quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Líbia é o nosso futuro

por Luís Britto Garcia [*]

1 Nenhum homem é uma ilha; a morte de qualquer pessoa afecta-me, pregava John Donne. Nenhum país está fora do planeta: o genocídio cometido contra um povo assassina-me. Tudo o que acontece na Líbia fere-me, prejudica-te, afecta-nos.

2 Falemos como homens e não como chacais ou monopólios mediáticos. A Líbia não é bombardeada para proteger a sua população civil. Nenhum povo é protegido lançando-lhe explosivos nem despedaçando-o com 4.300 ataques "humanitários" durante mais de cem dias. A líbia é incinerada para lhe roubarem seu petróleo, suas reservas internacionais, suas águas subterrâneas. Se o latrocínio triunfa, todo país com seus recursos será saqueado. Não perguntes sobre quem caem as bombas: cairão sobre ti.

3 Encarceraram os comunistas; nada poderia importar-me menos porque não sou comunista, ironizava Bertold Brecht. O Conselho de Segurança da ONU aprova uma zona de "exclusão aérea" a favor dos secessionistas líbios, mas permite um bombardeio infernal; a China e a Rússia abstêm-se de vetar a medida porque como não são líbios nada poderia importar-lhes menos. De imediato os Estados Unidos ameaçam a China com a declaração de uma "moratória técnica" da sua impagável dívida externa e agridem o Paquistão. A China replica que "toda nova ingerência dos Estados Unidos no Paquistão será interpretada como acto não amistoso" e arma o país islâmico com cinquenta caças JF-17. Nenhum povo está fora da humanidade: se não vetas a agressão contra outro, a desencadeias contra ti.

4 Conta Tólstoi que um urso ataca dois camponeses: um sobre a uma árvore, cedendo ao outro o privilégio de defender-se só. Este vence e conta que as últimas palavras da fera foram: "Quem te abandona não é teu amigo". A Liga Árabe, a União Africana, a OPEP trepam a árvore da indecisão esperando a vez de serem esquartejadas. Ao abandonar as vítimas te abandonas.

5 Como nos tempos em que o fascismo assaltava a África, hoje a Itália, Alemanha, Inglaterra, França e outros pistoleiros da NATO sacrificam armamentos e efectivos numa guerra que só favorecerá os Estados Unidos. Impedido pelo seu Congresso de investir abertamente fundos no conflito, Obama queixa-se dos seus cúmplices da NATO porque sacrificam à despesa militar menos de 2% dos seus PIB e ordena-lhes que imolem pelo menos 5% ("El futuro de la Otan", Editorial El País, 15/06/2011). São instruções inaplicáveis quando o protesto social, a crise financeira, a dívida pública impagável e o próprio gasto armamentista minam os governos do G-7. Perante tais exigências, a Itália opta por não participar mais na associação criminosa (agavillamiento). A Agência Internacional autoriza a gastar das reservas que não tem 60 milhões de barris de petróleo em dois meses. Os Estados Unidos desbaratam em 2010 uma despesa militar de 698 mil milhões de dólares, 43% do total mundial de 1.600 mil milhões de dólares (Confirmado.net 17/06/2011). Assim se dilapidam em forma de morte os recursos que deveriam salvar a vida. Se montas guerras para devorar o outro, as guerras te devorarão a ti.

6 Como na época de Ali Babá e os quarenta ladrões, os banqueiros internacionais que tão benevolamente receberam 270 mil milhões de dólares em depósitos e reservas da Líbia assaltam o botim e estudam trespassá-lo àqueles que tentam assassinar os legítimos donos. Também criam para os monárquicos de Bengazi um banco central e uma divisa secessionista. São os mesmos financistas cujo latrocínio custa à humanidade o actual colapso económico: não indague a quem roubam os banqueiros: desfalcam a ti.

7
No estilo das blitzkrieg nazis, o presidente dos Estados Unidos inicia guerra sem a autorização dos seus legisladores e prolonga-as ignorando o Congresso, onde dez deputados denunciam o presidente e o secretário da Defesa cessante Robert Gates e vetam os fundos para a agressão contra a Líbia tachando-a de ilegal e inconstitucional. Não averigúes se deves impor a tiros a democracia a outros povos: acaba antes com os vestígios dela que restavam no seu próprio país.

8 Cada homem é peça do continente, parte do todo, insiste John Donne. Os inimigos do homem não cessam de fragmentá-lo para destruí-lo melhor. Os impérios, que são quebra-cabeças instáveis de peças juntadas à força, no exterior fomentam ou inventam o conflito de civilização contra civilização, o rancor do iraniano contra o curdo, do xiíta contra o sunita, do hindu contra o muçulmano, do sérvio contra o croata, do descendente contra o ascendente, do ancestral contra o menos ancestral, do líbio contra o líbio, do venezuelano contra o venezuelano. De cada variante cultural pretendem fazer um paisinho e de cada paisinho um protectorado. Quem nos separa nos faz em pedaços, quem me divide me mutila. Não indagues como despedaçam a Líbia: esquartejam a ti.

