Construindo coletivamente a esquerda Palestina no Brasil
• Porque não participaremos do
Congresso da FEPAL;
• Porque não reconhecemos a FEPAL como legítima representante das
comunidades palestinas no Brasil;
• Qual a função da Autoridade Palestina na luta do povo
palestino.
1 - Somos entidades, sociedades, centros culturais, movimentos,
frentes de luta, comitês de solidariedade, militantes e ativistas da diáspora
palestina no Brasil. Participamos do primeiro ao oitavo Congressos da FEPAL. Em
2004, antes da realização do 8º congresso na cidade de São Paulo, éramos uma
maioria atuante e chegamos a participar de 5 (cinco) rodadas de diálogos, duas
em Florianópolis e três em São Paulo com o Sr. Farid Sawan, primeiro embaixador
da OLP, cuja gestão foi de 1979 a 1989. Certa ocasião, contou com a
participação do embaixador Kifah Odeh. A ideia dos diálogos era ajustar os
preparativos dos congressos e, por fim, os acordos políticos na composição da
diretoria da FEPAL. Como tínhamos maioria nos Congressos, era natural ocupar o
número de cargos correspondente ao nosso peso político, tanto que a comissão
que elaborou os estatutos da FEPAL neste congresso foi formada por Abdel Rahman
Abu Hwas, Ramadan Hassan, Shawqui Hilal e Maysar Dib. Neste último Congresso,
foi eleito Farid Sawan para presidente da entidade e Abed Hassan para
vice-presidente, Elayan seria o segundo vice e tivemos direito a mais 3
delegados na Diretoria. Como estava previsto que Farid Sawan seria transferido
para a Argentina, o acordo previa que a presidência da FEPAL ficaria com Abed
Hassan, vice-presidente. No entanto, rompendo o acordo político realizado no
Congresso, a presidência da FEPAL foi passada para Elayan.
Neste
período, a União Democrática das Entidades Palestinas do Brasil (UDEP) - nossa
organização na diáspora - se manteve atenta para as atividades de preparação do
9° Congresso, e apesar dos contatos iniciais, no entanto, os senhores Farid e
Hasan Amleh foram para a embaixada em Brasília e anunciaram sozinhos o
Congresso.
A
partir de então, se inaugura a construção de um Congresso monolítico da FEPAL,
sem diálogo com as várias organizações políticas como a UDEP, IBRASPAL, frente
em defesa do povo palestino, centro cultural Al-Jania e várias outras
sociedades, centros culturais, ativistas e militantes palestinos. A partir
deste momento, sem a participação do conjunto das organizações que compõe o
universo político palestino na diáspora, deixou de existir o importante diálogo
para a construção de um Congresso democrático e legítimo.
2 –
Do 9° Congresso em 2007 até o 10°, em 2019, foram 12 anos sem atuação política.
Neste período, o Secretário Geral da FEPAL, Sr. Emir Murad apresentou uma nota
pública se desligando das atividades da FEPAL, da Confederação Palestina da
América Latina e Caribe (COPLAC) e outros movimentos e entidades envolvidas com
a questão palestina. Logo depois, assumiu o cargo de Secretário da COPLAC no
Congresso desta entidade, em 2017, na Nicarágua. Uma entidade ausente há 25
anos do cenário político da América Latina, sem realização de Congressos, sem
uma nota política sobre a luta palestina sequer, durante um quarto de século.
Uma entidade fantasma que alegava e continua alegando representar as
comunidades palestinas na América Latina e Caribe. A FEPAL é filiada a esta
entidade e suas lideranças participaram de seu Congresso. Esta unidade se
explica pelo que as duas entidades têm em comum: São interlocutores e
representantes da Autoridade Palestina (AP) na América Latina, Caribe e no
Brasil.
