terça-feira, 31 de maio de 2016

A vitória sobre Israel em 2000 É um exemplo para luta de hoje





Comemorando a libertação do sul do país em 25 de maio de 2000, o “Dia da Vitória”, em que as tropas israelenses foram obrigadas a abandonar o sul do Líbano, o secretário-geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, pronunciou um importante discurso de que publicamos os principais pontos.
A ideia de que Israel é o inimigo principal e que é a luta «a única via para recuperar os [nossos] territórios e garantir a estabilidade e a segurança do país» perpassa por todo o discurso.

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No meu discurso de hoje vou abordar vários temas. Encontramo-nos aqui pouco tempo depois das eleições municipais. Evocarei também as eleições as legislativas e as presidenciais. Referir-me-ei brevemente à conjuntura regional.

Uma festa nacional para todos

Hoje queremos celebrar esta festa ao lado do nosso comandante, o secretário-geral, mártir do Hezbollah, Sayed Abbas Musawi [1], de sua esposa, a mártir Umm Yasser e de seu filho, o mártir Hussein, sem esquecer os outros mártires da localidade de Nibichite e das outras regiões do Vale de Bekaa.
Quisemos vir a esta terra fiel e honrada comemorar esta data.
O respeito pelos nossos mártires é essencial e nós insistimos em fazer todos os anos esta comemoração. Isso mostra que somos um povo vivo, uma nação ligada à nossa história e orgulhosa dela e da sua cultura, dos seus êxitos, das suas vitórias, dos seus mártires e dos seus sacrifícios, e que deseja transmitir esta cultura e este orgulho aos nossos filhos e a todas as gerações futuras.
A Rússia comemorou o 71º aniversário da vitória nacional contra o exército nazi, no passado dia 9 de maio. Quando os governos mundiais estão conscientes de que o seu país conseguiu uma grande vitória festejam-na a nível nacional, a fim de salientar a sua importância na consciência do seu povo.
Este êxito faz parte do nosso passado, mas marca também o rumo do nosso futuro. Esta vitória é um ensinamento que beneficiará as gerações futuras ensinando-as a enfrentar os desafios e os perigos e, sobretudo, para saber aproveitar as ocasiões que se apresentem para conseguir êxitos.
Todos os anos apelamos aos libaneses a que considerem esta vitória como um dia nacional, uma vitória de todos. Em 2000 oferecemos esta vitória a todos os libaneses, a todos os palestinos, a todos os árabes, a todos os muçulmanos e a todos os povos livres do mundo. Nunca monopolizámos esta vitória, e não deixaremos de apelar à sua comemoração como festa nacional.
Quero agradecer ao nosso primeiro-ministro, Tamma Salam, por ter declarado este dia 25 de maio como um dia de festa nacional, e por ter pedido aos centros educativos que consagrassem as primeiras horas de aulas a falar da libertação.
Dirigimo-nos a todos os libaneses que ignoram este dia e que se recusam a admitir a sua grandiosidade e importância. Pedimos-lhes que deixem de lado as rivalidades políticas e partidárias, o seu fanatismo confessional e sectário, e que revejam os seus pontos de vista em relação a esta ocasião, que desejamos seja convertida numa festa nacional de todo o nosso povo.

