Gaza é um gigantesco campo de prisioneiros onde vivem entre 1,5 a 2 milhões de pessoas trancadas em uma faixa de 45 km quadrados quadrados. Gaza, além dos bombardeiros, sofreu duas grandes situações que moldaram a sua situação atual, o que resultou em uma crise humanitária que assola a região.
Por KOLDO SALAZAR
"DESCOLONIZAÇÃO DE GAZA" e a estratégia de isolamento
Em 2005, Arial Sharon, naquele momento primeiro-ministro de Israel , decide "descolonizar" Gaza, na verdade o que buscava era mudar o equilíbrio de poder na Faixa de Gaza retirando os colonos israelenses, desmilitarização os Kibutz e o interior da cidade, mas ao mesmo tempo que bloqueava a cidade por terra e mar. Naquele momento, Israel atingia seu objetivo. Realmente o que foi chamado de forma constante e festiva de "Descolonização de Gaza" (dando Ariel Sharon o status de "Homem da paz") era de fato um plano para desconectar Gaza, que se tornaria uma espécie de "reserva dos palestinos"no estilo americano ou um campo de prisioneiros que seria regido internamente pelas leis de seus governantes.
- Aprisionar 1,5 milhões de pessoas, considerados potenciais inimigos , em uma área restrita e controlada;
- Destruir sua economia, desmantelando totalmente as importações e exportações de Gaza e forçando-os a manter uma economia de subsistência, por um lado, e a viver de ajuda econômica dos países como Irã, Turquia, Qatar e da Arábia. O bloqueio marítimo afeta severamente a indústria pesqueira, muito arruinada. Em 2008, houve uma crise alimentar e energética que forçou Israel, por imposição internacional e medo de uma insurreição generalizada, moderar sua política por 24 horas;
- - Desgastar às administrações palestinas em Gaza através da guerra econômica, social e psicológicas negando o abastecimento de alimentos, combustível, materiais de construção e sanitários;
- - A grave situação resultou na destruição do tecido social e aumento da pobreza acompanhada por tensões sociais e do crescimento do Hamas em Gaza;
- - Ao mesmo tempo, os moradores de Gaza estavam aprisionados e sob o controle de Israel por causa da da proibição de sair da Faixa de Gaza. Israel estava assim violando o direito internacional à liberdade de movimento reconhecida, em parte, no artigo 13º da Declaração Universal dos Direitos Humanos subdividido de modo jurisprudencial, nestas três situações:
- Liberdade de circulaçãoo dentro de um país;
- A liberdade de circulação entre países, sem mudança de residência (turismo, convenções, negócios, etc.);
- Liberdade de circulação entre países por mudança de residência, geralmente para o trabalho.
Enquanto o primeiro é um direito ilimitado, o segundo e o terceiro são direitos vinculados ao país de acolhimento. Mas, no caso dos habitantes de Gaza, Israel viola seu primeiro direito, a liberdade de movimento dentro do seu próprio país, que para a ocupação não é tal, senão uma entidade, já que não reconhece a Palestina como um Estado, logo não não existe. Os moradores de Gaza não podem sair nem para visitar parentes em Jerusalém Oriental e no resto da Palestina, estando restringidos em seus direitos básicos. Israel viola o direito internacional, neste caso, de forma bilateral, primeiro negando o direito à liberdade de movimento para uma população inteira trancada em um determinado local restrito, e, por outro, a ocupação militar do território palestino , incluindo Jerusalém Oriental desde 1967 , contra o direito internacional que proíbe no parágrafo n.º 4 do artigo 2º da Carta das Nações Unidas as anexações pela força.
De modo que podemos concluir o evento que foi chamado de "descolonização" era na verdade um plano para desconectar Gaza e o início do estado de sítio que se perpetua desde 2005 até hoje.
Em 2010, um relator da ONU declarou que o bloqueio a Gaza é um castigo coletivo injustificavel.
