Análise de David Urra
I – A Guerra Silenciosa
Não era segredo para ninguém – foi revelado recentemente por altos personagens dos atuais e precedentes governos dos Estados Unidos – que esse país havia planejado a atual ofensiva no Oriente Médio e instruído o aparelho de “geração de conflitos” que preparara o Plano de Guerra psicológico-informativa para alcançar os objetivos planejados.
O Departamento de Estado, os órgãos de Segurança Nacional agrupados e sob a autoridade única e o Departamento de Defesa, deram-se a tarefa de organizar todos os pormenores necessários que permitirão cumprir com a estratégia já aprovada no Clube Bilderberg.
Nesse caso, se deveria começar com a estratificação da sociedade, o que implicava separar por grupos de interesse o espectro social sírio: militares; jovens; oposição intelectual interna e externa; líderes de opinião, acadêmicos; etc. A tarefa consiste em criar públicos objetivos e os canais de comunicação política dentro destes, por intermédio dos quais se transmitirá posteriormente a influência psicológico-informativa de um receptor a outro.
É necessário aclarar que durante esse processo incluem-se igualmente, tanto partidários do Governo sírio e suas autoridades, como os opositores, mas as ações a desenvolver com uns e outros diferem em forma e conteúdo. Igualmente consideram-se aqueles grupos sociais que não têm uma definição política, nem com o Governo nem com a oposição.
Os meios massivos de difusão (MMD) ocidentais têm um papel fundamental na realização das ações psicológico-informativas que estão sendo desenvolvidas na Síria, não somente por sua influência na opinião pública interna e internacional, mas porque servem de padrão para conhecer as linhas de desenvolvimento das operações psicológicas em curso e permitem medir seus resultados e corrigir o curso.
Se observarmos o emprego dos MMD, perceberemos como estes têm tratado de definir grupos que respondem a interesses comuns (suposta democratização da sociedade, aparição de líderes informais que “ajudam” a aglutinar e dirigir a “explosão” espontânea de inconformidade dos cidadãos) dentro da sociedade Síria.
Esses grupos foram estruturados a partir dos feitos provocados na cidade de Deraa no sul da Síria, zona onde existem as premissas necessárias para ativar a ação dos opositores ao Governo Sírio.
Por outro lado, começou a conformar-se uma “oposição” externa, composta por intelectuais que vivem fora da Síria, com o objetivo de dar-lhe uma imagem aceitável e canalizar dessa forma a “revolução democrática”.
Paralelamente, desenvolve-se uma ampla e certeira campanha de manipulação psicológico-informativa da opinião pública internacional, que inclui meios, métodos e procedimentos diplomáticos, políticos, informativos, econômicos, financeiros e militares.
Todas essas ações levam à polarização dos grupos em conflito. Por um lado, os grupos internos criados assumem a inclinação política que lhes induz desde os centros de poder ocidental, gerando um enfrentamento que em determinado momento passou a ser violento. Por outro, o Governo se vê obrigado a “reprimir” os grupos armados, o que permite criar uma matriz informativa que justifique a intervenção.
Dessa forma temos que primeiro se estimulou a criação de estratos que se foram formando com o objetivo de empregá-los na desestabilização do país e posteriormente se ativaram para radicalizar o processo.
De forma simultânea se organizou uma campanha de satanização do Presidente Sírio Bashar al Asad empregando para isso os meios diplomáticos (Liga Árabe, Comissão de Direitos Humanos da ONU, Organizações não Governamentais) e a sua vez no plano econômico-financeiro se bloqueiam contas e se fecham mercados com o objetivo de limitar os acessos a recursos básicos de sobrevivência do país e com isso tratar de provocar mal-estar e desespero em determinados estratos da população que apóiam ao governo e que culpariam supostamente a este das penúrias pelas quais passam.
A utilização da violência nas ações dos grupos opositores e sua posterior manipulação e dimensionamento exagerado por parte dos MMD e representantes de organizações afins ao ocidente, permitem ademais influenciar a opinião pública internacional com o interesse de criar um consenso que permita justificar ações militares para “salvaguardar” a população civil e deter o conflito.