9 Toda pilhagem arranca com promessa de golpe fácil e atola-se na carnificina insolúvel. As guerras do Afeganistão, Iraque, Líbia, Iémen e a agressão contra o Paquistão arrancam passeios triunfais, espatifam-se em holocaustos catastróficos e nenhuma conclui nem se decide. A resistência dos seus povos retarda a imolação da qual não te livrarão nem vetos omitidos nem organizações abstencionistas nem banqueiros carteiristas nem Congressos nulificados. Não perguntes porque são assassinados os patriotas líbios: estão a morrer por ti.
25/Junho/2011
[*] Escritor venezuelano.

O original encontra-se em http://luisbrittogarcia.blogspot.com/ e a versão em francês em
http://luisbrittogarcia-fr.blogspot.com/


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

terça-feira, 28 de junho de 2011

A longa marcha contra Pentágono/OTAN


Afinal, o que realmente resultou da reunião anual da Organização de Cooperação de Xangai [ing. Shanghai Cooperation Organisation (SCO)], semana passada, no Cazaquistão?


Comparada às expectativas ensandecidas, foi coisa bem prudente e moderada: mais um ‘mapa do caminho’, que mudança de jogo. Mesmo assim, China, Rússia e quatro ‘stãos’ da Ásia Central – Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão – foram bem além do cardápio previsível de cooperação em questões de segurança/economia.

Nursultan Nazarbayev, o “leopardo da neve” do Cazaquistão, anfitrião e presidente do encontro, disse detalhadamente que a Organização de Cooperação de Xangai continuará a combater o terrorismo e a ciber-narco-criminalidade, ao mesmo tempo em que tentará equacionar a delicada questão da distribuição da água na Ásia Central – capítulo chave das guerras globais pela água, que estão começando.

Mas disse também que a Organização de Cooperação de Xangai é favorável a uma nova moeda global. E tem mais. Assinou-se novo memorando, segundo o qual a Organização de Cooperação de Xangai iniciará consultas com Índia, Paquistão e Irã – que se candidataram a membros plenos da SCO.

Não significa que seja negócio fechado. O Irã é candidato a membro desde 2008. Ainda não foi aceito, porque está sob sanções impostas pelo ocidente via ONU.

O Paquistão, por outro lado, mal pode esperar para ser incluído. É o que se vê pelos efusivos elogios disparados pelo presidente Asif Ali Zardari. Uma SCO acolhedora com certeza ganha de uma Washington invasora serial e dependente terminal de aviões-robôs-drones.

Pequim, por sua vez, terá muito cuidado ao sopesar a admissão da Índia e do Paquistão. Segundo Wu Hongwei da Academia Chinesa de Ciências Sociais, “se se unirem à Organização de Cooperação de Xangai, há o risco de que levem para lá suas disputas não resolvidas.”

O Afeganistão candidatou-se ao status de observador. Provavelmente será aceito. E é quando o jogo fica mais emocionante.

Façam dinheiro, não façam guerra

Acompanhar as mídias chinesa e russa tem sido absolutamente fascinante. Para muitas mentes críticas em Moscou, incomodadas porque a Rússia parece não saber diversificar a economia, a Organização de Cooperação de Xangai é hoje fundamentalmente chinesa.

Faz sentido. Embora o comércio bilateral esteja bombando, o coletivo-liderança em Pequim vê Moscou como pouco mais que fornecedor-gigante de energia/commodities que alimenta o dragão. Moscou, por sua vez quer/precisa muito de investimentos da alta tecnologia chinesa em seu combalido setor industrial.

Rússia e China têm programa estratégico bilateral até 2018. Basicamente, envolve desenvolvimento/produção de petróleo, gás e minérios na Rússia – na Sibéria e no extremo oriente do país – e processamento na China.

O oleodutostão principal, o nome do jogo nessa região, é o imenso oleoduto Sibéria Oriental-Oceano Pacífico [ing. East Siberia-Pacific Ocean, ESPO. Mapa da região, emhttp://www.hydrocarbons-technology.com/projects/espopipeline/espopipeline2.html) – de Skovorodino, na Rússia, até Mohe, na China, mais dois gasodutos.

O que o Oleodutostão encobre é a questão extremamente sensível de quem será o cão alfa econômico na Ásia Central. Ninguém precisa ser a Moça do Tempo, para ver de que lado sopram esses ventos de estepe. Como conseguir equilibrar o jogo estratégico da Rússia na Ásia Central e a voracidade econômica da China?

Por exemplo: a Organização de Cooperação de Xangai quer criar um banco de desenvolvimento. Moscou quer ligá-lo ao Banco de Desenvolvimento Eurasiano – cujos maiores acionistas são a Rússia e o Cazaquistão. Pequim quer que seja instrumento absolutamente novo.

E num plano geoestratégico, a história é completamente diferente.

