terça-feira, 27 de agosto de 2019

Qual o interesse de Macron, Merkel e o G7 diante do fogo bolsonarista na Amazônia?

Quais os interesses imperialistas no seio da depredação bolsonarista 
da Amazônia?
A crise com a devastação da Amazônia pela sede predatória de Bolsonaro e dos capitalistas do agronegócio ganhou novas proporções. O tema ganhou repercussão internacional e agora envolve um choque mais direto entre o governo de extrema direita no Brasil, de um lado, e algumas potências imperialistas, em particular a França, de outro.
Emmanuel Macron, presidente de uma mais antigas nações colonialistas da terra, buscou nestes últimos dias se apropriar, em função de seus objetivos particulares, da ira mundial desatada diante da destruição da maior floresta tropical do mundo pelo agronegócio brasileiro. Na reunião o G7 - cúpula que abriga os países líderes da espoliação mundial - Macron sugeriu tomar medidas acerca do tema. Jornais alemães como o Die Zeit sugerem que chegou o momento de aplicar sanções contra Bolsonaro.
Na fase atual do conflito, Macron acusou Bolsonaro de mentiu ao assumir compromissos em defesa do ambiente na cúpula do G20, em junho, e afirmou que isso inviabilizaria a ratificação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul (a Irlanda seguiu a mesma linha). Esse acordo comercial entre os dois blocos - um pacto de submissão do Cone Sul aos mandamentos do capitalismo europeu - prevê, em 15 anos, zerar as tarifas de importação sobre cerca de 90% do comércio bilateral, aprofundando o viés agrário-exportador do Brasil em troca da importação da manufatura e alta tecnologia.
Desde a cúpula do G20 Macron (com o beneplácito da chanceler alemã Angela Merkel) e Bolsonaro vem se engalfinhando em disputas retóricas, e lançando mão de uma verdadeira constelação de hipocrisias: o governo francês tenta retratar-se como “o maior defensor da biodiversidade e da natureza”, escudado no Acordo de Paris de 2015, enquanto Bolsonaro chegou a cúmulo de postar-se como “combatente pela soberania nacional contra a mentalidade colonial” dos europeus.
É impossível defender a biodiversidade e os recursos naturais amazônicos sem atacar profundamente os interesses dos capitalistas, tanto os nacionais quanto os estrangeiros, que fazem a Amazonia - fundamental, entre outras questões, para a regulação da temperatura na terra - arder em chamas, espremida entre o agronegócio e a voracidade imperialista.
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer, como se ainda restassem dúvidas: Bolsonaro (assim como a cúpula das Forças Armadas, estruturalmente vinculadas aos EUA desde a II Guerra Mundial) não tem nenhum viés de defesa soberana dos recursos naturais brasileiros. É um capacho que ajoelha no altar de Trump e dos Estados Unidos; um literal lambe-botas que entrega tudo o que pode, desde a base de Alcântara no Maranhão, passando pela privatização de inúmeras empresas estatais com o objetivo de entregá-las aos Estados Unidos (com a ajuda inestimável da pró-imperialista Lava Jato), até a permissão para que uma empresa privada dos EUA monitore a Amazônia no lugar do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). As medidas reacionárias de Bolsonaro são ataques diretos aos povos indígenas e quilombolas, e aos meios de existência de toda a população em benefício do agronegócio, dos bancos e empresários.
Prova de seu capachismo desenvolto é a própria assinatura do acordo comercial Mercosul-UE. Como dissemos, Bolsonaro e seu governo firmaram um pacto de escravização dos trabalhadores brasileiros à volúpia dos conglomerados econômicos da Alemanha, da Holanda, da Bélgica e da mesma França cuja mentalidade colonialista julga combater.
Entretanto, as frases feitas de Macron, Merkel, Boris Johnson e outros governos imperialistas sobre a “defesa da Amazônia” não passam disso: frases demagógicas, cínicas e mentirosas. França, Alemanha, Inglaterra, Estado Espanhol, Holanda, Bélgica não nutrem qualquer interesse pela preservação do meio ambiente.
