sábado, 20 de junho de 2009

Refugiados palestinos no Brasil - “Pelo fato de sermos refugiados pobres ...


“Pelo fato de sermos refugiados pobres o governo brasileiro não olha para nós” - Causa Operária entrevista nesta semana um grupo de refugiados palestinos no Brasil. A entrevista foi feita com o auxílio de uma intérprete do Árabe. E para preservar uma maior exposição dos palestinos identificaremos apenas um deles, o Farouq. Hoje 23 dos 117 refugiados palestinos no Brasil estão em Brasília reivindicando o direito de um novo assentamento. O caso deles revela o verdadeiro caráter da política de refugiados das Nações Unidas e o tratamento desferido aos palestinos
7 de junho de 2009 - jornal Causa Operária (www.pco.org.br/conoticias)

Causa OperáriaVocês poderiam contar um pouco sobre vocês?


Farouq: Estou refugiado desde 67. Fui refugiado aos 19 anos quando fugi da guerra entre Israel e Palestina indo para o Iraque. Depois fui para Arábia Saudita, Líbia e voltei para o Iraque onde vivi até a invasão do pelos EUA, quando tive que fugir e me tornar mais uma vez refugiado na fronteira com a Jordânia no campo Rweished [de refugiados].
Esse campo na fronteira da Jordânia era do exército. Não tinha casa não tinha nada. Só um pedaço de tecido, uma barraquinha que vivíamos dentro dela.
Ficamos quatro anos e meio nesse campo [em 2007 ampliou-se a ofensiva contra os campos de refugiados palestinos, com pressões para que perdessem a condição de refugiados palestinos e ganhassem cidadania jordaniana].
Se fizermos uma comparação com esse campo e a situação que enfrentamos aqui no Brasil, nós vivemos muito melhor, com muito mais orgulho, nos sentíamos muito mais humanos lá no campo do que aqui. Porque aqui nós nos sentimos tratados pior do que se trata um animal. Para o animal existem leis, direitos, nós não temos nada.
Aqui no Brasil, as Nações Unidas e o governo que nos trouxe nunca nos trataram como humanos, nem protegidos como prometeram. A única coisa nós queríamos era o orgulho. Mas aqui eu nunca vou encontrar.
A ACNUR, as Nações Unidas, não nos trata como refugiados, aqui não tivemos nem direitos humanos, então não temos direitos de nada.
Nós não aceitamos mais isso, essa situação. Por isso estamos pedindo nossa saída do Brasil. Não é porque não gostamos do Brasil, mas porque fomos maltratados pelas Nações Unidas, por essas ONG’s [Cáritas do Brasil e Associação Antônio Vieira-ASAV] que disseram que nos acolheriam, mas nunca o fizeram.
Acabaram com nosso orgulho. Nós viemos para cá com esperança. Eu sou um velho. Sofri um acidente no campo e eles me prometeram ‘você vai para o Brasil e lá vamos te dar um tratamento’, mas eu nunca fui tratado. A parte de saúde foi zero, tudo foi zero.


Causa Operária: Vocês antes de virem para o Brasil estavam num campo de refugiados da Jordânia? A ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) foi a responsável por essa realocação de vocês. Como se deu essa vinda dos 117 palestinos para o Brasil?


Farouq: Nós descobrimos que estamos nas mãos de pessoas que não são humanas. Essas pessoas são ACNUR, que nos entregou como refugiados palestinos a duas ONG’s – Cáritas do Brasil e Associação Antônio Vieira [ASAV]. Elas deveriam cuidar dos palestinos, mas infelizmente não cuida, não faz nada, esse cuidado está apenas no papel.
O ACNUR prometeu muita coisa para nós. Mas a única alternativa era vir para o Brasil. Eles falaram assim, ‘ou o Brasil ou vocês voltam lá para a fronteira do Iraque’. ‘Vocês ficam lá para sofrerem a morte e a guerra. Ou vocês vão para o Brasil agora.’
E no Brasil vocês vão achar saúde, trabalho, educação, faculdade, tudo isso eles prometeram, alimentação, moradia, salário mensal, “colocaram chão como se fosse flor”, mas tudo isso era mentira porque não tinha esse paraíso que eles falaram.
Primeiro, porque 90% dos refugiados estão doentes. E não é qualquer doença. Então a primeira coisa que deveríamos ter tido aqui era tratamento e aprender o idioma, pra nos adaptarmos. Então como vamos nos adaptar se não temos saúde nem para trabalhar e nem temos tratamento?


