segunda-feira, 9 de abril de 2012

ESPECIAL COLÔMBIA Parte 1


Este mês, o somostodospalestinos se dedicará à resistência do povo colombiano que sofre e resiste às violências do terror do Estado democrático, há 64 anos. Este mês, este bravo povo protagonizará uma grande mobilização popular, convocada pelas organizações sociais, populares e políticas dos camponeses, indígenas, estudantes, trabalhadores, dos bairros, das organizações culturais, enfim são milhares de mulheres e homens explorados deste país, que veem construindo ao longo dos anos a Marcha Patriótica pela Segunda e Definitiva Independência.

Nesta Primeira Parte do Especial Colômbia nos dedicaremos a contar em breves linhas a história dessa trágica relação entre um Estado terrorista e o povo trabalhador colombiano e como constroem sua resistência.


Parte 1: A HISTÓRIA
A violência extrema do Estado Colombiano, que se reproduz e se supera governo após governo, década após década, é a base para entender e desvendar a necessidade que as populações rurais e os trabalhadores da cidade tiveram e continuam tendo  de se organizar em armas para defender sua integridade física, seu modo de vida e suas terras.
A expansão violenta do agro-negócio,  a apropriação de florestas, das áreas campesinas e terras indígenas, cujas riquezas em petróleo e minerais estavam assentados, produziram – produzem ainda - imensas ondas de deslocamentos da população rural, que vêm crescendo desde a década de 20. Esse êxodo permanente gera um aumento espetacular do nível de desemprego nos grandes centros urbanos e a fome no campo. Neste processo, os camponeses reagem, reavendo parte do que lhes foi roubado e tentam reconstruir coletivamente uma nova sociabilidade.
Foi assim que, no ano de 1956, período anterior àquele que marca a formação das FARC, os grupos de autodefesa armados de Marquetália realizaram  uma Conferência para discutir a situação da população rural diante da espiral de violência observada contra os camponeses. Os dramáticos relatos dos camponeses de outras áreas justificam a decisão da Conferência pela expansão da auto-defesa para mais três departamentos.
Em 1960, no Departamento de Tolima, no Distrito de Marquetália, os camponeses dão início à construção de uma nova sociedade igualitária. Assim nascem na Colômbia, sob a inspiração da Revolução Cubana, comunidades onde a esperança por uma vida digna adquiria novo sentido. Sob a direção do teórico marxista Jacob Arenas, de Manuel Marulanda Vélez e Hernando Gonzalez, uma pequena sociedade baseada na autogestão econômica e militar de autodefesa estava sendo erguida. Essa nova construção social marcava o resgate do modo de produção da vida camponesa de forma solidária e sustentável. Nessas áreas foi abolida a propriedade privada e a Reforma Agrária foi discutida e implementada pelas comunidades.
O Estado reage potencializando ao máximo sua política de terror sobre a população camponesa que se organizava nas montanhas. Combina o uso do aparelho repressivo oficial com seu braço ilegal, os paramilitares, para defender os interesses de uma classe e de suas alianças com o imperialismo. Estavam em jogo os interesses do capital , que se via preocupado com a recente Revolução Cubana.  O processo em curso de apropriação das riquezas minerais colombianas pelo imperialismo  se encontrava diretamente ameaçado pela organização popular.
Foi desencadeada uma mega operação militar, conhecida como “operação Marquetália”: Os EUA investiram 300 milhões de dólares[1], enviaram assessores militares e modernos armamentos para o Estado colombiano acabar com a organização das comunidades camponesas  e com os grupos insurgentes de autodefesa, denominados como “moscovita”.
Em maio de 1964, o exército colombiano organiza um ataque aéreo fulminante e mobiliza 16.000 efetivos militares[2] contra a região rural onde foram fundadas as comunidades independentes e socialistas. A criminosa ofensiva militar, parte do Plano Laso[3], deixou um rastro de mais de 300 mil pessoas assassinadas, entre mulheres, idosos e crianças e a apropriação de milhões de hectares de terras férteis pelos poderosos oligarcas liberais e conservadores da Colômbia.
Para a carnificina, o exército contou com a ajuda dos paramilitares, na época conhecidos por “pássaros”. Na ocasião, o PCC (Partido Comunista Colombiano) denuncia a participação de bombardeiros norte americanos na operação.  A população de Marquetália é expulsa de suas terras, não antes de cada lugarejo receber uma descarga de 30 toneladas de mísseis de alto poder destrutivo, bombas de napalm e intensas rajadas de metralhadora lançadas contra os camponeses. (Ospina)
Nesse mesmo ano, convencidos de que pelos meios legais e pela limitada via democrática era impossível mudar a rígida e conservadora política agrária do país e por fim às injustiças, os camponeses, que vinham lutando nos grupos de defesa organizados e que se refugiavam nas Montanhas, fundam as FARC.  “A estratégia insurgente na Colômbia, imputada a Manuel Marulanda Vélez[4], dá origem a uma organização com fortes vínculos sociais com os camponeses, apoiada na solidariedade interna entre as comunidades, as famílias camponesas e a classe trabalhadora urbana”.(Santrich, Jesus[5])
Nesse período também são fundadas outras organizações de auto defesa, a ELN – Exército de Libertação Nacional e, em 1967, o EPN – Exército Popular Nacional.
O ideólogo e fundador do ELN, sacerdote Camilo Torres Respetro, ficou conhecido na época por sua famosa pregação junto à população rural: “o dever de todo cristão é ser revolucionário e o dever de todo revolucionário é fazer a revolução”.
Essa é a base política e social do confronto de classes que temos na Colômbia, ainda hoje: 
Se a marca da oligarquia, conjunto da classe que dirige o Estado, é o terror, o da população camponesa é a resistência e um projeto sociopolítico para mudar o país com justiça, democracia e igualdade.

[1] Ospina, Hernando Calvo. O Terrorismo de Estado na Colômbia. Ed. Insular,2010.
[2] Idem
[3] Latin American Securty Operation
4] Principal liderança e fundador das Farc.
[5] Membro do Secretariado Geral do Estado Maior das Farcs. In: Manuel Marulanda Vélez. El héroe insurgente de La Colombia de Bolívar.

Por Maristela R. Santos Pinheiro

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