quarta-feira, 19 de junho de 2019

O sinistro lobby sionista


Cancelamento da comemoração do “Dia Mundial de Jerusalém” na Câmara dos Deputados, revela: forma-se uma perigosa “bancada do quipá” em defesa de intolerantes grupos pró-Israel. Uma ameaça aos interesses nacionais?
bancada evangélica pró sionista no Congresso Nacional

Por 

Sábado, 08 de junho. Uma nota no jornal O Globo avisa que o Presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Rodrigo Maia, decidiu, unilateralmente, cancelar a Sessão Solene para homenagear a cidade de Jerusalém (Al Quds, em árabe), que se realizaria na quarta-feira, dia 12 de junho.  É a primeira vez que isso acontece na história da Câmara. O que é o Dia Mundial de Jerusalém?
O Dia Mundial de Al-Quds foi instituído, em 1979, pelo líder político e espiritual da revolução patriótica, popular e islâmica do Irã, o Ayatollah Khomeini, como uma data para que a Ummah(Nação) islâmica mundial demonstre que as violações contra o povo palestino e à cidade de Jerusalém – sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos – é uma questão internacional, de soberania e de direitos humanos. O dia de Jerusalém não é um dia exclusivamente voltado para a causa palestina, mas, sim, um dia simbólico em que todo oprimido enfrenta seu opressor. Ele considerava que a ocupação, o desrespeito e as violações à Jerusalém Histórica equivaleriam ao desrespeito à diversidade e à tolerância religiosa em todo o mundo.
É também o dia para denunciar perante o mundo que o ocupante israelense não cumpre as resoluções que os obriga a respeitar o Direito Internacional. Desde a infame Resolução nº 181, de 1947, que dividiu a Palestina em dois Estados, Israel já desrespeitou mais de 35 resoluções das Nações Unidas apenas sobre a questão original de tornar Jerusalém uma cidade internacional. E isso acontece porque, tradicionalmente, os Estados Unidos protegem o Estado criminoso de Israel de decisões condenatórias, já tendo vetado mais de 40 resoluções do Conselho de Segurança da ONU críticas às políticas israelenses, algumas das quais redigidas por seus próprios aliados europeus.
A aprovação da Sessão Solene seguiu todos os ritos previstos no Regimento Interno da Câmara. O deputado Evandro Roman (PSD-PR) protocolou o requerimento solicitando a realização da Sessão que, ato contínuo, foi aprovado pela Presidência da Casa e determinou data para sua realização.  Todo o processo de organização do evento foi desencadeado, tendo a Presidência da Câmara enviado convites aos deputados e autoridades baseadas no Distrito Federal.  E assim, há apenas quatro dias do evento, o autor do requerimento foi surpreendido com a decisão do Presidente da Câmara em cancelar a Sessão. O argumento? A sessão estava gerando muito discordância. Discordância de quem e a que respeito? Para bom entendedor meia palavra basta. A pressão veio dos sionistas intolerantes, que agora contam com representantes de prontidão na Câmara dos Deputados: Eduardo Bolsonaro, presidente da Comissão de Relações Exteriores, o PSL do Presidente da República e a bancada de evangélicos pró-sionistas.
As Sessões Solenes não são voltadas para agradar a totalidade da sociedade, ou seja, elas não acontecem em função da existência de um consenso total da importância ou do tema ou personagem que será homenageado/lembrado. Foi o espírito de respeito às diferenças que garantiu que a mesma Sessão Solene acontecesse nos outros anos.
E foi no espírito de respeito à diversidade de opinião que a Câmara realizou a Sessão Solene em homenagem a Israel, um Estado reconhecido por suas práticas genocidas, por ser um Estado colonial e segregacionista e que tem como objetivo eliminar o povo palestino. Por infinitos minutos, tivemos que escutar discursos após discursos cometendo fraude histórica, exaltando políticos conhecidos como criminosos de guerra.  A convicção de que a Câmara, naquela manhã, estava sendo usando para fazer propaganda de um regime racista, comparável ao nazismo, não foi motivo suficiente para que defensores dos direitos humanos do povo palestino solicitassem o cancelamento da Sessão.
Estamos vivendo outro momento em nossas lutas, onde o mínimo, como a realização de uma Sessão Solene, torna-se o máximo. No entanto, a solidariedade internacional à luta pela autodeterminação do povo palestino e o reconhecimento de Jerusalém como sua capital não estão condicionadas à esfera formal. Seguiremos denunciando os crimes da base militar dos Estados Unidos no Oriente Médio, Israel.
Palestina Livre, do Rio ao Mar. Jerusalém, capital da Palestina!
Sionistas, não passarão!