Palestino refugiado (não quis se identificar): Nunca fizeram nada para nós. Prometeram tudo. A única coisa que fizeram quando chegamos aqui no Brasil foi um exame de urina e um exame de sangue, acho que para ver se tínhamos alguma doença ou não.
90% de nós têm doenças gravíssimas. Eu sou um deles e outro, o Saff, não teve nem condições de estar aqui agora.
Como nossas doenças são graves temos de tomar remédios que nós pagamos do nosso bolso, aliás, que é pouco, e não tem, então a gente passa fome para comprar os remédios.


Sarah: Com a nossa vinda para o Brasil nossas famílias foram divididas. Foi uma separação familiar, e não uma união familiar. Tem gente que foi pra a Suécia, Estados Unidos, Chile, Argentina. Minha família está toda nos Estados Unidos, mas me mandaram para cá.


Causa Operária: E quando vocês chegaram no Brasil o que encontraram? O que vocês encontraram quando chegaram aqui?


Intérprete: Aqui no Brasil, dividiram os palestinos. Não colocaram os 117 juntos. Uma parte ficou em Mogi das Cruzes [SP] outro grupo foi para o Rio Grande do Sul, outra para o Paraná. Se eles estivessem ficado juntos, pelo menos um ajudava o outro. Mas não, deixaram um isolado do outro.


Ahmad: Os imóveis eram usados e cheios de mofo, a casa foi assaltada. Esposa: quem foi para o Rio Grande do Sul não foi direto para as casa. Ficaram duas semanas dentro de uma Igreja, sem roupa lavada, a roupa que eles trouxeram tava mofada, estragou toda a roupa. O primeiro salário mensal foi roubado não foi gasto com a gente.


Causa Operária: Quem fez isso?


