segunda-feira, 6 de julho de 2009

UNIDADE PALESTINA NA LUTA CONTRA O INIMIGO MORTAL

RELATÓRIO DE PARTICIPAÇÃO DA II CONFERÊNCIA DE PROMOÇÃO DE IGUALDADE RACIAL – II CONAPIR – BRASÍLIA 26, 27, 28 DEJUNHO 2009

Por Maristela R Santos – membro do Comitê de Solidariedade à Luta do Povo Palestino do Rio de janeiro.



No final de junho participei como convidada da FEPAL da delegação palestina que participou da II Conferência de Promoção da Igualdade Racial, uma conferência promovida pelo Estado brasileiro e obviamente organizada e monitorada pelos partidos que compõem o governo.

A CONFERÊNCIA
A Conferência se caracteriza pela presença marcante da pauta do Movimento Negro, o que é absolutamente natural visto que historicamente em nosso país os negros pobres são vítimas de todo tipo de racismo e violência , em particular daquele que criminaliza os movimentos sociais que lutam por uma sociedade mais justa e igualitária. Violência que se origina da aliança também histórica do poder repressor do Estado com o capital. Os movimentos sociais do Rio de Janeiro contabilizam os números de corpos da sua juventude pobre e negra assassinadas pela polícia do Estado para provar isso. Ou, ainda , não podemos esquecer, a violência com que os pentecostais tratam os templos, os rituais e os adeptos das religiões afro pela TV , ou nas comunidades. Religiões cuja principal referência onde buscam apoio estratégico e logístico internacional é Israel.

Estavam também presentes na Conferência o Movimento Indígena, também eles, os índios, historicamente vítimas da ganância dos colonizadores e contemporaneamente da burguesia financeira e do latifúndio ávidos, fortemente armados e contando com as forças repressivas do Estado, pelas riquezas naturais e terras dos povos originários, não medindo esforços para conseguir seus objetivos, o que quer dizer: muita violência praticada contra os povos indígenas.

Em minoria, mas bem representativo, se encontravam os ciganos e os palestinos. Duas delegações que se encontraram e se identificaram muito profundamente.

Ainda não temos o documento final da Conferência , que tem 90 dias para fazer a sistematização das propostas, mas a experiência nos indica que esse é o tipo de Conferência que já sabemos seu resultado, antes mesmo de ter começado.

A participação nela é absolutamente válida unicamente pelo espaço que podemos ampliar e garantir para a Causa Palestina. Durante os 4 dias da Conferência a delegação palestina composta por uma maioria de jovens palestinos brasileiros de primeira geração teve uma postura militante de muita garra na defesa da sua pauta histórica, esclarecendo e buscando alianças com mais de 2 mil pessoas presentes ao evento. Esse foi o grande saldo positivo da participação palestina no evento.

Não temos nenhuma ilusão de que a pauta que simboliza a solidariedade internacionalista com os bravos, os guerreiros e o sofrido povo palestino tenha espaço na sistematização de tal Conferência, em que pese, a postura pró-palestina que o ministro Edson Santos tinha quando era vereador no Rio de Janeiro .
Sem dúvida, essa é uma Conferência Chapa Branca, literalmente!
De outra forma não se entende a presença da bancada sionista participando ativamente na organização e nas discussões do evento contra o racismo. Aliás, presença questionada por muitos camaradas do movimento negro, indígena e cigano.
A presença daqueles que defendem um Estado teocrático, racista e que comete há 61 anos genocídio étnico e crimes de guerra contra um povo inteiro numa Conferência de Promoção da Igualdade Racial em nosso país não tem explicação!

Nesse sentido, fica absolutamente claro por que as questões tão caras ao povo palestino como a não participação do governo brasileiro no TLC – Tratado de Livre Comércio - com esse país racista e criminoso que não se submete a nenhuma resolução internacional ou ao direito internacional; a Condenação de Israel por Crimes de Guerra e a denuncia e declaração da natureza racista de Israel aprovadas no Encontro de Porto Alegre se perderam no caminho até chegar a Brasília.