3 -
Em 2017, as massas palestinas, na diáspora, da América latina e Caribe, se
mobilizaram contra a interferência e manipulações da AP, exercidas por meio de
seus embaixadores, para manter o monopólio da representação das
comunidades palestinas no Brasil e na América Latina e Caribe. A vitória da
mobilização culminou com o Primeiro Congresso preparativo no Chile, em 2017,
independente da hegemonia e da manipulação da AP, onde a organização não
permitiu a participação de embaixadores e de nenhum representante enviado da
AP. Na sequência, em 2019, foi a vez da comunidade palestina de El Salvador
organizar o Congresso de fundação da União Palestina da América Latina (UPAL).
A reação da Autoridade Palestina veio em um documento assinado pelo Ministério
das Relações Exteriores cheio de acusações contra o Congresso e seus
participantes. Ao mesmo tempo, aconteciam articulações do Congresso da FEPAL e
da COPLAC dentro das embaixadas da Autoridade Palestina. A Diretoria da COPLAC,
eleita em 2017 na Nicarágua, da qual participavam Rafael Araya Masri e Emir
Murad viajaram para Ramalla (Cisjordânia) e foram recebidos com pompas e
circunstâncias, homenageados pela cúpula da Autoridade palestina, que contou
com a presença do Presidente e do Chanceler da AP. Em 2023, em Barranquilla, na
Colômbia, foi realizado o 2°Congresso da UPAL.
4 –
Em 08 de abril de 2017, a UDEP manteve um encontro de diálogo com a FEPAL. Essa
reunião contou com a presença do atual embaixador Ibrahim Al Zibem, além de
Fauzi al Mashni (ex[1]embaixador
no México), Elayan (presidente da FEPAL à época) e Walid Rabah, atual
presidente. O nosso objetivo foi traçar uma linha de unidade e construção
coletiva do próximo Congresso da FEPAL. Lamentavelmente, a tentativa de diálogo
não avançou, e chegamos à conclusão de que uma linha de ação unitária não era a
intenção desse grupo que tomou de assalto, para si, a Federação dos Palestinos
da diáspora no Brasil.
Assim,
não nos resta outra alternativa que não seja o não reconhecimento da FEPAL como
aglutinadora do conjunto das entidades dos palestinos na diáspora, e também da
COPLAC, como representante legítima das entidades dos palestinos na diáspora da
América Latina. Na verdade, não passam de correias amestradas de transmissão da
criminosa política da Autoridade Palestina contra a luta de resistência do nosso
povo.
5 –
Construímos um projeto político alternativo à linha política e estratégica
representada pela Autoridade Palestina, da qual a direção atual da FEPAL e da
COPLAC comungam e são parte. Não podemos mais nos calar diante da imagem
fraudulenta daqueles que omitem seu apoio e seguem a linha política de traição
e cooperação com o inimigo sionista contra o povo palestino que luta
desesperadamente para ser livre do jugo colonial sionista.
Os
palestinos da diáspora têm o direito de saber o que pensa a FEPAL sobre:
a) a
brutalidade da polícia da AP contra seu próprio povo;
b) a
proteção e submissão aos colonos sionistas e às, pasmem, tropas
sionistas;
c)
como explicam a colaboração dos Serviços de Inteligência da AP com os Serviço
de Inteligência da entidade sionista, do ocupante, dando informações preciosas
que levam à prisão de nossa juventude revolucionária;
d)
as prisões e torturas denunciadas até na ONU;
e)
porque a FEPAL se omite, não denuncia e não assume sua posição de submissão
política à Autoridade Palestina;
f)
sua dissimulação em criar palavras de ordem e slogans que denunciam a ocupação
e seus crimes direcionando para um ufanismo que promove a AP como força
patriota, na tentativa de lavar sua imagem velha e conhecida no mundo inteiro
de força corrupta e traidora do povo palestino, que verdadeiramente luta contra
o projeto de colonização sionista há mais de 100 anos.
A
juventude palestina, filhos da diáspora, os partidos, sindicatos e movimentos
populares que apoiam e são solidários à Causa Palestina precisam saber que a
Autoridade Palestina é a única força política da Palestina que não faz parte,
por opção, da Resistência Palestina. Pelo contrário, são parte das forças que
reprimem, perseguem, deduram, prendem, torturam e matam nossos bravos
combatentes da Resistência.
