quinta-feira, 19 de outubro de 2017

A trama geopolítica que envolve o povo Rohingyas, em Miamar

O PENTÁGONO PREPARA UMA NOVA GUERRA NO SUDESTE DA ÁSIA

O islã político contra a China

Por Thierry Meyssan

Provavelmente vocês estão cientes de não estar informados de forma completa sobre o que se trama no Mianmar e, provavelmente, não ouviram falar da coligação militar que se prepara para atacar este país. Ora, como Thierry Meyssan expõe aqui, os atuais acontecimentos estão a ser organizados por Riade e Washington desde 2013. Não tomem uma posição antes de ter lido este artigo e de ter integrado as informações a propósito. 

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Segundo o Estado-maior dos EUA, o Mianmar (ou Birmânia) faz parte da zona a destruir (em cima, o mapa publicado por Thomas P. M. Barnett em 2003).
Prosseguindo a sua Grande Estratégia de extensão do teatro da guerra [1], o Pentágono prepara, ao mesmo tempo, a instrumentalização dos curdos no Grande Oriente Médio, uma guerra civil na Venezuela e uma guerra de desgaste nas Filipinas. No entanto, estes conflitos terão que esperar a execução de um quarto teatro de operações : a Birmânia, às portas da China.

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A 28 de Setembro no Conselho de Segurança, Jeffrey Feltman, o numero 2 da ONU, assiste aos debates ao lado do Secretário-Geral Antonio Guterres. Depois de ter pessoalmente supervisionado a agressão contra a Síria, ele pretende organizar aagressão contra a Birmânia. Antigo alto-funcionário do governo norte-americano, Feltman foi adjunto de Hillary Clinton
Quando da reunião do Conselho de Segurança da ONU, a 28 de Setembro, a embaixatriz dos E.U. e vários dos seus aliados acusaram o governo de coligação do Mianmar de «genocídio» [2]. Esta afirmação contundente —que no Direito europeu designa um massacre em massa, mas no Direito dos E.U. se aplica a um método de assassinato, mesmo quando o criminoso assassino tenha provocado  uma única vítima - sendo o bastante para  Washington justificar uma guerra, com ou sem o aval do Conselho de Segurança, como vimos no caso da Iugoslávia [3]. A reunião do Conselho de Segurança realizou-se a pedido da Organização de Cooperação Islâmica (OIC).
Para fazer corresponder os fatos com a sua narrativa, os Estados Unidos, o Reino Unido e a França, que aplaudiu Aung San Suu Kyi e os monges budistas pela sua resistência não-violenta à ditadura do SLORC (Junta Militar-ndT) [4], pura e simplesmente redefiniram o exército birmanês, o premio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi [5], e todos os budistas do país [6] no campo dos “malvados”.