São depredadores em grande escala. Sua patranha em defesa da Amazônia coloca em primeiro plano o alerta contra qualquer ilusão em que os maiores países opressores do mundo poderiam dar uma saída benéfica aos problemas ambientais causados pelo próprio sistema capitalista que comandam.
Há três grandes eixos de conflito que atravessam a crise amazônica, que revelam que a brutalidade de Bolsonaro não nos pode levar a cair na armadilha dos interesses vorazes do imperialismo e seus monopólios, exímios destruidores das riquezas naturais no mundo todo:
1. Guerra comercial Estados Unidos e China
Um dos principais fatores materiais que movem a crise ambiental brasileira é a postura do Brasil em meio a guerra comercial entre Donald Trump e Xi Jinping.
O agronegócio brasileiro quer aproveitar a janela de oportunidade que se abriu para a exportação de grãos para a China. Isso porque este país aplicou tarifas à soja dos EUA, prejudicando o preço desse produto norte-americano em represália às tarifas que Trump aplicou contra a China. As novas tarifas chinesas atingem o valor de U$S75 bilhões sobre a soja estadunidense. Como o grão norteamericano ficou mais caro, a China substituiu as compras dos EUA pelo produto do Brasil. Com isso, o Brasil se tornou o maior exportador de soja para China – e do mundo. Em 2018, o primeiro ano da guerra comercial, as exportações brasileiras para a China cresceram 35% na comparação com 2017, gerando uma balança comercial positiva para o Brasil em US$ 30 bilhões. A soja foi a maior beneficiada, com uma exportação adicional de US$ 7 bilhões para a China, na comparação com 2017.
As queimadas criminosas promovidas pelo agronegócio amigo de Bolsonaro seguem a trilha da expansão da fronteira sojeira, especialmente no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, cujo aumento exponencial, feito em base à destruição do meio ambiente, busca atender à sede de lucro dos capitalistas do agronegócio com as exportações à China.
Desde 1850, quando o chefe do Observatório Naval dos Estados Unidos, Matthew Fontaine Maury, sugeriu que seu país evitasse a Guerra Civil e continuasse expandindo sua produção de algodão com mão de obra escrava levando toda a estrutura, incluindo os escravos africanos, para a região da Amazônia brasileira (como conta Gerald Home, no livro “O Sul mais distante”), os Estados Unidos tem interesses materiais diretos na Floresta Amazônica, e não tem nada a ver com sua preservação. São dezenas de monopólios e fundos de investimento norte-americanos cuja cadeia produtiva está ligada ao desmatamento, incluindo a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, e a Capital Group, traders de grãos como Cargill e ADM, além de empresas farmacêuticas (Johnson&Johnson e Pfizer), de engenharia genética e de cosméticos que exploram as riquezas da região. Lucram com a destruição da Amazonia, muito bem monitorada pelo Pentágono e pelo Exército ianque.
Diante disso, não espanta que instituições como a NASA divulguem informações “preocupantes” sobre o avanço do desmatamento. Não estão preocupados com a Amazonia ou o meio ambiente, e sim com os interesses norteamericanos na maior floresta tropical do mundo, e também com a eficácia da guerra comercial de Trump.
2. Conflito entre os interesses do imperialismo europeu e o agronegócio brasileiro
Macron, assim como Trump, não tem mais interesse na Amazônia do que proteger os negócios de seus monopólios nacionais. Algumas das empresas que mais desmatam a floresta amazônica são francesas: os bancos Crédit Agricole (maior banco varejista da França) e o BNP Paribas, instituição financeira mais rica da França, estão vinculados ao desmatamento, segundo relatório da Amazon Watch. Empresas como Guillemette & Ciee Groupe Rougier recebem regularmente toneladas de madeira da empresa brasileira Benevides Madeiras, segundo o mesmo relatório. A francesa Dreyfuss também tem altos negócios na Amazônia. Consideram-na seu quintal de exploração capitalista.
