terça-feira, 7 de junho de 2016

O G7, Cúpula da hipocrisia ocidental (1° parte)



PorThierry Meyssan
As reuniões do G7, que eram originalmente simples conversas, totalmente informais, entre líderes ocidentais, criaram o desejo de se transformar em governo mundial, antes de se afundarem e de se tornarem num exercício de comunicação. A cúpula de Ise-Shima passou em revista os principais problemas do mundo definindo, para cada um de entre eles, os elementos de linguagem a empregar.
REDE VOLTAIRE | DAMASCO (SÍRIA) | 30 DE MAIO DE 2016 

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A primeira reunião do G5 em Rambouillet (1975).

O G-7 acaba de se reunir em Ise-Shima (Japão). Mas enquanto éramos bombardeados pelas cúpulas anteriores, a atual mal foi coberta pela imprensa internacional. Isto porque esta reunião mudou profundamente de objetivo.
No contexto do primeiro choque petrolífero, em 1974, cinco ministros das Finanças (Alemanha Federal, França, Japão, Reino Unido, EUA) reuniram-se, sem agenda prévia, na biblioteca da Casa Branca, apenas para trocar pontos de vista. Foi o «Library Group».
Baseados neste modelo, os dois únicos sobreviventes deste grupo, Valéry Giscard d’Estaing, que se tornara Presidente da República Francesa, e Helmut Schmidt, que se tornou Chanceler da Alemanha Federal, tomaram a iniciativa de convidar, no ano seguinte (1976 ), para o castelo de Rambouillet, os chefes de Estado e de Governo dos mesmos países mais a Itália, afim de trocar pontos de vista sobre as grandes questões do momento. Na altura, as cúpulas internacionais eram raras e extremamente formais. O G6 contrastava, pela sua ausência de protocolo, o seu carácter simples, descontraído e amigável, numa atmosfera de clube privado. As discussões tinham lugar diretamente em Inglês, sem tradutores. A reunião era anunciada no último momento. Não havia agenda, nem jornalistas.
Em 1977, convidaram também o Primeiro-ministro do Canadá (G7), e a partir de 1978 o presidente da Comissão Europeia. Em 1994, o Presidente russo foi convidado e oficialmente integrado em 1997 (G8). Os Ocidentais estavam, com efeito, convencidos que, após o colapso da URSS, a Rússia estava em vias de se lhes juntar, de modo que eles iam, em conjunto, criar um mundo unipolar e dominá-lo. Foi a época em que se constituiu uma classe dirigente transnacional com uma ambição sem limites. Ela imaginava poder varrer o Direito Internacional, e substituir-se ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para governar o mundo sem qualquer controle.
Em 2000, o G8 apoiou a proposta de Paul Wolfowitz e do Banco Mundial para anular a dívida dos países mais pobres. Havia, no entanto, uma pequena condição: eles tinham que liberalizar totalmente a sua economia, de modo que as multinacionais as pudessem pilhar sem restrição. Dos 62 países abrangidos, apenas 9 Estados aceitaram este acordo de tolos. A tomada de posição do G8 levantou um movimento anti-globalização em todo o mundo. Aquando da cúpula seguinte, em Génova (2001), a repressão das manifestações provocou um morto. Foi então decidido que, doravante, estas cúpulas se realizariam fora das grandes cidades, sob uma importante proteção policial e militar. Podia-se, aí, urdir o que se desejasse fora de olhares curiosos.
Mas, em 2013, as coisas azedaram : Vladimir Putin estava de regresso ao Kremlin e os Ocidentais acabavam de relançar a guerra contra a Síria, apesar dos compromissos negociados por Kofi Annan e confirmados pelo Comunicado de Genebra. A Cúpula de Lough Erne transformou-se num confronto de 1 contra 7. Era suposto ela tratar da luta contra os paraísos fiscais, (discussão do interesse particular dos EUA. Veja sobre o assunto http://www.elconfidencialdigital.com/dinero/papeles-Panama-protagonizan-Club-Bilderberg_0_2721927808.html . Nota do blog) mas a discussão foi tomada pela viragem ocidental contra a Síria. No ano seguinte (2014) após o golpe de Estado em Kiev, a divisão da Ucrânia e a adesão da Crimeia à Federação da Rússia, a Alemanha constatou que a confiança entre os participantes estava desfeita e que a reunião não podia realizar-se na sua forma habitual. Os Ocidentais decidiram anular, precipitadamente, a sua participação na Cúpula de Sochi e reuniram-se, sem a Rússia, em Haia (Holanda). O G8 menos 1 voltava ao G7.
Há 42 anos, a Cúpula concluía com uma breve declaração, indicando os assuntos econômicos que haviam sido abordados e sublinhando a coesão do bloco Ocidental. Rapidamente, esses comunicados foram alongados a fim de tranquilizar os investidores internacionais que nenhuma decisão se estava tomando nesta reunião secreta. A partir do convite à Rússia, e da chegada de inúmeros jornalistas, juntou-se uma declaração política visando mostrar que o mundo se unificava em torno de Washington. Depois, começou-se a publicar longas dissertações sobre o estado do mundo e a boa vontade dos poderosos em melhorá-lo. Mas, jamais, absolutamente nunca, qualquer decisão foi tomada pelo G8. No máximo, anunciaram-se compromissos que se apressaram a esquecer (como erradicar a fome no mundo), ou promulgaram-se Cartas que se apressaram a violar (sobre as Fontes abertas, por exemplo)
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A partir de 2001, o G8, que se proclama como um governo mundial paralelo às Nações Unidas, torna-se na realidade uma reunião de concertação sem quaisquer desafios. Nesta fotografia, interdita para publicação em vários países, vê-se o presidente Dmitri Medvedev embriagado na cimeira de 2011.

O que se tornou o G7

Dos nove membros oficiais do G7, 2 têm uma dupla voz : os Estados Unidos podem contar com o Presidente da Comissão Europeia, o Luxemburguês, Jean-Claude Juncker, o qual teve de demitir-se das suas funções de Primeiro-ministro depois de ter sido revelada a sua pertença à Gládio (serviço secreto da OTAN). A Alemanha, por sua vez, apoia-se no presidente do Conselho Europeu, o polaco (polonês-br) Donald Tusk, cuja família está ligada desde o início da Guerra Fria à dos Merkel.
Agora, o G7 é uma simples reunião de formatação. Os Estados Unidos e a Alemanha indicam elementos de linguagem que os seus vassalos são instados a adoptar. Milhares de jornalistas assistem a esta grande missa. Em última análise, a Cúpula de Ise-Shima publicou uma longa declaração político-económica e seis documentos anexos que refletem a linguagem das elites dos EUA. Tudo aí é perfeito, na aparência pelo menos, já que uma leitura aprofundada –-como nós iremos constatar---é, pelo contrário, escandalosa.
Na introdução da sua declaração, os membros do G7 sublinham os seus valores comuns, dos quais os quatro principais são : 
- a liberdade
 
- a democracia
 
- o estado de direito 
- o respeito pelos Direitos do homem.
 
Depois, eles afirmam a sua capacidade para garantir
 
- a paz
 
- a segurança
 
- e a prosperidade do mundo.
 
Por fim, eles designam a sua prioridade :
 
- o crescimento econômico global.
Até uma criança compreende sem dificuldade que, ao afirmar, aqui, que a sua prioridade é o crescimento econômico global, estes «importantes personagens» se estão borrifando para os ideais e para os objetivos que proclamam.
(Leia a parte 2 na próxima publicação)

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