quinta-feira, 17 de agosto de 2017

A conexão Macron-Líbia

1/8/2017, Manlio Dinucci, Il Manifesto (de Tlaxcala)
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu 
Emmanuel Macron se reúne perto de Paris com Fayez Al-Sarraj e o marechal Khalifa Hafter
"O que se passa hoje na Líbia é de algum modo o cerne de um processo de desestabilização que tem várias caras" – declarou o presidente Macron, ao comemorar no Eliseu o acordo que "traça o mapa do caminho para a paz e a reconciliação nacional".

Macron atribui a situação caótica do país exclusivamente aos movimentos terroristas, que "visam a lucrar com a desestabilização política e a prosperar com a bonança econômica e financeira que pode haver na Líbia". Por isso – concluiu Macron –, a França ajuda a Líbia a bloquear os terroristas. Não. Macron inverte os fatos.

A França é, exatamente, quem urdiu a desestabilização da Líbia, com EUA, OTAN e as monarquias do Golfo.
Em 2010, segundo documento do Banco Mundial, a Líbia registrava os mais altos índices de desenvolvimento humano na África, com renda per capita acima da média, acesso universal à educação primária e secundária e com 46% da população com formação universitária. Cerca de 2 milhões de imigrados africanos encontravam trabalho na Líbia. O governo líbio favorecia, com seus investimentos, a formação de organismos econômicos da União Africana, independentes das organizações 'ocidentais'.

EUA e França – como fica provado em e-mails de Hillary Clinton – trabalharam em dupla para interromper o plano de Muanmar Gaddafi de criar uma moeda africana, alternativa ao dólar e ao franco Cfa (moeda que a França impõe a 14 de suas ex-colônias na África). Foi Clinton – o New York Times noticiou – quem induziu o presidente Obama a assinar "um documento que autorizava uma operação secreta na Líbia e o fornecimento de armas a rebeldes", dentre os quais se incluíam grupos até então classificados como terroristas.

Pouco depois, em 2011, a OTAN, por ordens dos EUA, demoliu o estado líbio, em guerra (promovida pela França) na qual o interior do país foi atacado também por forças especiais. Daí o desastre social que faria mais vítimas que a própria guerra, sobretudo entre os migrantes.

Essa história Macron conhece bem: de 2008 a 2012 ele fazia fulgurante (embora muito suspeita) carreira no Banco Rothschild, o império financeiro que controla os bancos centrais de quase todos os países do mundo. O Banco Rothschild desembarcou na Líbia em 2011, com a guerra ainda em curso. Ao mesmo tempo, os grandes bancos dos EUA e da Europa fazem o maior ataque de rapina do século, e confiscam 150 bilhões de dólares dos fundos soberanos líbios. 

Nos seus quatro anos de formação chez Rothschild, Macron foi introduzido no Gotha da finança mundial, dos que decidem as grandes operações como a demolição do estado líbio. Dali passou à política, onde tem carreira tão fulgurante quanto suspeita, começando como vice-secretário geral do Eliseu, depois ministro da economia. Em 2016, em poucos meses, Macron criou seu partido, En Marche!, partido do tipo 'faça-você-mesmo', mantido e pago por poderosos grupos multinacionais, midiáticos e financeiros, que lhe abrem o caminho para a presidência. Por trás do protagonismo de Macron, não há portanto só interesses nacionais franceses. O botim roubado à Líbia é imenso: as maiores reservas de petróleo do continente africano e grandes reservas de gás natural; a gigantesca reserva de água do Aquífero do Arenito Núbio – ouro branco que em futuro próximo valerá muito mais que o ouro negro; além do próprio território líbio, de altíssimo valor geoestratégico, na intersecção entre o Mediterrâneo, a África e o Oriente Médio.

Há "risco de que a França imponha forte hegemonia sobre nossa ex-colônia" – alerta Analisi Difesa, destacando a importância de uma iminente operação naval italiana para a Líbia. É apelo ao "orgulho nacional", de uma Itália que exige sua parte na divisão neocolonial de sua ex-colônia.*****


 

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