Há sessenta e dois anos, o 15 de maio é um dia importante para os palestinos, denominado por eles dia do Nakba, ou seja, “dia da catástrofe”, em que os líderes sionistas nesse dia, em 1948, formaram o Estado de Israel em terra palestina, sem o povo palestino, massacrando e expulsando-os de suas próprias terras. Durante a Nakba, cerca de hum milhão de palestinos foram brutalmente expulsos de suas terras, aldeias, com massacres de civis, violados, torturados e mortos e a outra que foi espalhada em vários cantos do mundo enfrentando todos os tipos de sofrimento.
Para que o povo não regressasse as suas aldeias, as casas, as oliveiras e laranjeiras foram destruídas. Quando a Nakba terminou, tinha havido 31 massacres documentados e cerca de mais de 500 aldeias e 11 bairros urbanos foram esvaziados dos seus habitantes. Nomes árabes das aldeias e ruas foram hebreizados. Mesquitas e igrejas cristãs antigas foram destruídas. Parques temáticos, florestas de pinheiros (árvores não nativas da região) e colonatos israelitas foram estabelecidos sobre as antigas aldeias palestinas. A idéia era eliminar vestígios físicos e culturais, de que a terra tinha pertencido aos palestinos, ou seja, desde o início, o sionismo tinha planejado expulsar permanentemente o povo palestino da suas terras.
Não se pode negar o Holocausto. Não se pode também negar o Nakba, um ato de limpeza étnica, considerado pelo direito internacional como crime contra a humanidade.
No livro A Limpeza Étnica da Palestina (One World Publisher, Oxford, 2006) o historiador e conferencista decano israelita Ilan Pappe da Universidade de Haifa, mostra como o massacre e/ou expulsão forçada dos arménios na Turquia, dos tutsis em Ruanda e dos croatas e bósnios na antiga Iugoslávia guarda semelhanças com o que os sionistas fizeram aos palestinos, no dia 15 de maio de 1948, e, ainda o estão a fazer hoje, como demonstra o massacre à Gaza e o cerco aos palestinos.
A Palestina fazia parte do Império Otomano. Em 1917, com o fim da I Guerra Mundial e a derrota dos otomanos, o exército britânico passa a controlá-la e a Liga das Nações legaliza a ocupação. Depois, em 1937, advém a Declaração de Balfour, com os britânicos prometendo um “território nacional” aos judeus em terras palestinas, apesar de, segundo a maioria dos registros, os judeus constituírem, então, apenas em cerca de 8% da população. A percentagem de terra prometida aos judeus era muito menor do que aquela que a ONU lhes daria em 1948.
Em 1938, começaram importantes combates entre judeus e palestinos. Em 1947, a Grã-Bretanha comprometeu-se com a retirada da Palestina. Logo após a segunda guerra mundial o capital partilha o mundo. Em novembro, a ONU formulou o plano de divisão da Palestina em dois estados. Em Dezembro de 1947, os sionistas iniciaram as expulsões em massa de palestinos. Quando os britânicos se retiraram em Maio de 1948, os sionistas declararam a independência.
Os ideólogos, a partir da tese do movimento sionista, ( início de 1800) entendem que havia “estrangeiros” a viver na sua terra bíblica, e, por estrangeiros eles queriam dizer todos os que não fossem judeus, embora a maioria dos judeus da Palestina tivesse partido a seguir ao período romano, segundo historiadores. E, mesmo hoje em dia, há uma clara política de transferência dos palestinos, inclusive contra a minoria palestina dentro de Israel, na Cisjordânia ( por exemplo, a luta dos beduínos de UMM Al Khavrm, pequena aldeia a sudeste de Hebron) .Ocupam Gaza.
Hoje se sabe que houve um projeto estratégico liderado por Ben-Gurion, mapeando toda a Palestina. Mapeando para a forçada desocupação. Havia uma preocupação com o “equilíbrio demográfico” entre judeus e árabes na Palestina. Era preocupante uma maioria palestiniana em uma zona, daí se promovia ocupações judias. Os judeus, que vinham a Palestina preferiam viver nas zonas mais urbanas que eram habitadas em igual número por judeus e palestinos, enquanto as zonas rurais eram, na maioria, habitadas e cultivadas por palestinos. Os sionistas perceberam que a imigração não iria contrabalançar a maioria palestiniana , daí, o uso da força para terem uma Palestina judia e nesse sentido a idéia da expulsão dos palestinos de suas terras.
Com a saída dos britânicos em 1947, a ONU que a administra, aceita as reivindicações sionistas sobre a Palestina, determinando a sua partição. Mas, após consideráveis negociações, a Resolução 181 da ONU sobre a Partição, de Novembro de 1947, destinou aos sionistas 56% da Palestina. Na verdade, uma partição se levasse em conta a população relativa teria destinado menos de 10% da terra para um estado judeu.
Embora Jerusalém, em função do seu significado religioso para o Judaísmo, o Cristianismo e o Islão, tenha sido mantida uma cidade internacional, muitas das terras mais férteis foram incluídas no lado sionista. O governo israelense não cumpria a Resolução 181 e implementava uma política de força contra o povo palestino. Os líderes árabes, evidentemente, se opuseram à partição da Palestina e boicotaram as negociações da ONU, na compreensão de que a partição era injusta e ilegal.
Atualmente, como resultado da Nakba, são milhões de palestinos dispersos por todo o mundo, além dos 1,4 milhões sob ocupação do exército israelita na Cisjordânia e 1,3 milhões em Gaza, uma faixa do deserto, antes escassamente povoada, e agora cheia de campos lotados e cidades de refugiados. Cerca de 1,5 milhões de palestinos continuam a morar na própria Israel como cidadãos de segunda classe. A população judia de Israel ronda cerca de 5,5 milhões. O estado sionista inclui agora cerca de 78% da Palestina histórica, sem contar com o ainda crescente número de colonatos israelitas na Cisjordânia.
O ataque à Gaza representa a continuidade de uma política deliberada de massacre ao povo palestino : Kfar Qassim em Outubro de 1956, com o massacre pelas tropas israelitas de 49 aldeões ; Qibya nos anos 50, Samoa nos anos 60, as aldeias da Galiléia em 1976, os campos de refugiados de Sabra e Shatila no Líbano em 1982, Kfar Qana em 1999, Wadi Ara em 2000 e o campo de refugiados de Jenin em 2002 e o recente ataque à Gaza.
É de se destacar o papel central que Israel passou a desempenhar como bastião dos interesses imperiais norte-americanos no Médio Oriente. Israel recebe grande apoio financeiro dos EEUU, juntamente com o financiamento privado, de grandes empresas transnacionais, grandes negociações com armas, tudo oficialmente encorajado pelo governo americano.
Nossa consciência da importância da solidariedade internacionalista nos faz lutar , ao lado do povo palestino, por uma Palestina laica livre e soberana, pelo respeito aos direitos humanos e ao inalienável direito à autodeterminação do povo palestino sobre seus territórios, daí a luta pela retirada dos assentamentos judaicos na Cisjordânia/Jerusalém, levar os criminosos de guerra ao Tribunal Penal Internacional de Haia, a garantia aos refugiados (atualmente 65% da totalidade do povo palestino) de retorno às terras das quais foram expulsos ( dando-se cumprimento à Resolução 194 da ONU)
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