sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Porque não participaremos do 11° Congresso da Fepal set/2024

Construindo coletivamente a esquerda Palestina no Brasil 

• Porque não participaremos do Congresso da FEPAL; 

• Porque não reconhecemos a FEPAL como legítima representante das comunidades palestinas no Brasil;

• Qual a função da Autoridade Palestina na luta do povo palestino. 

1 - Somos entidades, sociedades, centros culturais, movimentos, frentes de luta, comitês de solidariedade, militantes e ativistas da diáspora palestina no Brasil. Participamos do primeiro ao oitavo Congressos da FEPAL. Em 2004, antes da realização do 8º congresso na cidade de São Paulo, éramos uma maioria atuante e chegamos a participar de 5 (cinco) rodadas de diálogos, duas em Florianópolis e três em São Paulo com o Sr. Farid Sawan, primeiro embaixador da OLP, cuja gestão foi de 1979 a 1989. Certa ocasião, contou com a participação do embaixador Kifah Odeh. A ideia dos diálogos era ajustar os preparativos dos congressos e, por fim, os acordos políticos na composição da diretoria da FEPAL. Como tínhamos maioria nos Congressos, era natural ocupar o número de cargos correspondente ao nosso peso político, tanto que a comissão que elaborou os estatutos da FEPAL neste congresso foi formada por Abdel Rahman Abu Hwas, Ramadan Hassan, Shawqui Hilal e Maysar Dib. Neste último Congresso, foi eleito Farid Sawan para presidente da entidade e Abed Hassan para vice-presidente, Elayan seria o segundo vice e tivemos direito a mais 3 delegados na Diretoria. Como estava previsto que Farid Sawan seria transferido para a Argentina, o acordo previa que a presidência da FEPAL ficaria com Abed Hassan, vice-presidente. No entanto, rompendo o acordo político realizado no Congresso, a presidência da FEPAL foi passada para Elayan. 

Neste período, a União Democrática das Entidades Palestinas do Brasil (UDEP) - nossa organização na diáspora - se manteve atenta para as atividades de preparação do 9° Congresso, e apesar dos contatos iniciais, no entanto, os senhores Farid e Hasan Amleh foram para a embaixada em Brasília e anunciaram sozinhos o Congresso. 

A partir de então, se inaugura a construção de um Congresso monolítico da FEPAL, sem diálogo com as várias organizações políticas como a UDEP, IBRASPAL, frente em defesa do povo palestino, centro cultural Al-Jania e várias outras sociedades, centros culturais, ativistas e militantes palestinos. A partir deste momento, sem a participação do conjunto das organizações que compõe o universo político palestino na diáspora, deixou de existir o importante diálogo para a construção de um Congresso democrático e legítimo. 

2 – Do 9° Congresso em 2007 até o 10°, em 2019, foram 12 anos sem atuação política. Neste período, o Secretário Geral da FEPAL, Sr. Emir Murad apresentou uma nota pública se desligando das atividades da FEPAL, da Confederação Palestina da América Latina e Caribe (COPLAC) e outros movimentos e entidades envolvidas com a questão palestina. Logo depois, assumiu o cargo de Secretário da COPLAC no Congresso desta entidade, em 2017, na Nicarágua. Uma entidade ausente há 25 anos do cenário político da América Latina, sem realização de Congressos, sem uma nota política sobre a luta palestina sequer, durante um quarto de século. Uma entidade fantasma que alegava e continua alegando representar as comunidades palestinas na América Latina e Caribe. A FEPAL é filiada a esta entidade e suas lideranças participaram de seu Congresso. Esta unidade se explica pelo que as duas entidades têm em comum: São interlocutores e representantes da Autoridade Palestina (AP) na América Latina, Caribe e no Brasil. 

