Forças israelenses
protegidas por veículo blindado após manifestantes palestinos lançarem um
coquetel Molotov durante confrontos no centro da cidade dividida de Al-Khalil (Hebron) na Cisjordânia ocupada, em 19 de novembro de 2012.
19/11/2012, Ibrahim al-Amin (editor-chefe), Al-Akhbar (Editorial)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
“Nem
resistência, nem negociações.” Essa foi a frase-chave do emir do Qatar, Hamad bin Khalifa al-Thani em
recente visita à Faixa de Gaza. Usou a frase para insistir na urgência de
reconciliação entre todos os grupos palestinos. Foi como se dissesse a eles: o
campo da resistência de vocês não está resistindo e o campo da paz de vocês não
está negociando. Assim sendo, por que não se acertam?
O
emir do Qatar não explicou por que deveria haver reconciliação e em torno de
quê. É como se não estivesse vendo a razão pela qual o campo da paz não está
negociando – porque Israel, não os palestinos, não quer negociação nem paz. E
quem disse ao emir do Qatar que o campo da resistência teria parado de resistir?
Talvez
porque o Hamás é parte da Fraternidade Muçulmana, e a resistência não se inclui
entre as prioridades da organização-mãe? Teria o emir querido dizer isso?
Essa
obscura frase-chave começou a circular imediatamente depois da eclosão das
revoluções árabes. O objetivo foi induzir as forças políticas ascendentes nos
países árabes cujos ditadores foram derrubados – Egito, Tunísia e Líbia – a
adotar políticas alinhadas com o que querem os patrocinadores ocidentais e
árabes daquelas revoluções. E esses patrocinadores querem todos esses novos
governos confinados às respectivas questões domésticas.
“Nem
resistência, nem negociações” significa que os palestinos devem agir sob o
pressuposto de que a ocupação seria fato consumado; e de que não contem com
qualquer ajuda, só porque houve as revoluções. Funcionário de um dos países do
Golfo comentou, com sarcasmo, que o presidente egípcio Mohamed Mursi
provavelmente dissera ao líder do Hamás, Khaled Meshal: “Pare com isso! Não
estamos conseguindo nem dar conta das ruas egípcias! Você quer o quê?! Desista.
Suspenda o fogo e confie em Deus”.
Adnan Mansour |
O
ministro das Relações Exteriores do Líbano, Adnan Mansour parecia deslocado na
reunião de ministros árabes, na véspera. Assustou os presentes, ao usar
linguajar “fora de moda” sobre boicotes e resistência. O linguajar em voga, a
fala “da moda”, veio do ministro do Exterior do Qatar, que fez uma declaração de
impotência e disse aos palestinos: "Conhecemos os limites de nossas capacidades e
de nossas posições, e em nenhum caso iremos à guerra". Isso, pouco antes das
indispensáveis juras de apoio aos resistentes da Faixa de Gaza.
“Nem
resistência, nem negociações”. A frase foi enunciada não só para justificar a
impotência, mas, também, para demarcar o real objetivo das revoluções árabes, a
saber: conseguir uma mudança no poder. Nessa linha de pensamento, o único
problema dos egípcios seria que Gamal Mubarak não cumpria os rituais da religião
e não cultivava longas barbas. Resultado inicial desastroso dos protestos de
massa no Egito foi que implantaram no poder réplicas dos antigos ditadores – só
que sem as barbas.
Trocaram-se
uns por outros assemelhados, enquanto as políticas seguem as mesmas, as
políticas econômicas seguem as mesmas, as relações com Israel não mudaram e o
papel do Egito como principal mediador entre o inimigo e o povo da Palestina
ocupada não mudou.
Os
proponentes da ideia de “nem resistência, nem negociações” cumprem um imundo
papel.
Creem
que a prioridade é esperar outras oportunidades. Dizem que não há resistência,
porque escolheram retirar-se da batalha, desautorizar a resistência e mergulhar
nas realidades da ocupação. Para defender essa posição, promovem divisões
religiosas e acusam as forças da resistência de não aspirarem à libertação como
objetivo principal.
Mas
como a avaliação feita pelo ministro de Relações Exteriores do Qatar, para quem
os árabes seriam impotentes para agir em Gaza, coaduna-se com a determinação com
que o Qatar e outros estados do Golfo continuam a armar a oposição síria e
garantir a ela apoio absoluto da mídia?
De
onde extraíram a conclusão – e será que realmente contam com que alguém
acredite? – que os palestinos não precisam também de idêntica atenção e apoio?
O
que impediria esses países de continuar a apoiar a oposição síria e, ao mesmo
tempo, de apoiar também os palestinos?
Como
um povo com tão longa tradição de lutas – sobretudo palestinos que vivem sob o
império dos governantes do Golfo – conseguirão justificar os laços com a santa
aliança dos estados do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), os EUA e a Europa
colonialista? Como os palestinos ativos na academia, na imprensa, em
instituições diplomáticas controladas pelos estados do CCG conseguirão
justificar, ante eles mesmos, tais políticas?
O
que se vê acontecer na Palestina só atesta uma coisa: a ocupação continua e
continuará. Isso implica necessariamente que a resistência continua e
continuará. A cada momento, a resistência mais comprova que tem habilidade e
capacidades para provocar impacto em Israel.
A
alternativa é obedecer. Desnecessário construir frases oblíquas sobre isso,
porque, seja o fraseado que for, o significado é sempre o mesmo:
rendição.
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