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Desde 2013, os media ocidentais dedicam-se a apresentar o budismo sob um prisma sectário. Aqui, o monge Ashin Wirathu, condenado em 2003 a 25 anos de prisão, devido às suas predicas anti-muçulmanas, ele beneficiou da anistia geral em 2012. O fato é que há fanáticos em todas as religiões.
 A Birmânia jamais conheceu paz civil desde os dias da dominação estrangeira, primeiro a Inglaterra e depois o Japão [7]. Tornou-se mais fácil desestabilizar desde que a Junta do SLORC aceitou partilhar o poder com a Liga Nacional para a Democracia (LND) e juntos tentam resolver pacificamente os numerosos conflitos internos do país.
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Indispensável para a economia chinesa, o oleoduto de Yunnan flui para o Pacífico, no estado birmanio de Rakhine,  (anteriormente chamado Arakan).
 Por uma geográfica coincidência, a Birmânia é o lugar de passagem do oleoduto que liga a cidade chinesa Yunnan  ao Golfo de Bengala, e abriga os postos chineses de vigilância eletrônica  das rotas navais que passam próximo  de sua costa. Fazer  guerra contra a Birmânia é, pois, para o Pentágono até mais importante do que impedir as duas «Rotas da Seda», no Médio-Oriente e na Ucrânia.
Como herança da colonização britânica encontra-se, entre as populações discriminadas birmanesas , 1,1 milhão de descendentes dos trabalhadores que  Londres deslocou de Bengala, no interior do Império das Índias, para a Birmânia: os Rohingyas [8]. Acontece que esta minoria nacional - e não étnica - é muçulmana, enquanto a grande maioria dos Birmaneses são budistas. Finalmente, ocorre que durante a Segunda Guerra Mundial, os Rohingyas colaboraram com o Império da Índia contra os nacionalistas birmânios
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Perfeitamente equipado, o Movimento pela Fé ou Exército de libertação dos Rohingyas de Araka  foi treinado pelos Britânicos, pela Arábia Saudita e por Bangladesh. Antes do início dos acontecimentos atuais, contavam com pelo menos 5. 000 soldados
Em 2013, quando o Pentágono e a CIA implantaram  hordas de jihadistas na Síria, e mantinham uma guerra de posições, a Arábia Saudita criava mais uma  organização terrorista em Meca, o Movimento para a fé (Harakah al-Yaqin). Este grupo, que afirma reunir os Rohingyas, é na realidade comandado pelo Paquistanês Ata Ullah, combatente contra os Soviéticos no Afeganistão [9]. O reino saudita abrigava a maior comunidade masculina de Rohingyas, depois da Birmânia, à frente de Bangladesh, com 300 mil trabalhadores do sexo masculino, sem as suas famílias.
Segundo um relatório dos Serviços de inteligência de Bengali, anterior à crise atual, a organização "Movimento pela Fé" trabalhava, desde há um ano, com uma cisão do Jamat-ul-Mujahideen de Bengali, em torno do slogan «A Jihad de Bengali em Bagda». Este grupelho presta obediência ao Califa do Daesh(E.I.), Abu Bakr al-Baghdadi, e juntou-se numa mesma coalizão os Mujahedins indianos, a Al-Jihad, a Al-Ouma, o Movimento de Estudantes Islâmicos da Índia (SIMI), Lashkar-e-Toiba (LeT) e o paquistanês Harkat-ul Jihad-al-Islami (HuJI). Este conjunto foi financiado pela fundação Revival of Islamic Heritage Society (RIHS) do Kuweit.
Quando, há menos de um ano e meio, em Março de 2016, o SLORC(Junta Militar) aceitou partilhar o Poder com o partido de Aung San Suu Kyi, os Estados Unidos tentaram instrumentalizar a prêmio Nobel da Paz contra os interesses chineses. Sabendo que  seria difícil manipular a filha do pai da independência birmanesa,  Aung San, passaram a encorajar a organização Movimento para a Fé —«...nunca se sabe…»—.
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Em Setembro de 2016, Aung San Suu Kyi veio explicar os seus esforços em favor dos Rohingyas à tribuna da Assembleia Geral da ONU. Tal como o seu pai Aung San, que acreditou por um instante na ajuda dos Japoneses para libertar o seu país da colonização britânica, a prêmio Nobel da Paz  acreditou na simpatia dos Anglo-saxônicos para resolver os problemas internos do Mianmar.
 Em Setembro de 2016, Aung San Suu Kyi representou o seu país na Assembleia Geral das Nações Unidas [10]. De forma muito ingênua, ela explicou os problemas enfrentados por seu povo e os meios que utilizava para os resolver progressivamente, a começar pelos dos Rohingyas. De regresso a casa, percebeu que os seus antigos apoiantes norte-americanos eram, na realidade, os inimigos do seu país. A organização "Movimento para a Fé" lançou uma série de ataques terroristas, entre os quais uma delegacia de polícia na fronteira de Maungdaw, onde 400 terroristas roubaram o arsenal matando 13 agentes da alfândega e soldados.
Decidida, Aung San Suu Kyi prosseguiu na implementação de uma comissão consultiva encarregada de analisar a questão rohingya e propor um plano concreto para pôr fim à discriminação contra eles. Esta comissão era composta por seis birmaneses e três estrangeiros: a Embaixatriz holandesa Laetitia van den Assum, o antigo Ministro libanês (na realidade representando a França) Ghassan Salamé e o antigo Secretário-geral da ONU, Kofi Annan, na qualidade de Presidente da comissão.
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A Comissão de Consulta sobre os Rohingyas em torno de seu Presidente, Kofi Annan. Entre os seis membros da Birmânia estão personalidades históricas da luta pelos direitos humanos - como U Win Mra e U Khin Maung Lay -, bem como Al Haj U Aye Lwin, guia espiritual de uma ordem muçulmana sufí.
Os nove comissários realizaram um trabalho de rara qualidade apesar dos obstáculos birmaneses. Os partidos políticos falharam no intento de fazer dissolver a comissão pela Assembleia Nacional, mas conseguiram conduzir uma moção de censura à comissão pela Assembleia local de Arakan (o Estado onde vivem os Rohingyas). Mesmo assim, os membros do Comitê tornaram público o seu relatório, a 25 de Agosto, contendo as recomendações genuínas que poderia, realmente ser implementadas, sem truques, com o objetivo real de melhorar as condições de vida de todos envolvidos [11].
No próprio dia, os Serviços secretos sauditas e norte-americanos deram o sinal para o  contra ataque: o  "Movimento pela Fé", rebatizado pelos britânicos de "Exército de Salvação dos Rohingyas de Arakan", dividido em 24 comandos, atacou quartéis do exército e postos da polícia, fazendo 71 mortos. Durante uma semana, as tropas birmanesas conduziram uma operação antiterrorista contra os jihadistas. Fugiram para o Bangladesh 400 membros das suas famílias.

