segunda-feira, 27 de abril de 2009

O RACISMO NO DOMÍNIO DO MUNDO

A Conferência Mundial da ONU sobre Racismo, que aconteceu em Genebra entre os dias 20 a 24 de abril foi deliberadamente boicotada por nove países: Israel, EUA, Austrália, Itália, Canadá, Alemanha, Nova Zelândia, Polônia e República Tcheca. No entanto a mídia internacional não deu a importância devida ao boicote! Mal falou no assunto.

Entretanto, bastou o Presidente do Iran denunciar em discurso no plenário da Conferência o genocídio do qual os povos sob ocupação são vítimas para que as baterias midiáticas do establishment girassem em uníssono despejando ódio, mentiras e manipulação, criando dessa forma uma imagem invertida da realidade.

Lamentavelmente, a representação política de nosso governo no evento, o Senhor Ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, caiu nas malhas da mídia sionista e deu declarações condenando “a postura do presidente, que não condiz com o ambiente da conferência”.

Qual parte do discurso não condiz com o ambiente da Conferência?
1. A parte que denuncia que as guerras de ocupação, as perseguições, a escravidão, as colonizações na África e Ásia provocaram mais de 100 milhões de mortes e que apesar dessa experiência terrível com os horrores e os crimes de guerra pouco avançamos para termos mais esperanças quanto ao nosso futuro, o futuro da humanidade?
2. Ou foi quando disse que apesar de discursos e slogans contra a discriminação racial, países muito poderosos violam os direitos humanos e discriminam os povos por sua origem étnica.
Ou quando afirmou que por conta das terríveis conseqüências do racismo na Europa foi implantado o mais cruel, desumano, repressivo regime racista na Palestina?
3. Que essas atrocidades acontecem com a conivência do Conselho de Segurança da ONU, funcionamento despótico protege o regime ocupante há 60 anos, tolerando e legitimando todos os tipos de atrocidades, como ocorreu durante 22 dias em que a população desarmada de Gaza foi submetida aos mísseis e armas proibidas pelas Convenções Internacionais e que ainda hoje matam mulheres, jovens e crianças?
4. Talvez quando mencionou a poderosa indústria bélica, essa mesma que promoveu uma feira acolhida no Rio de Janeiro, que destruiu uma cultura de mil anos no Iraque, se apoderou das fontes de energia, assassinou mais de um milhão de seres humanos e converteu em exilados outros tantos milhões, cujo poderoso lobby, conseqüência da aliança pública entre os países fabricantes de armas e o sionismo foram os responsáveis pela carnificina que assistimos hoje no Oriente Médio?
5. Ou quando denunciou que a situação dos povos cujos governos estão injetando centenas de bilhões de dólares tirados do próprio povo e de outras nações para ajudar bancos, companhias e instituições financeiras falidas, tudo válido para manter o poder e a riqueza às custas da miséria e opressão.
6.Ou quando afirmou que “os EUA e seus aliados fracassaram na missão de conter a produção de drogas no Afeganistão. O cultivo de narcóticos multiplicou-se, depois da invasão. E questionou quem responderá pelo que o governo americano e seus aliados fizeram?”.
7. “Não são a invasão e a ocupação exemplos claros de autocentrismo, racismo, discriminação e violência contra a dignidade e a independência de tantas nações?” Pergunta o Presidente Ahmadinejad.
8. Ou quando denuncia que o sionismo, de fato, abusa dos sentimentos religiosos para esconder sua horrenda face de ódio e racismo e, assim, mobilizar em seu benefício, todos os recursos, inclusive a influência econômica, política e midiática. E que esse racismo sem limites é a mais grave ameaça que pesa sobre a paz internacional e que nesse sentido propõe que é dever e responsabilidade dos representantes das nações desmascarar essa campanha que corre na direção oposta a todos os valores e princípios humanitários.

Não foi somente a análise impecável do Presidente do Iran que provocou a reação de alguns países europeus entre os presentes na Conferência e a escandalosa reação da mídia mundial.
As reações são uma tentativa de esconder da opinião pública mundial o boicote, e os motivos do boicote dos nove países à Conferência, em especial o veto americano ao esboço da Declaração final e a posição política/militar assassina de Israel no Oriente Médio, sempre protegida pelos EUA desde Bush a Obama.

Para desvirtuar do centro das discussões o principal , a criminalização da pobreza e dos povos, as torturas e a agressão sofrida pelos povos que estão sob regime de ocupação, a mídia , como sempre faz, deu tratamento hollydiano ao sofrimento do povo judeu na segunda guerra mundial, como se fosse o único na história da humanidade e cuja perseguição jamais acaba.

Essa é a fórmula utilizada há muitos anos pelo sionismo para manipular a opinião pública, cuja intenção é que sejam ignorados os atuais crimes de guerra, genocídio e holocaustos promovidos pelos mesmos países que boicotaram a Conferência e que promovem e financiam essa estratégia de marketing.

O novo governo americano, que se apresenta como a cavalaria que vai salvar o mundo, mas que na essência não toma nenhuma medida de rompimento com a velha política americana imperialista, não poderia correr o risco de ver aprovado uma declaração anti-racista ou anti belicista justo num momento delicado de crise econômica, cuja saída pela ampliação da política belicista não está descartada, muito pelo contrário.

A busca desesperada por uma saída para salvar o capital financeiro da bancarrota abre a possibilidade real do imperialismo e seu aliado sionista ampliar a agressão sobre os povos do Oriente Médio. O maior exemplo disso são as ameaças ao Iran. Possibilidade ampliada pela eleição da ultradireita racista no Estado Judeu.

Sem dúvida, ampliar a guerra injusta seria uma saída clássica que pode dar fôlego à economia capitalista: Movimenta o comércio das armas, destrói a infra-estrutura do país atacado, domina e se apropria dos recursos naturais e riquezas energéticas dos povos, investe na reconstrução, faz alianças com as burguesias locais, e se mantém o domínio político e econômico do lugar.

Sobretudo, o que se quiz evitar com a campanha manipuladora midiática durante a Conferência Contra o Racismo é justamente mudar o foco da discussão sobre racismo, para esconder dos povos os crimes cometidos ainda hoje contra o povo iraquiano e afegão pelos EUA, contra o povo da Colômbia, na América Latina e o papel nazi fascista que acumula ao longo de 60 anos uma história de terror, torturas, assassinatos seletivos, apropriação territorial, campos de refugiados/extermínio, enfim um genocídio étnico praticado por Israel contra o povo palestino.

O que se quer esconder é que as atrocidades cometidas desde 1948 e que foram condensadas durante os 22 dias sobre a pobre e faminta cidade de Gaza não cessaram apesar da resistência dos palestinos que não permitiram a tomada militar da cidade, o povo está ilhado e Israel não permite a entrada de remédios, alimentos ou água; o que se quer esconder é que todas as resoluções da ONU ou dos Tribunais Internacionais são sistematicamente ignoradas por Israel que goza da impunidade e de muito prestígio internacional entre aqueles países capachos, dominados por interesses econômicos do capital financeiro e das armas.

Comitê de Solidariedade à Luta do Povo Palestino do Rio de Janeiro

Um comentário: