Comemorando a libertação do sul do país em 25 de
maio de 2000, o “Dia da Vitória”, em que as tropas israelenses foram obrigadas
a abandonar o sul do Líbano, o secretário-geral do Hezbollah, Sayed Hassan
Nasrallah, pronunciou um importante discurso de que publicamos os principais
pontos.
A ideia de que Israel é o inimigo principal e que é a luta «a única via para recuperar os [nossos] territórios e garantir a estabilidade e a segurança do país» perpassa por todo o discurso.
A ideia de que Israel é o inimigo principal e que é a luta «a única via para recuperar os [nossos] territórios e garantir a estabilidade e a segurança do país» perpassa por todo o discurso.
No meu
discurso de hoje vou abordar vários temas. Encontramo-nos aqui pouco tempo
depois das eleições municipais. Evocarei também as eleições as legislativas e
as presidenciais. Referir-me-ei brevemente à conjuntura regional.
Uma festa
nacional para todos
Hoje
queremos celebrar esta festa ao lado do nosso comandante, o secretário-geral,
mártir do Hezbollah, Sayed Abbas Musawi [1], de sua esposa, a mártir Umm Yasser
e de seu filho, o mártir Hussein, sem esquecer os outros mártires da localidade
de Nibichite e das outras regiões do Vale de Bekaa.
Quisemos
vir a esta terra fiel e honrada comemorar esta data.
O
respeito pelos nossos mártires é essencial e nós insistimos em fazer todos os
anos esta comemoração. Isso mostra que somos um povo vivo, uma nação ligada à
nossa história e orgulhosa dela e da sua cultura, dos seus êxitos, das suas
vitórias, dos seus mártires e dos seus sacrifícios, e que deseja transmitir
esta cultura e este orgulho aos nossos filhos e a todas as gerações futuras.
A Rússia
comemorou o 71º aniversário da vitória nacional contra o exército nazi, no
passado dia 9 de maio. Quando os governos mundiais estão conscientes de que o
seu país conseguiu uma grande vitória festejam-na a nível nacional, a fim de
salientar a sua importância na consciência do seu povo.
Este
êxito faz parte do nosso passado, mas marca também o rumo do nosso futuro. Esta
vitória é um ensinamento que beneficiará as gerações futuras ensinando-as a
enfrentar os desafios e os perigos e, sobretudo, para saber aproveitar as
ocasiões que se apresentem para conseguir êxitos.
Todos os
anos apelamos aos libaneses a que considerem esta vitória como um dia nacional,
uma vitória de todos. Em 2000 oferecemos esta vitória a todos os libaneses, a
todos os palestinos, a todos os árabes, a todos os muçulmanos e a todos os
povos livres do mundo. Nunca monopolizámos esta vitória, e não deixaremos de
apelar à sua comemoração como festa nacional.
Quero
agradecer ao nosso primeiro-ministro, Tamma Salam, por ter declarado este dia
25 de maio como um dia de festa nacional, e por ter pedido aos centros
educativos que consagrassem as primeiras horas de aulas a falar da libertação.
Dirigimo-nos
a todos os libaneses que ignoram este dia e que se recusam a admitir a sua
grandiosidade e importância. Pedimos-lhes que deixem de lado as rivalidades
políticas e partidárias, o seu fanatismo confessional e sectário, e que revejam
os seus pontos de vista em relação a esta ocasião, que desejamos seja
convertida numa festa nacional de todo o nosso povo.
Uma
celebração para o presente e para o futuro
Por que
razão insistir nesta celebração? Pelo seu valor nacional, cultural e
civilizacional, que superam o seu valor político.
Hoje, em
2016, temos uma nova geração que se interessa pelo que acontece na região.
Muitos deles eram muito jovens quando, em 2000, se verificou este êxito, não
tinham ainda consciência da sua importância. Outros não o viveram e não sabem o
que aconteceu. Necessitamos de reviver aquela fase, para dela tirar lições para
o futuro, porque os desafios que nos aguardam exigem que estejamos armados de
sabedoria, de fé, de vontade, de perseverança, de resistência.
Faz falta
que os meios de comunicação abordem esta etapa, as razões da humilhante derrota
israelense, de como o exército considerado invencível num outro que batia em
retirada, e quais foram as consequências desta vitória do Líbano, para a
Palestina e para a região.
