quinta-feira, 26 de setembro de 2019

O 20º aniversário do bombardeio da OTAN à Iugoslávia, apresentado como “intervenção humanitária”

20 anos da Guerra da Iugoslávia: A guerra genocida dos EUA e a destruição do socialismo

por Michel Chossudovsky e John McMurtry | Global Research
Revista Opera - 19 de setembro, 2019

(Foto: Official United States Marine Corps)
A guerra da OTAN contra a Iugoslávia, que culminou no bombardeio de 78 dias a cidades e infraestruturas históricas – como de costume sob pretextos de atrocidades e muita propaganda –, está completando seu 20º aniversário.
O triste aniversário é admiravelmente lembrado pelos membros da Science for Peace com o propósito de prevenir os próximos crimes de guerra da OTAN apresentados como “intervenção humanitária”, que ninguém sabe qual será.

Da Iugoslávia ao Iraque e à Líbia, onde isso vai parar? Observe que Trump agora busca uma aliança da OTAN com o Brasil de Bolsonaro – talvez para apoiar um bombardeio da Venezuela ou de qualquer outra sociedade, incluindo o povo brasileiro, caso este não se renda à colonização corporativa global liderada pelos EUA. 

O genocídio é a lógica indescritível dos crimes de guerra em série sob o Direito internacional.

Por isso, é importante recordar a longa guerra de desestabilização econômica e financeira – ocorrida nos anos anteriores e posteriores ao bombardeio da OTAN em 1999 – que destruiu todas as estruturas de controle social e trabalhista desenvolvidas pelo socialismo de Estado da Iugoslávia federal, após 1945, para solucionar as intermináveis guerras étnicas balcânicas de sua história pregressa.

Esse projeto é um tabu – o genocídio promovido pelos EUA contra qualquer sociedade socialista como uma política estatal encoberta. A “liberdade” e os “direitos humanos” são máscaras invertidas, enfiadas incansavelmente na cabeça das pessoas. Dessa forma, a sucessão ininterrupta de crimes internacionais dos EUA é encoberta até hoje pela lei. Assim também, a Iugoslávia federal, outrora a inveja do mundo em termos de progresso social democrático, foi destruída passo a passo. Suas infraestruturas sociais foram desmanteladas por uma guerra financeira promovida incessantemente pelos EUA em todas as frentes, em que o bombardeio da OTAN em 1999 foi apenas o acontecimento mais evidente do genocídio socialista.

Testemunha reprimida da morte de um socialismo multicultural

Abaixo, um excerto da longa análise do professor de Economia da Universidade de Ottawa (emérito), Michel Chossudovsky, que fornece uma linha direta minimalista da guerra efetivamente genocida contra todas as instituições não regidas pelo lucro de uma sociedade socialista, sendo a Iugoslávia um caso paradigmático. Os trechos selecionados são de um artigo de Michel Chossudovsky de 1996 (atualizado em 2002):

