Supõe-se que as organizações inter-governamentais deveriam unir-se aos esforços dos Estados-membros para certos objetivos que estes não pudessem alcançar sozinhos. Logo, a partir daí, deveríamos poder concluir que a ONU e a UE coordenam a luta contra o Daesh (E.I.). Contudo, estas duas organizações, na realidade, dificultam e prejudicam os esforços dos atores no terreno, e mascaram o apoio de certos Estados ao terrorismo internacional.
Treze anos mais tarde, o fenômeno repetiu-se por ocasião do surgimento do auto proclamado califado pelo Daesh (E.I) [1]. Trata-se, agora, menos de lutar contra uma ameaça terrorista difusa que combater um "Estado" bem real, embora não reconhecido, e lutar contra o tráfico de armas, de dinheiro e de combatentes.
Jeffrey Feltman, o director dos Assuntos Políticos da ONU, e Federica Mogherini, a Alta-Representante da União para os Negócios Estrangeiros e política de Segurança. Estes altos-funcionários trabalham para a paz, ou mentem em proveito do imperialismo dos Estados Unidos ? |
Por Thierry Meyssan
Durante a Guerra Fria, os financiamentos para as pesquisa na área das ciências sociais e políticas eram orientadas para os estudos do «totalitarismo» — ou seja, para aquelas pesquisas cujo viés teórico tratava de equiparar o nazismo ao stalinismo —, hoje , após os atentados de 11 de Setembro de 2001, os financiamentos acadêmicos são reorientados para o tema do «terrorismo», . De repente, milhares de peritos surgiram, pagos para justificar a posteriori a versão oficial dos atentados, as guerras no Afeganistão e a guerra contra o Iraque, e a proclamação do Patriot Act. (é um controverso ato do Congresso dos Estados Unidos que o presidente George W. Bush assinou, tornando-o lei, em 26 de outubro de 2001. Nota do Blog). Treze anos mais tarde, o fenômeno repetiu-se por ocasião do surgimento do auto proclamado califado pelo Daesh (E.I) [1]. Trata-se, agora, menos de lutar contra uma ameaça terrorista difusa que combater um "Estado" bem real, embora não reconhecido, e lutar contra o tráfico de armas, de dinheiro e de combatentes.
Duas organizações inter-governamentais, a ONU e a União Europeia, concluíram um trabalho gigantesco para definir uma estratégia de «prevenção do extremismo violento», e lutar contra o Daesh (E.I.). A Assembleia-geral das Nações Unidas examinará esses trabalhos entre os dias 30 de Junho e a 1 de Julho. Pode-se, evidentemente, temer que o projeto de «prevenção do extremismo violento» seja nada mais que uma justificação para a repressão de toda a oposição.
Ao ler os documentos disponíveis — os (1)do Secretário-geral da ONU, (2)os do Comitê 1373 de luta antiterrorista, (3) os da Equipe de apoio analítico e vigilância das sanções, e os (4) do Serviço de ação exterior da União Europeia —, não se pode sentir outra coisa senão uma espécie de vertigem diante do que se assemelha menos a um plano de batalha, do que à elaboração de uma retórica politicamente correta.
A ONU e a União Europeia baseiam-se exclusivamente em fontes ocidentais, afastadas do terreno o, onde se desenvolve o fato, e não nunca mencionam as informações transmitidas pelo Iraque, pela Síria e pela Rússia, aliás, sequer mencionam a existência dessas importantes fontes. Todas essas informações foram apresentadas ao Conselho de Segurança pelos embaixadores Mohamed Ali Alhakim, Bachar Ja’afari e Vitali Tchourkin e estão a disposição de todos os Estados que desejam consultá-las.
A Síria e, em menor medida, o Iraque forneceram (fornecem), diariamente, informações sobre as transferências de dinheiro, o tráfico de armas e a mobilidade dos terroristas/mercenários. Por sua vez, a Rússia fez cinco relatórios sobre o assunto, dividido conforme abaixo:
1. o Comércio ilegal de hidrocarbonetos [5] ;
2. o recrutamento de combatentes terroristas estrangeiros [6];
3. o tráfico de antiguidades[7] ;
4. os fornecimentos de armas e de munições[8] ;
5. os componentes destinados ao fabrico de engenhos explosivos improvisados[9].