3 - Em 2017, as massas palestinas, na diáspora, da América latina e Caribe, se mobilizaram contra a interferência e manipulações da AP, exercidas por meio de seus embaixadores, para manter o  monopólio da representação das comunidades palestinas no Brasil e na América Latina e Caribe. A vitória da mobilização culminou com o Primeiro Congresso preparativo no Chile, em 2017, independente da hegemonia e da manipulação da AP, onde a organização não permitiu a participação de embaixadores e de nenhum representante enviado da AP. Na sequência, em 2019, foi a vez da comunidade palestina de El Salvador organizar o Congresso de fundação da União Palestina da América Latina (UPAL). A reação da Autoridade Palestina veio em um documento assinado pelo Ministério das Relações Exteriores cheio de acusações contra o Congresso e seus participantes. Ao mesmo tempo, aconteciam articulações do Congresso da FEPAL e da COPLAC dentro das embaixadas da Autoridade Palestina. A Diretoria da COPLAC, eleita em 2017 na Nicarágua, da qual participavam Rafael Araya Masri e Emir Murad viajaram para Ramalla (Cisjordânia) e foram recebidos com pompas e circunstâncias, homenageados pela cúpula da Autoridade palestina, que contou com a presença do Presidente e do Chanceler da AP. Em 2023, em Barranquilla, na Colômbia, foi realizado o 2°Congresso da UPAL. 

4 – Em 08 de abril de 2017, a UDEP manteve um encontro de diálogo com a FEPAL. Essa reunião contou com a presença do atual embaixador Ibrahim Al Zibem, além de Fauzi al Mashni (ex[1]embaixador no México), Elayan (presidente da FEPAL à época) e Walid Rabah, atual presidente. O nosso objetivo foi traçar uma linha de unidade e construção coletiva do próximo Congresso da FEPAL. Lamentavelmente, a tentativa de diálogo não avançou, e chegamos à conclusão de que uma linha de ação unitária não era a intenção desse grupo que tomou de assalto, para si, a Federação dos Palestinos da diáspora no Brasil. 

Assim, não nos resta outra alternativa que não seja o não reconhecimento da FEPAL como aglutinadora do conjunto das entidades dos palestinos na diáspora, e também da COPLAC, como representante legítima das entidades dos palestinos na diáspora da América Latina. Na verdade, não passam de correias amestradas de transmissão da criminosa política da Autoridade Palestina contra a luta de resistência do nosso povo. 

5 – Construímos um projeto político alternativo à linha política e estratégica representada pela Autoridade Palestina, da qual a direção atual da FEPAL e da COPLAC comungam e são parte. Não podemos mais nos calar diante da imagem fraudulenta daqueles que omitem seu apoio e seguem a linha política de traição e cooperação com o inimigo sionista contra o povo palestino que luta desesperadamente para ser livre do jugo colonial sionista. 

Os palestinos da diáspora têm o direito de saber o que pensa a FEPAL sobre: 

a) a brutalidade da polícia da AP contra seu próprio povo;

b) a proteção e submissão aos colonos sionistas e às, pasmem, tropas sionistas; 

c) como explicam a colaboração dos Serviços de Inteligência da AP com os Serviço de Inteligência da entidade sionista, do ocupante, dando informações preciosas que levam à prisão de nossa juventude revolucionária; 

d) as prisões e torturas denunciadas até na ONU;

e) porque a FEPAL se omite, não denuncia e não assume sua posição de submissão política à Autoridade Palestina; 

f) sua dissimulação em criar palavras de ordem e slogans que denunciam a ocupação e seus crimes direcionando para um ufanismo que promove a AP como força patriota, na tentativa de lavar sua imagem velha e conhecida no mundo inteiro de força corrupta e traidora do povo palestino, que verdadeiramente luta contra o projeto de colonização sionista há mais de 100 anos. 