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Em 1 de setembro de 2017, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, na qualidade de presidente da Organização para a Cooperação Islâmica, abriu a campanha midiática sobre os Rohingyas em Istambul.
Três dias mais tarde, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, começou a telefonar a todos os chefes de Estado de países muçulmanos para os alertar sobre o «genocídio dos Rohingya». A 1 de Setembro, quer dizer, no dia da mais importante festa muçulmana,  Aid al-Adha  pronunciava um inflamado discurso em Istambul, na sua qualidade de atual presidente da Organização de Cooperação Islâmica, para salvar os Rohingyas e apoiar o seu Exército de Salvação [12].
Ora, estes jihadistas não  fizeram nada para defender os Rohingyas, antes intervieram, de maneira sistemática, para sabotar as tentativas para melhorar as suas condições de vida e por um fim às discriminações que os atingem.
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O General Mohsen Rezaei foi o comandante dos Guardas da Revolução que lutou ao lado da OTAN e da Arábia Saudita durante a guerra da Bósnia-Herzegovina contra a Sérvia

A 5 de Setembro, o Presidente do Conselho dos guardiões do Irã, Mohsen Rezaei, propunha juntar as forças de todos os Estados muçulmanos para criar um exército islâmico para salvar os «irmãos rohingyas» [13]. Posição mais  importante desde o General Rezaei , um antigo comandante-em-chefe da  Guarda da Revolução.
Numa altura, enquanto  o exército birmanês tinha cessado toda a atividade contra os terroristas as aldeias rohingyas eram queimadas e a população rakhine de Arakan linchava os muçulmanos, que aos seus olhos eram cúmplices dos terroristas. De acordo com os rohingyas, era o exército birmanês que queimava as aldeias, enquanto segundo o exército birmanês, foram os jihadistas. Progressivamente, todos os Rohingyas vivendo no Norte de Arakan se puseram em marcha afim de se refugiar em Bangladesh, mas, curiosamente, não os Rohingyas habitantes do Sul do Estado.

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 Em 6 de Setembro, uma delegação oficial turca foi ao Bangladesh para aí distribuir víveres aos refugiados. Foi chefiada pelo Ministro das Relações Exteriores, Mevlüt Çavuşoğlu, e pela esposa e o filho do Presidente Erdoğan, Bilal e Ermine.