6 –
A verdadeira representação política do povo palestino na diáspora é sua
resistência, que luta incansavelmente contra o projeto sionista e seu exército
de ocupação.
A
narrativa da Autoridade Palestina sobre legitimidade tem como objetivo manter o
histórico monopólio da representação do povo e da causa palestina. No entanto,
o acirramento dos ataques contra nosso povo, o genocídio, quebrou
esse paradigma. Esse discurso está enferrujado e com prazo de validade vencido.
O
povo palestino e uma grande parte de seus aliados, no mundo inteiro, sabem que
há dois campos políticos que atuam e lideram a luta e tem uma esmagadora
maioria de apoio popular no terreno, longe da Autoridade Palestina.
O
primeiro é o Movimento de Resistência Islâmico, onde estão o Hamas, a Jihad
Islâmica e outros. Nas últimas eleições em 2006 conquistaram 76 das 132
cadeiras do Conselho Legislativo (Cisjordânia e Gaza). Nesta mesma eleição,
mesmo com todo apoio da máquina corrupta e submissa ao colonizador, o partido
que sustenta a AP obteve 43 assentos. Em 2008, a AP se apressou em dissolver e
fechar o Conselho Legislativo.
O
segundo campo é o da esquerda palestina que historicamente rejeita
categoricamente e denuncia a política estratégica da direita palestina,
representada pela AP e seu partido FATAH, em especial os Acordos de Oslo e suas
consequências trágicas para o povo e para a causa palestina. E que desde o
início da ocupação luta, com armas em resistência, contra a ocupação sionista e
pela libertação da Palestina do rio ao mar.
ACORDOS DE OSLO: O
QUE TROUXERAM PARA OS PALESTINOS
•
Instituiu a Autoridade Palestina que cuidaria da administração civil para a
população palestina e da segurança dos ocupantes;
•
A ocupação constrói um muro de 800 km na Cisjordânia, onde o Acordo de Oslo
previa o espaço sob o mando da Autoridade Palestina. Na construção foi
“confiscada” mais 15% da área prevista no acordo;
• O
número de colonos sionistas, nesta época, já era de 100 mil, após os Acordos,
passaram a 850 mil colonos assentados em terras confiscadas dos palestinos, na
Cisjordânia.
•
Foram construídos mais de 200 checkpoints onde os palestinos São humilhados e
controlados pela ocupação sionista;
• A
Cisjordânia foi dividida em 3 áreas: área A com 20% da Cisjordânia, onde a
administração civil e a segurança da ocupação ficariam a cargo da recém criada
Autoridade Palestina; área B com 20%, onde a Autoridade Palestina seria
responsável pela administração civil e a entidade sionista ficaria responsável
pela segurança e, finalmente, a área Com 60% da Cisjordânia totalmente sob
administração civil e militar da ocupação sionista. Nesta área, até 1967,
residiam 320 mil palestinos. Hoje residem 55 mil palestinos, incluindo a cidade
de Jericó.
A
principal tarefa das forças de segurança da AP é garantir a segurança e impedir
qualquer tentativa de uso da violência contra a ocupação. Segundo a AP, a
coordenação na área da segurança com a ocupação é sagrada, independente se
concordamos ou divergimos deles politicamente. A tarefa é realizada em
coordenação com os Serviços de Segurança israelenses e estadunidenses. Em
abril, numa Conferência de países árabes fez a seguinte declaração: Israel tem
direito à total segurança e é nosso dever garantir.
GRAVES DECLARAÇÕES
PÚBLICAS E RELATÓRIOS REVELADORES
•
Declarações públicas do Presidente da Autoridade Palestina: - Somos uma
autoridade sem autoridade! - Vivemos debaixo das botas da ocupação! -
Trabalhamos para a ocupação!