É de esperar que dentro das operações psicológicas que se desenvolveram na Síria incluam-se aquelas dirigidas aos membros das forças armadas e seus familiares. Em outros casos recentes, - Iraque, Líbia - as potências ocidentais penetraram nos altos comandos e comandos intermédios dos corpos armados, alcançando um eficiente nível de comprometimento e deserção, o que facilitou as ações dos agressores para o alcance de seu objetivo com uma menor resistência.
Sincronicamente, são realizadas diversas operações psicológicas contra os membros das FF.AA, com o objetivo de gerar confusão e temor. Por um lado, pretende-se fazer crer que os grupos armados pelo ocidente dentro da Síria representam o povo e as forças armadas não deverão combatê-los sob pena de violar os Direitos Humanos. Igualmente se deseja instalar uma sensação de temor e medo a represálias e posteriores ajustes de conta.
II – Situação atual do conflito.
As operações psicológico-informativas que se desenvolvem contra a Síria se encontram no seguinte ponto de ação:
· Realização de ações violentas por grupos ativos que são preparados desde o exterior para gerar caos, confusão e dessa forma servir de pretexto para sanções e ações punitivas.
· O Governo está mobilizando seus simpatizantes para enfrentar a Guerra imposta ao país, empregando os meios ao seu alcance e preparar a população para enfrentar ações mais violentas em um futuro próximo.
· Está em pleno desenvolvimento uma operação informativa empregando meios diplomáticos e políticos (chantagens e pressões) com o objetivo de alcançar o consenso necessário na arena internacional que permita a realização de uma operação militar contra a Síria com o emprego de meios aéreos, navais e terrestres.
· O Governo está tratando de fortalecer sua posição com países que não têm uma atitude hostil (Rússia, China, Argélia, Irã, Líbano, América Latina) em relação à Síria, com o objetivo de criar uma frente que se oponha no plano diplomático, político, financeiro, econômico e militar ao bloco ocidental.
· A OTAN com os EUA à frente, está dando os primeiros passos para a realização de uma operação militar em grande escala contra a Síria. A presença de porta-aviões George Washington e sua escolta nas águas próximas à zona, o deslocamento e reforço de tropas no Qatar e na Arábia Saudita e os preparativos na Turquia são sintomas inequívocos de que estão em marcha os preparativos para a invasão.
· Diferente do conflito contra a Líbia e o Iraque, a oposição russa marca a diferença. As experiências desses dois conflitos demonstram que as concessões que China e Rússia fizeram ao ocidente não conduziram a nada bom. O Governo russo por fim compreendeu que as potências hegemônicas dos EUA e OTAN não serão saciadas com nada e o cerco que se tece ao redor dessas duas potências cada vez se fecha mais. Pela primeira, vez a Rússia declara que a real causa do conflito são os grupos irregulares que o ocidente armou para desestabilizar a Síria.
III – Ações a desenvolver pelo “Eixo da Guerra”.
Seguindo o esquema das operações psicológico-informativas, o ocidente deverá começar a executar a última parte do Plano que levaria aos seus objetivos. Se as estratégias não foram homogêneas nos conflitos anteriores (Iugoslávia, Afeganistão, Iraque e Líbia), determinado pelas diferenças de todo tipo que surgiram em cada caso, parece haver um consenso de que o esquema Líbio é o mais próximo a seguir nesse caso. Nele se resumem de algum modo as experiências adquiridas anteriormente e a intenção de minimizar o componente militar ou violento por razões óbvias (seu custo político, seu risco psicológico, seu custo financeiro e sua ação corrosiva sobre a imagem). Claro que a Síria não é a Líbia e tem suas especificidades.
· Não há uma oposição interna estruturada.
· Não há uma liderança nem institucional nem pessoal de oposição.
· O Governo sírio está mais centrado em atuar e tem um respaldo real que não se pode subestimar.
· A Rússia assumiu uma posição firme e tem abastecido a Síria com meios que podem ser decisivos caso se utilizem corretamente.
· As forças armadas sírias parecem ter maior coesão combativa.
Ao ocidente resta apenas aumentar a espiral de violência e se lançar em uma invasão ou utilizar a variante de desgaste caso não esteja seguro de que pode triunfar.
As ações a serem realizadas nestes casos poderiam agrupar-se da seguinte forma:
a) Informativas: O emprego dos MMD tem uma papel importante nessa etapa de desenvolvimento da Guerra. Por um lado é necessário “justificar” ante a opinião pública internacional e muito especialmente ante a opinião pública dos países membros do “Eixo da Guerra” (EUA, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália e Canadá), a possível realização de “bombardeios humanitários" e posterior invasão terrestre, considerando os custos financeiros, em vidas humanas e imagem política que esta operação leva.
Por outro lado, necessita-se provocar mudanças na psique dos sírios que gerem um mal-estar que conduzam a sublevação e a queda do atual Governo.
No campo da computação e das novas tecnologias de comunicação é indispensável difundir um ambiente de insegurança, mal-estar e desassossego, que permita influenciar desfavoravelmente o estado de ânimo da população. Para isso, se empregarão métodos clássicos como os rumores, as mistificações, as ilusões e fundamentalmente o emprego de recursos psicológicos que permitam abrandar a ideologia predominante. Já é conhecida a captura, por parte das forças governamentais sírias, de modernos equipamentos de comunicação entregues pelo ocidente aos “rebeldes”.
Igualmente já devem estar operando nas proximidades da Síria múltiplas estações de rádio que sob os apelativos de “Liberdade”, “Democracia”, “Unidade”, transmitem as mensagens para a subversão informativa. Isso se incrementará segundo se aproxime o momento de começar a operação em grande escala. Devemos considerar também o emprego da TV num país onde seu uso está difundido de forma massiva. Para isso entraram em operação os “Comando Único”, aviões equipados especialmente para a guerra eletrônica e que possuem entre suas características o poder de operar desde fora do território nacional, além de gerar múltiplas transmissões de forma uníssona, tanto de rádio como de TV. Igualmente possui equipamentos para detectar as freqüências de trabalho dos meios inimigos e para bloquear sua saída ao ar, substituindo-la por suas próprias.
É de esperar que as forças do Comando de Operações Especiais radicado em Fort Bregg tenham já um levantamento de todas as emissoras de rádio e televisivas da Síria, sua freqüência de trabalho, localizações e regime de transmissões, e em algum momento se procederá silenciá-las, seja por meios eletrônicos – empregando o “Comando Único” – ou por meios militares, para posteriormente substituí-las por transmissões subversivas desde os territórios limítrofes do país, ou o próprio “Comando Único”.
Ainda que o uso de materiais impressos de propaganda já deve estar sendo massivamente empregado, estes se incrementarão de forma substancial em momentos prévios aos bombardeios e à invasão, já que se demonstrou sua eficácia para a influência psicológica, fundamentalmente entre os membros das FF.AA. As mensagens estarão dirigidas a suplantar a decisão de defender seu país por parte dos sírios mediante o medo, os falsos rumores, a criação do mito da superioridade da OTAN, os ganhos econômicos e os supostos objetivos “humanitários” que os soldados invasores possuem.
Os EUA e a OTAN manterão sua pressão sobre a Liga Árabe, organização composta fundamentalmente por Monarquias e Governos corruptos a serviço do ocidente, para alcançar uma condenação definitiva e um passaporte para a realização da invasão que começará com um período de amortecimento e desgaste sistemático com o emprego de mísseis de longo alcance e aviação tripulada e estratégica.
Não faltarão as pressões sobre a ONU e suas instituições para que sancione à Síria de uma forma ou de outra. Ainda que os EUA saibam que a Rússia vetará qualquer tentativa de resolução condenatória no “Conselho de Guerra” da ONU, o objetivo da pressão é criar uma “imagem informativa” da Rússia, colocando-a num dilema de ter que apoiar a um “regime cruel e totalitário”.
Por último, não podemos deixar de assinalar alguns exemplos de determinadas leis da influência normativa:
· A mentira deverá ser em certa forma dosada e manter a aparência de veracidade;
· A necessidade de ter uma idéia clara do que espera o público, o que permitirá criar uma ilusão elaborada especificamente para esse público;
· Utilizar a “lógica de ação coletiva” da responsabilidade mutua;
· Utilizar a informação obtida e não divulgada, que seja contrária à linha oficial;
· Referir-se aos “princípios sagrados” da nação;
· Utilizar os símbolos e as simbologias de acordo com a tecnologia da imitação, utilizando como meios mais efetivos as metáforas, mitos e rituais.
b) Psicológicas: Na realidade, todas as medidas e ações que realiza o “Eixo da Guerra” estão encaminhadas para que a influência psicológica atue na população síria, assim como na comunidade internacional.