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A campanha de mobilização em curso nos países muçulmanos baseia-se em elementos visuais particularmente fortes, como esta fotografia, divulgada pelo governo turco, que supostamente mostra corpos de muçulmanos mortos por monges budistas na Birmânia. Na verdade, é uma foto antiga de uma cerimônia de funeral onde se vê as vítimas de um terremoto na China.
 Nos países muçulmanos, uma ampla campanha de desinformação assegurava, com fotografias em apoio, que os budistas massacravam em massa os muçulmanos. Claro, nenhuma dessas fotos tinha sido tirada na Birmânia, e essas falsas notícias foram desmascaradas umas após as outras. Mas, nos países onde a população é pouco informada essas fotos convenceram, enquanto os desmentidos foram ignorados. Apenas o Bangladesh expressou reservas sobre o papel dos jihadistas e assegurou, à Mianmar sua cooperação contra os terroristas [14].
A 11 de Setembro, o presidente em exercício da Organização da Conferência Islâmica (OIC), Recep Tayyip Erdoğan, intervinha diante da comissão científica da Organização, em Astana (Cazaquistão), - o que não é da sua competência -  «para salvar os Rohingyas».

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Para o Aiatola Ali Khamenei, o envolvimento militar do seu país ao lado da OTAN e da Arábia Saudita na Birmânia seria uma catástrofe. Tanto mais que o Irã tem uma história milenar de cooperação com a China
No dia seguinte, a 12 de Setembro, o Guia da Revolução, Aiatola Ali Khamenei tomava posição. Muito preocupado com a proposta do General Rezaei, ele teve o cuidado de deslegitimar a guerra de religião que estava sendo  preparada, - o «choque de civilizações» - , mesmo que significasse culpar a presença de uma mulher à frente de um Estado. Ele foi, portanto, cuidadoso em fechar a porta do envolvimento militar dos Guardiões da Revolução. Ele declarou : « É bem possível que o fanatismo religioso possa ter desempenhado um papel nesses eventos, mas trata-se de uma questão completamente política, porque é o governo de Mianmar o responsável. E à frente desse governo, há uma mulher cruel, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz. Na realidade, esses eventos assinaram o aviso de morte do Prêmio Nobel da Paz.» [15].
De imediato em Teerã, o Presidente,  Hassan Rohani, lançava um apelo ao exército regular para participar no conflito em preparação. Em 17 de Setembro, os Chefes de Estado-Maior dos exércitos iraniano e paquistanês entraram em contacto para unir as suas forças na crise [16]. Tratou-se da primeira iniciativa militar, mas ela diz respeito ao exército iraniano (que já trabalha com os seus homólogos turco e paquistanês na defesa do Catar) e não aos Guardas da Revolução (os quais se batem ao lado dos Sírios contra os jihadistas). O Irã encaminha, igualmente, uma ajuda maciça para os refugiados.

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Aung San Suu Kyi apela à opinião pública internacional para levar em conta os esforços do Mianmar para resolver a questão dos Rohingyas e denuncia o terrorismo jihadista. Ela não será muito mais compreendida do que foi Muamar Kadhafi denunciando o ataque da Al Qaida contra o seu país (Naypyidaw, 19 setembro 2017).
 Em 19 de Setembro, ignorando as explicações de Aung San Suu Kyi [17] e aproveitando-se da Assembleia Geral da ONU, Recep Tayyip Erdoğan reuniu o grupo de contacto da OCI para pedir a todos os Estados membros que suspendessem todo e qualquer comércio com o Mianmar e para pedir ao Conselho de Segurança da ONU que se pronunciasse [18].

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A Arábia Saudita protege e enquadra desde 2013 o Exército de Libertação dos Rohingyas de Arakan. O Rei Salman doou 15 milhões de dólares aos refugiados rohingyas no Bangladesh, onde se encontram os campos de treino do grupo jihadista.
  Saindo por fim da sombra, a Arábia Saudita afirma que estão apoiando os Rohingyas discretamente desde há 70 anos, e já lhes ter oferecido US $ 50 milhões de dólares de ajuda durante este período. O Rei Salman também acrescentou um donativo de US $ 15 milhões de dólares [19]. O embaixador Saudita nas Nações Unidas, em Genebra, Abdulaziz bin Mohammed Al-Wassil, mobiliza para isso o Conselho dos Direitos Humanos.
 Esquecendo as guerras em que se enfrentam um contra os outros -  no Iraque, na Síria e no Yemen -, a Turquia, o Irã e a Arábia Saudita, quer dizer, em outras palavras,  os três principais poderes militares muçulmanos, uniram-se por um simples reflexo de comunidade [20] e posicionaram-se ao lado dos Rohingyas. Os três, em conjunto, nomearam o inimigo comum: o governo de coligação do Exército birmanês e  Aung San Suu Kyi.

