quinta-feira, 17 de julho de 2014

Se eu fosse Palestino


Eduardo Galeano (*) | Segunda-feira, 14 de julho de 2014



Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a escolher seus governantes.
Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma ratoeira sem saída, desde que o Hamas ganhou de forma limpa as eleições no ano de 2006. Algo parecido aconteceu em 1932, quando o Partido Comunista venceu as eleições em El Salvador.
Banhados em sangue, os salvadorenhos foram castigados por sua má conduta e, então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem. São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com péssima pontaria sobre as terras que foram palestinas e que a ocupação israelense usurpou.
E o desespero, a espera pela loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há anos, o direito à existência da Palestina.
Já resta pouco da Palestina.
Pouco a pouco, Israel a está apagando do mapa.
Os colonos invadem e depois deles os soldados vão restabelecendo a fronteira.
As balas sacralizam a remoção, como legítima defesa.
Não existe guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva.
Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha.
Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo.
Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel engole outro pedaço da Palestina, e os almoços continuam.
(*) Escritor uruguaio e colunista de ContraPunto


Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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