Há ações específicas que estão marcadas dentro do que é puramente psicológico. Entre estas se encontram:
· Criação de terror e pânico entre a população e os membros das forças armadas para desmoralizá-los e diminuir sua fé na defesa e na capacidade de alcançar o êxito.
· Ações para gerar um sentimento de confusão nas forças de defesa do país e fazer acreditar que é inferior e não tem possibilidades de enfrentar a força do agressor.
· Tratar de mostrar uma superioridade da técnica militar e de armamento, que levaria não somente a uma derrota “inevitável”, mas a grandes perdas humanas e materiais.
· Impulsionar os militares à deserção, prometendo-lhes grandes somas de dinheiro e um tratamento “digno” e indulgente, o que os “salvaria” de uma inevitável derrota. Em alguns casos se mostram alguns desertores que supostamente estão desfrutando da “liberdade” e “generosidade” dos agressores.
c) Militares: A realização de ações militares representa o elemento mais controvertido dos enfrentamentos que atualmente o “Eixo da Guerra” está levando. Os casos da Iugoslávia, Afeganistão, Iraque e Líbia, mencionando somente alguns, demonstram quão complicadas e contraditórias podem ser as ações militares.
O problema fundamental radica nos aspectos negativos que trazem consigo estas ações e que nem sempre podem ser assumidos com facilidade, inclusive se os objetivos traçados são alcançados, que quase sempre incluem a derrota do Governo existente e a instauração de uma administração dócil aos interesses do ocidente.
Diante de tudo, é necessário ter em conta que para derrotar um Governo é necessário roubar o poder daqueles que lhe sustentam, destruir seus órgãos de segurança e convencer a população de que isso é o correto e mais conveniente para o país.
Na maioria dos casos é inevitável utilizar a força, o que por sua vez traz consigo: grandes gastos financeiros; enorme custo político; criação de um sentimento de antipatia da população agredida contra os agressores; grande destruição de instalações militares, industriais e civis; enormes perdas humanas por ambos os lados e uma prolongada contaminação ambiental.
Na Síria o “Eixo da Guerra” não pode obter esses objetivos sem este custo. Para isso desenvolve-se a Guerra psicológico-informativa, tratando de minimizar a campanha bélica e com isso alcançar com menos traumas os objetivos traçados. Só que a Síria não é a Líbia e dificilmente a OTAN poderá estruturar o “passeio” que constituiu a campanha Líbia.
Para isso, estão organizando um ataque fulminante que provoque uma quebra da resistência em menor tempo possível. Nesse caso, é necessária a participação de aliados do Oriente Médio (Turquia, Jordânia, Arábia Saudita, Qatar e os Emirados Árabes), com apoio, fundamentalmente logístico e de inteligência, de Israel.
Alguns se perguntaram: e por que não Israel? O tema israelita é muito complexo, antes de tudo sua participação tornaria inviável a participação de outros países árabes que não confiam neles e geraria uma verdadeira revolução contra essa guerra, a favor da Síria, no Oriente Médio. Por outro lado, esta conjuntura não seria conveniente para o Líbano, pois o Hezbolah lançaria uma ofensiva e geraria uma situação insustentável ao frágil governo libanês.
A situação na Turquia não é menos problemática, pois, para lançar uma invasão terrestre é indispensável utilizar território turco e isso produziria um eventual levante dos curdos na Turquia que seria difícil de controlar.
É necessário considerar que a Síria está demasiadamente perto de Israel e com os novos meios que a Rússia pôs a sua disposição, incluindo Sistemas Antiaéreos S-300 e os complexos de foguetes costeiros, podem golpear com facilidade os meios aéreos e navais israelenses.
Por último, a OTAN tem uma grande desconfiança dos dirigentes israelenses, que caso se vejam em uma situação embaraçosa e pressionados pelos extremistas de direita que ditam as regras em Israel, empreguem seu arsenal nuclear e gerem uma catástrofe de incalculáveis proporções.
Em síntese, Israel apoiaria nas sombras.