Ahmad: Antonio Vieira e Cáritas. ONG`s contratadas pela ACNUR para serem responsáveis pelos refugiados no Brasil.
Eu antes de vir apresentei um documento à ACNUR dizendo que não queria vir para o Brasil. Entreguei para Carmem, a advogada responsável pelo nosso caso. Ela me respondeu com ameaça “se você não for para o Brasil nós vamos te entregar para as forças do Iraque” aqueles que mataram Saddam [Hussein]. Mesmo minha família, irmão, tia, não sabem onde eu estou. Estou ameaçado de morte, então não tenho como voltar para lá então falaram “ou você vai para o Brasil ou te entregamos para eles”.
Quando cheguei no Brasil entreguei outro documento pedindo para sair daqui, entreguei na mão de uma pessoa chamada José, mandado para ACNUR. Mas é como dizem, “não tem a vida para quem chama”. E desde que eu cheguei até agora eu estou sendo castigado por essas ONG’s e pela ACNUR. Eu não sei o motivo nem o para que isso.
Fiquei castigado duas três semanas dentro de uma Igreja. Eu e meus filhos, com minha filha sofrendo com pneumonia. Colocaram-nos em Santa Maria, distante quatro horas da ASAV [Associação Antônio Vieira, em Porto Alegre], pra reclamar de alguma coisa.
Na primeira semana eu descobri o roubo que fazem conosco, reclamamos e encaminhamos para a ACNUR, tudo documentado. Mas ninguém nos procurou para resolver o problema.
Até hoje o governo brasileiro não se envolveu em nada. Todo mundo fala que a responsabilidade é do ACNUR, e ACNUR fala que a responsabilidade é da Asav, da Cáritas, um verdadeiro crime de omissão.
Uma vez foi uma pessoa do Conare [Comitê Nacional de Refugiados] foi até Mogi das Cruzes, ela disse “vocês estão reclamando do quê? Nós tiramos vocês da guerra” e nunca mais o governo nos procurou. Nunca mais.
Ahmad: Meus filhos ficam doentes, minha filha tem asma, meu filho teve catapora. Vários problemas e ninguém ligou para um médico ou deu atenção. Eu que paguei as consultas deles, eu ia lá sozinho, pedia dinheiro emprestado. E aqui em Brasília quando cheguei aqui eu fiz greve de fome, para receber e poder pagar para aquelas pessoas.
Quando chegamos aqui o Javier, chefe da ACNUR, prometeu “vocês vão pra Suécia”, porque queríamos fazer uma reunião familiar.
Então o que Javier prometeu? [enquanto estavam acampados em frente à sede da ACNUR] e temos testemunhas “não fiquem na rua, eu alugo para vocês uma quitinete, coloco os seus filhos na escola até o visto de vocês para qualquer país sair”, eu prometo, minha palavra”.
Eles pediram isso documentado ele deu. Foram para o apartamento que foi alugado com pagamento adiantado por quatro meses. Mas o apartamento foi colocado em nome da Sarah [esposa do Ahmad] e não da ACNUR. E agora eles estão ameaçados de saírem do apartamento [ameaçados de despejo porque venceu o aluguel] e a ACNUR sumiu, ninguém sabe o endereço dela. Agora estamos perdidos.
Advogado: Quando o ACNUR mandou que o contrato da imobiliária fosse feito em nome da família, foi a preparação de uma armadilha, porque na medida em que está atrasado o aluguel a imobiliária pode entrar com uma ação contra eles e qualquer queixa policial, quem dirá ação judicial, contra qualquer um deles imediatamente eles perdem a condição de refugiados e também o direito de naturalização. E a própria ACNUR disse que não paga mais o aluguel e sugeriu à imobiliária que entrasse com uma ação contra eles.


Intérprete: E eles vieram sob orientação da ACNUR. Venderam tudo o que tinham para vir pra cá e agora está acontecendo isso.


Causa Operária: Diante de todo esse quadro, qual foi a situação limite que fez com que um primeiro grupo desses 117 refugiados visse à Brasília, e acampassem em frente à sede da ACNUR no Brasil em maio de 2008?


Palestino refugiado (não quis se identificar):

Quando tínhamos uma reclamação, fazíamos um documento. Tudo foi documentado, no papel e também por telefone, [os advogados tem toda essa documentação].
Cada vez que nós reclamávamos para de ACNUR da Cáritas ou da Asav quando a ACNUR ia embora nos castigavam. Pagávamos muito alto, uma verdadeira tortura psicológica e financeira, uma tortura pela vida toda. Tudo porque a gente reclamava. E nós avisávamos isso à ACNUR. Porque a Asav ficava com raiva e descontava.
Esse é um dos principais motivos para estarmos aqui. Depois de um ano e meio de tortura lá, viemos para falar com eles, cara a cara. Porque não temos mais tempo. Em um ano e meio, não nos adaptamos aqui. Não falamos português, não tivemos nada dos serviços que eles falaram. E daqui três meses [7 de setembro] o programa vai acabar e para onde vamos? Para a rua?
Então acho que esse é o principal motivo para virmos para Brasília.


Causa Operária: E qual a reivindicação do acampamento e da vinda para Brasília?

Farouq: Tem quatro pessoas que estão há um ano na rua eu Farouq e outros três.
Nesse tempo de greve que estivemos na frente, na porta do ACNUR, na QL 24 Conjunto 4 casa 36, eles usaram todo tipo de tortura, de terrorismo contra a gente. Sendo que nós estávamos lá só para exigir um direito nosso.
Uma vez uma pessoa chamada Margarida [funcionária da ACNUR], eu estava dormindo às 6h40 da manhã, sendo que o ACNUR abre, às 9h, 9h30.
Ela subiu em cima dele com um jipe [tudo isso está filmado, a advogada foi até lá e registrou até a marca do pneu em cima dele].
Como se não bastasse, a noite eles sofreram uma tortura ainda maior. Ela chamou a Polícia Federal, a polícia do governo brasileiro para tirar dois velhos refugiados de lá. Foram mais de 90 policiais federais naquela noite para tirara gente de lá à força.


