Por Maristela R. Santos Pinheiro
Neste dia, inicia-se, com a fundamental conivência do imperialismo, cujo centro ainda era a Inglaterra, a política de limpeza étnica na Palestina, quando centenas de sionistas armados e organizados em milícias mercenárias entram na Palestina trazendo o terror, a violência e a morte para mais de 675 vilarejos palestinos; milícias assassinas cujos nomes a história jamais esquecerá: Irgun, Stern, Hanagá – esta última deu origem ao atual Exército de Defesa de Israel.
A estratégia de terror adotada na ocupação das terras palestinas para a construção de um Estado Judeu foi deliberadamente planejada tendo em vista os interesses geopolíticos da emergente nação estadunidense, no Mundo Árabe.
“Em 7 de março de 1949, um memorando do chefe do Estado-Maior da Força Aérea norte-americana dirigido ao Estado-Maior conjunto sobre “os interesses estratégicos dos Estados Unidos em Israel” requeria um ajuste nesse sentido: “O equilíbrio dos poderes no Oriente Próximo e no Oriente Médio foi radicalmente alterado. Em troca de seu apoio a Israel, os Estados Unidos podem agora tirar vantagens estratégicas da nova ordem política”. Com base nesses cálculos, o chefe do Estado-Maior da Força Aérea recomendou que a formação e a cooperação militares fossem reconsideradas e, especialmente, que a influência soviética sobre o novo Estado fosse neutralizada.”.
Veja texto in: http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1031&PHPSESSID=7344ed5e82e51d5534f731688bd394681
Já se passaram 64 anos desde maio de 1948, e se lançarmos um olhar histórico para região podemos ver claramente a crescente importância desta “poderosa base militar” para a estratégia dos EUA no Mundo Árabe e seu entorno.
Nesses 64 de Nakba, a tragédia, o genocídio e a ocupação militar, política, cultural e econômica foi reproduzida e ampliada como principal meio de dominação imperialista sobre a região árabe e seu entorno, como o Afeganistão e a Líbia.
Os países cujos governos estão dispostos à cooperação político-militar-econômica tem o apoio irrestrito do sionismo para manter seus povos sob controle ditatorial e não admitem oposição, que a rigor são tratadas como terroristas, ou seja: prisões, torturas e assassinatos seletivos. Caso da Arábia Saudita, Bahrein, Qatar e o Iêmen.
Os Estados que se insurgem contra a dominação imperialista têm suas soberanias destruídas, os Estados desmontados e seus povos dizimados, caso trágico do Iraque; do Afeganistão, desde a Guerra Fria, quando os EUA financiam e armam a Al Qaeda (velhos amigos) e da Líbia destruída pelo exército de mercenários pagos pelo Qatar; acessória britânica e sionista; a Al Qaeda e a poderosa OTAN. Os povos desses países sentem na carne, como nenhum outro, o benefício da R2P , a Responsabilidade Para Protejer , da democracia capitalista!
Com a ajuda da CCG – Conselho de Cooperação do Golfo – entidade que reuni Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã – aliados incondicionais dos EUA e de Israel, países como a França, a Inglaterra, EUA e o Estado sionista introduzem muitas armas israelenses e grupos mercenários, milícias armadas e assassinas, que investem contra a população civil numa tentativa furiosa de desestabilizar o Estado sírio, conhecido na região pelo seu irrestrito apoio às resistências antiimperialista do Oriente Médio, em particular a da Palestina e do Líbano. Nesses macabros e terríveis episódios de terror contam com a presença marcante da Irmandade Muçulmana nos bárbaros e explosivos acontecimentos que ameaçam e matam a população civil síria e que exigem a intervenção militar imperialista à Síria, sem o menor constrangimento.
Mas, as coisas não estão saindo exatamente como o esperado: O povo sírio se unificou em torno das mudanças democráticas dirigidas pelo governo; tomou para si o destino do país e luta diariamente nas ruas, numa demonstração bravíssima de resistência anti imperialista, para que seu país não tenha o mesmo desfecho que se deu na Líbia, cuja aliança da OTAN, leia-se países imperialistas, com o fundamentalismo “islamofascista” conseguiu destruir e fragmentar de tal forma o Estado que a vida do seu povo foi reduzida à barbárie.
No Egito, a fim de frear a ofensiva antiimperialista e anti-sionista do povo árabe, essa quadrilha financia e dá suporte político e institucional a dócil e aliada Irmandade Muçulmana, organização pró-ocidental, que concorrerará as eleições através de seu braço político, o Partido Liberdade e Justiça. Mas na praça Tahrir, símbolo da ofensiva, a massa incansável segue se organizando em sindicatos independentes e organizações políticas e não desistem apesar de toda repressão. Na Tunísia o grosso do investimento com a mesma finalidade vai para organização Annahda.
A luta não foi vencida, mas tão pouco foi ganha!
Por trás da estratégia de acalmar os ânimos das massas egípcias, está o interesse de manter o domínio econômico das grandes corporações multinacionais: bancos, agronegócios, indústrias e os negócios das armas e o domínio político do Egito, importantíssimo para que não se quebre o frágil equilíbrio mantido pelo imperialismo no Mundo Árabe.
O Egito, o coração e a alma do Mundo Árabe; mais de 80 milhões de habitantes; a mais importante classe operária; vizinho da Palestina pela Faixa de Gaza , maior “campo de extermínio” a céu aberto do mundo; vizinho de Israel e dono de uma força militar significativa na região joga um papel determinante na manutenção do status quo.