Uma celebração para o presente e para o futuro

Por que razão insistir nesta celebração? Pelo seu valor nacional, cultural e civilizacional, que superam o seu valor político.
Hoje, em 2016, temos uma nova geração que se interessa pelo que acontece na região. Muitos deles eram muito jovens quando, em 2000, se verificou este êxito, não tinham ainda consciência da sua importância. Outros não o viveram e não sabem o que aconteceu. Necessitamos de reviver aquela fase, para dela tirar lições para o futuro, porque os desafios que nos aguardam exigem que estejamos armados de sabedoria, de fé, de vontade, de perseverança, de resistência.
Faz falta que os meios de comunicação abordem esta etapa, as razões da humilhante derrota israelense, de como o exército considerado invencível num outro que batia em retirada, e quais foram as consequências desta vitória do Líbano, para a Palestina e para a região.
Faz falta recordar alguns pontos essenciais:
Em primeiro lugar, o inimigo israelense usurpador cometeu, desde a sua criação até aos nossos dias, os piores massacres, pondo em prática, incessantemente, os seus projetos de ocupação e infligindo, sem piedade, as piores humilhações aos nossos povos. E isto, sem esquecer os milhares e milhares que continuam presos, as inumeráveis guerras que desencadeou, as infraestruturas que bombardeou, as localidades e os povos que destruiu, os comboios intermináveis de pessoas deslocadas e de refugiados que causou. Os nomes dos mártires, que sempre estão vivos entre nós, são de todos conhecidos. Agora, no entanto, alguns há os que querem que esqueçamos os crimes terroristas de Israel.
É preciso recordar que Israel é o inimigo principal, visto que nunca deixará de ambicionar as nossas riquezas, os nossos recursos e as nossas terras.
O povo do Líbano, tal como sucede na Palestina, acredita sinceramente que a única via para recuperar os nossos territórios e garantir a estabilidade e a segurança do país, não é outra senão uma resistência total e completa. Uma resistência em todas as suas dimensões e em todos os campos: militar, mediático, económico e social. Nós conseguimos a vitória graças aos importantes sacrifícios apoiados por diferentes partidos e organizações, e pelo nosso povo, paciente e perseverante. Ninguém pode negar que fomos apoiados por todos eles para alcançar a vitória. Isto pressupõe o plasmar a promessa divina, recordada a todos os combatentes e a todos aqueles que se sacrificaram e que tiveram paciência.
Nós, no Líbano, através da nossa equação Resistência, Povo e Exército, pudemos proteger e defender o nosso país, manter a cabeça levantada. Estes são os valores grandiosos que faz falta inculcar na nova geração. Eles são-nos úteis, tanto para o presente como para o futuro.

Eleições municipais

Domingo passado tivemos eleições municipais no sul do Líbano. Queremos afirmar que elas se realizaram com total segurança e estabilidade, ao longo de toda a fronteira. É a primeira vez que esta região se encontra numa situação semelhante. Desde a implantação de Israel que, regularmente, era objeto de bombardeamentos e ataques israelenses. Esta segurança que o sul do país hoje desfruta não nos foi dada de forma gratuita. Ela não é o fruto da Liga Árabe, nem do Conselho de Segurança da ONU, nem da União Europeia. Ela é o fruto dos sacrifícios levados a cabo por inúmeros movimentos e fações. Ela é o fruto do sangue dos mártires, dos sofrimentos e da resistência dos detidos, dos feridos e dos mutilados. Ela é fruto da paciência dos que, em várias ocasiões, viram as suas casas destruídas e arrasadas, e dos que foram deslocados. É, pois, o fruto de uma árdua resistência, pejada de dor e sacrifícios.
Visitai as localidades desta região do Vale de Bekaa e vereis que os seus cemitérios estão a transbordar de túmulos de mártires. O mesmo se passa no Sul do Líbano, no subúrbio Sul de Beirute e noutros lugares. Ela é fruto da Graça Divina, aquela que Deus dá aos que observam os seus preceitos e confiam nele. Deus dá a sua vitória aos que lhe são fiéis. Sayed Abbas Musawi soube-o desde cedo, por isso, ele sempre prometeu a vitória, mesmo na época em que os factos no terreno não eram muito alentadores. Ele tinha fé na palavra Divina e nas promessas de Deus. É preciso consolidar a nossa confiança em Deus, em nós-próprios e nas nossas capacidades. Todos nós podemos defender o nosso país, manter a cabeça levantada e fazer frente a todos os perigos. Que ninguém desmoralize as pessoas dizendo que precisamos de garantias do exterior.
De quem vamos obter garantias? Dos Estados Unidos, do Ocidente, dos regimes árabes que sacrificaram os seus povos para defender um interesse próprio, dos seus tronos e do seu ódio execrável?
Sim, é verdade que nos nossos dias a equação que deu ao Líbano a sua força está sendo mais que nunca atacada. Esta sendo atacada mesmo no próprio Líbano há já vários anos.
Mesmo no Líbano há quem não queira um exército forte e eficaz. Entre o povo os incitamentos ao ódio interconfessional atingiu o nível mais elevado. No entanto, todos precisamos de preservar os nossos fatores de poder. Os que não acreditam no nosso projeto devem abster-se de conspirar contra o exército e o povo. No plano nacional libanês, é preciso não esquecer que ainda temos terras sob ocupação: as Quintas de Shebaa, os Montes de Kfar Shuba…
Temos pessoas cuja sorte desconhecemos, restos mortais de mártires que ainda estão nas mãos do inimigo. Também há responsabilidade libanesa em relação a quatro diplomatas iranianos, sequestrados pelos israelenses na década de 80 do século passado, e cuja sorte ainda desconhecemos. Infelizmente, enquanto a traição árabe perdura, somos testemunhas das crises desencadeadas e da cumplicidade internacional com o regime de Israel.