Não se pode deixar de ter em conta a recente renúncia, oficializada pelos EUA, do Tratado sobre Forças Armadas Regulares na Europa (AFARE), assinado com a Rússia em 1990 e que Moscou havia prorrogado em 2007, buscando mantê-lo vivo até chegarem a um novo acordo. É sintomático que, apesar de que desde 2007 este acordo estava praticamente morto, somente agora os EUA o denunciem a Moscou, o que faz com que muitos analistas pensem que isso está relacionado aos movimentos de forças que esse país necessita realizar na Turquia e que seria interpretado pela Rússia como uma violação do tratado.
Nesses momentos, as Forças de Operações Especiais (FOE) dos países integrantes do “Eixo da Guerra” devem estar operando em solo Sírio e incrementarão suas operações na medida em que se aproxime o momento da operação de invasão.
As missões fundamentais a cumprir pelas FOE serão:
- Determinar os objetivos e dirigir posteriormente os ataques da aviação e os mísseis de longo alcance durante os bombardeios de desgaste contra a Síria.
- Preparar o terreno para as ações de invasão terrestre que incluem trabalhos de inteligência e reconhecimento do terreno.
- Dar apoio aos grupos “rebeldes”, prepará-los e melhorar sua ação tática. Organizar atos terroristas para infundir pânico, caos e confusão entre a população síria e as forças de segurança. Além do mais, debilitar a infra-estrutura econômica do país.
- Realização de ações diversificadas contra as redes de comunicação e transmissão de dados, com o objetivo de limitar o mando da defesa e desorganizar a economia.
- Captura ou eliminação de personalidades sírias que apóiem o governo.
- Desenvolver ações violentas contra determinados grupos étnicos, com o objetivo de culpar a outro grupo existente no país e dessa forma confrontá-los em uma luta que debilitaria a unidade nacional em uma nação onde as relações inter-étnicas são um modelo para a região.
IV – Contramedidas
Já dissemos que a Síria não é o Iraque, nem o Afeganistão, nem a Líbia. Os dirigentes sírios compreenderam o perigo que se aproxima e devem atuar de acordo com as circunstâncias.
A agressão militar é iminente e o “Eixo da Guerra” não se deterá caso acredite ter êxito em sua campanha, sendo a única opção que resta à Síria a tomada de todas as contramedidas pertinentes para demonstrar ao ocidente que o custo de uma intervenção militar é impagável.
Considerando as experiências acumuladas em outros conflitos como o do Vietnã, Iugoslávia, Afeganistão, Iraque, Sudão e Líbia, além dos êxitos que nesta matéria tiveram países submetidos a planos e operações psicológico-informativas como são os casos de Cuba, Coréia do Norte, Irã, Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Equador e outros, os dirigentes sírios deverão implementar um conjunto de contramedidas indispensáveis para salvar a soberania e integridade do território.
Estas ações se podem agrupar da seguinte forma:
1. Contramedidas Diplomáticas - Neste campo a Síria deve desenvolver uma forte campanha de esclarecimento do caráter soberano de suas ações, dando ênfase aos países que apóiam seu Governo e naqueles que têm uma posição aparentemente neutra. Devem ser impetuosos nos organismos internacionais para mostrar sua verdade e fundamentalmente utilizar com muita criatividade suas razões, mostrando as provas que têm em seu poder da ingerência estrangeira em seu território e utilizando todas as possibilidades que os MMD oferecem neste sentido.
Igualmente importante para os sírios será colocar em ilegitimidade a Liga Árabe, apoiando-se fundamentalmente na relação de subordinação que tem as monarquias árabes com os EUA. Seria igualmente significativo se a Síria conseguisse convencer aos países que a apóiam, de uma forma ou outra, de sair da Liga Árabe, com o argumento de que num futuro próximo serão eles possivelmente os acusados e demonstrando a eles que a Liga já não responde aos interesses dos povos da região.
Por outro lado, fortalecer o papel da Rússia e de outros países que apóiam a Síria seria fundamental para criar um coral de vozes que chame atenção da opinião pública internacional de que não existe um estado de opinião majoritário que favoreça a atitude do ocidente de derrotar o Governo sírio.