A intenção do imperialismo/sionismo não se esgota aí, ameaçam chegar até a Pérsia e definir geopoliticamente sua supremacia mundial, abalada pela crise sistêmica que varre o planeta e abala a acumulação do capital, através da rapina das riquezas minerais, no caso o petróleo e da GUERRA que fomentará mais a economia desse sistema que se alimenta e se amplia com o terror.
A situação é muito complexa e envolve inclusive altíssimos investimentos nas ONGs dos Direitos Humanos, a associação destas com o National Endowment for Democracy (NED); ONGs cujos projetos e programas “inofensivos” escondem a colaboração destas com os interesses sionistas, da OTAN e do imperialismo.
Veja o texto “Las organizaciones de derechos humanos fomentan las guerras”
http://ciaramc.org/ciar/boletines/cr_bol394.htm )
Não haverá paz no Mundo Árabe, não haverá justiça social enquanto existir essa poderosa base militar nuclear (Israel) em seu seio, sustentada financeiramente pela burguesia imperialista, pelos grandes grupos coorporativos, pelo capital financeiro e bélico e politicamente pelos Estados Imperialistas, incluindo os da Europa.
Essa compreensão me leva a ousar dizer que a solidariedade internacionalista com a luta do povo palestino deve estar a altura das necessidades dessa nova conjuntura internacional; sendo assim, a defesa da causa palestina, após 64 anos, não pode mais ser vista de forma isolada, por que verdadeiramente não é solidariedade internacionalista, dessa forma.
A Palestina não é uma ilha fechada com seus problemas políticos internos; ao contrário, 64 anos de ocupação sionista na Palestina significou, na prática, a ampliação da política de terror para outros países árabes, para todo o povo árabe, significou a ampliação da dominação política-econômica-cultural no Mundo Árabe. Da mesma forma, o desfecho da luta no Egito e na Síria, cada qual com suas realidade específicas, afetará diretamente à luta do povo palestino para o bem ou para o mal. São partes da mesma luta, da mesma intifada, da mesma dominação, por isso encerram uma forte relação dialética.
Neste ponto temos um grave problema a superar na esfera da solidariedade internacionalista
As correntes e organizações políticas que transitam nos movimentos sociais e sindicais, comprometidas com a política externa do governo brasileiro, e alinhadas com as posições da Al Fatah, fazem campanhas reproduzindo a falsa discussão da possibilidade dos dois estados
(vide texto “E os palestinos? O que pensam sobre um Estado para todos, Ou, dois Estados. http://old.kaosenlared.net/noticia/palestina-laica-livre-soberana-para-todos )
Por óbvio, essa discussão no seio da solidariedade internacionalista gerou e gera uma certa tensão, mas, até aqui, não impediu a prática da unidade na ação, toda vez que o movimento de solidariedade brasileiro, em seu conjunto, foi chamado para ir às ruas ou fazer declarações conjuntas. Em diversos momentos, apesar das dificuldades que essa diferença estratégica levanta, o conjunto amplo da esquerda brasileira trabalhou junto na defesa da causa palestina, apesar das diferenças táticas, de nossas filiações partidárias e dos alinhamentos com as organizações políticas árabes/palestinas.
Mas, lamentavelmente, a partir da investida da contra-revolução na Líbia, e em seguida, na Síria, um setor importante da solidariedade internacionalista passa a apoiar abertamente os setores árabes ligados ao imperialismo; a generalizar os levantes numa mesma análise e sob uma mesma bandeira; a ter como base de informações as ONGs, ligadas aos Direitos Humanos; a citar fontes como a Al Jazeera, emissora reconhecidamente comprometida com o “ocidente”; a reconhecer como verdadeiras as informações da Mídia nacional corporativa e, por fim, a fazer um chamado para o envio de armas para os já bem armados grupos mercenários..... É ESTARRECEDOR !!!
Não acreditamos na possibilidade de estarmos do mesmo lado na solidariedade à luta de um povo com grupos que trabalham para fortalecer os inimigos desse mesmo povo (e da humanidade) em outro cenário.
Essa não é uma diferença qualquer, a unidade necessária para o bom encaminhamento da solidariedade internacionalista em defesa da causa palestina foi quebrada.
A base segura da solidariedade internacionalista à luta dos povos requer uma análise marxista aprofundada que se leve em conta todos os elementos da realidade, incluindo as contradições que gera, as posições tiradas destas análises são pautada pelo cenário que mais fortaleça a luta dos trabalhadores , desses povos, por um mundo mais justo, contra o capital.
Sinceramente, não consigo ver no horizonte uma solução capaz de superar esse gravíssimo problema político, mas isso não significa que a esquerda brasileira perdeu o passo do internacionalismo, por sorte, temos a maioria e importantes forças, organizações sociais e partidos políticos do nosso país firmes e na defesa intransigente da luta do povo palestino e do povo árabe, de caráter antiimperialista e anti-sionista, em particular, me sinto a vontade para citar a atuação dos Comitês de Solidariedade organizados nos Estados.
VIVA A UNIDADE DO POVO SÍRIO CONTRA O IMPERIALISMO!
VIVA A LUTA ANTIIMPERIALISTA DO POVO EGPCIO!
VIVA A LUTA DO POVO DO BAHREIM CONTRA A DITADURA !
VIVA O HEZBOLLAH !
VIVA A PALESTINA LIVRE!
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