segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

CARTA ABERTA AO JORNAL BRASIL DE FATO

Caros camaradas,
Nos últimos anos, o jornal Brasil de Fato vem cumprido e consolidando um papel informativo importante no campo da comunicação, espaço onde, em nossa sociedade capitalista, prevalece a manipulação dos fatos com vistas ao alcance de certos  interesses  comprometidos com o capital e com regimes opressores.
Principalmente, por que o jornal  tem se identificado e se comprometido ao lado dos movimentos sociais e na defesa dos povos oprimidos, ficamos todas e todos chocados com a matéria intitulada “As frágeis mulheres fortes de Israel”.

Certas afirmações da matéria comprometem a imagem desse jornal , que se orgulha de ser classificado como de esquerda, e colaboram com a  tentativa sionista de trabalhar com a confusão e poucas verdades a partir de temas fragmentados e descontextualizados historicamente, a fim de ocultar a ocupação assassina e seu caráter fascista .
 “... em Israel, a religião se mescla tanto com a vida que acaba por tornar-se lei. Ainda que formalmente não se tenha declarado um “Estado Judeu”, Israel  o é na prática, e são as mulheres as que mais sofrem essa realidade.” (in BF)

Em primeiro lugar, a religião não se mescla com a vida como se fosse uma relação natural , espontânea , nascida não se sabe de onde. Não! A ocupação sionista na Palestina histórica é obra de homens e mulheres sionistas, armados até os dentes, que constroem uma sociedade racista e promovem diariamente a limpeza étnica no território árabe, sob a mística da religião e sob a mística de um povo perseguido e sofrido. Dessa forma, conseguem o apoio da maioria absoluta dos judeus do mundo inteiro e de uma parcela, cada vez menor, de aliados.

O Estado em construção há mais de 62 anos sob os escombros e o sangue do povo palestino não é laico,  professa uma religião, na qual se baseia todo arcabouço jurídico que protege com direitos sociais, de educação,  políticos e trabalhistas todos os judeus, sejam homens e mulheres estrangeiros, que chegam diariamente no território palestino ocupado. No entanto, esse mesmo Estado judeu criminaliza, discrimina e ignora os 1,5 milhão de árabes – homens, mulheres e crianças –  que sobrevivem dentro dos territórios ocupados em 1948 (Israel). O Estado quer borrar do mapa da Palestina histórica (territórios ocupados em 1948, em 1967 e  fragmentados com relativa autonomia palestina) os 6 milhões de palestinos.

O texto fala do “desenho forte, firme e empreendedor, capaz de pilotar um caça...” da mulher judia, para em seguida exaltar sua “fragilidade” com relação ao machismo religioso judeu. Ora, essa é uma afirmação cretina: as tais mulheres fortes são as assassinas da primeira hora que, ao lado de seus homens, foram colonizar as terras árabes e as atuais, são as  milhares de jovens judias do exército judeu que exibem seus fuzis com orgulho e autoridade fria, e que os usam contra os palestinos.

Lamentavelmente, por mais de uma vez,  o texto ofende gravemente todos os homens, mulheres e crianças árabes que tombaram nestes mais de 62 anos de luta contra a ocupação sionista, quando afirma e exalta a ideia “da israelense valente, pioneira, combatente, criadora do Estado, pilar-mãe da sociedade...”, mas que, coitadinhas, recebem pressões psicológicas e físicas da religião.

Sem dúvida, o machismo é uma praga no mundo, mas as mulheres árabes morrem assassinadas, juntamente com seus maridos e filhos, pelo Estado judeu.  Vamos dar como exemplo apenas os 22 dias de ataque à faixa de Gaza, em que foram mortos 1.417 palestinos, 353 dos quais crianças. No período, durante 528 horas, as forças de ocupação, compostas por homens e mulheres, lançaram milhares de bombas de fósforo branco que são proibidas internacionalmente. Cerca de 5.300 pessoas ficaram deficientes.  Imagina se contabilizarmos o genocídio promovido desde 1948 até agora?

O número de palestinos que vivem, ou sobrevivem, ao terror imposto pelo Estado sionista é de 6,5 milhões dentro da Palestina histórica (3,5 milhões na Cisjordânia, 1,5 milhão em Gaza,  1,5 milhão nos territórios ocupados em 1948). Somam-se mais 5 milhões de refugiados que vivem em campos nas fronteiras do Líbano, Síria e Jordânia. Ou seja: a maioria da população ameaçada diariamente de assassinato, do roubo de suas casas e expulsão de sua terra, fome, miséria e que não tem acesso a saúde e nenhum direito humano elementar respeitado são os árabes  palestinos.