https://outraspalavras.net/direita-assanhada/o-sinistro-lobby-sionista/

terça-feira, 11 de junho de 2019

Criminosos de Guerra Israelitas – Suas Palavras Mesmas os Acusam

por Philip Giraldi 



A imagem pública de Israel, apoiada e propagada por uma rica e poderosa diáspora que tem um controlo significativo sobre a media, insiste em que o país é a única democracia no Médio Oriente, que opera em termos legais para todos os seus cidadãos e que o seu exército é «o mais moral do mundo». Todas estas afirmações são falsas. O governo de Israel favorece os cidadãos Judeus através de leis e regulamentos que são definidos pela religião. De fato, identifica-se a si próprio como o Estado dos Judeus, com os cidadãos Cristãos e Muçulmanos tendo um estatuto de segunda classe. O exército de Israel, entretanto, tem cometido numerosos crimes de guerra contra populações civis largamente desarmadas, nos passados setenta e um anos, tanto no Líbano como contra palestinos na Margem Ocidental e em Gaza.
Em resposta à Grande Marcha pelo Retorno do ano passado, em que civis de Gaza protestaram junto da cerca que os separa de Israel, os «snipers» do exército de Israel alvejaram mortalmente 293 palestinos e feriram mais de sete mil. Outros vinte e dois mil foram atingidos por outras armas usadas pelos israelitas, o que inclui os recipientes de disparos de gases lacrimogêneo e balas de borracha. Os números incluem centenas de crianças e de pessoal médico de primeiro socorro, que tentavam ajudar os feridos, os quais foram – segundo os relatos – particularmente alvejados.
As Nações Unidas relataram que muitos foram alvejados nas pernas, o que o exército de Israel considera como “contenção” de sua parte. Muitos dos feridos irão ter de ser amputados porque Gaza carece de meios médicos necessários para tratar as suas feridas de forma apropriada. Israel bombardeou hospitais e bloqueou a importação de aparelhos médicos em Gaza ao mesmo tempo que não permitia que os habitantes de Gaza saíssem do enclave para tratamento médico noutro sítio, no Médio Oriente.
Cento e vinte amputações já foram realizadas este ano. Jamie McGoldrick, o Coordenador Humanitário da ONU para os Territórios Ocupados explicou que “Existem 1700 pessoas com necessidade de cirurgias graves, complicadas, para que possam voltar a andar… [exigindo] muito séria e complexa cirurgia com reconstrução óssea durante um período de dois anos, antes de poderem começar a fase de reabilitação.”
As Nações Unidas gostaria de fornecer 20 milhões de dólares para assistência médica, em vez de amputações, mas os EUA recusaram apoiar este financiamento de emergência para os palestinos através da agência de auxílio da ONU (UNRWA), uma posição presumivelmente tomada para favorecer Israel em punir o povo palestino.
Interessantemente, voltou à superfície um documento arrepiante descrevendo o ponto de vista do Exército de Israel em relação a alvejar manifestantes árabes. Há um ano, o ex-diplomata britânico Craig Murray publicou no seu blog, “Condemned By Their Own Words (Condenados pelas suas próprias palavras)”, que fornecia uma tradução do hebreu para inglês da transcrição de uma emissão de rádio israelita que tinha sido efetuada a 21 de Abril. Um brigadeiro-general israelita, chamado Zvika Fogel, estava a responder a notícias de ter sido morto um rapaz de catorze anos, desarmado, pelos soldados. Ele explicou em detalhe, que os soldados estão a fazer a coisa certa ao alvejarem e matarem palestinos que se aproximam da barreira separando Gaza de Israel.
Os comentários do general Fogel são representativos do ponto de vista do governo sobre como controlar o «problema palestino». Apenas os direitos dos judeus, incluindo o direito à vida, são legítimos e os árabes deveria estar gratos por aquilo que o Estado dos Judeus lhes permite ter.