“Enquanto tropas fortemente armadas dos EUA e da OTAN reforçavam a paz na Bósnia, a imprensa e os políticos retratavam a intervenção do Ocidente na antiga Iugoslávia como uma resposta nobre a um surto de massacres étnicos e violações dos direitos humanos. Na esteira dos Acordos de Paz de novembro de 1995 em Dayton, o Ocidente estava ansioso para retocar sua autoimagem como salvador dos eslavos do sul e continuar com ‘o trabalho de reconstrução’ dos novos ‘Estados soberanos’.
Porém, seguindo um padrão estabelecido desde o início, a situação dos Bálcãs foi propagandeada como o resultado de profundas tensões étnicas e religiosas enraizadas no decorrer da história. Da mesma forma, muito se falou sobre o ‘jogo de poder dos Bálcãs’ e o choque de personalidades políticas: ‘Tudjman e Milosevic estão rasgando a Bósnia-Herzegovina em pedaços’.
Perdidas na enxurrada de imagens e análises egoístas, estão as causas econômicas e sociais do conflito. A profunda crise econômica que precedeu a guerra civil foi esquecida há muito tempo. Os interesses estratégicos da Alemanha e dos EUA em lançar as bases para a desintegração da Iugoslávia nunca são mencionados, assim como o papel dos credores externos e das instituições financeiras internacionais. Aos olhos da mídia global, as potências ocidentais não têm responsabilidade pelo empobrecimento e destruição de uma nação de 24 milhões de pessoas. Assim, os Estados sucessores da Iugoslávia, devastados pela guerra, são deixados à mercê da ‘comunidade financeira’ internacional.
Enquanto o mundo se concentrava nos movimentos de tropas e cessar-fogo, as instituições financeiras internacionais estavam ocupadas cobrando a dívida externa da antiga Iugoslávia de seus Estados remanescentes, ao mesmo tempo em que transformavam os Bálcãs em um refúgio seguro para a livre iniciativa. Com um acordo de paz da Bósnia assegurado sob a posse de armas da OTAN, o Ocidente revelou, no final de 1995, um programa de ‘reconstrução’ que despojou aquele país brutalizado de sua soberania em um grau não visto na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial.
O genocídio do socialismo de mercado
A nova ‘constituição’, incluída como apêndice aos Acordos de Dayton, entregou as rédeas da política econômica às instituições de Bretton Woods e ao Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BERD), sediado em Londres. O FMI foi autorizado a nomear o primeiro presidente do Banco Central da Bósnia, que, tal como o alto representante, não pode ser cidadão da Bósnia-Herzegovina ou de um Estado vizinho e não pode conceder crédito via emissão de moeda, com um comitê monetário operando a estabilização cambial.
Enquanto o Banco Central estava sob custódia do FMI, o BERD, sediado em Londres, dirige a Comissão de Empresas Públicas, que desde 1996 supervisiona as operações de todas as empresas do setor público na Bósnia, incluindo energia, água, serviços postais, telecomunicações e transporte. O presidente do BERD nomeia o presidente da comissão e é responsável pela reestruturação do setor público, ou seja, a venda de ativos estatais e sociais e a aquisição de fundos de investimento de longo prazo. Os credores ocidentais criaram explicitamente o BERD ‘para dar uma dimensão distintamente política aos empréstimos’.
Enquanto o Ocidente proclama seu apoio à democracia, o poder político real está nas mãos de um ‘Estado’ bósnio paralelo, cujos cargos executivos são ocupados por não cidadãos. Os credores ocidentais incorporaram seus interesses a uma constituição escrita apressadamente sob seus auspícios. A neocolonização da Bósnia foi um passo lógico dos esforços ocidentais para desfazer a experiência iugoslava de ‘socialismo de mercado’ e a autogestão dos trabalhadores e para impor o postulado do ‘livre mercado’.
O sucesso da Iugoslávia antes da desestabilização do sistema pela guerra financeira americana
A Iugoslávia socialista e multiétnica já foi uma potência industrial regional e um sucesso econômico. Nas duas décadas anteriores a 1980, o crescimento anual do PIB foi em média de 6,1%, o atendimento médico era gratuito, a taxa de alfabetização era de 91%, e a expectativa de vida era de 72 anos. Contudo, depois de uma década de assistências econômicas ocidentais e uma década de desintegração, guerra, boicote e embargo, as economias da ex-Iugoslávia se encontraram prostradas, e seus setores industriais foram desmantelados.
