Nathaniel Braia
O recente “relatório” da Comissão de inquérito sobre a Síria do Conselho de Direitos Humanos da ONU destaca-se por acusações bombásticas contra o governo sírio, mas inteiramente omisso em apresentar provas materiais, ou mesmo indícios que corroborem as acusações. Tudo é armado em cima de depoimentos de pessoas não identificadas nem qualificadas. O método “investigativo” não difere em nada da “cobertura” da mídia com “informações” sem confirmação de sua veracidade, mas que são repetidas à exaustão.
“BAIXO PADRÃO”
Já no preâmbulo do “relatório” da comissão encabeçada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro (foto)afirma-se que “o padrão de prova é de ‘suspeita razoável’” e reconhece-se que isso “é um padrão mais baixo do que comprovações usadas em procedimentos criminais”.
Como foram coletados os depoimentos? Muito simples: foi lançado um chamado público. O funcionário da ONU diz que atenderam ao chamado “organizações e pessoas interessadas” em “ajudar a comissão”. Portanto, entre os depoimentos das supostas “223 vítimas e testemunhas” podem constar declarações desinteressadas de agentes da CIA, mercenários e outros vagabundos dispostos a ajudar a Casa Branca no seu intento de derrubar o governo soberano da Síria.
Como foram coletados os depoimentos? Muito simples: foi lançado um chamado público. O funcionário da ONU diz que atenderam ao chamado “organizações e pessoas interessadas” em “ajudar a comissão”. Portanto, entre os depoimentos das supostas “223 vítimas e testemunhas” podem constar declarações desinteressadas de agentes da CIA, mercenários e outros vagabundos dispostos a ajudar a Casa Branca no seu intento de derrubar o governo soberano da Síria.
Nenhum dos depoimentos foi checado. A alegação é de que não puderam entrar na Síria. Mas existem outras formas de comprovar (fotos, filmes, documentos, acareações, informações cruzadas, etc.) sequer aventadas, certamente para não correr o risco de estragar o roteiro pré-estabelecido.
O mais curioso é que, com milhões de sírios nas ruas, em todas as cidades, apoiando o governo (tudo documentado com fotos) mais manifestações fora da Síria contra a interferência externa, que não haja um único depoimento que diga o contrário do que quer provar o relatório. Ou seja, nenhum destes milhões pôde testemunhar.
Os relatores ouviram também uma entidade de isenção exemplar a respeito da questão síria: a Liga Árabe. Aquela em que os reizinhos, emires e sultões – todos bem acapachados aos EUA, a ponto de lhes cederem território para bases militares na região – defendem suas monarquias - sabidamente superdemocráticas - contra o mal exemplo da República Árabe Síria.
A imprensa, claro, pegou a afirmação mais bombástica do relatório, a de que 256 crianças teriam sido mortas pelo regime sob torturas, violência sexual e outras práticas escabrosas imagináveis por mentes realmente doentias. Mas nenhum desses órgãos se dignou a citar as afirmações sírias de que “cidadãos, soldados e policiais são assassinados em emboscadas por gangues de terroristas” e que as alegações contra a Síria “são fabricadas pela mídia a serviço das potências ocidentais”. Coisas que o relator se viu obrigado a reproduzir para dar ao “informe” o mínimo de aparência de isenção. Esforço vão, diga-se de passagem.
Pinheiro alega que “a comissão da ONU não teve autorização do governo para entrar na Síria” mas as correspondências trocadas com o governo sírio, anexadas ao “relatório”, prova exatamente o contrário: não houve proibição alguma de acesso ao país.
CORRESPONDÊNCIAS
CORRESPONDÊNCIAS
A troca de correspondências mostra que o governo sírio afirma que teria prazer em receber uma comissão enviada pelo Conselho dos Direitos Humanos. Pede apenas que a Comissão de Inquérito da Síria possa antes concluir suas próprias investigações. Nesta questão, é Paulo Pinheiro quem dá o ultimato: em carta datada de 11 de novembro, exige que a comissão tenha acesso ao país em 15 dias, ignorando as ponderações sírias.
Finalmente, o “relatório” diz que o governo sírio não respondeu a um questionário apresentado pela comissão. Também aqui a verdade é distorcida. O governo sírio retornou dizendo que o questionário era parcial e por si só revelava a predisposição dos inquiridores.
Não há, diz o governo sírio, preocupação em questionar sobre as sabotagens que estão levando às mortes na Síria (segundo o governo já são mais de mil mortos pelos terroristas). Das 26 perguntas do tal questionário, apenas uma aborda a ação dos terroristas e todas as outras especulam sobre a suposta repressão do governo sírio a manifestantes desarmados.
Não há, diz o governo sírio, preocupação em questionar sobre as sabotagens que estão levando às mortes na Síria (segundo o governo já são mais de mil mortos pelos terroristas). Das 26 perguntas do tal questionário, apenas uma aborda a ação dos terroristas e todas as outras especulam sobre a suposta repressão do governo sírio a manifestantes desarmados.
O relatório na verdade macaqueia o método já usado pela mídia para demonizar o governo sírio e seu líder, Bashar Al Assad. Como afirma a pesquisadora da organização Global Research, Julie Lévesque, em sua matéria denominada Protesto na Síria: Quem conta os mortos?, os “informes de mídia sobre a alegada repressão pelo governo da Síria não mencionam suas fontes de informação”. “São”, diz Lévesque, “quase sempre os ‘grupos de direitos humanos’ ou ‘ativistas’”.
Para finalizar, um trecho de uma entrevista, para a TV Rússia Today na qual – ao contrário do informe de Paulo Pinheiro, a entrevistada tem nome e profissão: Anhar Kochneva, empresária de agência de turismo que atua na Síria, entre outros países.
Para finalizar, um trecho de uma entrevista, para a TV Rússia Today na qual – ao contrário do informe de Paulo Pinheiro, a entrevistada tem nome e profissão: Anhar Kochneva, empresária de agência de turismo que atua na Síria, entre outros países.
Diz ela: “Há uma poderosa desinformação em curso. Em 1º de abril, a mídia informou acerca de um grande ato em Damasco. Eu estava em Damasco naquele dia. Este ato nunca aconteceu, nem eu, nem nenhum dos moradores o viu”.
“Já no dia 16 de abril”, segue Anhar, “a agência Reuters “informou” que 50 mil oponentes ao regime tomaram as ruas de Damasco, e que foram dispersados com gás lacrimogêneo e cassetetes. Ninguém viu. Mas os moradores da cidade sabem que tal manifestação não poderia haver ocorrido sem que a cidade o percebesse. Quantos policiais seriam necessários para dispersá-la? Como pode ser que ninguém a tenha visto exceto a Reuters?
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