Assim como os Estados Unidos, a França e a Alemanha não desejam ver seu terreno de exploração eliminado em função do agrobusiness tupiniquim.
Como velha potência colonial, que submetia os países oprimidos a uma selvagem exploração, a França também foi responsável pela liquidação dos recursos naturais e ambientais nos quatro cantos do mundo. Basta como exemplo citar a história da colonização sangrenta da África pela França nos séculos XIX e XX. Os processos de descolonização entre as décadas de 1950 e 1970 representaram uma nova fase da extração predatória das riquezas nacionais africanas, junto ao brutal processo de extermínio da população de países como o Congo, Guiné, Togo, Mali, Níger, Chade, Mauritânia, e especialmente a Argélia, que vivenciou massacres sucessivos de sua população entre 1954 e 1962.
A demagogia de Macron não pode esconder que a França não tem nenhuma vocação de “respeito a biodiversidade”: é, sim, um dos países que mais devastam a Amazônia.
3. Disputa entre França e Alemanha no acordo com o Mercosul
Outro conflito inscrito na crise amazônica ocorre entre a França e a Alemanha acerca do acordo pactuado entre o Mercosul e a União Europeia. Berlim e Paris comungam do objetivo de sujeitar a classe trabalhadora latino americana a uma exploração superior. Este acordo de submissão do Cone Sul da América Latina pelas potências europeias, entretanto, não as favorece por igual. Os principais ganhadores seriam os exportadores de veículos alemães, que teriam tarifas zeradas para o escoamento da produção automotriz. Já a França seria consideravelmente prejudicada em seu setor agrícola, que veria a entrada sem tarifas dos produtos agrícolas brasileiros aos mercados europeus que ora domina.
A política agrícola é um dos pilares da integração da União Europeia e é fundamental para a França. São os franceses que conduzem a agricultura para o restante do continente. Além da França, a Irlanda também exigiu insistentemente no último período para que a União Europeia não fosse tão generosa no setor agrícola, especialmente o de carnes, nesse acordo. O acordo vai na contramão dessas exigências: inclui uma cota anual de 99 mil toneladas de carne com tarifas reduzidas.
Por isso o presidente francês ameaça o cancelamento do acordo, usando a crise amazônica provocada pela sede capitalista de Bolsonaro como álibi. Macron busca atender os interesses do agronegócio francês, que não deseja a entrada de produtos brasileiros com maior facilidade na Europa, sem com isso diminuir os acordos de exploração do Cone Sul. Assim também o primeiro ministro da Irlanda, Leo Varadkar, anunciou que “diante dos acontecimentos” vai bloquear a implantação do acordo.
A Alemanha, por sua vez, defende a manutenção do acordo comercial, em vista do cenário caótico de sua economia, que apresenta fortes sinais recessivos devido à retração do comércio mundial (efeito do atrito entre EUA e China), que deprime sua produção industrial, altamente dependente das exportações. O capital alemão precisa de novas zonas de escoamento de sua produção, que não pode depender tanto da China e da UE em crise.
Este conflito ainda está em curso e não tem um final estabelecido.
Esses três elementos se imbricam na catastrófica crise ambiental do Brasil. O certo é que a sanha dos latifundiários sojeiros no Brasil por incrementar seus negócios chineses se choca com a necessidade dos distintos imperialismos de preservar seus próprios negócios na Amazônia, o que pode levar a que a crise saia do controle nos marcos dos perigosos indícios de uma nova recessão mundial.
Não podemos perder de vista a antipatia entre Trump e os governos da França e da Alemanha. Golpear Bolsonaro é um movimento que sugere indiretamente um ataque a Trump, que o tem como aliado central na América Latina. Tanto assim que Trump anunciou ter falado por telefone com Bolsonaro nesta sexta-feira (23), indicando que a relação entre EUA e Brasil "nunca esteve melhor".

