terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Carta aberta vinda da Gaza sitiada: Dois anos após o massacre, uma exigência de justiça.

Gaza sitiada, Palestina — Nós os palestinos da Faixa Sitiada de Gaza, neste dia, dois anos após o ataque genocida de Israel às nossas famílias, nossas casas, estradas, fábricas e escolas, estamos a dizer: basta de inação, chega de discussão, chega de esperar – este é o momento para responsabilizar Israel pelos seus crimes permanentes contra nós. Em 27 de Dezembro de 2008, Israel principiou um bombardeamento indiscriminado da Faixa de Gaza. O assalto perdurou durante 22 dias, matando 1417 palestinos, 352 dos quais crianças. Durante estarrecedoras 528 horas, as forças de ocupação de Israel lançaram a partir dos seus F-15's e F-16's fornecidos pelos EUA e dos seus tanques Merkava, munições internacionalmente proibidas de fósforo branco, além de bombardear e invadir o pequeno enclave costeiro palestino que é o lar de 1,5 milhão de pessoas, das quais 800 mil são crianças e mais de 80 por cento refugiados registados pela ONU. Cerca de 5300 estão permanentemente lesionados.

Esta devastação excedeu em selvageria todos os massacres sofridos anteriormente por Gaza, tais como as 21 crianças mortas em Jabalia em Março de 2008 ou os 19 civis mortos quando abrigados nas suas casas no Massacre de Bei Hanoun de 2006. A carnificina excedeu mesmo os ataques de Novembro de 1956 nos quais tropas sionistas agruparam e mataram 275 palestinos na cidade de Khan Younis e mais 111 em Rafah.

Desde o massacre de Gaza de 2009, cidadãos do mundo tomaram a responsabilidade de pressionar Israel a cumprir com o direito internacional, através de uma estratégia de boicote, desinvestimento e sanções (BDS). Tal como no movimento BDS global que foi tão efectivo para terminar o regime do apartheid sul-africano, instamos as pessoas com consciência a aderirem ao apelo ao BDS feito em 2005 por mais de 170 organizações palestinas. Tal como na África do Sul, o desequilíbrio de poder e representação nesta luta pode ser contra-balançado por um poderoso movimento internacional de solidariedade com o BDS, obrigando a liderança política sionista a prestar contas, algo que a comunidade governante internacional tem reiteradamente fracassado em fazer. Analogamente, esforços civis criativos tais como os navios Free Gaza que romperam o sítio cinco vezes, a Marcha pela Libertação de Gaza, a Frota pela Liberdade Gaza e muitos comboios por terra nunca devem cessar a sua ruptura do cerco, destacando a desumanidade de manter 1,5 milhão de habitantes de Gaza numa prisão ao ar livre.

Já se passaram dois anos desde os mais graves atos genocidas da entidade sionista, que deveriam ter desfeito quaisquer dúvidas sobre a dimensão brutal dos planos assassinos sionistas para os palestinos. O assalto naval que assassinou a ativistas internacionais a bordo da Frota da Libertação de Gaza, no Mar Mediterrâneo, mostrou ao mundo o pouco valor que a entidade nazi-sionista atribui desde há muito à vida palestina. O mundo agora sabe, mas dois anos depois nada mudou para os palestinos.

O Relatório Goldstone veio e foi: apesar de listar uma por uma as contravenções do direito internacional, apesar dos "crimes de guerra" sionistas e dos "possíveis crimes contra a humanidade",  a União Europeia, as Nações Unidas, Cruz Vermelha e todas as principais Organizações de Direitos Humanos apelaram a uma finalização do sítio medieval, ele continua sem pausa. Em 11 de Novembro de 2010 o responsável da UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos], John Ging, disse: "Não tem havido mudança material para o povo aqui no terreno em termos do seu status, da dependência da ajuda, da ausência de qualquer recuperação ou reconstrução, nenhuma economia... O alívio, como foi descrito, tem sido nada mais do que um alívio político da pressão sobre a malévola entidade sionista e o regime colaboracionista egípcio comandado por Hosni Mubarak".

Em 2 de Dezembro, 22 organizações internacionais incluindo a Anistia, Oxfam, Save the Children, Christian Aid e Medical Aid for Palestinians produziu o relatório "Esperanças frustradas, continuação do bloqueio de Gaza" ("Dashed Hopes, Continuation of the Gaza Blockade") apelando à ação internacional para forçar a entidade sionista a levantar incondicionalmente o bloqueio, afirmando que os palestinos de Gaza sob o desumano sítio nazi-sionista continuam a viver nas mesmas condições devastadoras. Em apenas uma semana o Human Rights Watch publicou um relatório amplo, "Separados e desiguais" ("Separate and Unequal) que denunciou as políticas sionistas como apartheid, refletindo sentimentos semelhantes de ativistas anti-apartheid sul-africanos.