Fogel respondeu ao entrevistador Ron Nesiel à primeira pergunta “Deveria o IDF [exército de Israel] repensar o uso de snipers?” dizendo que “Qualquer pessoa que se aproxima da cerca, qualquer pessoa que pudesse ser uma ameaça futura à fronteira do Estado de Israel e seus residentes, deveria pagar o preço dessa violação. Se aquela criança ou qualquer outra pessoa se aproxima para esconder aí um engenho explosivo ou ver se existe alguma zona não segura ou para cortar a vedação, de forma que alguém pudesse infiltrar-se no território do Estado de Israel e matar-nos…”
Nesiel: “Então, o seu castigo é a morte?”
Fogel: “O seu castigo é a morte. No que me diz respeito então sim, se for possível atirar às pernas para pará-lo – ótimo. Mas se isso não é possível, então quer-se ver qual dos dois sangues é mais espesso, se o deles se o nosso. É claro para nós que, se alguém assim consegue ultrapassar a vedação, ou esconder um engenho explosivo …”
Nesiel: “Mas ensinaram-nos que fogo real é apenas usado quando os soldados enfrentam perigo imediato … Não nos faz bem a nós, todas essas imagens que são distribuídas pelo mundo fora.”
Fogel: “Eu sei como essas ordens são dadas. Eu sei como é que um sniper faz os disparos. Eu sei quantas autorizações ele precisa antes de receber uma autorização de abrir fogo. Não é a fantasia de um sniper ou outro que identifica o frágil corpo de um rapaz num dado momento e decide disparar. Alguém marca o alvo muito claramente para ele e diz-lhe exatamente por que razão tem que disparar e qual a ameaça vinda desse indivíduo. E com muita pena minha, às vezes mata-se um pequeno corpo, quando se pretendia alvejar um braço ou ombro e o tiro vai acima. A imagem não é bonita. Mas, se é o preço que temos de pagar para preservar a segurança e qualidade de vida dos residentes do Estado de Israel, então seja esse o preço.
“Olha, Ron, até somos muito bons nisso [em suprimir essas imagens] Não há nada a fazer, David tem sempre melhor figura que Golias. E, neste caso, somos Golias, não somos David. Isso é perfeitamente claro para mim… Isto vai arrastar-nos para uma guerra. Eu não quero estar no lado dos que são arrastados, quero estar do lado dos que iniciam as coisas. Eu não quero esperar pelo momento em que o inimigo encontra um ponto fraco e me ataca aí. Se amanhã vem a uma base militar ou kibutz e mata pessoas e toma reféns, chame-se o que se quiser, estamos num novo cenário. Eu quero que os líderes do Hamas acordem amanhã de manhã e pela última vez na sua vida vejam as faces sorridentes do IDF. É isso que eu quero que ocorra. Mas nós somos arrastados. Por isso estamos a colocar snipers, porque queremos preservar os valores nos quais fomos educados. Não podemos sempre tomar uma única foto e colocá-la em frente do mundo inteiro. Temos soldados aí, nossos filhos, que foram enviados lá e recebem instruções muito precisas sobre quem alvejar para nos protegermos. Vamos dar-lhes apoio.”
Pode-se razoavelmente sugerir que os comentários de Fogel refletem o consenso entre israelitas sobre como lidar com os árabes. E os Estados Unidos são plenamente cúmplices com a matança. O embaixador dos EUA em Israel, David Friedman, tem repetidas vezes elogiado o comedimento das forças armadas de Israel e censurou os habitantes de Gaza pelo seu comportamento. Os Estados Unidos continuam a subsidiar colonatos israelitas ilegais que incendeiam o conflito e estão acabando de colocar os últimos retoques no plano de paz aprovado pelos israelitas, que fará agora e para sempre dos palestinos um não-povo, sem nação própria e sem quaisquer esperanças para o futuro. Entretanto, continuam a ser alvos dos snipers israelitas. 