Faz falta
recordar alguns pontos essenciais:
Em primeiro lugar, o inimigo israelense usurpador cometeu, desde a sua criação até aos nossos dias, os piores massacres, pondo em prática, incessantemente, os seus projetos de ocupação e infligindo, sem piedade, as piores humilhações aos nossos povos. E isto, sem esquecer os milhares e milhares que continuam presos, as inumeráveis guerras que desencadeou, as infraestruturas que bombardeou, as localidades e os povos que destruiu, os comboios intermináveis de pessoas deslocadas e de refugiados que causou. Os nomes dos mártires, que sempre estão vivos entre nós, são de todos conhecidos. Agora, no entanto, alguns há os que querem que esqueçamos os crimes terroristas de Israel.
Em primeiro lugar, o inimigo israelense usurpador cometeu, desde a sua criação até aos nossos dias, os piores massacres, pondo em prática, incessantemente, os seus projetos de ocupação e infligindo, sem piedade, as piores humilhações aos nossos povos. E isto, sem esquecer os milhares e milhares que continuam presos, as inumeráveis guerras que desencadeou, as infraestruturas que bombardeou, as localidades e os povos que destruiu, os comboios intermináveis de pessoas deslocadas e de refugiados que causou. Os nomes dos mártires, que sempre estão vivos entre nós, são de todos conhecidos. Agora, no entanto, alguns há os que querem que esqueçamos os crimes terroristas de Israel.
É preciso
recordar que Israel é o inimigo principal, visto que nunca deixará de
ambicionar as nossas riquezas, os nossos recursos e as nossas terras.
O povo do
Líbano, tal como sucede na Palestina, acredita sinceramente que a única via
para recuperar os nossos territórios e garantir a estabilidade e a segurança do
país, não é outra senão uma resistência total e completa. Uma resistência em
todas as suas dimensões e em todos os campos: militar, mediático, económico e
social. Nós conseguimos a vitória graças aos importantes sacrifícios apoiados
por diferentes partidos e organizações, e pelo nosso povo, paciente e
perseverante. Ninguém pode negar que fomos apoiados por todos eles para
alcançar a vitória. Isto pressupõe o plasmar a promessa divina, recordada a
todos os combatentes e a todos aqueles que se sacrificaram e que tiveram
paciência.
Nós, no
Líbano, através da nossa equação Resistência, Povo e Exército, pudemos proteger
e defender o nosso país, manter a cabeça levantada. Estes são os valores
grandiosos que faz falta inculcar na nova geração. Eles são-nos úteis, tanto
para o presente como para o futuro.
Eleições
municipais
Domingo
passado tivemos eleições municipais no sul do Líbano. Queremos afirmar que elas
se realizaram com total segurança e estabilidade, ao longo de toda a fronteira.
É a primeira vez que esta região se encontra numa situação semelhante. Desde a
implantação de Israel que, regularmente, era objeto de bombardeamentos e
ataques israelenses. Esta segurança que o sul do país hoje desfruta não nos foi
dada de forma gratuita. Ela não é o fruto da Liga Árabe, nem do Conselho de
Segurança da ONU, nem da União Europeia. Ela é o fruto dos sacrifícios levados
a cabo por inúmeros movimentos e fações. Ela é o fruto do sangue dos mártires,
dos sofrimentos e da resistência dos detidos, dos feridos e dos mutilados. Ela
é fruto da paciência dos que, em várias ocasiões, viram as suas casas
destruídas e arrasadas, e dos que foram deslocados. É, pois, o fruto de uma
árdua resistência, pejada de dor e sacrifícios.
Visitai
as localidades desta região do Vale de Bekaa e vereis que os seus cemitérios
estão a transbordar de túmulos de mártires. O mesmo se passa no Sul do Líbano,
no subúrbio Sul de Beirute e noutros lugares. Ela é fruto da Graça Divina,
aquela que Deus dá aos que observam os seus preceitos e confiam nele. Deus dá a
sua vitória aos que lhe são fiéis. Sayed Abbas Musawi soube-o desde cedo, por
isso, ele sempre prometeu a vitória, mesmo na época em que os factos no terreno
não eram muito alentadores. Ele tinha fé na palavra Divina e nas promessas de
Deus. É preciso consolidar a nossa confiança em Deus, em nós-próprios e nas
nossas capacidades. Todos nós podemos defender o nosso país, manter a cabeça
levantada e fazer frente a todos os perigos. Que ninguém desmoralize as pessoas
dizendo que precisamos de garantias do exterior.
De quem
vamos obter garantias? Dos Estados Unidos, do Ocidente, dos regimes árabes que
sacrificaram os seus povos para defender um interesse próprio, dos seus tronos
e do seu ódio execrável?
