Este mês, o somostodospalestinos se dedicará à resistência
do povo colombiano que sofre e resiste às violências do terror do Estado
democrático, há 64 anos. Este mês, este bravo povo protagonizará uma grande
mobilização popular, convocada pelas organizações sociais, populares e
políticas dos camponeses, indígenas, estudantes, trabalhadores, dos bairros,
das organizações culturais, enfim são milhares de mulheres e homens explorados
deste país, que veem construindo ao longo dos anos a Marcha Patriótica pela
Segunda e Definitiva Independência.
Nesta Primeira Parte do Especial Colômbia nos
dedicaremos a contar em breves linhas a história dessa trágica relação entre um
Estado terrorista e o povo trabalhador colombiano e como constroem sua
resistência.
A violência extrema do Estado Colombiano, que se reproduz e se supera
governo após governo, década após década, é a base para entender e desvendar a
necessidade que as populações rurais e os trabalhadores da cidade tiveram e
continuam tendo de se organizar em armas
para defender sua integridade física, seu modo de vida e suas terras.
A expansão violenta do agro-negócio, a apropriação de florestas, das áreas
campesinas e terras indígenas, cujas riquezas em petróleo e minerais estavam
assentados, produziram – produzem ainda - imensas ondas de deslocamentos da
população rural, que vêm crescendo desde a década de 20. Esse êxodo permanente
gera um aumento espetacular do nível de desemprego nos grandes centros urbanos
e a fome no campo. Neste processo, os camponeses reagem, reavendo parte do que
lhes foi roubado e tentam reconstruir coletivamente uma nova sociabilidade.
Foi assim que, no ano de 1956,
período anterior àquele que marca a formação das FARC, os grupos de autodefesa armados de Marquetália realizaram uma Conferência para discutir a situação da
população rural diante da espiral de violência observada contra os camponeses.
Os dramáticos relatos dos camponeses de outras áreas justificam a decisão da
Conferência pela expansão da auto-defesa para mais três departamentos.
Em 1960, no Departamento de Tolima, no Distrito de Marquetália, os
camponeses dão início à construção de uma nova sociedade igualitária. Assim
nascem na Colômbia, sob a inspiração da Revolução Cubana, comunidades onde a
esperança por uma vida digna adquiria novo sentido. Sob a direção do
teórico marxista Jacob Arenas, de Manuel Marulanda Vélez e Hernando Gonzalez,
uma pequena sociedade baseada na autogestão econômica e militar de autodefesa
estava sendo erguida. Essa nova construção social marcava o resgate do modo de
produção da vida camponesa de forma solidária e sustentável. Nessas áreas foi abolida a propriedade privada e
a Reforma Agrária foi discutida e implementada pelas comunidades.
O Estado reage potencializando ao máximo sua política de terror sobre a
população camponesa que se organizava nas montanhas. Combina o uso do aparelho
repressivo oficial com seu braço ilegal, os paramilitares, para defender os
interesses de uma classe e de suas alianças com o imperialismo. Estavam em jogo
os interesses do capital , que se via preocupado com a recente Revolução
Cubana. O processo em curso de
apropriação das riquezas minerais colombianas pelo imperialismo se encontrava diretamente ameaçado pela
organização popular.
Foi desencadeada uma mega operação militar, conhecida como “operação
Marquetália”: Os EUA investiram 300 milhões de dólares[1],
enviaram assessores militares e modernos armamentos para o Estado colombiano
acabar com a organização das comunidades camponesas e com os grupos insurgentes de autodefesa,
denominados como “moscovita”.
Em maio de 1964, o exército
colombiano organiza um ataque aéreo fulminante e mobiliza 16.000 efetivos
militares[2]
contra a região rural onde foram fundadas as comunidades independentes e
socialistas. A criminosa ofensiva militar, parte do Plano Laso[3],
deixou um rastro de mais de 300 mil pessoas assassinadas, entre mulheres,
idosos e crianças e a apropriação de milhões de hectares de terras férteis
pelos poderosos oligarcas liberais e conservadores da Colômbia.
Para a carnificina, o exército
contou com a ajuda dos paramilitares, na época conhecidos por “pássaros”. Na
ocasião, o PCC (Partido Comunista Colombiano) denuncia a participação de
bombardeiros norte americanos na operação.
A população de Marquetália é expulsa de suas terras, não antes de cada
lugarejo receber uma descarga de 30 toneladas de mísseis de alto poder
destrutivo, bombas de napalm e intensas rajadas de metralhadora lançadas contra
os camponeses. (Ospina)
Nesse mesmo ano, convencidos de que
pelos meios legais e pela limitada via democrática era impossível mudar a
rígida e conservadora política agrária do país e por fim às injustiças, os
camponeses, que vinham lutando nos grupos de defesa organizados e que se
refugiavam nas Montanhas, fundam as FARC.
“A estratégia insurgente na
Colômbia, imputada a Manuel Marulanda Vélez[4],
dá origem a uma organização com fortes vínculos sociais com os camponeses,
apoiada na solidariedade interna entre as comunidades, as famílias camponesas e
a classe trabalhadora urbana”.(Santrich, Jesus[5])
Nesse período também são fundadas
outras organizações de auto defesa, a ELN – Exército de Libertação Nacional e,
em 1967, o EPN – Exército Popular Nacional.
O ideólogo e fundador do ELN,
sacerdote Camilo Torres Respetro, ficou conhecido na época por sua famosa
pregação junto à população rural: “o dever de todo cristão é ser revolucionário
e o dever de todo revolucionário é fazer a revolução”.
Essa é a base política e social do confronto de classes que temos na
Colômbia, ainda hoje:
Se a marca da oligarquia, conjunto da classe que dirige o Estado, é o
terror, o da população camponesa é a resistência e um projeto sociopolítico
para mudar o país com justiça, democracia e igualdade.
[1] Ospina,
Hernando Calvo. O Terrorismo de Estado na Colômbia. Ed. Insular,2010.
[2] Idem
[3] Latin American Securty Operation
4] Principal liderança e fundador das Farc.
[5] Membro do Secretariado Geral do Estado
Maior das Farcs. In: Manuel
Marulanda Vélez. El héroe insurgente de La Colombia de Bolívar.
Por Maristela R. Santos Pinheiro
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