Bolsonaro, agronegócio e G7: tirem suas mãos da Amazônia

Se é evidente que a expansão da soja e os interesses do agronegócio brasileiro - intimamente vinculados ao capital financeiro e aos bancos - são uma ameaça direta ao meio ambiente, é certo que a voracidade dos governos imperialistas e colonialistas estrangeiros não representa perigo menor. Falam da Amazônia porque a querem integralmente para seus interesses monopólicos. Ao lutar contra Bolsonaro, não podemos esquecer de exigir que as grandes potências capitalistas tirem suas mãos de nossos recursos naturais.
Em diversas partes do mundo os jovens protagonizam inúmeras manifestações contra as mudanças climáticas fruto da devastação ambiental, como as "sextas-feiras pelo futuro na Europa". No Brasil também são os jovens a linha de frente dos questionamentos às políticas devastadoras de Bolsonaro. É preciso um programa e uma estratégia anticapitalista ao lado da classe trabalhadora para que essa jovem geração possa lutar pelo seu futuro.
É necessário impor a imediata suspensão de todos repasses financeiros bilionários do plano Safra aos latifundiários e sua imediata aplicação em planos de combate ao incêndio, reflorestamento e gestão das florestas. Frente aos bilhões de dólares exportados anualmente em soja, milho e carne às custas de devastação ambiental e humana, é preciso levantar uma campanha pela estatização sem indenização de todas as traders e seus bilionários recursos financeiros, logísticos e tecnológicos. A posse dessas empresas implicaria em um monopólio estatal do comércio da soja, permitindo que essas riquezas não sirvam apenas a um punhado de imperialistas e latifundiários. Uma empresa estatal, controlada pelos trabalhadores, permitiria o uso das mais modernas tecnologias, hoje empregadas para o lucro e a devastação, para o desenvolvimento humano e de outro metabolismo, orgânico com a natureza e todos povos tradicionais e originários.
Uma reforma agrária radical, abolindo o latifúndio depredador, é uma tarefa democrática que no Brasil está indissociavelmente vinculada com a perspectiva de um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo. Os governos do PT, de conciliação com a direita e o agronegócio, apenas incrementaram os milhões de hectares em latifúndios, que passaram a representar quase 25% do PIB em 2015. O projeto de país petista, apoiado naqueles que hoje são base do bolsonarismo, não é nenhuma alternativa ao cataclismo da extrema direita.
Elementos de um programa como este, operário e anticapitalista, seriam uma poderosa alavanca na luta para os trabalhadores de todo país tomarem em suas mãos a luta junto dos camponeses, quilombolas e povos originários para abolir essa herança colonial e escravocrata do latifúndio, e oferecer terra, crédito e tecnologias a todos que queiram trabalhar nela.
Impulsionemos com todas as forças os atos em todo o país contra a destruição do meio ambiente pelos capitalistas, inclusive aqueles que se revestem com peles de cordeiro para melhor explorar os recursos mundiais.
 

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Buscando informações sobre a crise na Ásia: Quem está por trás dos protestos de Hong Kong?

Nem tudo que reluz é ouro, nem toda  gente na rua é sinônimo de revolução social. A contra-revolução está viva, patrocinada e com estratégia!  Blog
 
 
Por Wei Xinyan e Zhong Weiping

Não é difícil imaginar a reação dos Estados Unidos se diplomatas chineses se reunissem com líderes dos manifestantes Occupy Wall Street, Black Lives Matter ou Never Trump.

Em 6 de agosto, a mídia de Hong Kong noticiou dois encontros entre um conselheiro político dos EUA e líderes separatistas. Julie Eadeh, que trabalha no Consulado Geral dos EUA em Hong Kong, foi pego em reunião com as figuras da oposição Martin Lee e Anson Chan.
 
Mais tarde naquele dia, Eadeh também conheceu Joshua Wong, um dos líderes do movimento "Occupy Central" em 2014.
 
Mas muito antes desses relatórios, havia uma evidência crescente de uma mão deliberada dos EUA no agravamento da situação em Hong Kong. Políticos dos EUA se reuniram com Lee e outros líderes da oposição de Hong Kong, incluindo Jimmy Lai.
Essas reuniões apenas acrescentaram combustível às ações criminosas que ameaçavam Hong Kong.
 Jimmy Lai se encontra com o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, na Casa Branca, em 8 de julho de 2019.
A China pediu repetidamente aos Estados Unidos que parem de interferir nos assuntos domésticos de outros países, mas parece que este último não tem intenção de retirar sua “mão intrometida”.
As mensagens do protesto e os grupos associados a ele levantam várias questões sobre quão orgânico é o movimento.
O Mint Press News, um site de notícias dos EUA, relatou que alguns grupos envolvidos em tumultos recentes em Hong Kong receberam fundos significativos do National Endowment for Democracy - NED, que descreveu como “um recorte de soft power da CIA que tem desempenhado um papel crítico em inúmeras operações de mudança de regime ”.
 