2. Contramedidas Psicológico-Informativas – O governo sírio deve estar consciente de que o ocidente utilizará todo seu arsenal tecnológico para impor o controle informativo, fundamentalmente dentro do território da nação árabe, utilizando para isso todo o tipo de métodos, entre os quais as falsificações, a mentira, a distração, a intimidação, o rumor, a desestabilização, etc.
Alguns destes métodos já se utilizam. Por exemplo, recentemente se demonstrou que a campanha para culpar o governo sírio de cerca de 3.500 mortos entre a população civil era falsa, inclusive se conheceu que esta maquiagem era sustentada por uma suposta organização muçulmana que tinha suas bases em... Londres?! Muitos dos nomes desta organização estão vivos e foram obtidos numa lista telefônica. Isto é um clássico exemplo de falsificação.
É importante que os sírios conheçam ao detalhe como se orquestram estas ações de guerra informativa, para o que deverão utilizar intensamente os MMD que possuem. Igualmente deverão apoiar-se nos meios de países amigos, com o fim de divulgar pelo mundo as ações que se desenvolvem pelos EUA e seus aliados ocidentais e do oriente médio. De fato, já está a caminho uma intensa campanha de descrédito com relação às medidas tomadas pelos governantes sírios para satisfazer as inquietudes da população. Faz-se necessário igualmente organizar uma contra-campanha no interior da Síria e na arena internacional para divulgar o verdadeiro conteúdo das medidas aplicadas pelo governo, seu alcance e benefícios. Para isso, se devem utilizar os MMD, folhetos e outros meios que resumam as idéias colocadas.
Capítulo aparte merece a tentativa de desviar a atenção do conflito sírio com o conflito iraniano. Se bem é certo que para o “Eixo da Guerra” os dois países estão no alvo, o custo de uma agressão ao Irã seria, nas circunstâncias atuais, impagável. A possibilidade de uma derrota deixaria muito debilitados os EUA, produzindo a Síndrome do Irã, como ocorreu com o Vietnã.
Neste momento, o objetivo imediato é a Síria.
É igualmente relevante a preparação psicológica que se deve levar com a população e as Forças Armadas, para fortalecer o espírito de resistência e convicção na vitória. O inimigo tratará de intimidá-las por todos os meios, criar pânico e terror, de início utilizando os MMD e a radiodifusão (pode haver distribuído já milhares de rádio-receptores sintonizados a uma freqüência em que transmitem as emissoras “dissidentes”), que divulgariam as conseqüências dos conflitos no Afeganistão, Iraque e Líbia. Posteriormente, utilizarão meios mais agressivos como os bombardeios indiscriminados e as novas tecnologias psicotrópicas e desconhecidas. Contra isso se deverá preparar a população nas formas mais eficientes da defesa civil que permitam minimizar os efeitos destas ações.
No caso das Forças Armadas, é necessário elaborar um plano de contramedidas que devem incluir três etapas:
a. Previsão – onde avaliarão as possíveis ações a desenvolver pelo inimigo, as que mais importância e recursos direcionam. Deve-se assumir que a influência psicológico-informativa sobre os membros das Forças Armadas será intensa e constante e incluirá todos os meios disponíveis – panfletos, receptores de rádio sintonizados com as estações provocadoras, notas, mensagens televisivas, emissões de alto falantes. Nesta etapa, deve-se prognosticar e identificar os possíveis temas e símbolos de operações psicológico-informativas que utilizará o inimigo com o objetivo de reduzir a sua eficácia e possibilitar sua neutralização.
b. Prevenção – nesta etapa deverão desenvolver ações que permitam a familiarização com as técnicas, métodos, meios e procedimentos que utilizará o inimigo contra eles, mostrando exemplos concretos de outros conflitos (ex. Afeganistão, Iraque e Líbia). Devem-se direcionar militares responsáveis de destruir toda a informação, panfletos, notas que o inimigo lance contra as tropas. Igualmente se deve desenvolver uma rede de emissoras de interferência que bloqueiem os sinais das emissoras subversivas.
Como meios eficazes de prevenção dos efeitos adversos nas tropas se deverão definir aqueles combatentes mais estáveis desde o ponto de vista psicológico e que estão com melhor capacidade de resistir à influência psicológico-informativa a que serão expostos e que “apadrinharão” os combatentes mais suscetíveis a estas ações. Igualmente quando se organizam missões de pequenos grupos, sempre se incluirá algum combatente com estas características. Finalmente se deverá organizar por parte dos Chefes correspondentes o trabalho individual com cada combatente para desenvolver a auto-regulação psicológica.