A mídia estatal em Pequim estava em êxtase, porque China e Rússia já trabalhavam para aprofundar sua parceria estratégica, logo no dia seguinte ao encontro da Organização de Colaboração de Xangai, em declaração conjunta de Hu Jintao presidente da China, e Dmitry Medvedev, da Rúsia.

Em vez dos bombardeios da OTAN, Rússia/China são pela “não interferência” e por “menos ação militar” na Coreia e, sobretudo, no Oriente Médio/Norte da África [ing. (Middle East/North Africa, MENA).

Em vez das intromissões de Washington em questões entre a China e países do sudeste da Ásia, Rússia/China são a favor dessas “parcerias estratégicas”, que veem como “fator chave para a paz e a estabilidade da região do Pacífico asiático”.

Em vez dos planos de Washington de instalar escudos antimísseis na Europa do leste, Rússia/China privilegiam “soluções políticas e diplomáticas”.

Em vez de demonizar o Irã, Rússia/China não se cansam de repetir que o Irã tem pleno direito de desenvolver seu programa nuclear para finalidades pacíficas.

E nem é preciso dizer que, além de opor-se ao bombardeio da OTAN contra a Líbia, Rússia/China são contra qualquer possível resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria.

Tampouco é preciso dizer que nada disso desce muito bem goela abaixo da Casa Branca e do Departamento de Estado, ao mesmo tempo em que a teoria da Dominação de Pleno Espectro [ing. Full Spectrum Dominance] do Pentágono vai-se pelo ralo. A cereja do bolo foi a segunda declaração de Hu e Medvedev: China e Rússia aprofundarão a cooperação militar.

Mais um buraco na cerca

E há também o “Rosebud” desse filme “Cidadão Eurásia” – que é o invencível labirinto das encruzilhadas afegãs. Washington está em total “surge” de operação-gigante de Relações Públicas, para tentar convencer a opinião pública mundial de que os EUA estão empenhados em “conversações” com os Talibã ‘porque’ a OTAN está(ria) vencendo a guerra.

O que virá agora? O Mulá Omar convidado para um Arroz à Cabul, em jantar de recepção a chefe de Estado na Casa Branca?

A realidade é um pouco mais complexa. O astuto Hamid Karzai, presidente do Afeganistão, lá estava, na reunião da Organização de Cooperação de Xangai, fazendo lobby a favor da candidatura de seu país ao status de observador. Karzai sabe que nenhuma solução realista para o Afeganistão virá de Washington. Ele tem de envolver na discussão a Organização de Cooperação de Xangai.

Nazarbayev, o “leopardo da neve” cazaque, entregou o jogo, ao dizer que “é possível que a Organização de Cooperação de Xangai venha a assumir responsabilidades em várias questões que envolvem o Afeganistão, depois da retirada dos soldados da coalizão em 2014”.

A primeira parte do comentário está perfeita. A segunda, não. Porque a hipótese de o Pentágono deixar o Afeganistão é simplesmente impensável... nos termos da Doutrina da Dominação de Pleno Espectro, do Pentágono.

Mesmo assim, pergunte a qualquer um, por todo o arco, do sul ao centro da Ásia: ninguém quer por lá bases militares permanentes dos EUA no Afeganistão. A opinião pública, sim, mas também os membros da Organização de Cooperação de Xangai, incluídos os observadores.

Jamais se lerá nem menção a isso em declarações da Organização de Cooperação de Xangai, é claro. Mas Pequim e Moscou estão convencidas de que, se se deixar caminho livre para os EUA no Hindu Kush, eles instalarão mísseis de defesa no Afeganistão, mirados, evidentemente, contra Rússia e China.

Portanto, senhoras e senhores, apertem os cintos. China e Rússia se aproximarão cada dia mais, em termos geopolíticos, em toda a Eurásia – e nenhuma campanha de propaganda jornalística sobre “reset” das relações EUA-Rússia mudará isso.

Essa é a mensagem “invisível” que a Organização de Cooperação de Xangai deixa para o futuro imediato: parafraseando Pink Floyd, não precisamos de intervenção, não precisamos de controle de ideias. Eis como Rússia/China planejam o primeiro passo da longa marcha para derrubar o muro Pentágono/OTAN.

Por Pepe Escobar,
26/06/2011

segunda-feira, 27 de junho de 2011

“El valle de los lobos: Palestina” continúa generando polémica | euronews, cinema

“El valle de los lobos: Palestina” continúa generando polémica euronews, cinema

Quem está dizendo a verdade: O povo da Síria ou as mídias comerciais ocidentais?

Vários millhões de sírios foram para as ruas na última terça feira, 21 de junho de 2011. A multidão se mostrava particularmente densa e impressionante, sobretudo em Damasco, Alep, Tartous e Homs.