1. o Comércio ilegal de hidrocarbonetos [5] ;
2. o recrutamento de combatentes terroristas estrangeiros [6];
3. o tráfico de antiguidades[7] ;
4. os fornecimentos de armas e de munições[8] ;
5. os componentes destinados ao fabrico de engenhos explosivos improvisados[9].
O conjunto destes documentos aponta diretamente a responsabilidade da Arábia Saudita, o Qatar, e a Turquia. Estes três Estados –-aliados de Washington--- responderam negando as acusações, sem contudo entrar no mérito das imputações dos relatórios.
O Daesh (E.I.) funciona como uma luva para quatro objetivos da estratégia dos Estados Unidos, quer seja em relação à criação da guerra civil sunitas/xiitas no Iraque, como o projeto de dividir o Iraque em três territórios, o bloqueio da estrada que liga o Irã ao Líbano, assim com o projeto de derrubar o governo da República Árabe Síria. Deste modo, podemos concluir: se o Daesh não existisse, Washington iria inventá-lo!
É um erro acreditar que o silêncio (manipulação) sobre os documentos acima citados é consequência de preconceito anti-iraquiano, anti-sírio e anti-russo. Com efeito, as fontes ocidentais, públicas e privadas, que confirmam os relatórios e informes são igualmente ignoradas. Isto está sucedendo, por exemplo, com os documentos desclassificados da U.S. Defense Intelligence Agency [10] (DIA, ou Agência de Inteligência da Defesa- ndT) e com os artigos da Jane’s, a revista preferida dos oficiais da OTAN. Não, a ONU e a UE abordam a questão do Daesh (EI) com um princípio simples e claro : o Daesh ("Estado" Islamico) teria surgido de maneira espontânea, sem ajuda externa.
A cegueira deliberada das Nações Unidas é tal que o seu Secretário-geral, Ban Ki-moon, atribuí à Coligação Internacional, conduzida por Washington, as vitórias obtidas pelo sacrifício dos exércitos Iraquiano e árabe da Síria, da Resistência libanesa, assim como pelo envolvimento e apoio do exército Russo.
O «resultado» dos quinze anos de «guerra contra o terror», segundo os documentos oficiais , seria a morte de mais de 1 milhão e meio de civis para liquidar 65mil a 90mil presumíveis terroristas, e haver passado de um ataque terrorista difuso (Al-Qaida) para um Estado terrorista (Daesh)! em outras palavras, depois de nos terem explicado que uma quinzena de Estados-membros da ONU «faliram»(Failled States), apesar de anos de ajuda internacional, tentam nos levar a crer que, em poucos meses, um grupo de combatentes incultos conseguiu, sozinho, sem ajuda de ninguém, criar um Estado que ameaça a Paz mundial.
A Al-Qaida passou, de forma discreta, do estatuto de «ameaça» para ao de «aliado», segundo vimos. Ou seja: Al-Qaida financiou o AKP na Turquia[12], ajudou a OTAN a derrubar Muammar el-Qaddafi, na Líbia, e a fazer um «bom trabalho» na Síria, ao mesmo tempo que permanecia na lista de organizações terroristas da ONU. Ninguém se deu ao trabalho de explicar esta evolução e todas as contradições que implica. Pouco importa, uma vez que o estatuto de «inimigo» é, agora, atribuído ao Daesh.
No decurso dos últimos quinze anos, temos visto o campo Ocidental desenvolver a sua teoria do 11-de- Setembro e da ameaça da Al-Qaida. Após a publicação desta história da carochinha para crianças [13] e apesar dos atentados que se multiplicaram, vimos a opiniões pública duvidar da sinceridade dos seus governos e se afastar pouco a pouco das declarações oficiais ao ponto de, atualmente, não acreditarem mais nelas. Muito embora alguns chefes de Estado — como Cuba, Irã [14] e Venezuela — terem publicamente declarado que não acreditam na versão oficial dos fatos.