Embora se promova como uma “organização não governamental”, o site do NED diz que “recebe uma dotação anual do Congresso dos EUA através do Departamento de Estado, para ajudar o governo dos EUA”.
“O status de ONG da NED permite que ela funcione onde não há governo com relações com o governo e em outros ambientes onde seria muito complicado para o governo dos EUA trabalhar”.
NED & CIA
A NED foi fundada em 1983, quando os holofotes sobre a CIA eram tão intensos que novos métodos -  sem uma clara conexão com o Estado Unidos - tinham de ser encontrados para promover os interesses dos EUA nos sistemas políticos estrangeiros.
Apresentando-se como uma ONG independente e privada, sua função era assumir os programas de mudança de regime político da CIA.
“Nós não deveríamos fazer esse tipo de trabalho secretamente. Seria terrível para os grupos democráticos em todo o mundo serem vistos como subsidiados pela CIA ”, disse o presidente do NED, Carl Gershman, ao New York Times em 1986.“ Vimos isso nos anos 60 e é por isso que o programa foi interrompido. Nós não teríamos capacidade de fazer isso, e é por isso que a dotação foi criada. ”
Em 1991, o Washington Post citou outro fundador da NED, Allen Weinstein, dizendo que "muito do que fazemos hoje foi feito secretamente há 25 anos pela CIA".
 Captura de tela de The News com Rick Sanchez, da RT TV
A NED não esconde seu apoio à “democratização” em certos países asiáticos, proclamando em seu site: “Em 2017, a Fundação endossou países na Ásia… onde a NED estava posicionada para ter o maior impacto. Com base na estratégia do NED de anos anteriores, os programas continuaram concentrados nos principais países dentro de cada sub-região. ”
A Voz da América (VOA)entrevistou Louisa Greve, então vice-presidente dos programas da NED para a Ásia, Oriente Médio e Norte da África, em 2014. Segundo Loisa, a organização financia programas em Hong Kong há cerca de duas décadas, com doações de vários milhões de dólares. Disse ainda que o nível de apoio foi consistente durante esse período.
A VOA disse que os três sócios do NED em Hong Kong são o Centro Solidário dos EUA e o Monitor de Direitos Humanos de Hong Kong, que recebeu doações de cerca de US $ 150.000 e trabalham em Hong Kong desde 1997, e o Instituto Nacional Democrata dos EUA, que recebeu US $ 400.000. .
A Mint Press News disse que o financiamento do NED para grupos em Hong Kong, na verdade, remonta a 1994, com o HKHRM recebendo mais de US $ 1,9 milhão entre 1995 e 2013.
O site do NED mostra que concedeu US $ 155.000 para SC e US $ 200.000 para NDI para trabalhar em Hong Kong e US $ 90.000 para o Centro de Justiça de Hong Kong em 2018. NDI recebeu US $ 650.000 de 2016 a 2017 e SC recebeu US $ 459.865 de 2015 a 2017.

 
Captura de tela de The News com Rick Sanchez, da RT TV
 
Em entrevista ao programa Fox News, o DEFCON 3 em 2014, Michael Pillsbury, pesquisador do Hudson Institute, disse que os EUA têm alguma influência sobre questões políticas em Hong Kong.

“Também financiamos milhões de dólares em programas através do National Endowment for Democracy… então, nesse sentido, a acusação chinesa (de que os EUA desempenharam um papel nos protestos em Hong Kong) não é totalmente falsa… ”, disse ele.
É inconcebível que os organizadores dos atuais protestos de Hong Kong não estejam cientes dos laços do NED com alguns dos membros da coalizão. Em sua entrevista à VOA em 2014, Loisa Greve disse que os ativistas sabiam dos riscos de trabalhar com parceiros da NED, “mas eles ainda dizem que 'a cooperação internacional é legítima'”.
Em março, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, reuniu-se com Anson Chan e os parlamentares de oposição Charles Mok e Dennis Kwok em Washington.
 
Dois meses depois, Lee visitou os EUA e se reuniu com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e participou de um evento organizado pelo NED.
 
 
No início do mês passado, Lai se reuniu com políticos dos EUA, incluindo Pence, Pompeo, o conselheiro de segurança nacional John Bolton e alguns senadores republicanos.
A mesma sequência de eventos ocorreu no movimento  “Occupy Central” em 2014.
Lee e Chan discutiram os planos para o "Ocupe Central" com L.Greve em Washington em abril de 2014, contando sobre o movimento, seus principais atores, agenda e demandas.
 