A população síria mostrou , com esse gesto seu apoio pelas reformas anunciadas pelo Presidente Bashar Al-Assad , um dia antes em seu discurso na Universidade de Damasco

A amplitude e o gigantismo dessa manifestação, sem precedente na história da Síria, sem dúvidas foi uma forte e massiva demonstração de apoio popular ao regime, extensivamente demonizado pelas mídias ocidentais e pelos líderes políticos.

Comparando com as manifestações antigoverno dos últimos três meses, os sublevados em todo país, e no total, não passaram de 150.000 a 200.000 manifestantes.

Os sírios que vivem no país cujos filhos estão cumprindo serviço militar obrigatório não crêem para nada nas propagandas e manipulações midiáticas das cadeias de TV, transmitidas via satélite, que afirmam mentirosamente que o povo sírio seria esmagado pelo jugo de uma ditadura, cuja polícia torturaria os meninos, o exército bombardearia as aldeias e as cidades. Ao contrário, eles estão convencidos que seu país é vítima de uma desestabilizadora conspiração nas mãos de grupos armados dirigidos do estrangeiro, para que sirva de prelúdio e pretexto para uma possível agressão da OTAN.

Red Voltaire

21 de junio de 2011




Os gregos respondem às intimidações da UE e do governo

Greve de 48 horas na Grécia:


"o KKE promove mais intensamente a posição de que o povo deve tomar nas suas próprias mãos a propriedade dos meios de produção bem como os recursos naturais." Aleka Papariga


por KKE (Partido Comunista Grego)

Depois de uma discussão de três dias no Parlamento o governo recauchutado obteve 3ª. feira 23 de Junho um voto de confiança com os votos dos deputados do PASOK. Ou seja, 155 membros de Parlamento no total de 298 que tomou parte na votação deu um voto de confiança ao governo ao passo 143 votaram contra.

A secretária-geral do CC do KKE, Aleka Papariga, denunciou o dilema intimidante colocado ao povo trabalhador gregos pela UE e pelo governo.

"O ultimato da UE, da Eurozona, não é dirigido ao governo grego, o qual já o aceitou há muito, mas sim ao povo grego. Ela diz: baixem suas cabeça, se não concordarem não obterão a quinta prestação".

Aleka Papariga afirmou: "Nós consideramos que o povo grego deve dar o seu próprio ultimato. Isto é a melhor coisa que pode fazer. Não pode haver qualquer negociação radical na estrutura da UE. Também há partidos da oposição que fazem tais sugestões ao governo. Isto é ou uma chamada solução fácil ou uma posição que ignora o carácter da UE. Eu ao invés direi que isto é uma ignorância deliberada do verdadeiro carácter desta aliança predatória, como nós a chamamos, ainda que isto seja uma frase suave dada a situação actual".

"Assim, o povo grego deve dar o seu próprio ultimato. Podíamos notar que a UE, o governo do ND e do PASOK, a burguesia grega – todos os seus sectores, industriais, proprietários de navios, banqueiros, comerciantes, etc – devem ao povo grego", acrescentou

Da tribuna do parlamento a secretária-geral do KKE apelou aos trabalhadores para ignorarem os dilemas de intimidação e tomarem parte activa na luta: "agora que o povo abre os seus olhos e temem o despertar da consciência – porque também há o medo da demissão – o KKE promove mais intensamente a posição de que o povo deve tomar nas suas próprias mãos a propriedade dos meios de produção bem como os recursos naturais.

As forças com orientação de classe congregadas no PAME apelam a uma greve de 48 horas logo que o governo traga ao Parlamento o novo pacote de medidas anti-populares.

22/Junho/2011
O original encontra-se em http://inter.kke.gr/News/news2011/2011-06-22-info
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sábado, 25 de junho de 2011

SOLIDARIEDADE É CRIME POLÍTICO NA DINAMARCA




Já se ouviu falar de presos políticos em muitos países do mundo, mas nunca na Dinamarca. No entanto, é o que acaba de acontecer. Anton Nielsen, de 72 anos, foi condenado a seis meses de prisão pelo Tribunal de Copenhagen .

O seu crime: apoio e solidariedade ao povo palestino, com recolha de dinheiro para o trabalho humanitário da FPLP. O imperialismo americano classificou a FPLP como organização "terrorista" e o sub-imperialismo europeu seguiu servilmente o diktat do amo americano. Nielsen preside a associação Horseroed-Stutthof, que congrega antigos presos políticos da ocupação alemã da Dinamarca, bem como suas viúvas e descendentes. A colecta de fundos foi efectuada por esta associação.

No mesmo dia, o tribunal de Copenhagem condenou Viggo Toften Joergensen, dirigente do Sindicato dos Carpinteiros, a seis meses de prisão. A condenação foi por haver enviado dinheiro às FARC, em apoio a líderes sindicais assassinados pelos fascistas colombianos.

Verifica-se assim que além de participar das agressões ao Afeganistão e à Líbia, a Dinamarca desenvolve também a repressão contra os seus próprios cidadãos. A democracia burguesa mostra as suas garras.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Os EUA fornecem bombas aos aliados para a guerra na Líbia

Os stocks de munições da força aérea aliada estão esgotados. Mas para continuar a destruição da Líbia, o pentágono aprovisiona a NATO. A guerra é assim um negócio rentável.