Um princípio muito importante neste processo é informar os combatentes da realidade da situação. Somente se lhes explica a verdade os combatentes estarão em condições de assumi-la. Nada afeta mais a moral do combatente que as mentiras e as meias verdades, que logo se desmoronam ante os fatos. É necessário inculcar que a vitória ou a derrota dependem deles, não dos de cima.
c. Enfrentamento – O enfrentamento à influência psicológico-informativa do inimigo sobre as tropas pode-se conseguir com diferentes métodos, sendo o mais eficaz a destruição dos meios que utiliza o inimigo nas operações; mas isto nem sempre é possível. É necessário que todos estejam em alerta sobre as ações que realiza o inimigo. Todos os materiais de propaganda devem ser recolhidos, e destruídos depois de terem sido estudados.
Tudo isso deve concluir-se com um trabalho de esclarecimento e convencimento dos verdadeiros valores que defendem e do negativo e indesejável que são as ações inimigas. Não podem esquecer os sírios que as ações de propaganda do inimigo não podem ser avaliadas mecanicamente como algo “ruim” por si, senão que, além disso, podem ser utilizadas como contrapropaganda; uma parte dela não merece atenção, somente se ignora.
De outra maneira, o Governo sírio deverá implementar um sistema de recopilação de informação entre a população que o permita conhecer o que se diz e quais são as possíveis campanhas ou rumores que o inimigo faz girar entre a população e os membros das Forças Armadas. Desmascarar e depois esclarecer qualquer rumor é um aspecto que não se deve subestimar, sua minimização pode custar caro.
3. Contramedidas Militares – É neste campo onde o trabalho pode ser mais intenso por parte dos sírios. Devem compreender que existe um princípio que se confirmou pela história e diz que a guerra se ganha evitando-la. É necessário demonstrar o alto custo que traria a guerra ao agressor.
A experiência dos conflitos recentes nos indica que se desarmar, fizer concessões ou violar princípios, conduz inevitavelmente à derrota e, ao que é pior, à perda de uma inumerável quantidade de vítimas humanas, destruição do patrimônio nacional e a ignomínia de se converter num país sem liberdade nem independência.
Ante tudo, as Forças Armadas devem estar nestes momentos em sua máxima disposição combativa e trabalhando fortemente para um enfrentamento que parece inevitável.
É necessário trabalhar os comandos sírios nos seguintes aspectos:
- Elevar a disposição dos combatentes com o objetivo de conseguir uma alta capacidade de voluntarismo e de coesão combativa.
- Desenvolver aceleradamente um Plano para construir ou restabelecer as instalações de engenharia que os permita proteger e esconder as forças, os meios militares e civis, das ações do inimigo.
- Desconcentrar as forças e os meios para combater o agressor, com o objetivo de minimizar os efeitos dos bombardeios massivos ou ataques surpresa.
- Ante a iminência de um ataque, dirigir um primeiro golpe contra as instalações inimigas ao seu alcance.
- Deslocar adequadamente os sistemas de defesa antiaére disponíveis incluindo os novos S-300 recebidos da Rússia e que devem fazer a diferença em caso de utilizar-se corretamente. Não se deve repetir o erro do Iraque e da Líbia, onde os meios de defesa antiaéreos estavam praticamente desguarnecidos e desprevenidos ante os ataques “avisados” do inimigo. Os S-300 podem seguir até 12 objetivos e abater 6 de uma vez, incluindo os mais avançados “hipersônicos” (velocidades superiores a 5 mach).
- A utilização massiva de interferências eletrônicas, falsos objetivos e outros elementos que permitam confundir o inimigo, deverá ser uma missão a cumprir para a defesa ante a agressão.