O fato de esse texto ser mais um daqueles feitos por encomenda da inteligência sionista, portanto, manipulador e construído propositadamente para desviar a discussão sobre a natureza do Estado judeu  e  inverter os papéis dos carrascos em vítimas, sinceramente, não nos surpreende. O que nos deixa absolutamente abismados e chocados é o fato de ser publicado por esse jornal.

Nunca imaginamos ler nas páginas do Brasil de Fato reproduções que amenizam o caráter do carrasco de plantão em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, preocupado com a violência crescente contra as mulheres judias. Ou reproduções que afirmam que o Estado ocupante nasceu sobre a égide da igualdade entre homens e mulheres, como a feita por Ronen-Katz. Sem comentários! Ou reproduções de feministas que reclamam que estão pouco representadas em profissões como  a  de  “defesa”, leia-se, exército assassino!!!

As palestinas são tratadas, no texto, como “minorias esquecidas”, quando a população palestina é maioria absoluta em todo território. E termina dizendo que “...um quinto das mulheres de Israel vivem na pobreza e quase um terço não come todos os dias e que a crescente radicalização religiosa do país só complica as coisas. E que é sempre ruim nascer mulher nesta terra”.

Realmente há fome na Palestina ocupada, mas esse “fenômeno” que não veio do céu e não é resultado de nenhuma “crescente radicalização religiosa” atinge sobretudo as famílias palestinas, ou seja  6 milhões de pessoas, especialmente aqueles 1,5 milhão que vivem em Gaza dilacerada pelo exército sionista e proibida de receber ajuda humanitária  e sob nova ameaça de agressão; atinge, também, as imigrantes não judias  e suas famílias que foram importadas para substituir a mão de obra palestina , em conformidade com  a política do Estado sionista de limpeza étnica.

Não há esclarecimento sobre os abrigos que estão sendo construídos para essas imigrantes não judias, onde devem aguardar para que sejam deportadas, cuja maioria é das Filipinas. E que o Estado judeu proíbe essas famílias de imigrantes de frequentarem escolas dos judeus, de aprender o idioma local que são basicamente quatro:  árabe, inglês, hebreu e russo, para que não se misturem. Via de regra, são essas as mulheres que acabam recorrendo à prostituição. O regime sionista despreza os árabes e os imigrantes não judeus, etnias que querem se livrar e que atrapalham a construção de um Estado puro, apenas judeu.

Para concluir, é lamentável e terrivelmente preocupante  que o Brasil de Fato identifique a cidade árabe de  Jerusalém com Israel. Justamente quando essa cidade palestina é, atualmente, palco de mais um embate covarde. O projeto do Estado sionista é  que até 2020, essa seja uma cidade judia, de maioria judia, para isso  resolveram que os árabes devem deixar suas casas, bairros , terras onde vivem há milhares de anos, para que isso aconteça, as crianças são sequestradas e submetidas a torturas psicológicas, homens, mulheres e crianças que enfrentam o exército com pedras são assassinados e presos.

Enquanto isso, empresas sionistas e  famílias judias financiam projetos imobiliários construídos para fazer da Palestina o lar dos judeus sionistas e tornar a cidade de Jerusalém uma cidade judia.

Por fim, queremos deixar registrado publicamente o nosso repúdio ao texto e à decisão de publicá-lo. Um texto que, longe de ser inocente, pretende, sob o pretexto da defesa da “fragilidade” de um segmento minoritário de uma formação social e de uma discussão distorcida sobre gênero, passar a ideologia sionista  e esconder  o terror de Estado a que está submetido todo o povo palestino.

 Assinam
Comitê de Solidariedade à Luta do Povo Palestino do Rio de Janeiro
Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino
Comitê Gaúcho de Solidariedade ao Povo Palestino
Comitê de Solidariedade Viva Palestina de Niterói/RJ
Movimento Palestina para Todos - MOPAT

 
Carta em resposta ao texto "As frágeis mulheres fortes de Israel" de Carmen Rengel  disponível  http://www.brasildefato.com.br/node/5380

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