Nós, palestinos de Gaza, queremos viver em liberdade para encontrar amigos ou familiares palestinos de Tulkarem, Jerusalém, Jericó, Ramallah ou Nazaré. Queremos ter o direito de viajar e nos movimentarmos livremente. Queremos viver sem o medo de outra campanha de bombardeamento que deixe centenas dos nossos filhos mortos e muitos mais feridos ou com doenças crônicas devido à contaminação do fósforo branco e da guerra química da entidade sionista, mais nazista que os nazistas. Queremos viver sem as humilhações nos postos de controle ou a indignidade de não prover as nossas famílias devido ao desemprego provocado pelo bloqueio econômico e o sítio ilegal. Estamos apelando para um fim ao racismo em que se apoia toda esta opressão.

Perguntamos: quando os países do mundo atuarão de acordo com a premissa básica de que os povos deveriam ser tratados igualmente, sem importar a sua origem, etnicidade ou cor – será tão absurdo pretender que uma criança palestina mereça os mesmos direitos humanos tal como qualquer outro ser humanos? Será você capaz de olhar em retrospectiva e dizer que esteve do lado certo da história ou terá alinhado com o opressor?

Nós, portanto, apelamos à comunidade internacional para assumir a sua responsabilidade de proteger o povo palestino da odiosa agressão sionista, terminando imediatamente o bloqueio com plena compensação pela destruição das nossas vidas e infraestruturas por esta política explícita de punição coletiva. Não há nada que justifique as políticas intencionais de selvageria, incluindo o corte do acesso ao abastecimento de água e eletricidade a 1,5 milhão de pessoas. A conspiração internacional de silêncio quanto à guerra genocida que acontece contra mais de 1,5 milhão de civis em Gaza indica cumplicidade nestes crimes de guerra.

Também apelamos a todos os grupos de solidariedade com a Palestina e todas as organizações internacionais da sociedade civil a exigirem:
  • Fim ao sítio que tem sido imposto ao povo palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza em resultado do seu exercício de escolha democrática.
  • A proteção das pessoas e propriedade civis, como estipulado no Direito Humanitário Internacional e na Lei Internacional dos Direitos Humanos, assim como na Quarta Convenção de Genebra.
  • A imediata libertação de todos os prisioneiros políticos.
  • Que aos refugiados palestinos na Faixa de Gaza seja imediatamente providenciado apoio financeiro e material para enfrentar as imensas adversidades que estão experimentando.
  • Fim à ocupação, ao apartheid e a outros crimes de guerra.
  • Reparações imediatas e compensação por toda a destruição executada pelas forças de ocupação do estado artificial sionista na Faixa de Gaza.Reconhecimento internacional do governo democraticamente eleito do Harakat Muqawama Al-Islamyya (HAMAS) como entidade representante do povo palestino em Gaza e na Cisjordânia.
    Boicote, Desinvestimento e Sanção, adesão aos muitos sindicato, universidades, super-mercados, artistas e escritores internacionais que se recusam a ter relações com a entidade sionista genocida e promotora de Apartheid. Falar alto e claro pela Palestina, por Gaza e, crucialmente, ATUAR. O momento é este.

    Gaza Sitiada, Palestina

    29 de Dezembro de 2010
    Lista de signatários:

    General Union for Public Services Workers
    General Union for Health Services Workers
    University Teachers' Association
    Palestinian Congregation for Lawyers
    General Union for Petrochemical and Gas Workers
    General Union for Agricultural Workers
    Union of Women's Work Committees
    Union of Synergies—Women Unit
    The One Democratic State Group
    Arab Cultural Forum
    Palestinian Students' Campaign for the Academic Boycott of Israel
    Association of Al-Quds Bank for Culture and Info
    Palestine Sailing Federation
    Palestinian Association for Fishing and Maritime
    Palestinian Network of Non-Governmental Organizations
    Palestinian Women Committees
    Progressive Students' Union
    Medical Relief Society
    The General Society for Rehabilitation
    General Union of Palestinian Women
    Afaq Jadeeda Cultural Centre for Women and Children
    Deir Al-Balah Cultural Centre for Women and Children
    Maghazi Cultural Centre for Children
    Al-Sahel Centre for Women and Youth
    Ghassan Kanfani Kindergartens
    Rachel Corrie Centre, Rafah
    Rafah Olympia City Sisters
    Al Awda Centre, Rafah
    Al Awda Hospital, Jabaliya Camp
    Ajyal Association, Gaza
    General Union of Palestinian Syndicates
    Al Karmel Centre, Nuseirat
    Local Initiative, Beit Hanoun
    Union of Health Work Committees
    Red Crescent Society Gaza Strip
    Beit Lahiya Cultural Centre
    Al Awda Centre, Rafah

    Este abaixo assinado encontra-se em http://resistir.info/ .

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