Apesar do não alinhamento de Belgrado e de suas relações comerciais extensas com a Comunidade Europeia e os EUA, o governo Reagan teve como alvo a economia iugoslava em uma Diretriz de Segurança Nacional de 1984 (NSDD 133) intitulada ‘Política dos EUA para a Iugoslávia’. Uma diretriz censurada semelhante – a NSDD 64, voltada para Europa Oriental – foi publicada em 1982 e desclassificada em 1990. Ela defendia ‘esforços expandidos para promover uma ‘revolução silenciosa’ para derrubar governos e partidos comunistas’, enquanto reintegrava os países da Europa Oriental em uma economia de mercado.
Os EUA já haviam se juntado aos outros credores internacionais de Belgrado ao impor uma primeira rodada de reformas macroeconômicas em 1980, pouco antes da morte do marechal Tito. Essa rodada inicial de reestruturação definiu todo o padrão.
Tendências secessionistas, alimentando-se de divisões sociais e étnicas, ganharam ímpeto precisamente durante um período de empobrecimento brutal da população iugoslava. As reformas econômicas ‘causaram estragos econômicos e políticos. O crescimento mais lento, o acúmulo da dívida externa e, especialmente, o custo do serviço dessa dívida e a desvalorização levaram a uma queda no padrão de vida médio dos iugoslavos. A crise econômica ameaçou a estabilidade política. Também ameaçava agravar as tensões étnicas latentes’.
Essas reformas, acompanhadas pela assinatura de acordos de reestruturação da dívida com os credores oficiais e comerciais, também serviram para enfraquecer as instituições do Estado federal, criando divisões políticas entre Belgrado e os governos das Repúblicas e províncias autônomas. Um arsenal de Reaganomics governou a Iugoslávia. E, durante toda a década de 1980, o FMI e o Banco Mundial periodicamente prescreviam doses adicionais na medida em que a economia iugoslava lentamente entrava em coma.
Desde o início, sucessivos programas patrocinados pelo FMI aceleraram a desintegração do setor industrial iugoslavo, avançando para zero em 1987-1988 e para uma taxa de crescimento negativa de 10% em 1990. Esse processo foi acompanhado pelo desmantelamento gradual do Estado de bem-estar iugoslavo, com todas as consequências sociais previsíveis. Enquanto isso, os acordos de reestruturação da dívida aumentaram a dívida externa, e uma desvalorização da moeda também atingiu duramente o padrão de vida dos iugoslavos.
A ‘terapia do choque’ começou em janeiro de 1990. Embora a inflação tenha impactado os lucros, o FMI determinou que os salários fossem congelados nos seus níveis de meados de novembro de 1989. Os preços continuaram a subir sem parar, e os salários reais entraram em colapso em 41% nos primeiros seis meses de 1990.
O FMI também controlou efetivamente o Banco Central iugoslavo. Sua rígida política monetária prejudicou ainda mais a capacidade do país de financiar seus programas econômicos e sociais. As receitas do Estado, que deveriam ter sido transferidas para as repúblicas, serviram para pagar a dívida de Belgrado com os clubes de Paris e Londres. As repúblicas foram largamente abandonadas à própria sorte. O pacote econômico foi lançado em janeiro de 1990 sob um acordo de stand-by do FMI (SBA) e um empréstimo de ajuste estrutural do Banco Mundial (SAL II). Cortes orçamentários exigindo o redirecionamento das receitas federais para o serviço da dívida levaram à suspensão do pagamento das transferências de Belgrado para os governos das Repúblicas e Províncias Autônomas.
De uma só vez, os reformadores haviam arquitetado o colapso final da estrutura fiscal federal da Iugoslávia e ferido de morte suas instituições políticas federais. Ao cortar as artérias financeiras entre Belgrado e as repúblicas, as reformas alimentaram tendências secessionistas que se alimentaram de fatores econômicos e também de divisões étnicas, garantindo virtualmente a secessão de fato das repúblicas. A crise orçamentária induzida pelo FMI criou um fait accompli econômico que preparou o caminho para a secessão formal da Croácia e da Eslovênia em junho de 1991.
Esmagada pela mão invisível
As reformas exigidas pelos credores de Belgrado também atingiram o coração do sistema de empresas socialmente gerenciadas e administradas por trabalhadores iugoslavos. Em 1990, a taxa anual de crescimento do PIB havia despencado para -7,5%. Em 1991, o PIB caiu mais 15%, e a produção industrial caiu 21%.
O programa de reestruturação exigido pelos credores de Belgrado tinha a intenção de revogar o sistema de empresas de propriedade social. A Lei das Empresas de 1989 exigia a abolição das ‘Organizações Básicas do Trabalho Associado’ (BAOL). Estas últimas eram unidades produtivas de propriedade social de gestão própria, com o Conselho dos Trabalhadores constituindo o principal órgão decisório. A Lei das Empresas de 1989 exigiu a transformação das BOALs em empresas capitalistas privadas, com o Conselho dos Trabalhadores substituído pelo chamado ‘Conselho Social’, sob o controle dos proprietários da empresa, incluindo seus credores.