O mundo deveria estar horrorizado pela arrogância de Israel e os EUA deveriam encolher a cabeça de vergonha, de cada vez que um político americano conivente viesse com o estribilho “Israel tem o direito de se defender.”

. Giraldi, Ph.D., é director executivo do «Council for the National Interest», councilforthenationalinterest.org, sua morada é: P.O. Box 2157, Purcellville VA 20134 e seu email:  inform@cnionline.org

Revelada a principal empresa de ataque cibernético de Israel

A Candiru, nome inspirado em um peixe da região Amazônica também chamado de canero ou peixe-vampiro, que parasita a uretra de seres humanos, recruta pessoal intensamente treinado a partir da entidade de inteligência Unidade 8200 ([leia oito-duzentos] em hebraico shmoneh matayim, uma equipe das forças de defesa cibernética de Israel) e vende ferramentas de ataque para hackear sistemas de computadores.

Por Amitai Ziv
Traduzido por Mberublue
 
Escritórios da Candiru em 31 de dezembro de 2018 – Tel Avi Foto Ofer Vaknin/Ha'aretz
Quem entra no saguão do prédio em Tel Aviv onde se localiza seu quartel general, não encontrará seu nome na placa de indicação. Também não encontrará seu website, porque este não existe. Seus cerca de 120 funcionários não têm perfis no LinkedIn e assinam acordos de confidencialidade muito restritivos. Questiões do TheMarker (jornal de negócios israelense) disparam um educado mas firme “sem comentários”.
A companhia é conhecida como “Candiru”, nome inspirado em um peixe amazônico conhecido por sua tendência a invadir e parasitar a uretra humana. O nome combina com os negócios da empresa, tecnologia de cibernética ofensiva usada para invadir computadores ou celulares e espionar seus usuários.  
A cibernética de ataque é um grande negócio em Israel. Há fontes que indicam que a indústria gera cerca de 1 bilhão de dólares em vendas por ano. O mais controverso e maior operador neste campo é a NSO (grupo israelense de inteligência cibernética – NT), repetidamente citada por vender seus equipamentos para países como Arábia Saudita e México que os usam para espionar e combater dissidentes.
A NSO é especialista na invasão de celulares. Já a Candiru é mais usada para invadir servidores e computadores, embora algumas fontes tenham afirmado ao TheMarker que sua tecnologia também seja usada para invadir celulares. 
 O logo da Candiru.  Foto Ofer Vaknin/Ha'aretz
Ao contrário da NSO, a Candiru é mais conservadora na escolha de seus clientes. A maioria deles está na Europa Ocidental e nenhum é africano. Na realidade, a companhia não vende equipamentos para Israel, mesmo que isso não se dê por razões políticas e sim comerciais, afirmam. 
“Por exemplo: caso a Alemanha necessite de equipamento cibernético de ataque por determinada questão de segurança, este será desenvolvido internamente sem questionamento”, explica uma das fontes, que pediu para não ser identificada. “Porém caso se necessite de equipamento para lidar com o tráfico de pessoas a partir da Turquia, por exemplo, esse equipamento deverá ser comprado de terceiros, para os quais o assunto seja menos sensível”.
A política de vendas da Candiru é decisão tomada internamente, e muitas companhias israelenses nesse tipo de negócio se viram em maus lençóis por vender para regimes conhecidos por desprezar a democracia e os direitos humanos.
Para Israel,  a venda de cibernética de ataque é vista como o comércio de quaisquer outras armas e sua exportação tem que ser aprovada pelo Ministério da Defesa. No entanto, embora o ministério seja cuidadoso em relação aos riscos que as exportações possam representar para Israel, é muito menos sensível quanto às preocupações sobre democracia ou violações de direitos humanos pelos compradores.