Em 60 dias de « Protecção unificada » os aviões da OTAN efetuaram, segundo dados oficiais, mais de 9.000 missões na Líbia, entre as quais 3.500 ataques com bombas e mísseis. A maior parte é levada a cabo pela força aérea dos EUA, Grã-Bretanha, França, Itália e Canadá. Aviões italianos (Tornado, Eurofighter 2000, F-16 e outros) efetuaram, segundo uma estimativa, cerca de 900 missões. Com eles participam igualmente Suécia, Espanha, Holanda, Bélgica, Noruega, Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Qatar e Turquia.
No total, mais de 300 aviões estão envolvidos, isto porque esta guerra permite igualmente testar em condições reais, novas armas, como o caça francês Rafale. A aeronáutica italiana está a experimentar o avião Boeing KC767-A, que acabou de receber e que efetua operações de aprovisionamento em pleno voo de caças-bombardeiros e também transportes aéreos estratégicos. No seu batismo no aeroporto de Pratica di Mare, este foi apresentado como «o pilar para uma única e excepcional capacidade de projecção do componente aéreo não só a nível nacional mas também de toda a OTAN». Assim, um novo sistema de armas é testado na guerra da Líbia para potencializar a capacidade da OTAN na projecção de forças aéreas e terrestres noutras guerras.

A operação « Protecção unificada » revela no entanto algumas deficiências. Com o incessante bombardeamento, as bombas esgotam-se. No entanto, não há problema, pois o Pentágono continua a fornecer. O coronel Dave Lapan, porta-voz do departamento de Defesa afirma que «Desde que a OTAN tem liderado a campanha aérea, temos fornecido um apoio material, munições inclusive, aos aliados e aos parceiros participantes nas operações na Líbia». Lapan precisa que este fornecimento, cujo valor ascende agora a 24,3 milhões de dólares, inclui «bombas inteligentes teleguiadas de extrema precisão». 

Na Itália, estas bombas estão estocadas em enormes quantidades em Camp Darby, a base logística (estadunidense) que aprovisiona as forças aéreas dos EUA na zona mediterrânea e africana.
De Camp Darby as bombas e outros materiais de guerra podem depois ser enviados nas zonas de acção através do aeroporto de Pisa. A nossa situação, declara um dos comandantes dessa base EUA, oferece-nos «capacidades logísticas únicas porque o nosso depósito está a 30 minutos do aeroporto (italiano)». Este aeroporto de onde surgirá o Hub aéreo nacional (italiano), a interligação aeroportuária de todas as missões militares no estrangeiro, será «colocado a disposição da NATO».

Desde que a guerra na Líbia começou, C-130’s e outros aviões, com certeza carregados de bombas e mísseis fornecidos por Camp Darby, têm sobrevoado Pisa em situação de  baixas altitudes. Há cerca de um ano e meio atrás, um C-130 despenhou-se depois de decolagem, sem provocar nenhuma tragédia, por pura sorte. As autoridades estabeleceram então uma «zona de segurança» quando, durante obras  no aeroporto, fora encontrada uma bomba não explodida, datando da Segunda Guerra mundial. Depois de ter desarmado o engenho, tudo voltou a normalidade : aviões militares retomaram os voos por cima da cidade, carregados de bombas made in USA, bombas que os aliados irão largar sobre a Líbia, para proteger os líbios.

Democracia polaca para a África e Oriente Médio

Primeiramente surpreendido pelas revoluções que derrubaram ditadores aliados árabes no Egito e na Tunísia, Washington tem-se adaptado rapidamente. Agora o lema é aproveitar o final da ditadura para impor a desregulamentação econômica, ou seja, abrir o caminho para uma outra forma de exploração desses países. Assim como a CIA utilizou os activistas sérvios para lançar as revoluções de cor, agora usa os activistas polacos para a transição econômica.
Agora livres de Mubarak e Ben Ali, que modelo de transição democrática deveriam adoptar a Tunísia e o Egipto? Para Obama é sem dúvida o modelo polaco. O presidente dos EUA afirmou em Varsóvia a 28 de Maio 2008 que a Polonia efectuou «um percurso para a liberdade que inspirou numerosas pessoas não só neste continente mas em outros lugares». Alista assim o mérito que Varsóvia detém. Antes de mais, assinala-se o facto de que «os EUA e a Polónia desenvolveram uma parceria de defesa excepcional, com as raízes duradouras da aliança OTAN».