O ataque à economia socialista também incluiu uma nova lei bancária destinada a desencadear a liquidação dos Bancos Associados de propriedade social. Em dois anos, mais da metade dos bancos do país haviam desaparecido, substituídos por ‘instituições independentes orientadas para o lucro’. Em 1990, todo o ‘sistema bancário de três níveis’, constituído pelo Banco Nacional da Iugoslávia, os bancos nacionais das oito repúblicas e províncias autônomas e os bancos comerciais haviam sido desmantelados por orientação do Banco Mundial. Uma Agência Federal de Seguros e Reabilitação Bancária foi estabelecida em junho de 1990 com um mandato para reestruturar e ‘reprivatizar’ os bancos reestruturados sob supervisão do Banco Mundial.
Terapia de choque para tomar os recursos naturais
Na esteira dos Acordos de Dayton de novembro de 1995, os credores ocidentais voltaram sua atenção para os ‘Estados sucessores’ da Iugoslávia. A dívida externa iugoslava havia sido cuidadosamente dividida e alocada às repúblicas sucessoras, que foram estranguladas em reescalonamentos de dívidas e em acordos de ajuste estrutural.
O consenso entre os doadores e agências internacionais foi que as reformas macroeconômicas do FMI, impostas à Iugoslávia federal, não haviam atingido seu objetivo, e uma nova terapia de choque era necessária para restaurar a ‘saúde econômica’ dos Estados sucessores da Iugoslávia. A administração neocolonial, imposta pelos Acordos de Dayton e apoiada pelo poder de fogo da OTAN, havia assegurado que o futuro da Bósnia seria determinado em Washington, Bonn e Bruxelas e não em Sarajevo.
Os governos e corporações ocidentais estavam mais interessados em obter acesso a recursos naturais estratégicos. Com a descoberta de reservas energéticas na região, a divisão da Bósnia entre a Federação da Bósnia-Herzegovina e a Bósnia-República Srpska pelos Acordos de Dayton passou a ter uma importância estratégica nova. Documentos nas mãos da Croácia e dos servo-bósnios indicam que depósitos de carvão e petróleo foram identificados na encosta oriental dos Alpes Dináricos, retomada dos sérvios de Krajina pelo exército croata apoiado pelos EUA durante ofensivas finais antes dos acordos de Dayton. Autoridades bósnias informaram que a Amoco, sediada em Chicago, estava entre diversas empresas estrangeiras, que posteriormente iniciaram pesquisas exploratórias na Bósnia.
Campos de petróleo ‘substanciais’ também se encontram na ‘parte sérvia da Croácia’, do outro lado do rio Sava, em Tuzla, a sede da zona militar dos EUA. A exploração desses campos continuou durante a guerra, mas o Banco Mundial e as multinacionais conduziram operações para manter os governos locais na escuridão, presumivelmente para impedir que eles tomassem em áreas potencialmente valiosas.
Com a atenção dedicada ao pagamento da dívida e às potenciais bonanças energéticas, tanto os EUA como a Alemanha se dedicaram aos seus próprios esforços – com 70 mil tropas da OTAN à disposição para ‘reforçar a paz'”.
A história se repete em padrões e não em eventos. O padrão de desestabilização criminosa dos EUA e a destruição de Estados sociais para roubar seus recursos soberanos é a história invisível do último século no mundo. A Iugoslávia é o exemplo que serve de pedra angular, como a tomada da Ucrânia pelos nazistas na Europa ainda é um tabu a ser analisado.
A OTAN, liderada pelos EUA, é a máquina de guerra transnacional do mundo que devora toda a riqueza pública, que, em conformidade com o regime metastático global, pode extorquir para aterrorizar a todos. A OTAN, que bombardeou a Iugoslávia há 20 anos e o Iraque e a Líbia, é também a maior poluidora, devastadora e destruidora do meio ambiente de que se tem notícia no mundo.
As forças armadas sem fronteiras dos EUA-OTAN comandam invisivelmente o caos climático sobre nós através dos continentes. Tem-se o maior aumento do número de emissões de carbono de todos os tempos, mas ele não é mencionado sequer pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.
O pesadelo pós-nazista da OTAN, sob a liderança dos EUA, deve ser a mais devastadora espoliação burguesa da Terra, com o petróleo como seu sangue e mortes em massa como seu método. Todavia, o mundo oficial permanece cego perante tal pesadelo, sob a égide santa do ‘nenhum de nós sabíamos do problema’.
O 20º aniversário do bombardeio da OTAN à Iugoslávia, apresentado como “intervenção humanitária”, deveria ser um trágico autor reconhecimento para todas as eras.