A Candiru também se diferencia de outras companhias que vendem cibernética de ataque como equipes de hackers ou o FinFisher, que vendem apenas ferramentas de ataque, enquanto a Candiru vende sistemas completos.
 “A companhia possui uma interface do usuário que permite aos compradores saber quantos alvos foram atingidos, quanta informação foi obtida e assim por diante”, disse uma fonte. “Além disso, oferecem um serviço realmente sofisticado, de forma que, se determinada ferramenta de ataque não funcionar, produzirão outra que funcione. Vendem um “pacote” pré carregado de ferramentas ofensivas”.
Fundada há quatro anos, a Candiru é envolta em segredo. Acredita-se que empregue 120 pessoas e gere anualmente vendas totais de 30 milhões de dólares, mas tudo isso não passa de especulação de terceiros. Se verdadeiro, trata-se da segunda maior companhia israelense de cibernética de ataque depois da NSO, excluídas a empresa Verint e empresas de defesa em geral.
O que é de conhecimento geral é que o fundador da Candiru é Isaac Zack, também criador da NSO. Zack lida com investimento de capitais de risco e está entre os fundadores das firmas de investimento Founders Group e Pico Ventures Partners.
O CEO da Candiru é Eitan Achlow, antes executivo na companhia de transporte solidário Gett (também conhecida como Get-Taxi - NT). Porém, alinhada ao véu de segredo que cobre a Candiru, a página do LinkedIn de Achlow o coloca como trabalhando em off (em stealth mode – NT), termo industrial para caracterizar companhias que ainda não lançaram um produto e que trabalham sem publicidade.
De acordo com o guia Dun & Bradstreet, atualmente Zack está na administração de 13 companhias, entre elas as emergentes de segurança cibernética Cy-OT e Orchestra – todas no campo da proteção e segurança cibernética. Em linha com o segredo que cerca a Candiru, seu nome não está entre as que Zack administra.
Ocorre que a Candiru não é o nome registrado da companhia. Originalmente, foi registrada como Grindavik Solutions, em setembro de 2014. Mudou para LDF Associates em março de 2017 e voltou para Grindavik em abril do ano passado.
Como outras companhias da prestigiosa indústria de segurança cibernética de Israel, a Candiru busca muitos de seus integrantes na unidade de inteligência 8200 das forças de defesa de Israel. Comumente recebem 80.000 shekels ($21.400 dólares; R$ 80.000) por mês e alguns chegam a receber 90.000.
“Eles buscam os melhores hackers encontrados na unidade 8200”, disse um empreendedor em segurança cibernética, que falou sob a condição do anonimato. “A Candiru não tem condições definidas de trabalho – você pode fazer o que quiser. Há até um funcionário que vive na França e inicia seu computador quando ele gosta”.
Infográfico Abeer Mrad

Por que Trump quer agora conversações com o Irã

Por Pepe Escobar
Coletivo de tradutores Vila Mandinga

Diferentes do lendário ‘Smoke on the Water’ de Deep Purple – “Viemos todos a Montreux, à margem do Lago Geneva” –, as reuniões do 67º Encontro do Grupo Bilderberg não produziram nem fogo nem fumaça no luxuoso Fairmont Le Montreux Palace Hotel.
Pompeo e Kissinger chegando à Montreux

Os 130 convidados de escol passaram horas de prazer – teoricamente calmas – no “fórum de discussões informais sobre grandes questões”, categoria “o freguês tem sempre razão” [ing. self-billed]. Como sempre, dois terços, pelo menos, eram executivos europeus; o resto veio da América do Norte.

O fato de que uns poucos grandes atores nesse Valhalla atlanticista sejam intimamente associados ou com capacidade para interferir diretamente com o Banco de Compensações Internacionais [ing. Bank for International Settlements (BIS)] em Basel – o banco central dos bancos centrais – e, claro, detalhe.