De forma a fortalecer ainda mais esta aliança, o presidente Obam e o seu homólogo Komorowski anunciaram o destacamento de um contingente da U.S. Air Force na Polónia, consistindo em caças-bombardeiros F-16, ao lado daqueles que os EUA já venderam  à Polónia. Será igualmente construido uma base balística para o «escudo anti-míssil». Entretanto, o Pentágono já enviou mísseis Patriot. Foi igualmente feita uma grande parceria entre forças especiais dos dois países e no treino comum das suas tropas (2,600 homens) que a Polónia tem no Afeganistão sob comando dos EUA. Anuncia-se também um acordo posterior que «reduzirá grandemente as barreiras do comércio de armas», permitindo assim a importação de armamento EUA por parte da Polônia, aumentando assim a sua dívida.

Compreende-se assim o entusiasmo de Obama no modelo polaco com esta declaração : «Queremos encorajar as nações do Médio-Oriente e África do Norte que lutam pela transição democrática, especialmente na Tunísia e no Egipto, a beneficiarem-se do exemplo polaco».

Este encorajamento não é apenas verbal:  Em Varsóvia, os dois presidentes encontraram-se com «activistas polacos para a democracia» que tinha acabado de voltar de um «visita bem sucedida» à Tunísia, conduzida pelo ex-presidente Walesa (prémio Nobel da paz). Tendo em vista os resultados, decidiram enviar para a Tunísia «outros especialistas em transição para colaborar com o novo governo».

Obama também apreciou muito o facto de que, na Líbia, activistas polacos colaboram com Benghazi para uma «transição política» do país, ou seja, para a queda do actual governo de Tripoli. Obra esta inspirada por Washington.

Elisabeth Sherwood-Randall, influente conselheira de Obama, precisou que «instituições democráticas nos EUA, entre as quais o NED [1],já estão a apoiar os esforços polacos nos movimentos árabes para a democracia».
 O papel destas «instituições democráticas», dirigidas e financiadas pela CIA, bem como outras agências federais, é claramente descrito pelo próprio NED quando afirma que o seu trabalho em Benghazi é facilitado por «importantes personalidades líbias que já tinham participado aos seus cursos leccionados em Marrocos e EUA».

O dinheiro não falta para estas actividades. O Banco europeu para a reconstrução e o desenvolvimento (BERD), depois de ter desmantelado e privatizado propriedades públicas da Polônia e de outros países do leste, vai até ao Egipto e Tunísia oferecendo 5 mil milhões de dólares em troca de «reformas adequadas», que abririam as portas às multinacionais e bases militares estrangeiras. Esta é a nova cruzada na qual se encontra na frente de batalha os polacos, orgulhosos de levar a insígnia de um F-16 fundado pelo dólar.

[1] « La NED, vitrine légale de la CIA », Thierry Meyssan, Réseau Voltaire.

Fonte: http://www.voltairenet.org/Democracia-polaca-em-Africa

Emirados Árabes Unidos (EAU) formam exército secreto para o Oriente Médio e África

 por Manlio Dinucci
Geografo e geopolítico. Últimas publicações : Geograficamente. Per la Scuola media (3 vol.), Zanichelli (2008) ; Escalation. Anatomia della guerra infinita, DeriveApprodi (2005).



 Cada Estado membro do Conselho de Cooperação do Golfo é convidado a contribuir e participar na contra-revolução árabe. OsEmirados Árabes Unidos (EAU) já enviaram um contingente policial para reprimir as manifestações no Bahrein, e agora irão constituir um exército secreto. Para isso, entraram em contacto com a empresa de mercenários Xe, ou seja, o famoso Blackwater , que foi renomeado.
Rede Voltaire | Roma (Itália)
 No meio do deserto, em Zayed Military City (EAU), está  nascendo um campo de treinamento para formar um exército secreto que será utilizado não somente dentro do território mas também noutros países do Médio-Oriente e da África do Norte. Erick Prince é quem está a erigir a construção: um ex comando das Navy Seals que tinha fundado, já em 1997, a empresa Blackwater, a maior empresa militar privada utilizada pelo Pentágono no Iraque, Afeganistão e outras zonas de guerra. A empresa, que em 2009 fora renomeada Xe Services, (com o objectivo, entre outros, de escapar às acções jurídicas após os massacres de civis ocorridos no Iraque) dispõe nos EUA de um enorme complexo de treinamento onde formou já mais de      50 000 especialistas de guerra e repressão. Está agora a abrir outros complexos.
Vista de satélite da base de treino em construção, da Xe nos Emirados.
Em Abu Dhabi, Erick Prince concluiu, sem aparecer pessoalmente mas através da joint-venture Reflex Responses, um primeiro contrato de 529 milhões de dólares (o original datado de 13 de Julho 2010, foi recentemente publicado pelo New York Times) [1]. Nesta base, iniciou-se em diversos países (África do Sul, Colômbia e outros) o recrutamento de mercenários para constituir um primeiro batalhão de 800 homens. São treinados nos Emirados por especialistas dos EUA, britânicos, franceses e alemães, vindo de forças especiais e serviços secretos. Estes são pagos entre 200 a 300 000 dólares por ano, e os recrutas 150 dólares por dia. Uma vez provada a eficiência do batalhão em cenário de «acção real», Abu Dhabi financiará a formação de um contingente de vários milhares de mercenários. Prevê-se a construção nos Emirados de um complexo análogo ao daquele existente nos EUA.

