sábado, 11 de fevereiro de 2012

Síria: mais um passo na escalada




por Ardeshir Ommani [*]

A oposição armada síria não é independente dos Estados Unidos e de regimes reaccionários árabes no seu objectivo de tomar o poder, não através das urnas mas impondo uma guerra civil. O grau da sua dependência e servilismo manifesta-se quando a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, apelou sem rodeios aos "amigos da Síria democrática" para unirem-se e marcharem contra o presidente Bashar Assad. Esta proclamação foi anunciada solenemente um dia depois de a autorização para intervenção militar na Síria promovida pelos EUA ter sido rejeitada pela China e Rússia, as quais foram forçadas a vetar os planos estado-unidenses para a invasão da Síria.

Continuando suas intenções, Clinton reiterou que a "comunidade internacional", tal como a "coligação da vontade" de George W. Bush, tinha o dever de promover uma transição política que contemplasse o afastamento do presidente Bashar al-Assad.

Clinton deu a sua directiva para o mundo todo ao visitar a Bulgária, um dos 10 países mais pobres da Europa, com um Produto Interno Bruto (PIB) inferior a US$53 mil milhões em 2010, rendimento per capita de US$13.449 e uma dívida bruta do governo de 19,7% do PIB do país. O objectivo de mencionar as fracas condições económicas da Bulgária não é denegrir o país ou o seu povo, mas sim mostrar que o imperialismo estado-unidense com os seus planos de dominação, destruição e pilhagem utiliza mesmo as nações mais atingidas pela pobreza para virá-las contra outros países em luta tais como a Síria, o Irão e não muito tempo atrás a Líbia a fim de cumprir seus propósitos criminosos. Seguindo as pegadas de Cheney, Rumsfeld e Companhia pouco antes da invasão do Iraque, Clinton atacou a Rússia e a China como para declarar: "confrontados com um Conselho de Segurança neutralizado temos de redobrar nossos esforços fora das Nações Unidas com nossos aliados e parceiros..."

Penso que já vimos este filme antes. A primeira personagem que aparece na cena é um porta-voz da Liga Árabe (LA). Não faz diferença se ele é eleito ou nomeado pelo rei e primeiro-ministro da Arábia Saudita e, ainda mais importante, se ele recebeu as bênçãos de Hillary Clinton ou do general David H. Petraeus, o director da CIA. A seguir à sua designação, o emissário da Liga Árabe, que foi levado solenemente à Assembleia-Geral da ONU por Susan Rice, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, defendeu o estabelecimento de uma "zona de interdição de voo" ("no fly zone") para salvar as vidas dos sírios inocentes, pelo amor de Deus!

Se não houvesse protesto à resolução bem preparada pelo governo estado-unidense, então Washington teria permissão para trabalhar e com a ajuda da coligação das vontades, autorização na mãos, começava o bombardeamento da logística síria, toda espécie de depósitos de armas, redes eléctricas, fábricas, reservatórios de água, sistemas de esgotos de cidades, escolas e hospitais. Será que este cenário tem precedentes? Sim, cerca de seis meses depois de extrair a licença para impor uma "zona de interdição de voo" sobre a Líbia, as potências ocidentais com bombardeamentos maciços arrasaram aquele país, libertaram o petróleo light sweet do país e conseguiram instalar um dos altos executivos da ENI SpA (a principal empresa de petróleo da Itália) como ministro do Petróleo e em dois meses as companhias ocidentais estavam a sugar 1,3 milhão de barris por dia.

Desta vez a tarefa de preparar a minuta da resolução foi atribuída ao representante marroquino nas Nações Unidas que actuou rapidamente. O plano exigia ao governo sírio a retirada de todas as suas forças armadas das áreas habitadas com retorno aos seus quartéis. Contudo, ignorou a exigência da Rússia de que a oposição síria se afastasse de grupos extremistas que cometiam violências e crimes contra civis. A segunda exigência russa que foi totalmente ignorada era que "grupos armados devem cessar ataques contra instituições do estado e públicas enquanto as forças armadas sírias estão a deixar as cidades". A recusa a incluir estas disposições na minuta da resolução significava apenas uma coisa: dissolução do estado sírio e uma "mudança de regime" total.

Ao invés de pedirem desculpas, os co-autores da minuta começaram a atacar a integridade do governo russo. Exemplo: o representante do Marrocos acusou o governo russo de ignorar as "posições comuns árabes". O delegado da França chegou ao ponto de chamar a Rússia e a China de cúmplices em crimes cometidos pelo regime sírio. Para a Rússia e a China, que haviam visto as terríveis consequências na Líbia, só havia uma alternativa e esta era vetar a resolução.

Desta vez, no caso da Síria, a China e a Rússia aprenderam sua amarga lição e resistiram a serem enganados uma segunda vez. Mas os EUA e seus aliados haviam arrumado o baralho de modo favorável a aprovar a resolução e fazer para a Síria o que fizeram para a Líbia. Mais significativo ainda é que os EUA não aceitaram qualquer alteração à minuta de resolução, o que forçou a China e a Rússia a vetá-la e derrotá-la.

Já em Novembro de 2011, a NATO, em colaboração com os xeques árabes pró-imperialistas e reaccionários do Bahrain, Kuwait, Qatar e Emirados Árabes Unidos (EAU) e ainda a Turquia planeavam invadir a Síria, estabelecer um regime colonial e derrubar o governo secular social-democrata. Segundo um artigo no Al Bawaba, um sítio web em árabe/inglês, altas fontes europeias revelaram que caças a jacto árabes e possivelmente aviões de guerra turcos, apoiados pela logística americana, imporiam uma zona de interdição de voo nos céus da Síria depois de a Liga Árabe emitir uma decisão apelando à intervenção armada. As fontes disseram ao diário al Raid, do Kuwait, que camiões, tanques e veículos militares sírios não seriam excluídos como alvos por parte dos jactos invasores.

Os destinos da Líbia e da Síria não poderiam ser mais semelhantes. Dentro de uma profunda crise económica, os EUA e a Europa procuram regenerar o capitalismo através da guerra generalizada com países em desenvolvimento até ficarem prontos para a guerra com a Rússia e a China.
Ver também:
Twenty-eight Martyrs, 235 Wounded in Twin Terrorist Bomb Blasts in Aleppo City

Twin Terrorist Bombings in Aleppo Fall within Unfair Campaign against Syria, Supported by some Countries in Region

Armed Terrorist Groups Detonate Booby-Trapped Houses in Homs, Civilians and Security Forces Members Martyred

Mikdad: Syrian People Encounter Biggest, Insolent Conspiracy by Colonial Countries

EEUU impulsa la diplomacia para la guerra contra el pueblo sirio

Gobierno sirio desmiente bombardeos en Homs: crece la campaña injerencista

SYRIA: CIA-MI6 Intel Ops and Sabotage

NATO’s Objective is to turn Syria into Another Iraq, a Quagmire of Ethnic and Sectarian Violence

[*] Presidente do American Iranian Friendship Committee (AIFC), escritor e analista político. A AIFC foi criada em 2004 para promover a paz e o diálogo entre os EUA e o Irão, bem como impedir qualquer guerra instigada pela NATO contra o povo iraniano.

O original encontra-se em http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/NB10Ak01.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

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