Dois dias depois, Martin Lee e Anson Chan conheceram o então vice-presidente americano, Joe Biden.
 


O NED, descrito pelo historiador americano William Blum como uma organização que muitas vezes faz exatamente o oposto do que o nome indica, nunca parou sua intromissão global. Ele usa a ferramenta da democracia para alimentar “revoluções coloridas” pelo mundo.
 
O South China Morning Post diz que dedica mais de US $ 170 milhões por ano a "sindicatos trabalhistas, facções políticas, clubes estudantis, grupos cívicos e outras organizações".
Na década de 1980, financiou “forças democráticas” na Tchecoslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária para agitar por “mudança de regime”, de acordo com um relatório do Washington Post em 1991.
Mais recentemente, tentou influenciar as eleições na Mongólia, Albânia, Bulgária e Eslováquia e construiu “movimentos anti-russos na… Ucrânia, Bielorrússia, Moldávia, Geórgia, Sérvia, Kosovo e Bósnia-Herzegovina”, de acordo com Stephen Kinzer. , especialista em assuntos internacionais e públicos da Brown University, que disse que a organização deveria ser mais apropriadamente chamada de "National Endowment for Attacking Democracy" .NED também doou dinheiro para "grupos cívicos" nas regiões autônomas de Xinjiang Uygur e Tibet para sabotar estabilidade da região.
 
Zhang Guoqing, especialista da Academia Chinesa de Ciências Sociais, disse ao Global People que a NED é uma veterana no planejamento de “revoluções coloridas” em todo o mundo, especialmente na Ásia Central, Oriente Médio e América do Sul. Esse tipo de “revoluções” se tornou uma importante ferramenta política para os EUA subverterem o poder estatal, disse Zhang.
Alega estar salvaguardando a democracia em todo o mundo, mas, na verdade, está trazendo desestabilização para os países que tem como alvo às custas dos contribuintes dos EUA.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

O Dragão expoe o seu roteiro, negando que está à procura de hegemonia

Por Pepe escobar

O livro branco "A Defesa Nacional na Nova Era" da China mostra onde o país pretende estar até 2049

O mérito crucialmente decisivo de China’s National Defense in the New Era [Defesa Nacional da China na Nova Era], documento divulgado pelo Conselho de Estado em Pequim, é dirimir qualquer dúvida remanescente sobre de onde vem o Império do Meio e para onde estará indo em 2049, a data mítica para, teoricamente, estar restaurado como principal potência global.
Embora não seja ultra minucioso, o documento com certeza pode ser lido como contraponto chinês à US National Security Strategy [Estratégia da Segurança Nacional dos EUA], e à National Defense Strategy [Estratégia de Defesa Nacional] dos EUA.

Nem é preciso dizer que cada linha está sendo cuidadosamente examinada pelo Pentágono, que vê a China como “ator maligno” e “ameaça” – a terminologia associada ao mantra norte-americano da “agressão chinesa”.

Para encurtar a história e perpétua delícia de apoiadores e críticos da China, aí vão os pontos essenciais do documento.
Que estabilidade global?
A liderança em Pequim diz abertamente que “os EUA ajustaram suas estratégias de segurança nacional e de defesa e adotaram políticas unilaterais” que, essencialmente, “minaram a estabilidade estratégica global.” Vastos setores do Sul Global concordarão plenamente.

A contraparte é a evolução da “parceira estratégica abrangente China-Rússia de coordenação para uma nova era” que hoje desempenha “papel significativo na manutenção da estabilidade estratégica global.”

Paralelamente, Pequim é muito cuidadosa ao elogiar o “relacionamento militar com os EUA conforme os princípios de não conflitação, não confrontação, respeito mútuo e cooperação de tipo ganha-ganha.” O “relacionamento militar-militar” deve operar como “um estabilizador para as relações entre os dois países e, assim, contribuir para o relacionamento China-EUA baseado em coordenação, cooperação e estabilidade.”

Outra contraparte chave a EUA – e OTAN – é o papel cada vez mais crucialmente decisivo da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), a qual está “forjando uma parceria construtiva de não aliança e não confrontação que não visa terceiros, expandindo um novo modelo de cooperação para segurança e defesa regionais.”