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Em 1995, Osama Bin Laden faz desfilar a sua Liga Árabe, em Zenica, diante do Presidente bósnio Alija Izetbegović. Eram antigos mujahedins que haviam lutado contra os Soviéticos, no Afeganistão.Posteriormente, passaram a se chamar Al-Qaeda. Durante a guerra, os serviços secretos  russos se infiltraram na Legião Árabe e constatam que todos os seus documentos não estavam redigidos em árabe, mas em inglês.
 Esta completa reviravolta de situação no Médio-Oriente já teve um precedente: as guerras na Iugoslávia. Na Bósnia-Herzegovina (1992-95) e no Kosovo (1998-99), os países muçulmanos e a OTAN bateram-se, lado a lado, contra os cristãos ortodoxos ligados à Rússia.
 Na Bósnia-Herzegovina, o Presidente Alija Izetbegović trabalhou com o representante dos EUA , o norte-americano Richard Perle, que o aconselhou no plano diplomático e dirigiu a delegação da Bósnia durante os Acordos de Dayton. No plano midiático,  usou o aconselhamento do representante  francês Bernard-Henri Lévy, de acordo com o próprio Lévy, jamais desmentido. Por fim, no plano militar, ele apoiou-se no aconselhamento do representante Saudita Oussama Ben Laden, o qual organizou a Legião Árabe  e recebeu um passaporte diplomático bósnio. Durante o conflito, apoiado nos bastidores pela OTAN, Izetbegović recebeu publicamente o apoio da Turquia, do Irã e da Arábia Saudita [21].

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A opinião pública ocidental aceitou, sem discussão, a violação da Carta das Nações Unidas no Kosovo após ter assistido impotente ao êxodo de milhares de civis.
 O conflito kosovar começou com uma campanha terrorista do Exército de Libertação do Kosovo (UÇK) contra Belgrado. Os combatentes foram treinados pelas Forças Especiais alemãs numa base da OTAN na Turquia [22]. O atual Chefe do Serviço Secreto turco, Hakan Fidan, foi o oficial de ligação com os terroristas no seio do Estado-Maior da OTAN. Hoje em dia ele é o Chefe do MIT,  Serviço Secreto da Turquia, e o número dois do regime. No início da guerra, nem espaço de três dias,  290.000 Kosovares fugiram da Sérvia,  para se refugiar na Macedônia. As televisões ocidentais mostraram, sem parar, as longa fila de refugiados caminhando ao longo de uma linha ferroviária. No entanto, segundo alguns milhões de macedônios que os receberam, não havia nenhuma razão objetiva para essa migração, que foi cuidadosamente supervisionada pela OTAN. Não obstante, o deslocamento da população foi usado para  acusar o Presidente Slobodan Milošević de reprimir de forma desproporcionada a campanha terrorista contra seu país, e a OTAN declarou-lhe guerra sem autorização do Conselho de Segurança.
O trabalho sujo que se prepara hoje estende o teatro de operações para o Oriente. O Pentágono é incapaz de impor  uma aliança turco-irano-saudita, mas, de fato,  não precisa dela. Na Iugoslávia, esses três Estados foram coordenados pela OTAN, quando não tinham contatos diretos. 
No entanto, o fato de se baterem lado a lado na Birmânia irá forçá-los a encontrar arranjos no Iraque, na Síria e no Iêmen;  talvez até mesmo na Líbia. Tendo em conta o estado atual de devastação do Oriente Médio e a perseverança das populações que seguem resistindo, o Pentágono pode decidir deixar esta região superar suas feridas, durante uma década, sem temer ver surgir aí a menor capacidade de oposição à sua política.
No dia seguinte à reunião do Conselho de Segurança que lançou as bases da futura guerra contra a Birmânia, o Secretariado de Estado informou ao líder curdo Massoud Barzani de que os Estados Unidos não apoiariam a independência de um Curdistão no Iraque. O problema é que o Pentágono não pode, com efeito, mobilizar a Turquia e o Irã para o Sudeste da Ásia, enquanto os apunhalam com os curdos, nas suas próprias fronteiras.  Consequentemente, Massoud Barzani, que se havia comprometido a fundo  pelo referendo de independência, irá, pois,  se ver obrigado a retirar-se da vida política. Particularmente desde a exibição das bandeiras de Israel em Erbil - cidade sede do governo regional curdo/iraquiano- maciçamente difundida pelos canais de televisão árabes, persas e turcos, seus vizinhos lhe viraram as costas.
Se o cenário do Pentágono prosseguir tal como o estamos a antecipar, a guerra contra a Síria poderá terminar por falta de combatentes, enviados a outras latitudes afim de servir o «Império americano» num novo teatro de operações.