Algumas palavras ao povo palestino

Em 2000, nós oferecemos a nossa vitória. Naquele momento, ela era a nossa vitória mais feliz porque pudemos ver com os nossos olhos como o nosso pior inimigo, a fonte de todos os problemas da região, foi derrotado e humilhado.
Gostaria de me dirigir aos palestinos para os alertar contra os que tentam beneficiar da confusão que reina na região e trocar a direção da batalha e transformar Israel num aliado. Peço-lhes que não confiem nos que vos atraiçoaram ao longo de décadas – durante os últimos 70 anos – e não contem nunca com eles. A vossa salvação depende da vossa unidade, da vossa resistência, da vossa perseverança.
Todos os que têm estado convosco no Líbano, no Irão e na Síria estarão convosco seja em que situação for. Com toda a serenidade vos asseguro que, nesta batalha e na região, o eixo da resistência nunca será vencido, e que a causa palestina voltará a converter-se na causa central, na causa única da região.

Vale de Bekaa: a nova linha da frente

Gostaria de voltar à questão de por que decidimos este ano comemorar a vitória no Vale de Bekaa.
Durante a luta contra o inimigo sionista no Sul, esta região foi a retaguarda da resistência. Participou em todas as etapas da luta, nela investiu todas as suas capacidades. Esta é a razão pela qual esta região está intrinsecamente ligada à vitória da Resistência.
Esta terra fiel converteu-se, ao longo destes últimos anos, na frente de um novo campo de batalha, em que se combate contra outro perigo que ameaça o nosso país: o perigo takfiri [2], que a Síria sofre. Bekaa encontra-se na primeira linha e é ela quem defende todo o Líbano. Os mártires que sucumbiram estes anos todos – o último dos quais foi o Comandante mártir Mustafa Badredin – defenderam todo o Líbano e protegeram-no do perigo takfiri. As vitórias que eles conseguirem fazem-nos avançar até à vitória final. Queira Deus.

As eleições municipais: uma aliança entre o Hezbolá e o Amal

Quero reiterar o meu agradecimento a todas as regiões: a Bekaa, Helmete, Beirute, Monte Líbano, Sul do Líbano e Nabatieh pela grande participação nestas últimas eleições. Os resultados, tirando algumas, poucas exceções, mostraram uma vitória esmagadora da aliança entre o Hezbollah e o movimento Amal. Esta aliança foi objeto de críticas nos últimos dias, em alguns meios de comunicação. No entanto, uma leitura objetiva dos resultados confirma a sua solidez.
Todos sabem muito bem que as eleições municipais são as mais difíceis devido à mistura de fatores familiares, de clan, partidários, confessionais, etc.. Que os nossos movimentos políticos tivessem um grande êxito nestas eleições é uma prova da solidez da sua aliança. As nossas listas obtiveram vitórias em todas as grandes localidades. Em dezenas de povoações, a vitória das listas Hezbollah-Amal ganharam antecipadamente, devido à não concorrência de outras listas.
Esta é outra prova de que o Hezbollah e o Amal desfrutam de um apoio popular incontestável.

Por uma nova lei eleitoral

Um dos resultados das eleições municipais foi terem resolvido dois problemas: a ligação à situação de segurança e a prorrogação do Parlamento. As eleições municipais são certamente as mais complicadas, mas fizeram-se nas melhores condições e no tempo devido.
Quanto à Lei eleitoral, nós reclamamos outra Lei. O presidente do Parlamento, Nabih Berri, desenvolveu os seus esforços para o conseguir. Não apoiamos a atual Lei, em vigor desde a década de 60. Apoiamos uma nova Lei baseada na distribuição proporcional que garanta a maior representatividade possível.
No que concerne a eleição presidencial, há quem queira atribuir ao Hezbollah a responsabilidade pelo bloqueio deste assunto. Isto faz parte da guerra psicológica levada a cabo contra nós e das pressões para que renunciemos aos nossos compromissos morais e políticos, mas o Hezbollah jamais o fará. Todas as acusações serão inúteis. Nós desejamos que a eleição presidencial tenha lugar o mais breve possível e chamamos outros a mostrar a sua responsabilidade neste assunto.

