domingo, 19 de dezembro de 2010

Uma história na Palestina 4

por Rafiqa Salam
Palestina, dezembro de 2010
 
 
Nesta época começa um movimento na Palestina! É dezembro, mês que simboliza o nascimento de Jesus! Na Palestina há muitos palestinos cristãos e cidades de maioria cristã como Al Teba, Belém, Jerichó e Jerusalém, entre outras. Neste mês muitos gostariam de fazer a peregrinação cristã. Gostariam, mas não podem... Existem limites de circulação impostos pelo Estado de Israel aos palestinos. Existem carteiras de identificação que restringem o acesso  a determinadas cidades. Nos checkpoints, nas revistas, só vejo carteiras verdes para um lado, azuis para o outro, e destinos diferentes. Acessos são permitidos por cores nada coloridas... cores que segregam acessos às áreas  pós-invasão israelense em 1967 e às áreas pós-invasão israelense em 1948. Há distinção também para as placas dos carros. Automóveis com placa amarela podem trafegar em todas as áreas, já aqueles com placas brancas e verdes têm circulação restrita... Mas como limitar a fé das pessoas ao espaço territorial que  Israel impõe? Jesus  é palestino, nasceu na Palestina e andou por toda a Palestina, mas os palestinos fieis ao cristianismo não podem... Fico pensando... E se Jesus voltasse agora e visse que na Belém onde nasceu tem um muro?  Visse que em toda a Palestina tem muros, mais de 700 km de muros serpenteando as terras nas quais Ele andava livremente? E Ele não ia nem poder pular! Os muros têm 8 metros de altura! Como Jesus  se sentiria ao andar em apenas  8% do território que sobrou da Palestina? Logo Ele que andou em 100% do território livre, do Mediterrâneo ao Rio Jordão! Mar que Ele nadou, rio em que Ele se batizou! Como Jesus reagiria ao ver que um irmão seu, que mora em Jerichó, tem permissão para entrar apenas uma vez por ano no Rio Jordão? Que jamais vai poder nadar no Mar Mediterrâneo, pois este “pertence” ao Estado de Israel? Como  Jesus reagiria ao ver a humilhação diária vivida pelos palestinos nos checkpoints, tendo o direito de ir e vir negado? Vendo doentes, crianças e mulheres grávidas não podendo ir aos hospitais porque os soldados israelenses simplesmente negam a passagem? Penso e imagino a dor que Jesus sentiria ao ver as crianças palestinas sofrerem violências e privações, tendo sua infância roubada pelo Estado de Israel... Jesus choraria muito. Ele sabia da pureza das crianças e certa vez  disse: “O Reino dos Céus pertence aos que são semelhantes a elas” (Mt 19:14). E quando Ele visse as Oliveiras? Tanto Ele descansou  embaixo de um pé de Oliveira... quase não existem mais Oliveiras...os soldados israelenses cortam, arrancam as árvores, para prejudicar o sustento dos palestinos. Jesus iria gritar! Acho que Ele gritaria mais alto quando soubesse dos 11 mil presos políticos palestinos, que vivem nos cárceres israelenses sob condições desumanas, sem direito a advogados. Reclusos em prisões arbitrárias, punições sem julgamentos, detenções criminosas de  homens, adolescentes, crianças e mulheres que deram sua vida em defesa de sua terra!
 
Imagino a solidão de Jesus quando seus irmãos respondessem a  Ele que ali não estão todos os palestinos... Ali estão 5 milhões, teimosamente permanecendo, na resistência, alimentados pela verdade e pela justiça, mas que a violência israelense expulsou 6 milhões, são os refugiados espalhados pelo mundo... Como voltar? Não têm assegurado o direito de retorno...  Minha imaginação voa e meu coração dói... e continua a pensar... E quando Jesus chegasse em Jerichó?  E visse ao lado do  Monte da Volta do Messias uma grande base militar israelense! Com arsenal bélico digno da Nasa, com radar e etc. profanando o lugar sagrado, revelando que os israelenses não respeitam os lugares santos, que exploram através do turismo, Jesus seria tomado de uma decepção sem fim... Hoje, se Jesus voltasse  para a Palestina, em muito se  entristeceria, mas, certamente, ver que palestinos, sejam eles ateus, cristãos,  muçulmanos e de outros credos, não têm seu país, seu território livre, para viver em paz, na terra onde todos os profetas pregaram amor, paz, fraternidade, justiça, solidariedade, amizade, fé, seria uma dor imensurável, talvez perto do que Ele sofreu nas mãos dos  judeus que não O reconheceram como Filho de Deus e O crucificaram na cruz. Os sionistas continuam a massacrar os jesuses palestinos que resistem há 63 anos na defesa do seu país, da sua cultura, da sua história, da sua bandeira e do seus Natais na Terra Santa! Essa luta palestina por justiça e pela verdade deixa Jesus orgulhoso e feliz! Ele sabe que Seu sangue não foi em vão e que Sua mensagem foi entendida e é defendida e divulgada pelos cristãos palestinos e de todo o mundo!  Acompanhando meus passos pelas ruas de Jerusalém sitiada tenho a certeza como companhia: que  nossos corações serão tomados de alegria quando a Palestina for livre! Quando construirmos  o estado Palestino laico, independente, democrático e soberano! Uma Palestina única, onde viverão em harmonia e como cidadãos ateus, judeus, cristãos, muçulmanos, enfim, todos, de todos os credos e crenças, como era antes de 1948! Sou Cristã e desejo um Natal feliz para todos, sei que  o nosso verdadeiro Natal na Palestina Livre está próximo! Que venha 2011!!

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