• O
porta-voz da presidência da Autoridade Palestina, membro do Comitê Central do
FATAH, Nabil Abu Rdeneh, declarou: “O que acontece entre o Hamas e Israel, em
Gaza, é algo que não nos diz respeito.” (...) e afirma: “O Hamas não tem
legitimidade”.
• O
Ministro do Desenvolvimento Social da Autoridade Palestina, membro do Comitê
Executivo da OLP, Ahmad Majdalani, em 17 de janeiro de 24, ao ser perguntado
sobre a posição dos EUA e da Europa - que consideram o Hamas uma
organização terrorista -, respondeu que “sim, o Hamas é uma organização
terrorista”.
•
Relatório indica que a repressão das forças de segurança da Autoridade
Palestina levou ao martírio 57 militantes da Resistência palestina na
Cisjordânia, incluindo o grande líder e ativista palestino Nizar Banat. E, após
o 7 de outubro, 12 jovens da Resistência foram assassinados pela AP.
• O
Comitê das famílias dos prisioneiros políticos na Cisjordânia, documentou que
durante 2021 mais de 2.578 violações contra os direitos humanos foram cometidas
pela Autoridade Palestina. Todas de forma arbitrária, sem apresentar mandado de
prisão ou justificativa legal, usando violência extrema e brutal por agentes
mascarados que não se identificavam.
CONCLUSÃO
A
FEPAL é uma entidade que não representa, como alega, o conjunto das
organizações e posições dos palestinos na diáspora. Esta Federação está a
serviço de uma política rechaçada por todos os palestinos, principalmente os
que estão lá no terreno enfrentando as bombas e a covardia diária dos ocupantes
sionistas e a repressão e traição da Autoridade Palestina.
Nós,
os palestinos da diáspora, não podemos tolerar isto!
Portanto,
não temos como reconhecer uma entidade e um Congresso que não defendam o que os
palestinos têm de mais precioso, sua resistência, sua luta, sua causa!
Não
seremos coniventes com a fraude da FEPAL de se colocar publicamente como uma
grande patriota e esconder o que de fato defende no teatro onde o genocídio e a
disputa da Resistência com o sionismo e contra a AP acontecem.
Declaramos
nosso total apoio à Frente de Resistência e agradecemos o enorme apoio prestado
pelo povo iemenita e seu bravo governo. Agradecemos aos nossos irmãos do
Hezbollah por seu apoio e luta contra o sionismo, e aos nossos heroicos irmãos
iraquianos na sua luta constante contra o império criminoso e seu apoio
ilimitado ao povo palestino, agradecemos o grande apoio dos povos e governos do
Irã e da Síria.
VIVA A RESISTÊNCIA PALESTINA!
VIVA O EIXO DA RESISTÊNCIA!
PALESTINA LIVRE DO RIO AO MAR!
18
de setembro de 2024
ASSINAM (em ordem
alfabética):
ABDEL ABU HWAS (MEMBRO DO
CONSELHO NACIONAL PALESTINO)
CENTRO CULTURAL ÁRABE
PALESTINO DO MATO GROSSO DO SUL
CENTRO CULTURAL ÁRABE
PALESTINO DE PORTO ALEGRE
CENTRO CULTURAL ÁRABE
PALESTINO BRASILEIRO DE SÃO PAULO
COMITÊ CATARINENSE DE
SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO KHADER OTHMAN
COMITÊ DE SOLIDARIEDADE À
LUTA DO POVO PALESTINO RJ
COMITÊ DE SOLIDARIEDADE AO
POVO PALESTINO – CRICIÚMA
COMITÊ PARAIBANO DE
SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO (COMPAPAL)
COMITÊS DA PALESTINA
DEMOCRÁTICA
SOCIEDADE ÁRABE PALESTINA DE
BRASÍLIA
SOCIEDADE ÁRABE PALESTINA DE
SANTA MARIA
SOCIEDADE ÁRABE PALESTINO
BRASILEIRA EM CORUMBÁ (MS)
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