[1] Fonte : The Pentagon’s New Map,(«O Novo Mapa do Pentágono»-ndT) Thomas P. M. Barnett, Putnam Publishing Group, 2004. Análise “O projecto militar dos Estados Unidos pelo mundo”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 22 de Agosto de 2017.
[2] « Myanmar : le Secrétaire général demande "une action rapide" pour mettre fin au "cauchemar" des Rohingya dans l’État de Rakhine », Compte-rendu du Conseil de sécurité, Onu, 28 septembre 2017. Référence : CS/13012.
[3] LO Reino Unido e os Estados Unidos fizeram já redigir a acta de acusação contra o Mianmar, antes mesmo dos acontecimentos actuais :Countdown to Annihilation : Genocide in Myanmar, Penny Green, Thomas MacManus & Alicia de La Cour Venning, Queen Mary University of London, 2016. Persecution of the Rohingya Muslims ; Is Genocide Occurring in Myanmar’s Rakhine State ; a Legal Analysis, Allard Lowenstein, Yale University, 2016.
[4] « Birmanie : la sollicitude intéressée des États-Unis » (Birmânia : A solicitude interesseira dos Estados Unidos»- ndT), par Thierry Meyssan, Abiad & Aswad (Syrie), Réseau Voltaire, 5 novembre 2007.
[5The Burma Spring: Aung San Suu Kyi and the New Struggle for the Soul of a Nation, Rena Pederson, Foreword by Laura Bush, Pegasus, 2015.
[6Neither Saffron Nor Revolution: A Commentated and Documented Chronology of the Monks’ Demonstrations in Myanmar in 2007 and Their Background, Hans-Bernd Zöllner, Humboldt-University, 2009.
[7Burma/Myanmar: What Everyone Needs to Know, David Steinberg, Oxford University Press, 2013.
[8] Para ser mais preciso, houve imigrados bengalis na Birmânia antes do domínio britânico, mas a grande maioria de Rohingyas descende dos trabalhadores deslocados pelos colonos. NdA.
[9] “Myanmar’s Rohingya insurgency has links to Saudi, Pakistan”, Simon Lewis, Reuters, December 16, 2016.
[10] “Speech by Aung San Suu Kyi at 71st UN General Assembly”, by Aung San Suu Kyi, Voltaire Network, 21 September 2016.
[11Towards a peaceful, fair and prosperous future for the people of Rakhine, Advisory Commission on Rakhine State, August 2017.
[12] “We won’t Leave Rohingya Muslims Alone”, Presidency of the Republic of Turkey, September 1, 2017.
[13] “Rezaei urges Muslim states to defend Rohingya Muslims”, Mehr Agency, September 6, 2017.
[17] “Aung San Suu Kyi speech on National Reconciliation and Peace”, by Aung San Suu Kyi, Voltaire Network, 19 September 2017.
[18] «OIC Contact Group on Rohingya calls for UN Resolution on Myanmar», Organisation of Islamic Cooperation, September 19, 2017.
[20The Rohingyas : Inside Myanmar’s Hidden Genocide, Azeem Ibrahim, Hurst, 2016.
[21Comment le Djihad est arrivé en Europe, Jürgen Elsässer, préface de Jean-Pierre Chevènement, éditions Xenia, 2006.
[22] « L’UÇK, une armée kosovare sous encadrement allemand », par Thierry Meyssan, Notes d’information du Réseau Voltaire, 15 avril 1999.

Traduzido por:  somostodospalestinos
Postado: http://www.voltairenet.org/article198141.html

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