quinta-feira, 1 de julho de 2010

Flexibilização do bloqueio não resolve problemas em Gaza


Lista de itens permitidos exclui o que a população necessita mais urgentemente, como materiais de construções, remédios e equipamentos médicos

24/06/2010
da Redação
Sálvia, doce de gergelim torrado, lâmina de barbear , coentro, cadernos, colchões. Esses são alguns dos itens que Israel promete deixar entrar na Faixa de Gaza com a flexibilização do bloqueio imposto ao território palestino desde junho de 2007. Cimento, plástico, tecidos, roupas, madeira, remédios e materiais médicos continuam de fora da lista. Para o Hamas, partido político ligado à irmandade islâmica que governa a Faixa de Gaza desde que venceu as eleições em janeiro de 2006, o anúncio feito pelo governo israelense de afrouxar o bloqueio é uma “simples propaganda”.


O porta-voz Sami Abu Zuhri declarou que o Hamas considera “a decisão de Israel de aumentar a lista de mercadorias permitidas dentro do território como um esforço de, na verdade, legitimá-lo”, e completou: “Israel está enganando a pressão pública internacional”.


Israel não publica oficialmente a “lista branca” e a “lista negra”, de itens permitidos e proibidos em em Gaza, respectivamente. A relação é feita por organizações sociais dentro do território, como a Gisha (www.gisha.org). O argumento de Israel é que a lista de proibições incluem mercadorias que possuem “uso duplo”, podendo ser utilizados na fabricação de bombas e armamentos.


Mais reprovaçõesA Faixa de Gaza completou, em junho, mais de 1100 dias de bloqueio, e um ano e meio dos ataques à população pelas forças armadas israelenses que matou cerca de 1400 palestinos e 13 israelenses (cerca de 230 palestinos pertenciam a algum tipo de resistência armada, o resto eram civis, incluindo 313 crianças; do outro lado morreram 10 soldados israelenses, quatro por fogo amigo, e outros 3 civis). A região possui uma das maiores densidades demográficas do mundo, com cerca de 1,5 milhões de pessoas vivendo em uma área de 360 km². A Cisjordânia possui cerca de 2,5 milhões de habitantes (incluindo os habitantes das colônias ilegais de Israel) e uma área de 5800 km².


Atualmente, organizações da sociedade civil em Gaza pedem uma lista de 4 mil itens, enquanto que a atual possui pouco mais de 110 itens.


O Hamas não foi o único a rejeitar a flexibilização. A Autoridade Nacional Palestina (ANP) na Cisjordânia, governada pelo Fatah, pediu que o bloqueio seja totalmente levantado. Nimer Hammad, assessor político do presidente da ANP, Mahmoud Abbas, afirmou que a recente decisão de Israel é “insuficiente”. “O bloqueio injusto ao nosso povo em Gaza deve acabar. Se Israel quer de fato começar a mudar suas políticas, precisa suspender todas as suas iniciativas unilaterais, principalmente em relação à construção de colônias ilegais e ao bloqueio”, declarou.
Outro membro da ANP, Saeb Erekat acrescentou que o bloqueio viola inúmeras leis internacionais e que é uma das “mais horrorosas formas de punição coletiva contra 1,5 milhões de palestinos”, e completou: “a comunidade internacional precisa forçar o fim do bloqueio”.


Quarteto também reprova


Em reunião, no dia 22, as Nações Unidas, os Estados Unidos, Inglaterra e Rússia também deram indicativos de que a medida de Israel não é suficiente. Em nota, o “quarteto” pediu uma mudança nas relações entre Israel e a Faixa de Gaza e qualificou o bloqueio de “insustentável, inaceitável e que não interessa a nenhuma das partes envolvidas”. Também reforçaram a necessidade de se estabelecer a união dos territórios de Gaza e Cisjordânia, sob o governo da ANP. Ao mesmo tempo, reforçou o direito que Israel tem de se defender, e pediu a soltura imediata do soldado Gilad Shalit, preso pelo Hamas em 2007. O grupo islâmico – que não permitiu recentemente que a Cruz Vermelha o visitasse - pede a libertação de pouco mais de 1000 presos políticos palestinos em troca de Shalit.


Já outro membro das Nações Unidas, da divisão que cuida dos refugiados – UNRWA, sigla em inglês – foi mais enfático em suas declarações. Christopher Gunness, em uma conferência no Cairo, Egito, afirmou que “a lista de itens proibidos é um alvo em movimento. Nunca somos informados do que pode ou não entrar. O bloqueio de Israel virou um bloqueio contra a ONU”.
A ONG B'Tselem, sediada em Gaza, lembrou que é necessário, além do bloqueio, reunir esforços de reconstrução do território. “Gaza precisa reconstruir sua auto-suficiência, o que demanda a entrada não apenas de alimentos e outras mercadorias, mas de materiais para a indústria e para a agricultura. Também é necessário um sistema regulamentado de exportação, com as questões de segurança necessárias, bem como permitir que as pessoas possam entrar e sair da Faixa”, diz a nota.

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