Sim, é
verdade que nos nossos dias a equação que deu ao Líbano a sua força está sendo
mais que nunca atacada. Esta sendo atacada mesmo no próprio Líbano há já vários
anos.
Mesmo no
Líbano há quem não queira um exército forte e eficaz. Entre o povo os
incitamentos ao ódio interconfessional atingiu o nível mais elevado. No
entanto, todos precisamos de preservar os nossos fatores de poder. Os que não
acreditam no nosso projeto devem abster-se de conspirar contra o exército e o
povo. No plano nacional libanês, é preciso não esquecer que ainda temos terras
sob ocupação: as Quintas de Shebaa, os Montes de Kfar Shuba…
Temos pessoas
cuja sorte desconhecemos, restos mortais de mártires que ainda estão nas mãos
do inimigo. Também há responsabilidade libanesa em relação a quatro diplomatas
iranianos, sequestrados pelos israelenses na década de 80 do século passado, e
cuja sorte ainda desconhecemos. Infelizmente, enquanto a traição árabe perdura,
somos testemunhas das crises desencadeadas e da cumplicidade internacional com
o regime de Israel.
Algumas
palavras ao povo palestino
Em 2000,
nós oferecemos a nossa vitória. Naquele momento, ela era a nossa vitória mais
feliz porque pudemos ver com os nossos olhos como o nosso pior inimigo, a fonte
de todos os problemas da região, foi derrotado e humilhado.
Gostaria
de me dirigir aos palestinos para os alertar contra os que tentam beneficiar da
confusão que reina na região e trocar a direção da batalha e transformar Israel
num aliado. Peço-lhes que não confiem nos que vos atraiçoaram ao longo de
décadas – durante os últimos 70 anos – e não contem nunca com eles. A vossa
salvação depende da vossa unidade, da vossa resistência, da vossa perseverança.
Todos os
que têm estado convosco no Líbano, no Irão e na Síria estarão convosco seja em
que situação for. Com toda a serenidade vos asseguro que, nesta batalha e na
região, o eixo da resistência nunca será vencido, e que a causa palestina
voltará a converter-se na causa central, na causa única da região.
Vale de
Bekaa: a nova linha da frente
Gostaria
de voltar à questão de por que decidimos este ano comemorar a vitória no Vale
de Bekaa.
Durante a
luta contra o inimigo sionista no Sul, esta região foi a retaguarda da
resistência. Participou em todas as etapas da luta, nela investiu todas as suas
capacidades. Esta é a razão pela qual esta região está intrinsecamente ligada à
vitória da Resistência.
Esta
terra fiel converteu-se, ao longo destes últimos anos, na frente de um novo
campo de batalha, em que se combate contra outro perigo que ameaça o nosso
país: o perigo takfiri [2], que a Síria sofre. Bekaa encontra-se na primeira
linha e é ela quem defende todo o Líbano. Os mártires que sucumbiram estes anos
todos – o último dos quais foi o Comandante mártir Mustafa Badredin –
defenderam todo o Líbano e protegeram-no do perigo takfiri. As
vitórias que eles conseguirem fazem-nos avançar até à vitória final. Queira
Deus.
As
eleições municipais: uma aliança entre o Hezbolá e o Amal
Quero
reiterar o meu agradecimento a todas as regiões: a Bekaa, Helmete, Beirute,
Monte Líbano, Sul do Líbano e Nabatieh pela grande participação nestas últimas
eleições. Os resultados, tirando algumas, poucas exceções, mostraram uma
vitória esmagadora da aliança entre o Hezbollah e o movimento Amal. Esta
aliança foi objeto de críticas nos últimos dias, em alguns meios de
comunicação. No entanto, uma leitura objetiva dos resultados confirma a sua
solidez.
Todos
sabem muito bem que as eleições municipais são as mais difíceis devido à
mistura de fatores familiares, de clan, partidários, confessionais, etc.. Que
os nossos movimentos políticos tivessem um grande êxito nestas eleições é uma
prova da solidez da sua aliança. As nossas listas obtiveram vitórias em todas
as grandes localidades. Em dezenas de povoações, a vitória das listas
Hezbollah-Amal ganharam antecipadamente, devido à não concorrência de outras
listas.
Esta é
outra prova de que o Hezbollah e o Amal desfrutam de um apoio popular
incontestável.
Por uma
nova lei eleitoral
Um dos
resultados das eleições municipais foi terem resolvido dois problemas: a
ligação à situação de segurança e a prorrogação do Parlamento. As eleições municipais
são certamente as mais complicadas, mas fizeram-se nas melhores condições e no
tempo devido.