Tradução de Gabriel Deslandes
Michel Chossudovsky (1946) é economista canadiano, professor emérito de Economia da Universidade de Ottawa. Foi professor visitante de várias universidades da Europa Ocidental, do Sudeste Asiático e da América Latina. Também é membro dos conselhos de várias organizações internacionais e consultor de governos de países em desenvolvimento. É autor de The Globalization of Poverty and The New World Order (2003) e America’s “War on Terrorism” (2005). Seu livro mais recente é Towards a World War III Scenario: The Dangers of Nuclear War (2011). Em 2001, fundou, em Montreal, o Centre for Research on Globalization (CRG), do qual é diretor.

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Como os Houthis estão derrubando um Golias

25/9/2019, Pepe Escobar, Asia Times, de Beirute
“Está claro para nós que o Irã é responsável por esse ataque. Não há outra explicação plausível. Apoiamos as investigações em andamento para descobrir mais detalhes.”
A declaração acima não foi escrita por Franz Kafka. De fato, foi escrita por ente derivado de Kafka: a burocracia europeia com sede em Bruxelas. O trio Merkel-Macron-Johnson, representando Alemanha, França e Reino Unido, parece saber o que nenhuma “investigação em andamento” descobriu: que Teerã teria sido definitivamente responsável pelos dois ataques aéreos contra instalações sauditas de petróleo.
“Não há outra explicação plausível” equivale, traduzido, a “para ver se se consegue esconder o Iêmen”. O Iêmen só aparece como o centro de uma guerra cruel na Arábia Saudita, apoiada de fato por Washington e Londres, e guerreada com armas dos EUA e do Reino Unido, guerra que gerou horrível crise humanitária.
Portanto, Irã é culpado, sem prova alguma, fim da história, mesmo que a “investigação continue”.
Hassan Ali Al-Emad, estudioso do Iêmen e filho de importante líder tribal com ascendência sobre mais de dez clãs, pede licença para discordar. “De um ponto de vista militar, ninguém jamais levou a sério nossas forças no Iêmen. Talvez tenham começado a entendê-las, quando nossos mísseis atingiram a Aramco.”
Foto de satélite do governo dos EUA mostra danos à infraestrutura de petróleo e gás, infligidos por ataques com drones no fim de semana em Abqaig, dia 15/9/2019.
Para Al-Emad, “o povo iemenita foi cercado por um embargo. Por que os aeroportos do Iêmen permanecem fechados? Crianças morrem sem tratamento. Na atual guerra, a primeira porta [a ser fechada contra os inimigos] foi Damasco. A segunda, é o Iêmen.” Al-Emad considera que o secretário-geral do Hezbollah, Sayed Nasrallah, e os Houthis combatem o mesmo combate.
Al-Emad nasceu em Sana’a em família zaidita influenciada por práticas wahhabistas. Mas aos 20 anos, em 1997, converteu-se à Ahlulbayat (“A Família do Profeta”) após estudos comparativos entre sunitas, zaiditas e o Imamiyyah – o ramo do Islã xiita que acredita em 12 imãs. Al-Emad deixou o zaidismo, num gesto que se poderia interpretar como ato à Voltaire: porque a seita não admite análises críticas.
Conversei e partilhei pão – e hummus – com Al-Emad, em Beirute, durante a conferência New Horizon, na qual se reúnem acadêmicos do Líbano, Irã, Itália, Canadá, Rússia e Alemanha. Embora diga que não pode entrar em detalhes sobre segredos militares, Al-Emad confirmou: “Governos anteriores no Iêmen tinham mísseis; depois do 11/9, o Iêmen foi proibido de comprar armas da Rússia. Mas ainda tínhamos 400 mísseis em arsenais no Iêmen do Sul. Usamos 200 Scuds – o resto ainda está lá [risos].”