Intérprete: Ela falou que eles tinham ameaçado ela, de matá-la. Eu era testemunha, eu que traduzia. Eles nunca tinham falado isso. Eu falei isso para a Polícia Federal.

Então ela foi mandada embora. Mas, agora cadê o governo brasileiro?


Farouq: Nos deixaram sem salário um ano e dez meses. Eles estão nos matando, sem comer, sem beber, sem nada, então não vamos fazer greve?


Causa Operária - E qual a reivindicação para o acampamento? Para vocês estarem aqui agora?
Farouq:
Não queremos ficar aqui no Brasil. Queremos ir para onde estão nossos familiares.
Interprete: Eles já fizeram essa solicitação oficialmente. Cada um deles. Uma documentação grande com advogado. Mas até agora nada.
Tem um refugiado que está sofrendo uma doença gravíssima, e que por que nós fomos atrás ele está sendo tratado no Hospital de Base [hospital público de Brasília].
No caso desse palestino o primeiro castigo que eles deram para ele quando ele veio aqui para buscar o tratamento, só para reclamar para o ACNUR avisar o que estava acontecendo tiraram o salário dele. Com isso como ele poderia voltar? Então ficou na rua sete meses e isso e nesse período, eles entraram no apartamento deles, tiraram todos os móveis dele fecharam a porta, trocaram a fechadura, até a roupa dele, as coisas pessoais, todas as coisas foram tiradas de lá. Então como ele pode voltar pra lá? Se não tem mais nada?
Ele gosta do povo brasileiro, mas está muito chateado com o governo brasileiro que até agora mantém a mão dele por cima só apoiando a ACNUR, acreditando na ACNUR.


Causa Operária: E vocês acham que existe algum tipo de exigência ou de influência dos EUA ou de Israel para que os palestinos refugiados no mundo sejam tratados dessa maneira?


Advogado - Na medida em que existe essa pressão. Fica a dúvida sobre a serviço de quem a ACNUR realmente está.
Depois de tudo o que eu sofri com o Estado de Israel é um inimigo que identificamos. A gente sabe. Mas a ACNUR? Era para ser mais humana.

Ahmad - O Javier prometeu, eu pago tudo pra ti, mas não cumpriu nada.


Salin - Nós não temos nenhum problema com o povo brasileiro, nem com o Brasil, como país. Nosso problema é que foi tudo mentira o que o ACNUR colocou. E esse problema acaba com o futuro dos nossos filhos.
Minha filha, por exemplo, tem 17 anos e está noiva do primo dela, mas a representante da Asav, Karin, disse que não dava autorização para eles casarem. Então eles estão invadindo nossa vida pessoal. Esse é um dos primeiro ponto.
E agora como nós viemos aqui para reclamar com o ACNUR, o que a ONG [Asav] fez? Tirou todo o serviço financeiro, tudo o que a tínhamos agora está cortado. Por quê? Porque eu vim pra cá para que minha filha se casasse com o primo dela e meu filho estudasse. Eu estou pagando por isso. Então não dá mais para continuar aqui, eu só quero sair do Brasil. Esse é o nosso problema.
[No Rio Grande do Sul], a mulher responsável pelos refugiados através da Asav era uma judia que sempre usava aquela estrela e fala com muito orgulho de Israel, que é israelense e sempre repetia isso. O que por si só já deixava a gente muito mal. Mas nunca tínhamos sentido nada a respeito dela até que ela proibiu minha filha de se casar com o primo. Mas qual pecado nisso? Em qualquer religião do mundo as pessoas se casam. Aqui no Brasil todo mundo namora. Na nossa cultura tem que ter casamento para eles terem a vida sexual, familiar e tudo. É uma menina virgem e um menino virgem que querem se casar e eles proibiram isso. E a gente quer manter, cuidar da nossa cultura na criação dos nossos filhos, mas não respeitaram isso.
Na ACNUR a situação é a mesma. Os altos funcionários da ACNUR, aqui [em Brasília] também de Israel, são judeus. Então eles proibiram o casamento dos nossos filhos porque quem não quer a união familiar de uma pessoa palestina com outra, querendo acabar com a família palestina, ou com o futuro da Palestina, aliás com o povo palestino é o Mossad, Israel. Então esse foi o maior motivo para ela proibir o casamento dos nossos filhos. Por que eles querem acabar com todos os palestinos do mundo.
A decisão de eles se casarem faz parte da nossa religião, da nossa cultura é nosso direito.