A grande questão discutida esse ano foi “Uma Ordem Estratégica Estável”, empreitada grandiosa que se pode interpretar seja como a construção de uma Nova Ordem Mundial, seja como esforço bem-intencionado, por elites generosas, para guiar a humanidade no rumo das luzes e do esclarecimento.

Outros itens de discussão eram muito mais pragmáticos – de “O Futuro do Capitalismo”, até “Rússia”, “China”, “Mídia Sociais usadas como arma”, “Brexit”, “O que acontecerá com a Europa”, “Ética da Inteligência Artificial” e por último, mas não menos importante, “Mudança climática”. 

Discípulos Antístenes diria que desses tópicos, precisamente, se faz a Nova Ordem Mundial.

O presidente do comitê que dirige Bilderberg desde 2012, é Henri de Castries, ex-CEO de AXA e diretor do Institut Montaigne, importante think-tank francês.

Um dos convidados chave esse ano foi Clement Beaune, conselheiro do presidente Emmanuel Macron da França, para Europa e G20.

Bilderberg orgulha-se de manter para seus trabalhos a Regra Chatham House, segundo a qual os participantes podem usar como queiram todas as preciosas informações que desejem, porque os participantes do encontro comprometem-se a não revelar a fonte de coisa alguma – informação sensível ou o que tenha sido dito.

Ajuda a cultivar o sigilo lendário de Bilderberg – e fonte de inspiração para infinidades de teorias de conspiração. Mas não significa que o segredo dos segredos não seja revelado.

O eixo Castries/Beaune nos presenteia com o primeiro segredo aberto de 2019. Foi Castries no Institut Montaigne que “inventou” Macron – aquele perfeito espécimen produzido em laboratório, de banqueiro de aquisições e fusões a serviço do establishment, em pose de progressista.

Fonte em Bilderberg fez saber, discretamente, que o resultado das recentes eleições parlamentares na Europa foi interpretado como vitória. Afinal, a derradeira escolha aconteceu entre (i) uma aliança neoliberais & Verdes e (2) um populismo de direita. Absolutamente nada a ver com valores progressistas.

Os Verdes que venceram na Europa – diferentes nisso dos Verdes-EUA – são todos perfeitos imperialistas humanitários, para citar a esplêndida neologia cunhada pelo físico belga Jean Bricmont. E todos rezam no altar do politicamente correto. O que conta, do ponto de vista de Bilderberg, é que o Parlamento Europeu continuará a ser comandado por uma pseudo-esquerda que insiste em defender a destruição do estado-nação.
O tique-taque do relógio dos derivativos não para
O grande segredo Bilderberg para 2019 teve a ver com por que, de repente, o governo Trump resolveu que quer conversar com o Irã “sem pré-condições”.

Tem tudo a ver com o Estreito de Ormuz. Bloquear o Estreito pode interromper o fluxo de petróleo e gás do Iraque, Kuwait, Bahrain, Qatar e Irã – 20% do petróleo do mundo. Houve alguma discussão sobre se pode mesmo acontecer, ou não – sobre se a 5ª Frota dos EUA estacionada ali perto, poderia impedir Teerã de fazer tal coisa; e sobre se o Irã, que tem mísseis antinavios ao longo de toda a fronteira norte do Golfo Persa, chegaria a tal ponto.

Fonte norte-americana disse que chegaram estudos à mesa do presidente Trump, que provocaram pânico em Washington. Mostravam que, no caso de o Estreito de Ormuz ser bloqueado, não importa o motivo, o Irã tem poder para pulverizar o sistema financeiro global, ao fazer voar pelos ares todo o comércio global de derivativos.

O Banco de Compensações Internacionais disse ano passado que “o total possível de todos os contratos derivativos” era $542 trilhões, embora o valor bruto de mercado declarado fosse de apenas $12,7 trilhões. Outros sugerem que esteja em $1,2 quatrilhão ou mais.

Teerã não falou abertamente dessa “opção nuclear”. Mas, sim, o general Qasem Soleimani, comandante da Força Quds do Corpo de Guardas da Revolução Iraniana e bête noire do Pentágono, já evocou o assunto em discussões internas no Irã. A informação circulou devidamente para França, Grã-Bretanha e Alemanha, os membros de grupo UE-3 para o acordo nuclear iraniano (tecnicamente, Joint Comprehensive Plan of Action), onde também causou pânico.