Al-Emad divide o armamento Houthi em três categorias: mísseis do antigo estoque; mísseis canibalizados que incorporam diferentes peças de reposição (“transformação feita no Iêmen”); e mísseis em que se usam novas tecnologias que se servem de engenharia reversa. E enfatizou: “Aceitamos ajuda de todos”, o que sugere que recebam ajuda não só de Teerã e Hezbollah.
Colunas de fumaça da instalação de petróleo da Aramco em Abqaiq, na província oriental da Arábia Saudita, após os ataques de 14 de setembro. Foto: AFP
A principal demanda de Al-Emad é realmente humanitária: “Solicitamos que o aeroporto de Sana’a seja reaberto para ajudar o povo iemenita”. E tem uma mensagem para a opinião pública global, de qual o grupo UE-3 obviamente não está ciente: “Arábia Saudita está em colapso, e os EUA arrastam na própria queda também o Reino Saudita.”
O verdadeiro perigo
No campo da energia, os corretores de energia do Golfo Pérsico que ouço há duas décadas como fontes confiáveis, confirmam que, ao contrário do que tem declarado o ministro saudita do petróleo Abdulazziz bin Salman, os danos do ataque pelos Houthis a Abqaiq podem perdurar não só por “meses”, mas mesmo por anos.
Como disse um corretor de Dubai: “Quando um oleoduto iraquiano foi danificado em meados da década dos 2000s, as bombas foram destruídas. São dois anos para substituir uma bomba, pois há grandes atrasos na entrega dos pedidos. Por esse motivo, os sauditas adquiriram bombas sobressalentes. Mas jamais sonharam que Abqaiq pudesse ser danificado. São de três a cinco anos para construir uma refinaria, e até mais. Até poderia acontecer em um mês, se todos os componentes e peças estivessem disponíveis ao mesmo tempo, no caso de se tratar tarefa de montar os componentes e as peças.”
Além disso, os sauditas agora só estão fornecendo petróleo mais pesado a seus clientes na Ásia. “Então”, acrescenta um corretor, “soubemos que os sauditas estavam comprando do Iraque 20 milhões de barris dos petróleos mais pesados. Mas, pelo que se sabia, os sauditas teriam armazenados até 160 milhões de barris/dia de petróleo. O que significa tudo isso? Ou que não havia petróleo armazenado; ou aquele petróleo teve que passar por Abqaiq para poder ser vendido.”
Al-Emad disse-me explicitamente que os ataques dos Houthis não terminaram; que mais enxames de drones são inevitáveis.
Agora, comparem o que me disse Al-Emad e a seguinte análise que ouvi de um corretor: “Se na próxima onda de ataques com drones forem eliminados 18 milhões de barris/dia de petróleo saudita, a catástrofe teria proporções épicas. Os EUA não querem que os Houthis acreditem que têm todo esse poder, por efeito de uma quarta de quarta geração, com drones, contra os quais não há defesa possível. Mas os Houthis já sabem disso. É onde um pequeno país pode derrubar não apenas um Golias, como os EUA, mas também o mundo inteiro.”
Questionados sobre as consequências de um possível ataque dos EUA ao Irã – retomando a famosa observação de Robert Gates em 2010, de que “os sauditas querem combater o Irã, até o último americano” – o consenso entre os corretores é que seria outro desastre.
“Não seria possível colocar petróleo iraniano em linha para o mundo, para substituir o resto do que foi destruído”, disse um deles.
Observou que o senador Lindsey Graham “disse que queria destruir as refinarias iranianas, mas não os poços de petróleo. Esse ponto é muito importante. O horror dos horrores seria uma guerra de petróleo, com todos destruindo os poços uns dos outros, até que não restar nada.”
Com o “horror dos horrores” pendurado por um fio, os cegos que conduzem os cegos seguem estritamente o roteiro: Culpe o Irã e ignore o Iêmen.*****