No grupo de discussão de política internacional houve dois momentos de tensão, o primeiro quando a bancada sionista tentou baixar a mão de uma cigana que votava numa proposta dos palestinos e, outro, quando percebendo que estavam sendo manipulados pelos sionistas, vários camaradas do movimento indígena, cigano e negro, sob a liderança da mãe Dea de Pernambuco, se revoltaram e praticamente expulsaram os sionistas da sala que saíram sob vaias e ouvindo o coro de SOMOS TODOS PALESTINOS! OS PALESTINOS SÃO MEUS AMIGOS MEXEU COM ELES MEXEU COMIGO ! Momento em que todos os presentes se levantaram e se abraçaram emocionados!

Nesse grupo aprovamos:
· que o governo brasileiro assuma os projetos sociais, financeiros e médicos que visam adaptar os refugiados palestinos a nossa sociedade, considerando que a responsabilidade da ONU (ACNUR) termina agora;
· rechaçar a visita do super fascista ministro israelense Avgdor Leiebermann e declará-lo persona non grata no nosso país. Sua visita está marcada para 26 e 27 de julho;
· que o governo brasileiro integre e acompanhe oficialmente a comissão da ONU, em andamento, que investiga os crimes de guerra de Israel cometidos na sua última investida diabólica contra os palestinos da cidade de Gaza.
· que o IBGE e outros organismos oficiais ligados a este façam um mapa da comunidade palestina no país.

Como a Conferencia tem 90 dias para publicar sua sistematização que foi confiada a uma comissão, lamentavelmente alguns pontos votados estarão obviamente prejudicados. Será que isso é obra do acaso?



REFUGIADOS

Durante a Conferência, um grupo de refugiados estava acampado em frente ao Centro de Convenções, onde se realizava o evento, manifestando-se a fim de chamar atenção dos mais de 2 mil participantes para seu problema político, humano e social.

Esse grupo, composto de mais ou menos 4 famílias, é parte dos cerca de 120 palestinos que vieram dos campos do Iraque e antes da Jordânia, acolhidos no Brasil como refugiados. O pequeno grupo acampado são os que não conseguiram se adaptar a sociedade brasileira por vários e complexos motivos.
O principal motivo é a situação criada pelo estado fascista de Israel que nega-lhes o direito de retorno aos seus lares e terras. Os refugiados fazem parte de uma geração que nasceu em campos de refugiados, alguns muito parecidos com campos de concentração e que vivem daqui para lá, de lá para cá, separados de suas famílias, desenraizados , sem chão, sem sonhos, sem uma vida digna, sem sua pátria, sem sua língua, sem cidadania, sem nada.....

Esse grupo que está há meses acampado em frente da ACNUR/ONU em Brasília e que foi tratado por esta organização como marginais, doentes mentais, encrenqueiros, entre outras coisas morais são simplesmente seres humanos que precisam de um acompanhamento melhor, seja da ONU ou do governo brasileiro, para sua adaptação ou sua ida para outro país.

Essa não é uma questão que envolva a polícia federal ou hospital psiquiátrico, como querem fazer crer, mas antes de tudo , é uma questão política e humanitária provocada pela ocupação dos territórios palestinos por um estado fascista.

Muita gente utilizou essa justa manifestação para justificar suas miseráveis posições políticas. Não raro ouvi que isso era para desestabilizar o governo Lula! Nada mais oportunista e injusto que esse tipo de declaração! Não ajuda em nada!

Mas a delegação palestina dando uma grande demonstração de maturidade e solidariedade com os seus conseguiu reaproximar e promover um encontro dos manifestantes necessitados com sua Federação, a FEPAL. O Sr. Mohamed de Floripa teve um papel importante nessa tarefa.