As premissas de uma vitória na Síria e no Iraque

Uma última palavra para falar da atual conjuntura regional. Há que estar vigilantes e prudentes face aos acontecimentos que vão surgir.
Até ao mês de novembro, data das eleições presidenciais nos Estados Unidos, a região vai sofrer uma escalada de violência. Cada vez que há eleições presidenciais nos EUA o sangue corre por motivos eleitorais. A atual administração democrata norte-americana necessita de sucessos políticos e militares para os utilizar como trunfos na batalha eleitoral. Está claro que a administração norte-americana não procura êxitos que interessem aos nossos países mas à custa dos povos da região. Quer isto dizer se dirige para uma escalada de pressões e violência em vários planos.
As forças do eixo da resistência devem permanecer alerta e dispostas a enfrentar todos os desafios e abortar as manobras dos inimigos. Cada protagonista permanecerá nas suas posições à espera das eleições nos EUA. Na Síria não há convocatória para uma nova ronda de negociações. A trégua está ameaçada e os grupos armados atuam para a romper. É de esperar novos atentados brutais, com carros armadilhados como os que explodiram em Jableh e Tartus. No Iraque a batalha está lançada e vai prosseguir.
Em qualquer dos casos as premissas de uma vitória são claramente visíveis.

O princípio do fim do Estado Islâmico

O Estado Islâmico, que é o grupo mais sanguinário e mais feroz mas que partilha a ideologia e os métodos com outros grupos, está no princípio do fim. Oxalá.
No Iémen, apesar das negociações do Kuwait, os confrontos continuam na fronteira.
Na Palestina toda as pessoas analisam o facto de o arrogante Lieberman se ter tornado ministro da Defesa do gabinete de Netanyahu. É necessária uma análise serena e não quero adiantar acontecimentos.
Esta etapa vai determinar o destino do Líbano, da Síria, do Iraque, do Bahrein, da Palestina e de outros países para as próximas décadas e inclusive para os próximos séculos. A neutralidade ou a negligência seriam fatídicas. Vós sabeis qual é a verdadeira natureza da batalha em curso. Nesta região golpeada por um imenso furacão, temos conseguido preservar o nosso país e devemos fazê-lo ainda mais.
Neste Dia da Vitória renovamos o nosso compromisso e a nossa promessa de preservar a recordação dos nossos mártires e prosseguir com a resistência. Teremos vitórias atrás de vitórias sejam os sacrifícios o que forem. Continuaremos o caminho até à vitória final, uma vitória que erradicará para sempre as ameaças takfiri e sionista, que permitirá aos povos da região construir os seus estados, viver juntos em liberdade e desenvolver a sua cultura.
Esta é a promessa de Deus a todos os deserdados e a todos os combatentes. Uma parte desta vitória foi obtida em 25 de maio de 2000. Ela será ampliada num dia que não tardará a chegar. Queira Deus.

Notas do Tradutor: 

[1] Sayed Abbas Musawi morreu em 2000, na guerra contra o exército de Israel pela libertação do Sul do Líbano.
[2]. Takfiri é um reduzido grupo de sunitas wahhabitas, cuja importância tem crescido paralelamente aos petrodólares da Arábia Saudita. A missão do takfiri, diz Robert Baer, é recriar o Califado de acordo com uma leitura literal do Alcorão.


Um comentário:

  1. Não apenas a vitória sobre Israel em 2000, mas a vitória do Iraque sobre os EUA - devidamente e criminosamente ocultada pelo Pentágono e pela esquerda, salvo raras exceções individuais-, em 1991, também deveria inspirar a resistência contra o Império. Saddam Hussein e o Hizbollah mostraram que é possível, sim, vencer militarmente Israel e os EUA.

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