O Iêmen fez os sauditas recorrerem aos seus mestres americanos, como covardes que são!

Un niño yemení al lado de una casa demolida por ataques saudíes contra Saná, la capital de Yemen, 1 de febrero de 2019. (Foto: AFP)
Un niño yemení al lado de una casa demolida por ataques saudíes contra Saná, la capital de Yemen, 1 de febrero de 2019. (Foto: AFP)


O movimento popular Ansarolá ressalta que a Arábia Saudita   teve que recorrer aos Estados Unidos diante do fracasso no Iêmen.
Os Estados Unidos facilitaram a chegada ao poder do ministro de Estado das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Adel al-Yubeir, para executar o plano americano de uma intervenção militar contra o Iêmen, segundo o porta-voz de Ansarolá, Muhamad Abdel Salam em uma série de Posts  no Twitter.
Abdel Salam, depois de qualificar como "mentiroso" o titular saudita, ressaltou o fato de Al-Yubeir pensar que venceria rápido  a brutal ofensiva que Riad lidera desde 2015 contra o povo iemenita.
"Quando o reino de Al-Yubeir se rompeu diante da força da resistência do povo iemenita, não havia outra escolha senão fugir para debaixo das asas de seus senhores americanos", acrescentou o porta-voz do movimento popular iemenita.
Os comentários de Abdel Salam vieram depois que Al-Yubeir, em declarações a jornalistas na sede das Nações Unidas (ONU) na cidade dos EUA de Nova York, elogiou a política do presidente dos EUA, Donald Trump, no oriente médio
Em outra ocasião, o porta-voz de Ansarolá lamentou, na segunda-feira,  que a Arábia Saudita pretende continuar sua agressão contra o Iêmen , em que pese as forças iemenitas terem proposto suspender ataques de retaliação contra Riad.
De fato, pelos atentados na quarta-feira contra uma área residencial no sudoeste do Iêmen, pelo menos 16 pessoas, incluindo sete crianças, perderam a vida .
Dadas essas atrocidades que Riad e seus aliados cometem contra o Iêmen diariamente e para forçá-los a interromper sua agressão, o Exército do Iêmen e Ansarolá aumentaram seus ataques de retaliação contra a infraestrutura vital do reino árabe nos últimos meses, colocando em check o regime do agressor Saudita.

Iêmen: agressão saudita deixou 140.000 mortos e civis feridos

Ataque aéreo saudita contra mercado iemenita mata 14 civis |  HISPANTV

O ministro da Saúde do Iêmen calcula em 140.000 o saldo de vítimas civis contado desde março de 2015, quando começou a agressão da Arábia Saudita ao Iêmen.
"Mais de 140.000 civis, incluindo crianças e mulheres, foram mortos ou feridos, como resultado da agressão saudita-americana contra o Iêmen", disse o ministro da Saúde do Iêmen, Dr. Taha al-Mutavakel, em declarações. coletados nesta quarta-feira pela rede local Al-Masirah.
O Ministro  da Saúde condenou os bombardeios sistemáticos da Arábia Saudita e seus aliados contra hospitais e instalações médicas no Iêmen e afirmou que, desde o início da campanha militar saudita, pelo menos 700 centros de saúde iemenitas foram completamente destruídos ou danificados .
No entanto, o Dr. Al-Mutavakel enfatizou que o setor de saúde do Iêmen ainda está de pé e continuará resistindo firmemente, apesar dos ataques sauditas contra a infraestrutura sensível do Iêmen.
Desde março de 2015, o regime saudita e seus aliados lançam ataques diários contra o povo iemenita, muitos dos quais são classificados como crimes de guerra, pelo uso de armas proibidas, compradas  principalmente de países ocidentais, como os Estados Unidos. , Reino Unido e França.

O Ministério da Saúde do Iêmen denunciou repetidamente que o bloqueio imposto pelo regime de Al Saud contra o Iêmen acentuou a crise humanitária no Iêmen, considerado o país mais pobre do mundo árabe.
Os números oferecidos em junho passado pelo Projeto de Localização e Dados de Conflitos Armados (Acled) indicam que a brutal campanha militar da Arábia Saudita e seus parceiros matou mais de 91.000 mortos no Iêmen.
A Organização das Nações Unidas (ONU), por sua vez, calculou que, se a guerra não parar, o número de mortes poderá chegar a 500.000 até o final de 2020.
mnz / ncl / rb