Causa Operária: Então a situação piorou depois que vocês decidiram protestar contra a ACNUR e vieram lutar por seus direitos aqui em Brasília?


Huda: Alguns ainda estão recebendo o salário, mas não temos serviço médico, então tudo que entra vai pra dívidas, para remédios... Eu estou na rua. Não tenho casa para eu voltar. Para onde eu vou voltar? Então eu fico aqui em Brasília para protestar.


Causa Operária: No fim das contas vocês foram trazidos para serem “cuidados” por israelenses?


Palestino refugiado (não quis se identificar
) - Porque eles foram e só poderiam trabalhar na Sadia? Porque eles não sabem falar português e nessa fábrica no Paraná os donos são árabes. Se nós não fossemos mulçumanos, nem árabes eles nem dariam esse emprego. Porque o jeito que eles usam para matar frango é um jeito mulçumano.
Mais uma coisa, nós não somos racistas. Não é que não queremos nos misturar com brasileiro. O palestino, mesmo na religião mulçumana ele pode casar com brasileiro e tem muitos exemplos de refugiados que se casaram com brasileiros. Porque o amor não vê isso e a religião permite. Os primos decidiram casar porque se amam. Só para deixar isso claro.
Dá para ver que todo mundo lá, nas ONG’s e na ACNUR não gostam de nós. Porque a maioria deles estão lá como funcionários, mas não foram treinados para trabalhar com refugiados, nem psicologicamente nem nada. Porque só pelo olhar dá pra ver que eles olham com humilhação para gente. Tratavam mal a gente. Quando estávamos na frente da ACNUR alguns deles só saíam com policiamento. Tratavam-nos muito mal. Uma verdadeira tortura. Direta e indiretamente. Podem ter diploma e tudo, mas não estão preparados para lidar com pessoas. Não parecem humanos. Nos tratavam como escravos. E dizem fazer programa para refugiado. Cadê o programa para refugiado que diz a sigla da ACNUR?
Nós não sabemos quais são os nossos direitos aqui no Brasil. Ninguém nunca esclareceu quais são os direitos dos refugiados aqui no Brasil. Quais são os nossos direitos? Não tem nenhum protocolo, não tem nada documentando que explique e apresente uma saída para os nossos problemas. .


Causa Operária: Ocorreu o ataque a Faixa de Gaza no começo deste ano. Na ocasião os tanques de combate israelenses entraram em território palestino e atacaram escolas da ONU matando mulheres e crianças.
Na sua opinião, quais os interesses desse ataque do Estado de Israel?