Sabendo que hoje em dia o ponto de vista que contradiz a "verdade oficial" é defendido por vários Estados, entre os quais dois membros permanentes do Conselho de Segurança — a Rússia e a China —, aceitaremos passar os próximos quinze anos deixando-nos arrastar a esquizofrenia com o conto da «ameaça do Daesh» ?
[1] También designado en la prensa occidental como Estado Islámico o por las siglas EI, EIIL, ISIL o ISIS. Nota de la Red Voltaire.
[2] «Primer informe de la ONU sobre el "Emirato Islámico"»; «Segundo informe de la ONU sobre el "Emirato Islámico"», Red Voltaire , 9 de febrero y 31 de mayo de 2016.
[3] «Informe del Equipo de Apoyo Analítico y Vigilancia de las Sanciones dimanante de las resoluciones del Consejo de Seguridad 1526 (2004) y 2253 (2015) relativas al Estado Islámico en el Iraq y el Levante (EIIL) (Da’esh), Al-Qaida y los talibanes y personas y entidades asociadas», 4 de marzo de 2016.
[4] “Towards a comprehensive EU approach to the Syrian crisis”, Voltaire Network, 24 June 2013. “Elements for an EU regional strategy for Syria and Iraq as well as the Da’esh threat” (Confidential leaked document),Voltaire Network, 6 February 2015. “Council conclusions on the EU Regional Strategy for Syria and Iraq as well as the ISIL/Da’esh threat”,Voltaire Network, 16 March 2015. “One year after: the impact of the EU Regional Strategy for Syria, Iraq and against Da’esh” (European External Action Service. Mena Directorate. Working document), Voltaire Network, 10 May 2016. “EU Council conclusions on the EU Regional Strategy for Syria and Iraq as well as the Da’esh threat”, Voltaire Network, 23 May 2016.
[5] «Información sobre el comercio ilegal de hidrocarburos por el Estado Islámico en el Iraq y el Levante (EIIL)», Red Voltaire , 29 de enero de 2016.
[6] «Informe de la inteligencia rusa sobre actual apoyo de Turquía al Emirato Islámico», Red Voltaire , 10 de febrero de 2016.
[7] «Informe de inteligencia de Rusia sobre el tráfico de antigüedades de Daesh», Red Voltaire , 8 de marzo de 2016.
[8] «Segundo informe de la inteligencia rusa sobre actual apoyo de Turquía al Emirato Islámico», Red Voltaire , 18 de marzo de 2016.
[9] «Tercer informe de la inteligencia rusa sobre actual apoyo de Turquía al Emirato Islámico», Red Voltaire , 17 de mayo de 2016.
[10] También conocida como DIA, es la agencia de inteligencia del Pentágono. Nota de la Red Voltaire. “The DIA report on jihadists in the Levant” (FOIA document), August 12th, 2012. Download.
[11] «Estados Unidos viola el cese de hostilidades en Siria y arma a al-Qaeda », 25 de abril de 2016; «¿Quién arma a los yihadistas durante el cese de hostilidades en Siria?» (video), por Thierry Meyssan, La televisión estatal siria , Red Voltaire , 1ro de mayo de 2016.
[12] «El primer ministro turco se reunía en secreto con el banquero de al-Qaeda»; «Al-Qaeda, eterno auxiliar de la OTAN », por Thierry Meyssan, Al-Watan (Siria) , Red Voltaire , 2 de enero y 6 de enero de 2014.
[13] La Gran impostura, La esfera de los libros, 2002.
[14] « Déclaration de Mahmoud Ahmadinejad à la 67e Assemblée générale de l’ONU », par Mahmoud Ahmadinejad, Réseau Voltaire, 26 septembre 2012. «Al-Qaeda en contra de la posición de Ahmadinejad sobre el 11 de septiembre», Red Voltaire , 6 de octubre de 2011.
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