No domingo, último dia da Conferência, a FEPAL através de seu Presidente Sr. Ellayyan Alladin e mais 4 membros da Diretoria, entre eles o Sr. Fawzi El Mashn, ex-embaixador da Palestina no México e o querido e muito atento Sr. Hanna Safieh sentou com 3 representantes dos refugiados acampados, a Sra Riba , o advogado Arcilino, que questiona na justiça o papel das ONGs na situação desse grupo e eu, do Comitê do Rio de Janeiro. Essa reunião foi realizada em uma sala dentro da Conferência.
Logo após a reunião, que terminou num clima de confraternização e promessas mútuas de unidade, os membros da diretoria da FEPAL foram visitar a barraca dos refugiados acampados em frente ao centro de Convenções Ulisses Guimarães. Dessa forma foi consolidado a reaproximação política dos refugiados com sua organização nacional no Brasil.

Sem dúvida, um momento mágico e emocionante! O melhor fato político que aconteceu durante a conferência. A unidade dos palestinos foi restabelecida com o compromisso de se buscar uma solução para o problema dessa grupo de palestinos refugiados.


FEPAL

Não é segredo para ninguém as diferenças políticas existentes na Palestina e obviamente, como não poderia deixar de ser entre os militantes organizados na solidariedade internacionalista e na comunidade palestina.
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As sérias diferenças entre a Fatah , a FDLP, a FPLP, o Hamas ,entre outros são naturalmente refletidas dentro de todas as organizações de solidariedade ou associações da comunidade. Mas a pauta da OLP reivindicada por todos bastava para garantir a unidade necessária diante de um inimigo tão poderoso!

No entanto, de um tempo para cá, sem entrar no mérito das responsabilidades, houve uma grave ruptura que se refletiu na organização nacional palestina do Brasil, ou seja na Federação Palestina. Daí dois pólos distintos.

Chegando a Brasília temi que por minhas posições políticas alinhadas com a esquerda palestina da Palestina e no Brasil fosse difícil o diálogo com os camaradas da FEPAL que não escondem também suas posições políticas, como deve ser entre nós.

No entanto, fui recebida não só com carinho mas também convidada a participar em todas as reuniões da delegação onde discutíamos e decidíamos nossas posições e táticas para atuar na Conferência.

Em reunião bilateral com o Sr. Ellayyan este garantiu que a FEPAL está aberta a participação de todos, independente de suas posições políticas e que esse era o seu desejo e do conjunto da diretoria para o Congresso que se aproxima. Disse inclusive que gostaria que ajudássemos nesse sentido.

Em particular me admirei de ver a maturidade e a garra da juventude palestina e também dos mais velhos quando confrontados com posições de aliados, convidados como eu, que faziam propostas indignas como a que sugeria que a delegação deveria abrir mão de colocar sua pauta histórica, como o TLC, por exemplo, para não constranger o governo Lula, acrescentando o argumento de que a parceria com o governo é muito boa para Palestina.
Como se abrindo mão da pauta da OLP fosse possível conseguir consolidar uma parceria com o Estado brasileiro. Ledo engano!!! A parceria com o Estado só é possível, considerando que há interesses internos em fazer parcerias comerciais com o estado teocrático, se abrirmos mão da Palestina!

Os camaradas palestinos que lá encontrei não se deixaram enganar pelo canto da sereia ...... nem quando, vergonhosamente, o mesmo aliado convidado defendeu com muita garra que os dirigentes da FEPAL deveriam aceitar a proposta de Sergio Niskier , sionista presente à Conferência, de uma Moção abstrata de paz, que não dizia nada sobre o genocídio étnico, nada sobre a ocupação, nada sobre os crimes de guerra ou nada sobre o retorno dos refugiados, ou nada sobre os assentamentos na Cisjordânia e, pasmem, a proposta se complementava com a trocar das poucas moções que conseguimos apresentar e aprovar no grupo de política internacional por essa da “paz romana” elaborada por um sionista. Nesse momento, foi decisivo a firmeza, a experiência e a maturidade do Sr. Hanna Safieh que rejeitou veementemente a intervenção da proposta.