Quanto à
Lei eleitoral, nós reclamamos outra Lei. O presidente do Parlamento, Nabih
Berri, desenvolveu os seus esforços para o conseguir. Não apoiamos a atual Lei,
em vigor desde a década de 60. Apoiamos uma nova Lei baseada na distribuição
proporcional que garanta a maior representatividade possível.
No que
concerne a eleição presidencial, há quem queira atribuir ao Hezbollah a
responsabilidade pelo bloqueio deste assunto. Isto faz parte da guerra
psicológica levada a cabo contra nós e das pressões para que renunciemos aos
nossos compromissos morais e políticos, mas o Hezbollah jamais o fará. Todas as
acusações serão inúteis. Nós desejamos que a eleição presidencial tenha lugar o
mais breve possível e chamamos outros a mostrar a sua responsabilidade neste
assunto.
As
premissas de uma vitória na Síria e no Iraque
Uma
última palavra para falar da atual conjuntura regional. Há que estar vigilantes
e prudentes face aos acontecimentos que vão surgir.
Até ao
mês de novembro, data das eleições presidenciais nos Estados Unidos, a região
vai sofrer uma escalada de violência. Cada vez que há eleições presidenciais
nos EUA o sangue corre por motivos eleitorais. A atual administração democrata
norte-americana necessita de sucessos políticos e militares para os utilizar
como trunfos na batalha eleitoral. Está claro que a administração
norte-americana não procura êxitos que interessem aos nossos países mas à custa
dos povos da região. Quer isto dizer se dirige para uma escalada de pressões e
violência em vários planos.
As forças
do eixo da resistência devem permanecer alerta e dispostas a enfrentar todos os
desafios e abortar as manobras dos inimigos. Cada protagonista permanecerá nas
suas posições à espera das eleições nos EUA. Na Síria não há convocatória para
uma nova ronda de negociações. A trégua está ameaçada e os grupos armados atuam
para a romper. É de esperar novos atentados brutais, com carros armadilhados
como os que explodiram em Jableh e Tartus. No Iraque a batalha está lançada e
vai prosseguir.
Em
qualquer dos casos as premissas de uma vitória são claramente visíveis.
O
princípio do fim do Estado Islâmico
O Estado
Islâmico, que é o grupo mais sanguinário e mais feroz mas que partilha a
ideologia e os métodos com outros grupos, está no princípio do fim. Oxalá.
No Iémen,
apesar das negociações do Kuwait, os confrontos continuam na fronteira.
Na
Palestina toda as pessoas analisam o facto de o arrogante Lieberman se ter
tornado ministro da Defesa do gabinete de Netanyahu. É necessária uma análise
serena e não quero adiantar acontecimentos.
Esta
etapa vai determinar o destino do Líbano, da Síria, do Iraque, do Bahrein, da
Palestina e de outros países para as próximas décadas e inclusive para os
próximos séculos. A neutralidade ou a negligência seriam fatídicas. Vós sabeis
qual é a verdadeira natureza da batalha em curso. Nesta região golpeada por um
imenso furacão, temos conseguido preservar o nosso país e devemos fazê-lo ainda
mais.
Neste Dia
da Vitória renovamos o nosso compromisso e a nossa promessa de preservar a
recordação dos nossos mártires e prosseguir com a resistência. Teremos vitórias
atrás de vitórias sejam os sacrifícios o que forem. Continuaremos o caminho até
à vitória final, uma vitória que erradicará para sempre as ameaças takfiri e
sionista, que permitirá aos povos da região construir os seus estados, viver
juntos em liberdade e desenvolver a sua cultura.
Esta é a
promessa de Deus a todos os deserdados e a todos os combatentes. Uma parte
desta vitória foi obtida em 25 de maio de 2000. Ela será ampliada num dia que
não tardará a chegar. Queira Deus.
Notas do
Tradutor:
[1] Sayed Abbas Musawi morreu em 2000, na guerra contra o exército de Israel pela libertação do Sul do Líbano.
[2]. Takfiri é um reduzido grupo de sunitas wahhabitas, cuja importância tem crescido paralelamente aos petrodólares da Arábia Saudita. A missão do takfiri, diz Robert Baer, é recriar o Califado de acordo com uma leitura literal do Alcorão.
Não apenas a vitória sobre Israel em 2000, mas a vitória do Iraque sobre os EUA - devidamente e criminosamente ocultada pelo Pentágono e pela esquerda, salvo raras exceções individuais-, em 1991, também deveria inspirar a resistência contra o Império. Saddam Hussein e o Hizbollah mostraram que é possível, sim, vencer militarmente Israel e os EUA.
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