Entrevistado: Uma guerra que acaba com qualquer ser humano, é uma coisa terrível e torturante. Ninguém poderia aceitar isso.
Não aceitamos o que está acontecendo no Iraque, na Faixa de Gaza etc.
O que acontece aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, por exemplo, nas favelas, com as crianças drogadas na rua, tudo isto mexe conosco.
Todos nós somos humanos e qualquer tipo de sofrimento nos faz mal, independente do local.
Não é possível não nos envolvermos com estes acontecimentos da [Faixa de Gaza] porque somos palestinos, mesmo que não estejamos lá.
Como humano o que ocorreu na Faixa de Gaza não é aceitável contra qualquer povo do mundo, seja palestino ou não.
Uma desculpa terrível que Israel usa é dizer que “a gente está se defendendo desse povo [palestinos]”.
Se fosse em qualquer outro lugar eu já seria contra, mais ainda quando se trata da minha terra que até agora não conheci pois tive que me refugiar por causa da guerra.
Eu peço desculpas por não ter me adaptado. Eu tinha o sonho de ficar no Brasil. Mas agora eu tenho dois desejos: quero voltar para a Palestina ou ir para o campo de refugiados onde eu estava.
Torço para que o governo brasileiro nos escute. Esperamos que o governo nos escute e discuta com a gente o nosso problema e deixe realizar uma dessas duas opções.
Estamos deprimidos e traumatizados pela tortura psicológica que sofremos.


Causa Operária: Porque isto que parece ser tão simples se tornou algo muito complicado?


Refugiado: Porque até agora nenhuma pessoa do governo se dispôs a ajudar a gente ou encaminhou nossa situação.
Isto ocorre porque lei aqui no Brasil é para quem é rico, quem tem poder. Estamos aqui há um ano e sete meses e o governo não nos escuta, só escuta o ACNUR. Pelo fato de sermos refugiados pobres o governo brasileiro não olha para nós.
Estamos refugiados no Brasil e o governo não deveria deixar a situação chegar neste ponto, o que é algo muito feio para o governo brasileiro e para quem gosta deste País.
Agradecemos aos brasileiros. Quem nos ajudou neste período foram nossos vizinhos brasileiros e os amigos que fizemos aqui. Parece que o programa [para refugiados] foi feito por eles. E não por quem ficou de nos acolher e cuidar.
Já faz dois meses que não temos nenhum contato com a ACNUR. Eles se mudaram [do local onde os refugiados ficaram acampados anteriormente] e só o governo brasileiro sabe onde eles estão. Mas o governo brasileiro não nos procura. O programa vence agora em setembro, vão ser pelo menos cinco meses abandonados. O que vai ser de nós?


Causa Operária - Vocês têm informações sobre outros refugiados palestinos? Qual a situação deles?


Refugiado - Eles estão bem, 90% dos nossos familiares estão morando em países como a Suécia e a Dinamarca. Lá existem programas específicos destes países. Programas dos países e não da ACNUR, das Nações Unidas. Na América Latina [Chile, Brasil] é que esse programa está sendo feito através da ONU, da ACNUR.


Causa Operária - Como a imprensa tem tratado o problema de vocês, e a questão palestina de uma forma geral?


Refugiados:
Não tem justiça na imprensa. Eles favorecem e são financiados pelos Estados Unidos e Israel. A imprensa só publica o que eles querem.
Existem poucos jornalistas com consciência e é por isso que a verdade não aparece.
Já demos várias entrevistas, mas as coisas não são publicadas de forma completa.
Os assessores de imprensa da ACNUR controlam tudo o que é publicado, enviam a sua versão dos fatos e essa versão que é divulgada.

Causa operária: Na opinião de vocês, como é possível solucionar o problema de vocês e da Palestina?


Refugiado:
Quando for criado o Estado Palestino, quando for resolvida a causa Palestina será resolvida também a nossa causa. Mas parece que uma coisa é tão difícil quanto a outra.
No Brasil as forças contra os palestinos que estão aqui, o ACNUR, o Mossad, os sionistas as pessoas que tem mais dinheiro tentam falar contra os palestinos acusando-os de terroristas para sujar o nome dos palestinos e eles que são os responsáveis por tudo isso, ficarem bem na história.
Nós defendemos Brasil quando o Brasil nos defende. Nós gostamos de trabalhar com os trabalhadores, os sem-terra, a esquerda, nós somos pessoas que procuramos paz.
Finalmente eles fizeram algo muito errado contra nós. Nos roubaram e enganaram e nós descobrimos isso. E apesar de poderosos eles tem medo da gente.

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