A causa palestina realmente necessita ser ampla o mais que se puder, mas, contudo, sem vendermos a alma dos que lá dão o seu sangue ou de seus filhos e netos para que a luta por um Palestina Laica e Livre se torne um dia realidade e para onde os 6 milhões de refugiados possam retornar. Esse é um preço muito alto!

Uma coisa é a sistematização da Conferência retirar por “motivos de Estado” nossas propostas ,esse é um ônus que o Estado deve assumir. outra, muito diferente, é agirmos com o princípio da auto repressão em troca de absolutamente nada! Ou seja: abrindo mão da pauta que há 61 anos simboliza a bandeira Palestina, em troca..... o Estado brasileiro..... não se compromete com não assinar o TLC, não se compromete considerar Israel racista e romper relações diplomáticas, pelos crimes hediondos que comete desde 1948, promovendo o genocídio de um povo inteiro e não se compromete com nada da pauta histórica.

Essa é uma discussão importante!
No Rio de Janeiro temos um baita orgulho de trabalhar em unidade com todas as forças desde a Fatah, Hamas, FDLP, FPLP, PCB, PSTU, PDT, PC DO B, PSOL, PT,CONLUTAS, INTERSINDICAL, CBT, CUT, além dos partidos ou organizações que não têm registro oficial. O fato de trabalharmos com os partidos que estão no poder como o PT e o PC do B não nos obriga a abrir mão da pauta da OLP, isso é importante e básico para unidade do Comitê. O que nos une é a pauta da OLP e o campo onde se realiza é a instância onde se encontram as organizações políticas e sociais da sociedade brasileira.

Fiquei muito impressionada e particularmente feliz com uma reunião que foi até duas horas da manhã cujo tema, proposto pelo Sr. Embaixador Ibrahim Alzeben , Delegação Especial da Palestina no Brasil, foi a reconstrução da FEPAL sobre outras bases.
Segundo ele, a FEPAL deve trabalhar para garantir a pluralidade no seu interior, ou seja é fundamental a presença das representações políticas de todas as forças existentes no movimento palestino e a garantia do respeito às posições políticas de todos, sem o confronto mortal, produzido pela hegemonia de uma força sobre as outras, prejudicial a unidade necessária para fazer frente a árdua tarefa da solidariedade internacionalista com o povo palestino.
Para essa discussão contribui com muita propriedade, entre outros, o Dr. Abdel Latif e sua linda esposa Jamile Latif. O casal concordou com o Embaixador e se apresentou como partidários militantes da construção dessa unidade que não pode excluir ninguém! Outros camaradas também se posicionaram nessa linha.

Naturalmente também nos comprometemos em ajudar a construir essa unidade. É também nosso desejo que ela se consolide no Congresso da FEPAL em janeiro próximo, mas para isso é necessário alguns passos importantes que vão no sentido do trabalho unitário na construção do pré-congresso.

Essa unidade tão necessária e urgente será possível se pudermos nos sentar e definirmos juntos os critérios para tirar delegados; as relações com os Comitês de solidariedade; as crises e problemas existentes nas associações, sociedade e comitês locais e a pauta de discussão para o Congresso, enfim em outras palavras: se as forças políticas que compõem o movimento palestino acertarem um cronograma unitário de reuniões para vencer esse desafio, como parte da construção do pré-congresso, não temos dúvidas que o desejo expresso pelo Embaixador e endossado por muitos camaradas será plenamente coroado em janeiro, no Congresso da FEPAL.

É justo nesse sentido que o Rio de Janeiro se coloca como aliado dessa construção!

Viva a Palestina Livre, Laica e Soberana!
Viva a pauta da OLP!
Viva a unidade palestina na luta contra o inimigo mortal!

Somos todos palestinos

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