A juventude palestina, filhos da diáspora, os partidos, sindicatos e movimentos populares que apoiam e são solidários à Causa Palestina precisam saber que a Autoridade Palestina é a única força política da Palestina que não faz parte, por opção, da Resistência Palestina. Pelo contrário, são parte das forças que reprimem, perseguem, deduram, prendem, torturam e matam nossos bravos combatentes da Resistência. 

6 – A verdadeira representação política do povo palestino na diáspora é sua resistência, que luta incansavelmente contra o projeto sionista e seu exército de ocupação. 

A narrativa da Autoridade Palestina sobre legitimidade tem como objetivo manter o histórico monopólio da representação do povo e da causa palestina. No entanto, o acirramento dos ataques contra nosso povo, o genocídio, quebrou esse paradigma. Esse discurso está enferrujado e com prazo de validade vencido. 

O povo palestino e uma grande parte de seus aliados, no mundo inteiro, sabem que há dois campos políticos que atuam e lideram a luta e tem uma esmagadora maioria de apoio popular no terreno, longe da Autoridade Palestina. 

O primeiro é o Movimento de Resistência Islâmico, onde estão o Hamas, a Jihad Islâmica e outros. Nas últimas eleições em 2006 conquistaram 76 das 132 cadeiras do Conselho Legislativo (Cisjordânia e Gaza). Nesta mesma eleição, mesmo com todo apoio da máquina corrupta e submissa ao colonizador, o partido que sustenta a AP obteve 43 assentos. Em 2008, a AP se apressou em dissolver e fechar o Conselho Legislativo. 

O segundo campo é o da esquerda palestina que historicamente rejeita categoricamente e denuncia a política estratégica da direita palestina, representada pela AP e seu partido FATAH, em especial os Acordos de Oslo e suas consequências trágicas para o povo e para a causa palestina. E que desde o início da ocupação luta, com armas em resistência, contra a ocupação sionista e pela libertação da Palestina do rio ao mar. 

ACORDOS DE OSLO: O QUE TROUXERAM PARA OS PALESTINOS 

• Instituiu a Autoridade Palestina que cuidaria da administração civil para a população palestina e da segurança dos ocupantes;

 • A ocupação constrói um muro de 800 km na Cisjordânia, onde o Acordo de Oslo previa o espaço sob o mando da Autoridade Palestina. Na construção foi “confiscada” mais 15% da área prevista no acordo; 

• O número de colonos sionistas, nesta época, já era de 100 mil, após os Acordos, passaram a 850 mil colonos assentados em terras confiscadas dos palestinos, na Cisjordânia. 

• Foram construídos mais de 200 checkpoints onde os palestinos São humilhados e controlados pela ocupação sionista; 

• A Cisjordânia foi dividida em 3 áreas: área A com 20% da Cisjordânia, onde a administração civil e a segurança da ocupação ficariam a cargo da recém criada Autoridade Palestina; área B com 20%, onde a Autoridade Palestina seria responsável pela administração civil e a entidade sionista ficaria responsável pela segurança e, finalmente, a área Com 60% da Cisjordânia totalmente sob administração civil e militar da ocupação sionista. Nesta área, até 1967, residiam 320 mil palestinos. Hoje residem 55 mil palestinos, incluindo a cidade de Jericó. 

A principal tarefa das forças de segurança da AP é garantir a segurança e impedir qualquer tentativa de uso da violência contra a ocupação. Segundo a AP, a coordenação na área da segurança com a ocupação é sagrada, independente se concordamos ou divergimos deles politicamente. A tarefa é realizada em coordenação com os Serviços de Segurança israelenses e estadunidenses. Em abril, numa Conferência de países árabes fez a seguinte declaração: Israel tem direito à total segurança e é nosso dever garantir. 

GRAVES DECLARAÇÕES PÚBLICAS E RELATÓRIOS REVELADORES 

• Declarações públicas do Presidente da Autoridade Palestina: - Somos uma autoridade sem autoridade! - Vivemos debaixo das botas da ocupação! - Trabalhamos para a ocupação! 

