estado, inclusive com a garantia de acompanhamento jurídico do caso pelo Brasil. 
Pleiteamos que o governo brasileiro garanta sua integridade física e envide esforços por sua vinda ao Brasil, em segurança, o mais breve possível.

Assinam:


Frente em Defesa do Povo Palestino 

Sociedade Palestina de São Paulo 

Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre!) 

Assisp (Associação Islâmica de São Paulo) 

Ciranda Internacional de Comunicação Compartilhada 

CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular) 

MML (Movimento Mulheres em Luta
)
PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado)

Comitê Pró-Haiti

Tribunal Popular Organização Indígena Revolucionária

Movimento Palestina Para tod@s

Palestine Sun Bird – Jordânia 

The London Latinxs - Londres 

Soweto Organização Negra

Coletivo de Esquerda Força Ativa 

Sindicado dos trabalhadores da USP 

Sindicado dos metroviários de SP 

Wadih Damous, deputado federal e ex-presidente da OAB/RJ

Unidos para Lutar 

Liga Socialista

UEMB  - União dos Estudantes Muçulmanos do Brasil

Comitê de Solidariedade à Luta do Povo Palestino do Rio de Janeiro


Movimento Palestino-brasileiro pela Paz no Oriente Médio 

Partido Comunista Brasileiro - PCB

União da Juventude Comunista - UJC

Unidade Classista - UC 

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O Lado Invisível do Terrorismo



O texto abaixo é um excelente trabalho de pesquisa onde o autor demonstra com dados estatísticos que a população da Europa está muito longe de ser vítima do terrorismo e o uso político do tema como justificativas para a militarização que afeta a população mais pobre do planeta. (Nota do Blog)


Marcelo Zero

       I.            Os recentes e trágicos atentados terroristas cometidos na França voltaram a colocar em debate, no chamado Ocidente e no Brasil, a questão do terrorismo.

    II.            Entretanto, é fácil constatar que tal debate está muito centrado no terrorismo que afeta eventualmente países ocidentais. Também é visível que se desenvolveu um senso comum em torno do tema, o qual impede ou distorce análises mais abrangentes, equilibradas e realistas sobre o fenômeno.

 III.            Com efeito, a discussão sobre esse tópico normalmente só ocorre na mídia e no cenário político brasileiro quando há um atentado na Europa ou nos EUA. Além disso, o terrorismo, no debate midiático, aparece correlacionado a “governos hostis” ao Ocidente e à migração de países islâmicos e árabes para a Europa e os EUA. Esse “senso comum” tende a justificar intervenções militares no Oriente Médio e as atuais tentativas de impor limites à imigração de populações que foram afetadas por conflitos sangrentos naquela região, como a que ocorre no caso da Síria.

IV.            Pior ainda, esse “senso comum” tende a tornar invisível a ocorrência de terrorismo em outras regiões do planeta, bem como a relação que há entre essas formas ubíquas de terrorismo e as políticas unilaterais e militaristas que o Ocidente desenvolve para supostamente enfrentar o problema.

   V.            Pois bem, os dados mais recentes do Global Terrorism Index, realizado pelo Institute for Economics and Peace (IEP), think thank que se dedica a mensurar e analisar o terrorismo em todo o mundo, mostram uma realidade bem mais complexa que o que deixa entrever essa visão estreita do “senso comum” sobre o assunto.

VI.            Em primeiro lugar, as informações do último relatório do IEP, referentes ao ano de 2014, demonstram que o Ocidente é comparativamente muito pouco afetado pelo fenômeno do terrorismo.

Gráfico I
   
Elaboração Própria. Fonte IEP


VII.            O gráfico é bastante eloquente. Das 32.685 mortes por terrorismo ocorridas em 2014, a imensa maioria (97,3%) ocorreu no Oriente Médio e Magreb, na África Subsaariana e na Ásia. Europa e EUA são afetados marginal e ocasionalmente. Mesmo se incluíssemos os recentes atentados de Paris no cômputo, eles não fariam diferença alguma, tamanha a amplitude das mortes por terrorismo ocorridas em outras regiões do globo. Na realidade, após o 11 de setembro, a Europa e os EUA somaram, em vítimas fatais do terrorismo, um número relativamente pequeno, apesar do grande alarde que tais atentados provocam na mídia ocidental e mundial.  Se excluirmos esse grande evento (o 11 de setembro), as mortes por terrorismo desde 2000 no Ocidente correspondem a apenas 0,5% do total das vítimas de atentados terroristas. Mesmo incluindo o 11 de setembro, tal índice alcança somente 2,6% do total.
VIII.            Ademais, desde 2006 que 70% das vítimas fatais por terrorismo no Ocidente não são causadas pelo terrorismo de origem religiosa, como se imagina, mas sim pelo chamado terrorismo lone wolf (lobo solitário), como foi o caso ocorrido na Noruega. Esse tipo de terrorismo está muito vinculado ao extremismo de extrema direita e ao nacionalismo, fenômenos que vêm crescendo na Europa. Na Ucrânia, aliás, a imensa maioria das vítimas fatais de terrorismo em 2014 foi causada por grupos de extrema direita que atuam na região separatista de Donetsk, como a organização neonazista Right Sector.