O documento destaca que “a OCX cresceu e converteu-se num novo tipo de organização de cooperação regional abrangente que cobre a maior área e a maior população do mundo”, o que é factualmente correto. A mais recente reunião de cúpula da OCX em Bishkek conseguiu com muito sucesso mostrar algumas das muitas elogiadas qualidades do grupo, especialmente “confiança mútua”, “consultas”, “respeito por civilização diversas” e “busca de desenvolvimento comum.”

Nos pontos mais quentes, ao contrário do ceticismo ocidental, o documento chinês afirma que “a situação do Sul da China é de modo geral estável”; e que “continua a se desenvolver uma arquitetura de segurança asiática equilibrada, estável e inclusiva.”

Não deve haver qualquer ilusão quanto à posição de Pequim sobre a “independência de Taiwan” – a qual jamais se desviará do que foi fixado pelo Pequeno Timoneiro Deng Xiaoping no final dos anos 1970s: “Forças separatistas e respectivas ações continuam a ser a mais grave ameaça imediata à paz e estabilidade no Estreito de Taiwan e principal barreira a impedir a reunificação pacífica do país.”

E o mesmo se aplica a “forças separatistas favoráveis à ‘independência do Tibete’ e a criação do ‘Turquestão Oriental’.” O modo como Pequim lidou com – e economicamente desenvolveu – o Tibete continuará a ser a planta baixa, para desenvolver Xinjiang, independente dos protestos ocidentais contra a subjugação, pela China, de mais de um milhão de uigures.

Quanto ao torvelinho em Hong Kong e o grau em que reflete a interferência de “forças externas”, o documento apresenta Hong Kong como o modelo a ser seguido na direção de Taiwan. “A China adere aos princípios da ‘reunificação pacífica’ e de ‘um país, dois sistemas’; promove desenvolvimento pacífico das relações trans-estreitos; e avança a reunificação pacífica do país.”

No Mar do Sul da China, o documento observa que “países de fora da região conduzem frequentes ações de reconhecimento próximo sobre a China, por ar e mar, e ilegalmente invadem águas territoriais chinesas e águas e espaço aéreo próximos de ilhas e recifes da China, minando a segurança nacional da China.”

Para que se entenda bem, sem imprecisões, o documento diz: “As ilhas do Mar do Sul da China e as Ilhas Diaoyu são partes inalienáveis do território chinês”. A Associação de Nações do Sudeste da Ásia, ANSA [ing. ASEAN] e o Japão terão de lidar com o que Pequim declara como fatos.
Nenhuma hegemonia, jamais
Apesar de observar que “foram feitos grandes progressos na Revolução nos Assuntos Militares com características chinesas” – a versão chinesa do Pentágono – o documento admite que “o Exército de Libertação do Povo ainda está muito atrasado em relação às principais forças militares do mundo. O compromisso inafastável é “transformar completamente as forças armadas do povo em forças de primeira classe mundial até meados do século 21.”

Ênfase especial é dada à diplomacia chinesa relativamente silenciosa, operante por trás do palco. “A China desempenhou papel construtivo na pacificação política de pontos quentes de atrito regional, como na questão da Península Coreana, na questão nuclear iraniana e na questão síria.” O corolário não poderia ser mais claramente posto. “A China opõe-se à hegemonia, ao unilateralismo e aos duplos padrões.”

Pode-se dizer que o ponto mais importante fixado nesse documento – em claro contraste com a narrativa da “agressão chinesa” – é que “Jamais Buscar Hegemonia e Expansão ou Esferas de Influência” é declarado “o traço distintivo da defesa nacional da China na nova era.”

Isso vem apoiado na que pode ser definida como a abordagem distintivamente chinesa das relações internacionais – respeitar “os direitos de todos os povos, de escolher com independência a própria via de desenvolvimento” e “o solucionamento das disputas internacionais mediante diálogo, negociação e consultas entre nações iguais. A China opõe-se à interferência nos assuntos internos de outros, ao abuso do fraco pelo forte, e a qualquer tentativa para impor sobre outros o desejo de um.”

Assim sendo, o mapa do caminho está sobre a mesa, para que todos vejam. Será fascinante assistir às reações de miríade de latitudes em todo o Sul Global. Vamos ver como o sistema “Agressão Chinesa” responde.

Propaganda anônima de 1899 contra "o Terror Amarelo em toda a sua glória"