HAMAS TOMA O PODER EM GAZA
Isso ocorreu logo após a "desconexão", em 2006, e os combates duraram até 2007, quando a Fatah foi expulsa de Gaza. Nessa altura, a hegemonia política dos territórios palestinos, que era compartilhada e unitária até ali, foi dividida em duas administrações que se confrontavam por suas visões de gestão social, política e pela forma que se relacionavam com Israel. Após a morte de Arafat a resistência Palestina se encontrava fragmenta e nas eleições de 2006, o Hamas derrotou o Fatah, rapidamente os Estados Unidos, União Europeia, Israel e outros Estados, que definiam o Hamas como um grupo terrorista, decretaram uma política de desinvestimento e sanções para forçar uma saída do Hamas.
Fatah canalizou para si o descontentamento internacional ao ser um instrumento da dissidência da resistência palestina controlado por outros potências, fato que lhe deu energia suficiente para enfrentar o Hamas, que foi obrigado a realizar contrabando de divisas, a fim de conseguir gerenciar a administração básica nas áreas que controlavam, enquanto o Fatah era ajudado e financiado pelos Estados Unidos. Isto rompeu com a resistência Palestina polarizando como o Hamas que passou a controlar Gaza, de forma indiscutível, depois de expulsar o Fatah, que por sua vez controlava a Cisjordânia sob controle militar israelense.
Tudo isso asfixiou ainda mais os habitantes de Gaza, não obstante após os acordos do Cairo (2011) e acordos de Doha (2012) e de 2014 a reconciliação.
E AGORA?
Bem , o que se seguiu contra GAZA foi a " Operação Inverno quente em 2008", "Operação Chumbo Fundido entre 2008-09", O assalto a "Flotilha de Gaza em 2010", a "Operação Pilar Defensivo em 2012 " e "Operação Margem protetora em 2014 ". Depois disso tudo, uma pergunta não quer calar, como se vive em GAZA?
Além do isolamento imposto desde 2005, os constantes ataques militares israelenses destruíram sua capacidade de manter uma economia estável baseada na exportação de produtos, além de reduzir a níveis baixíssimos sua capacidade de produzir para o mercado interno.
- 550 milhões de dólares em perdas agrícolas;
- Destruição 300 centros comerciais;
- 247 fabricas destruídos;
- 65% da força de trabalho está desempregada;
- Os salários oscilam entre 75 e 100 dólares por mês;
- 868 mil pessoas dependem da distribuição de alimentos pela ONU e outras ONGs;
- Alto nível de impostos, os habitantes de Gaza têm de pagar o imposto ao Hamas e a Fatah;
- Mais de 33 milhões de dólares em danos às escolas, total ou parcialmente destruídos;
- Milhões de dólares em danos à infra-estrutura de saúde, hospitais, centros de saúde, ambulâncias, etc ...
O bloqueio econômico imposto a Gaza por Israel e os EUA impede a reconstrução da infra-estrutura adequada e o acesso aos suprimentos mínimos e básicos,tanto que a saúde e a educação estão duramente afetadas.
A mesma coisa acontece com a água. Um relatório da UNCTAD determinou que 95% da água de Gaza é impropria para o consumo humano. As 1,5 - 2 milhões de pessoas que vivem em Gaza dependem das reservas de águas costeiras que em muitos casos são nocivas para a saúde. De fato, foi constatado aumento das doenças relacionadas com o consumo de água salgada. Curiosamente áreas perto da fronteira norte de Israel como Beit Hanoun e Beit Lahia possuem uma agua de melhor qualidade e as áreas que foram ocupadas por colonos israelenses como Kfar Darom, Morag e Neve Dekalim ou Khan Younis possuem agua de melhor qualidade do que as águas do restante da Palestinas, em Gaza.
A cidade Palestina de Gaza pode ser decretada como um gigantesco campo de prisioneiros, o inferno na terra, um lugar inóspito onde estão presos mais de um milhão de almas sem poder sair, com escassez de recursos, com a infra-estrutura destruída e sempre sob a sombra de uma nova investida militar de israel. Quanto vale violar os direitos humanos? Perguntem em Tel Aviv.
*Dedico este artigo especialmente meu amigo Yasmin Hayek , Gaza, sofrendo junto com o resto dos 1,8 milhões de pessoas a vergonha de viver em um campo de concentração, a vista de todo o mundo, no século XXI. (Foto: RafahKid Kid )
Postado de: http://www.mbctimes.com/espanol/tragedia-de-gaza
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