Gráfico 2

 
Elaboração Própria. Fonte IEP

IX.            Quando se decompõem as informações por países, como no Gráfico 2, verifica-se que as nações que mais sofreram com terrorismo em 2014 são aquelas que estão, em maior ou menor grau, dilaceradas por graves conflitos internos. A bem da verdade, nos últimos 25 anos, 88% dos atentados terroristas ocorreram em países que tinham graves conflitos internos. Observe-se que, no caso da Síria e da Líbia, não estão incluídos no cálculo das vítimas os mortos das guerras civis que lá se desenvolvem. Nos países desenvolvidos da OCDE, contudo, as motivações para a prática do terrorismo não estão vinculadas a conflitos internos, mas a outros fatores, como alto desemprego entre os jovens, descrença nas instituições democráticas, crise econômica, etc.

Gráfico 3

Elaboração Própria. Fonte IEP

   X.            O Gráfico 3 confirma essa avaliação. Em 2014, os cinco países que apresentaram maior crescimento de vítimas fatais de terrorismo foram justamente aqueles que vêm passando por um agravamento de seus conflitos. No caso do Iraque, do Afeganistão, da Síria, e da própria Ucrânia tal agravamento deve-se, em boa parte, às intervenções políticas e militares feitas por potências ocidentais. 

Gráfico 4

Elaboração Própria. Fonte IEP

XI.            As informações contidas no Gráfico 4 são muito elucidativas a esse respeito. Elas indicam uma forte correlação entre o crescimento do terrorismo em escala global e as intervenções militares realizadas, em tese, para coibir o fenômeno. Em 2003, quando se inicia a invasão do Iraque, sob o falso pretexto de neutralizar armas de destruição em massa, implantar a democracia e combater o terrorismo, tínhamos cerca de 3.000 mortes por terrorismo em todo o mundo. À medida que tal intervenção cresce, o número de mortes aumenta até cerca de 11 mil, em 2007. A partir de aí há uma discreta queda até 2011, quando se inicia a guerra civil da Síria. Desde aquele ano, há uma evolução exponencial do terrorismo, obviamente vinculada ao apoio que o Ocidente deu e ainda dá aos grupos terroristas que lutam contra o governo Assad, bem como ao colapso dos Estados Nacionais da Síria e do Iraque.  O Estado Islâmico, nascido no Iraque ocupado, aproveitou-se desse apoio e conseguiu dominar um amplo território que inclui o Centro e o Oeste do Iraque e o Leste da Síria, regiões de maioria sunita. Com o domínio desse território e com a venda de seu petróleo via Turquia, o Estado Islâmico converteu-se na grande usina de propagação do terrorismo fundamentalista sunita no mundo.

XII.            Em 2014, ocorreu um aumento de 80% no número de mortes por terrorismo. Esse aumento drástico tem muita relação com o Estado Islâmico e seu principal aliado na África, o Boko Haram. Apenas esses dois grupos foram responsáveis por 40% das mortes por terrorismo em todo o mundo. Saliente-se que o Boko Haram reconheceu, em março de 2015, a autoridade do Califa dos Muçulmanos, Al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico.

XIII.            O crescimento desses dois grupos também vem mudando o perfil dos atentados. É que essas organizações têm preferência pelos atentados contra civis comuns, como se viu no caso de Paris. Os atentados contra civis aumentaram 172%, entre 2013 e 2014. Hoje, tal tipo de atentados já representa 47% do total, como se observa no Gráfico 5.

Gráfico 5

 
Elaboração Própria. Fonte IEP

XIV.            Outro dado interessante do relatório do IEP tange à participação de estrangeiros no Estado Islâmico e em outros grupos terroristas que atuam no Iraque e na Síria. Como era de esperar, cerca de 80% desses estrangeiros provêm de países muçulmanos vizinhos ou próximos, como Jordânia, Líbano, Turquia, Arábia Saudita, Egito, Líbia, Tunísia, etc. Contudo, há cerca de 20% que provêm de outras regiões. Pois bem, em sua maioria, esses outros estrangeiros vêm da Europa. Nesse subconjunto, o primeiro país exportador de voluntários para o terrorismo é a Rússia, com mais de 2.000 combatentes provenientes da região do Cáucaso, seguida da França, com ao redor de 1.800 voluntários, segundo as estimativas mais pessimistas. Alemanha e Reino Unido contribuiriam com cerca de 700 militantes cada.

XV.            Essa informação contradiz o “senso comum” ocidental, que considera que os imigrantes dos países afetados pelos conflitos recentes, como os da Síria, são terroristas em potencial. Na realidade, o perigo reside mais na migração em sentido contrário. É a Europa que exporta terroristas para a Síria e o Iraque.

XVI.            Por último, cabe destacar brevemente a comparação que o relatório faz entre a criminalidade comum e o terrorismo.

Gráfico 6

 

Elaboração Própria. Fonte IEP

XVII.            Como se vê, os homicídios comuns são 13 vezes mais prevalentes que os homicídios provocados pelo terrorismo. No caso da América Latina, região com índices muito elevados de criminalidade comum, essa discrepância é bem maior.


XVIII.            No caso específico do Brasil, a discrepância é descomunal. Não temos terrorismo estrito senso, mas temos muita violência urbana, inclusive a cometida por órgãos policiais contra a população civil, especialmente contra jovens negros e pobres, vítimas de um genocídio silencioso e invisível.

XIX.            Essa violência “naturalizada” e cotidiana, uma espécie de terrorismo de Estado, não desperta a comoção que costumam provocar atentados terroristas no Ocidente. Mas é com esse terrorismo invisível que devemos mais nos preocupar.


http://brasildebate.com.br/o-lado-invisivel-do-terrorismo/