domingo, 30 de janeiro de 2011

Egipto, Mubarak se despede com um banho de sangue


 


Por Said Alami
Os recentes acontecimentos no Egito, onde o presidente Mubarak, nomeia vice-presidente o chefe do Serviço de Inteligência, general Omar Solaiman, e ao ministro da Aviação Civil e ex-chefe da Força Aérea Egípcia, Ahmad Shafiq,  primeiro-ministro, supõem a  primeira parte de uma saída diabólica do gigantesco atoleiro onde está metido o regime, em conseqüência da rebelião popular  sem precedentes que vive o país. Se trata de  uma saída posta em marcha pelo regime militar egípcio, com o serviços de inteligência no comando, em obediência castrense  aos seus amos em Washington.Há um fato que se deve levar em conta: o Egito vive sob o jugo da Lei de Estado de Emergência, desde a chegada ao poder de Mubarak, em 1981 , após o assassinato do então presidente Anwar El Sadat. 

Pois bem, a segunda parte desta saída diabólica, consistiu nas ordens dadas pelo governador militar da república, cargo que sustenta o próprio Mubarak, graças à referida lei, às forças policiais, para que se retirassem das  ruas . Ao mesmo tempo, o Ministério do Interior ordenou que todos os postos policiais, delegacias e prisões libertassem os detidos e prisioneiros que estavam sob a guarda da repressão estatal. Em conseqüência, a maioria destas estações, quartéis e prisões ficaram vazias e abandonadas. Assim, milhares de bandidos e criminosos comuns foram libertados com  claras instruções de semear o pânico nas ruas e bairros.
A terceira parte desta solução foi enviar os tanques para as ruas, mas ao som de  paz e na esperança de que as horda de bandidos fariam das suas e, assim,  se espalhasse  que a população, a propriedade privada e pública se encontravam desprotegidas e em grave perigo
Este é um cenário reproduzido daquele que aconteceu há duas semanas na Tunísia, onde gangues  aterrorizaram os moradores de diferentes bairros da capital, roubando e agredindo pessoas e, em seguida, justificasse o uso da força bruta pelo exército . No entanto, o Exército da Tunísia retirou seu apoio ao ditador Bem Ali, que não teve outro remédio que fugir do país.

Uma vez entregue todo poder ao Exército, na pessoa do Brigadeiro-General Omar Sulaiman, um homem nitidamente americano e pró Israel, como vice-presidente e ao general Ahmad Shafiq, como primeiro-ministro, o quarto episódio da perversa solução egípcia consiste em dar carta branca as forças militares para utilização de todas as forças e definitivamente controlar a situação nas ruas.
Assim, dezenas de milhares de soldados, muitos com uniformes e equipamento anti-distúrbios , têm presença nas ruas de muitas cidades do Egipto. Em 29 de janeiro, à noite, o  Brigadeiro-General Ismail Othman,  porta-voz do Exército, advertia que os militares "tratarão com extrema dureza àqueles  que burlarem o regime de toque de recolher” imposto já há 3 dias por ordem do governador militar, Mubarak.

No mesmo dia, 29 de janeiro, o toque de recolher foi ampliado para que entrasse em vigor às quatro horas em lugar de sete da tarde, como era antes. Os manifestantes em muitas cidades egípcias  ignoraram as ordens de toque de  recolher obrigatório e os protestos aumentaram provocando  mais mortes e centenas de feridos.

Com quatro fases bem estruturadas, a solução imposta ao povo egípcio, mostra suas intenções de forma  bem clara e cristalina. Não há dúvida. O regime de Mubarak quer converter  o povo egípcio em refém de seu Exército.

Pois bem, se o regime egípcio e a cúpula do Exército continuam empenhados em  se enfrentar com o povo e resistir a sua vontade , haverá certamente um banho de sangue sem precedentes no Egito.

De acordo com os correspondentes de emissoras de televisão que transmitem em árabe ao vivo do Cairo e, segundo  comunicações telefônicas realizadas  por esses meios, com testemunhas em diferentes partes do Egito, o genocídio  está em andamento. Médicos de vários hospitais no Cairo e Suez pediam ao vivo que se pare a matança, a chegada dos mortos e feridos nos hospitais é incessante.

Correspondentes, testemunhas, e observadores  profissionais em campo assinalam que o Exército e a polícia estão representando  um drama trágico em que gangues criminosas estão causando caos nas ruas e bairros, essas gangues são compostas por bandidos e membros da polícia, enquanto o exército  dispara suas armas contra os manifestantes, sob o pretexto de que eles estão lutando contra  criminosos.

Essas quadrilhas estão fortemente armadas, o que é inconcebível num país como o Egito, onde as armas são praticamente inexistentes nas mãos de civis e onde o crime organizado nunca teve uma presença significativa. Enquanto isso, os franco atiradores da polícia e do Exército  reapareceram em vários pontos e vários civis caíram em conseqüência de seus  tiros,  disparados dos  telhados e terraços, especialmente perto da sede do Ministério do Interior, onde se concentram dezenas de milhares de manifestantes.

No entanto, seja qual for o resultado da atual "intifada"egípcia, incluirá a saída forçosa e  vergonhosa de Mubarak do poder e a eliminação de qualquer esperança de que seu próprio filho, Gamal, vice-presidente do Partido Democrático Nacional, vá sucedê-lo como chefe de Estado, coisa que antes do início da "intifada" egípcia, há somente 5 dias, se dava por certo e garantido.
Já certo do  iminente abandono do poder, o ditador foi obrigado a nomear um vice-presidente, medida que resistiu a tomar desde sua instalação na Chefia do Estado, há 30 anos. Três décadas no poder, sem nomear um vice-presidente, e só o faz agora, por que assim lhe ordena e manda a Casa Branca, que aceita, com relutância, a perda de Mubarak,  figura-chave no Mundo Árabe, mas defenderá  com os dentes seu regime, que agora será custodiado por seu novo homem forte, Omar Solaiman.

Estados Unidos, ao contrário da declaração da Secretária de Estado, Hilary Clinton, e do próprio Barak Obama, quando em público pediram a não utilização da violência contra os manifestantes, na verdade, o que eles pediram ao regime egípcio, a julgar por tudo que esta acontecendo, é que se mantenham no poder, mesmo que isso custe massacrar milhares de cidadãos egípcios, coisa que já está em andamento.  Simplesmente por que a permanência  do regime de Mubarak, ainda que encabeçado num futuro próximo por Solaiman é primordial e essencial para segurança de Israel.

Aparentemente, a cúpula do Exército egípcio está  absolutamente controlada pelos EUA através do  típico método utilizado por Washington, reiteradas vezes, no Iraque, Afeganistão e outros países do mundo: o suborno e a compra de vontades. Na cúpula do Exército e do regime,algumas pessoas e máfias vendidas aos EUA estão bem posicionadas; cujo único propósito é servir os interesses dos Estados Unidos e Israel, e garantir, por todos os meios possíveis, a existência criminosa do  estado sionista.

Assim vemos como o exército egípcio, heróico no passado, derrotando Israel em 1973,  recuperando o canal de Suez e parte do Sinai (que mais tarde foi recuperado pela vergonhoso Acordos de Camp David, assinado por Sadat e que lhe custou a vida ), tornou-se o protetor de Israel e um inimigo do povo egípcio.

Sem dúvida,, é uma situação artificial que não pode durar para sempre!

 MUNDO ARABE.ORG 30/01/2011.

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