O principal apoio deste projecto é o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Sheik Mohamed bin Zayed al-Nahyan, formado na academia militar britânica Sandhurst e homem de confiança do Pentágono, instigador de uma acção militar contra o Irão. O príncipe e o seu amigo Erick Prince são, no entanto, apenas os executores do projecto, sendo que as mentes que estão por trás encontram-se em Washington. O objectivo real é revelado pelos documentos citados no New York Times: o exército que está a ser formado nos Emirados conduzirá «missões operacionais especiais para reprimir as revoltas internas, do tipo daquelas que estão a abalar o mundo árabe durante este ano».

O exército de mercenários será então utilizado para reprimir as revoltas populares nas monarquias do Golfo, com intervenções como aquelas que foram levadas a cabo em Março pelas tropas dos Emirados, do Qatar e da Arábia Saudita no Bahrain, onde foram esmagadas as demandas populares por democracia. «Missões operacionais especiais» serão efectuadas pelo exército secreto em países como o Egipto e Tunísia, para quebrar os movimentos populares e fazer com que o poder fique em mãos de governos que garantam os interesses dos EUA e das maiores potências europeias.

Na Líbia igualmente, onde o plano USA/NATO prevê seguramente o envio de tropas europeias e árabes para a «ajuda humanitária aos civis líbios». Qualquer que seja o cenário - seja uma Líbia «balcanizada» dividida em dois territórios opostos dirigidos por Tripoli e Benghazi, seja uma situação do tipo Iraque-Afeganistão seguindo-se a uma queda do governo de Tripoli - a utilização do exército secreto de mercenários é anunciada: para proteger as implantações petrolíferas que estão de facto em mãos EUA e europeias, para eliminar adversários, para manter o país num estado de fraqueza e de divisão. São «soluções inovadoras» que a Xe Services (ex Blackwater), na sua auto-apresentação, se orgulha de oferecer ao governo EUA.
 
[1] « Secret Desert Force Set Up by Blackwater’s Founder », « United Arab Emirates Confirms Hiring Blackwater Founder’s Firm », Mark Mazzetti, Emily B. Hager, The New York Times, 14-15 mai 2011.
 
Fonte : “Emirados Árabes Unidos formam exército secreto para o Médio-Oriente e África ”, por Manlio Dinucci , Traduction David Lopes, Il Manifesto (Itália), Rede Voltaire, 26 de Maio de 2011, www.voltairenet.org/a170094

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Brasileira convoca protesto contra Israel

Iara Lee integra Flotilha da Liberdade, que tentou romper o cerco naval à faixa de Gaza; em 2010, a diretora de cinema foi deportada nesta ação

Está prevista para daqui a 15 dias nova partida para Gaza com mais de dez barcos; meta é reunir ativistas de mais de cem países

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM


Um ano após tentar romper o cerco naval à faixa de Gaza e ser deportada de Israel com centenas de outros ativistas, a cineasta brasileira Iara Lee vai repetir a dose.
Mais de dez barcos devem participar da Flotilha da Liberdade, que partirá daqui a duas semanas em direção a Gaza. Lee tenta atrair outros brasileiros para participar.
"É um movimento de solidariedade global, e a meta é que cem países estejam representados", disse ela à Folha, por telefone. "Há 20 vagas reservadas para a América Latina, e eu gostaria que tivéssemos mais brasileiros".
O novo comboio marca o aniversário dos incidentes de 31 de maio de 2010, quando soldados israelenses mataram nove ativistas ao interceptar uma flotilha com ajuda humanitária que tentava furar o bloqueio a Gaza.
A sangrenta operação militar, que gerou uma onda de condenação a Israel e chamou a atenção mundial para o cerco a Gaza, até hoje é motivo de controvérsia.
Israel afirma que seus soldados reagiram ao serem atacados, o que é negado pelos ativistas. Há dois dias, um jornal israelense publicou fotos de homens portando armas de fogo no Mavi Marmara, o navio onde ocorreram os confrontos. Iara, que estava no navio, nega.
"É mentira. O que eles acharam, facas de cozinha? Como alguém pode acreditar que estávamos armados?"
Assim como no ano passado, a nova operação será capitaneada pelo IHH, organização humanitária turca com fortes vínculos com o grupo islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza.
Para evitar problemas, diz Iara, os participantes assinarão um pacto de não violência. O alerta de Israel de que não permitirá a passagem da frota e os apelos da ONU e da Turquia para que os organizadores repensem a ação não intimidaram os ativistas.
Israel vê a nova flotilha como pura provocação, já que a ajuda humanitária poderia ser entregue por sua fronteira ou pela passagem de Rafah, entre Gaza e o Egito, reaberta recentemente.
Iara Lee admite que o principal objetivo não é levar suprimentos, mas chamar a atenção para o bloqueio.