• O porta-voz da presidência da Autoridade Palestina, membro do Comitê Central do FATAH, Nabil Abu Rdeneh, declarou: “O que acontece entre o Hamas e Israel, em Gaza, é algo que não nos diz respeito.” (...) e afirma: “O Hamas não tem legitimidade”.

• O Ministro do Desenvolvimento Social da Autoridade Palestina, membro do Comitê Executivo da OLP, Ahmad Majdalani, em 17 de janeiro de 24, ao ser perguntado sobre a posição dos  EUA e da Europa - que consideram o Hamas uma organização terrorista -, respondeu que “sim, o Hamas é uma organização terrorista”. 

• Relatório indica que a repressão das forças de segurança da Autoridade Palestina levou ao martírio 57 militantes da Resistência palestina na Cisjordânia, incluindo o grande líder e ativista palestino Nizar Banat. E, após o 7 de outubro, 12 jovens da Resistência foram assassinados pela AP. 

• O Comitê das famílias dos prisioneiros políticos na Cisjordânia, documentou que durante 2021 mais de 2.578 violações contra os direitos humanos foram cometidas pela Autoridade Palestina. Todas de forma arbitrária, sem apresentar mandado de prisão ou justificativa legal, usando violência extrema e brutal por agentes mascarados que não se identificavam. 

CONCLUSÃO 

A FEPAL é uma entidade que não representa, como alega, o conjunto das organizações e posições dos palestinos na diáspora. Esta Federação está a serviço de uma política rechaçada por todos os palestinos, principalmente os que estão lá no terreno enfrentando as bombas e a covardia diária dos ocupantes sionistas e a repressão e traição da Autoridade Palestina. 

Nós, os palestinos da diáspora, não podemos tolerar isto! 

Portanto, não temos como reconhecer uma entidade e um Congresso que não defendam o que os palestinos têm de mais precioso, sua resistência, sua luta, sua causa! 

Não seremos coniventes com a fraude da FEPAL de se colocar publicamente como uma grande patriota e esconder o que de fato defende no teatro onde o genocídio e a disputa da Resistência com o sionismo e contra a AP acontecem. 

Declaramos nosso total apoio à Frente de Resistência e agradecemos o enorme apoio prestado pelo povo iemenita e seu bravo governo. Agradecemos aos nossos irmãos do Hezbollah por seu apoio e luta contra o sionismo, e aos nossos heroicos irmãos iraquianos na sua luta constante contra o império criminoso e seu apoio ilimitado ao povo palestino, agradecemos o grande apoio dos povos e governos do Irã e da Síria. 

VIVA A RESISTÊNCIA PALESTINA! 

VIVA O EIXO DA RESISTÊNCIA!

 PALESTINA LIVRE DO RIO AO MAR! 

18 de setembro de 2024 

ASSINAM (em ordem alfabética): 

ABDEL ABU HWAS (MEMBRO DO CONSELHO NACIONAL PALESTINO) 

CENTRO CULTURAL ÁRABE PALESTINO DO MATO GROSSO DO SUL 

CENTRO CULTURAL ÁRABE PALESTINO DE PORTO ALEGRE 

CENTRO CULTURAL ÁRABE PALESTINO BRASILEIRO DE SÃO PAULO 

COMITÊ CATARINENSE DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO KHADER OTHMAN 

COMITÊ DE SOLIDARIEDADE À LUTA DO POVO PALESTINO RJ 

COMITÊ DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO – CRICIÚMA 

COMITÊ PARAIBANO DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO (COMPAPAL) 

COMITÊS DA PALESTINA DEMOCRÁTICA 

SOCIEDADE ÁRABE PALESTINA DE BRASÍLIA

SOCIEDADE ÁRABE PALESTINA DE SANTA MARIA 

SOCIEDADE ÁRABE PALESTINO BRASILEIRA EM CORUMBÁ (MS)

 


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