Especialistas em derivativos de petróleo sabem bem que, se o fluxo de energia no Golfo for bloqueado, pode fazer o preço do barril saltar para $200, e até mais alto, por longo período. Derrubar o mercado de derivativos criaria depressão global sem precedentes. O secretário do Tesouro de Trump, Steve Mnuchin, ex-Goldman Sachs, é especialista nesse assunto.

E o próprio Trump parece ter dado o jogo por perdido. Já está na mídia dizendo que o Irã não tem qualquer valor estratégico para os EUA. Segundo a fonte norte-americana: “Trump só quer encontrar saída honrosa para a arapuca na qual seus conselheiros Bolton e Pompeo o meteram. O Irã não está pedindo conversações. Os EUA, sim, já pediram.”

O que nos leva à viagem do secretário de Estado Mike Pompeo, com demorada parada, não agendada, na Suíça, ali, ao lado de Bilderberg, só porque é “fã de queijo e chocolate”, palavras dele.

Fato é que qualquer cuco de relógio anunciaria o quanto precisava tranquilizar os medos das elites transatlânticas, para nem falar dos encontros a portas fechadas com os suíços, que representam o Irã nos contatos com os EUA. Depois de semanas das mais ferozes ameaças, os EUA disseram que “não haverá pré-condições” em conversas com Teerã, promessa feita em solo suíço.
China demarcou suas linhas no chão
Bilderberg não conseguiria não discutir a China. Por regra de justiça geopolítica, virtualmente no mesmo momento a China disparava vigorosa mensagem para Oriente e Ocidente, – no Diálogo Xangrilá em Singapura.

O diálogo Xangrilá é o principal fórum anual de segurança da Ásia e, diferente de Bilderberg, realiza-se sempre no mesmo hotel, Orchard Road em Singapura. Como Bilderberg, Xangrilá também discute “grandes questões de segurança”.

Pode-se dizer que Bilderberg formata as discussões como se vê em recente matéria de capa de semanário francês que pertence a um oligarca simpatizante de Macron, “Quando a Europa governava o mundo”. Xangrilá, por sua vez, discute o futuro próximo – quando a China poderá realmente estar governando o mundo.

Pequim enviou delegação de primeira linha ao fórum esse ano, liderada pelo Ministro da Defesa General Wei Fenghe. No domingo, o general Wei demarcou claramente as linhas vermelhas intransponíveis da China; alerta explícito contra “forças externas” que sonham com independência para Taiwan; e o “legítimo direito” de Pequim de expandir as ilhas artificiais no Mar do Sul da China.

Pessoal já havia até esquecido o que o secretário interino da Defesa dos EUA Patrick Shanahan dissera um dia antes, quando acusou Huawei de ser próxima demais de Pequim e de representar risco de segurança para a “comunidade internacional”.

O general Wei achou tempo para triturar Shanahan: “Huawei é empresa privada, não é empresa militar (...) O fato de o presidente da Huawei ter prestado serviço militar, não faz da empresa dele item de equipamento militar. O que foi dito não faz sentido algum.”

Xangrilá é, pelo menos, transparente. No caso de Bilderberg, nada vazará do que os Mestres do Universo disseram às elites ocidentais sobre a lucrabilidade de prosseguir a guerra ao terror; o movimento na direção da total digitalização do dinheiro; o reinado absoluto dos organismos geneticamente modificados; e o modo como a mudança climática será usada como arma.

Pelo menos o Pentágono não fez segredo, mesmo antes de Xangrilá, de que Rússia e China têm de ser contidas a qualquer custo – e os vassalos europeus que entrem na linha.

Henry Kissinger participou de Bilderberg 2019. Boatos de que teria passado todo o tempo tentando fazer funcionar o seu “Nixon reverso” – seduzir a Rússia, para conter a China – podem ser muito exagerados.