Fonte: Folha de São Paulo 09/06/2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O Estado não pode lavar as mãos diante de mortes anunciadas

Comissão Pastoral da Terra – Secretaria Nacional
Assessoria de Comunicação


NOTA PÚBLICA

A Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra reputa como muito estranhas as afirmativas de representantes da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Pará, do Ibama e do Incra que disseram no dia 25 de maio desconhecer as ameaças de morte sofridas pelos trabalhadores José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, assassinados a mando de madeireiros no dia 24, em Nova Ipixuna (PA).

O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, chegou a afirmar que o casal não constava de nenhuma relação de ameaçados em conflitos agrários, elaborada pela Ouvidoria ou pela Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo.

A CPT, que desde 1985 presta um serviço à sociedade brasileira registrando e divulgando um relatório anual dos conflitos no campo e das violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras, com destaque para os assassinatos e ameaças de morte, desde 2001 registrou entre os ameaçados de morte o nome de José Claudio. Seu nome aparece nos relatórios de 2001, 2002 e 2009. E nos relatórios de 2004, 2005 e 2010 constam o nome dele e de sua esposa, Maria do Espírito Santo. Pela sua metodologia, a CPT registra a cada ano só as ocorrências de novas ameaças.

Também o nome de Adelino Ramos, assassinado no dia 27 de maio, em Vista Alegre do Abunã, Rondônia, constou da lista de ameaçados de 2008. Em 22 de julho de 2010, o senhor Adelino participou de audiência, em Manaus, com o Ouvidor Agrário Nacional, Dr. Gercino Filho, e a Comissão de Combate à Violência e Conflitos no Campo e denunciou as ameaças que vinha sofrendo constantemente, inclusive citando nomes dos responsáveis pelas ameaças.

No dia 29 de abril de 2010, a CPT entregou ao ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, os dados dos Conflitos e da Violência no Campo, compilados nos relatórios anuais divulgados pela pastoral desde 1985. Um dos documentos entregue foi a relação de Assassinatos e Julgamentos de 1985 a 2009. Até 2010, foram
assassinadas 1580 pessoas, em 1186 ocorrências. Destas somente 91 foram a julgamento com a condenação de apenas 21 mandantes e 73 executores. Dos mandantes condenados somente Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de serum dos mandantes do assassinato de Irmã Dorothy Stang, continua preso.

As mortes no campo podem se intitular de Crônicas de mortes anunciadas. De 2000 a 2011, a CPT tem registrado em seu banco de dados ameaças de morte no campo, contra 1.855 pessoas. De 207 pessoas há o registro de terem sofrido mais de uma ameaça. E destas, 42 foram assassinadas e outras 30 sofreram tentativas de assassinato.  102 pessoas, das 207, foram ou são lideranças e 27 religiosos ou agentes de pastoral.

O que se assiste em nosso país é uma contra-reforma agrária e é uma falácia o tal desmatamento zero.
O poder do latifúndio, travestido hoje de agronegócio, impõe suas regras afrontando o direito dos posseiros, pequenos agricultores, comunidades quilombolas e indígenas e outras categorias camponesas. Também avança sobre reservas ambientais e reservas extrativistas. O apoio, incentivo e financiamento do Estado ao agronegócio, o fortalece para seguir adiante, acobertado pelo discurso do desenvolvimento econômico que nada mais é do que a negação dos direitos
fundamentais da pessoa, do meio ambiente e da natureza. Isso ficou explícito durante a votação do novo Código Florestal que melhorpoderia se denominar de Código doDesmatamento. 

Além de flexibilizar as leis, a repugnante atitude dos deputados ruralistas, que vaiaram o anúncio da morte do casal, vem reafirmar que o interesse do grupo está em garantir o avanço do capital sobre as florestas, pouco se importando com as diferentes formas de vida que elas sustentam e muito menos com a vida de quem as defende. A violência no campo é alimentada, sobretudo, pela impunidade,
como se pode concluir dos números dos assassinatos e julgamentos. O poder judiciário, sempre ágil para atender os reclamos do agronegócio, mostra-se pouco ou nada interessado quando as vítimas são os trabalhadores e trabalhadoras do campo.

A morte é uma decorrência do modelo de exploração econômica que se implanta a ferro e fogo. Os que tentam se opor a este modelo devem ser cooptados por migalhas ou promessas, como ocorre em Belo Monte, silenciados ou eliminados.

A Coordenação Nacional da CPT vê que na Amazônia matar e desmatar andam juntos. Por isso exige uma ação forte e eficaz do governo, reconhecendo e titulando os territórios das populações e comunidades amazônidas, estabelecendo limites à ação das madeireiras e empresas do agronegócio em sua voracidade sobre os bens da natureza. Também exige do judiciário medidas concretas que ponham um
fim à impunidade no campo.

Goiânia, 30 de maio de 2011.

A Coordenação Nacional da CPT