- A forças de segurança na Síria devem levar a cabo durante este período e no futuro, um intenso trabalho de localização, infiltração e eliminação dos grupos irregulares e forças especiais que já devem estar operando no território. É muito provável que ante a impossibilidade de começar uma agressão em grande escala, estes grupos passem a ser a variante fundamental para quebrar o governo sírio e desorganizar o país. Contrapor com eficácia estes grupos pode deixar sem argumentos os agressores. A experiência demonstra, como no caso da Líbia, que por muito pequena que seja a atividade destes grupos, os MMD a serviço do “Eixo da guerra” se encarregarão de convertê-los em “massivas” expressões de “liberdade” pelo povo “oprimido”, o que ao final se converte em pretexto para “salvar vidas inocentes”.
V – O papel da Rússia e da China no conflito.
Há muito se fala nos círculos de analistas e jornalistas, meios massivos, grupos políticos, centros de estudo, e outros, do papel que deverão jogar a Rússia e a China no âmbito internacional. Devemos compreender que a China não é nem será uma potência mundial que tenha peso decisivo na política internacional. As razões desta afirmação são:
- Os chineses não têm mentalidade de grande potência. Sua filosofia se contradiz com a filosofia das grandes potências. Para eles 2+2=4, mas na política internacional isto quase nunca é verdade. Suas constantes concessões às grandes potências a deixam mais vulnerável e fácil de manipular.
- Não basta ter uma economia forte e uma força armada potente para ser grande potência. É necessário antes de tudo ter aliados e saber mantê-los. A China faz muito boas contas “econômicas”, mas está desaprovada nas contas de geopolítica.
- O nível de penetração que tem o capital ocidental na economia da China tem muito peso para que eles possam decidir.
Infelizmente, isto se confirma neste caso. As últimas declarações do porta-voz chinês reconhecendo a Liga Árabe como organização capaz de conduzir o caso sírio e a petição a Damasco para que acate suas decisões, são uma demonstração de falta de peso e ambigüidade do gigante asiático. Não imaginam o quanto desejamos que isto não fosse assim.
A Rússia é outra coisa. Os russos têm mentalidade de grande potência. É certo que as “imprecisões” da época de Gorbachov na extinta URSS e o posterior período anarquista de Yeltsin, converteram o Urso Russo em uma mascote de pelúcia e perderam uma parte importante do seu protagonismo.
Os últimos passos da Rússia demonstram o enorme peso que este país tem na arena internacional e a necessidade que recupere seu valor como contrapeso à atitude hegemônica e unipolar do EUA. Bastou que se opusesse à intenção de demonizar a Síria, para que se enviasse um destacamento de Tanques de Guerra ao porto de Tartu comandado pelo porta-aviões “Kuznetsov” que possui entre seus “argumentos” 15 caças SU-33, sistema de mísseis P-700 (incluindo 12 foguetes hipersônicos), sistema de mísseis antiaéreos com 192 foguetes; helicópteros e outros “complementos”, além do que tem na sua escolta e enviaram os S-300 e as baterias de foguetes costeiros, para que os EUA e seus aliados se “congelassem”.
Aparentemente, a ação russa provocou uma desaceleração do plano de invasão à Síria.
É de se esperar que o ocidente mude o plano e trate de jogar a carta do aumento da desestabilização interna, introduzindo armas e grupos subversivos, onde participariam mercenários, pelas porosas e extensas fronteiras sírias. Para isso, contará com seus “aliados monárquicos” e, como é de se esperar, de Israel.
Trata-se de criar vários focos de violência para dar a impressão de uma “rebelião” generalizada que permita justificar sua nova afinidade pelas “revoluções”.
Tudo isto será acompanhado com as pressões nos organismos internacionais (ONU, ou o que sobra dela; Comissão de DD. HH; Liga Árabe; Tribunal Internacional, etc), para pressionar a Rússia e colocá-la em uma situação embaraçosa.
Para a Síria, sobra somente um caminho caso não queira sofrer o desastre do Afeganistão, Iraque ou Líbia: não titubear, continuar com suas mudanças que devem implementar, sem fazer concessões, e derrotar os mercenários que arma o “Eixo da Guerra”, sejam internos ou externos.
O tempo corre contra eles. O titubeio custa caro. O jogo é duro e sem luvas, e a bola é de ferro e fogo.
Fontes:
· Centro de Estudos Estratégicos da Rússia.
· Psyfactor.
· Rusia Today
Tradução: Coletivo Paulo Petry – Núcleo da UJC/PCB formado por estudantes de medicina em Cuba.
Postado : http://www.pcb.org.br/
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