segunda-feira, 17 de março de 2014

As transnacionais por trás dos conflitos internos que destrõem as condições de vida do povo africano

Existem poderosos interesses no mundo a quem convém que pouco ou nada se saiba sobre a verdade dos conflitos que surgem na África negra.



Enquanto o sangue dos povos africanos é derramado em torrente, as companhias petrolíferas e mineiras das potências imperialistas preparam-se para se apropriar das suas riquezas.


Da República Centro-Africana (622.089 m2, habitada por 5 milhões de pessoas), apenas se sabe que enfrenta um conflito «étnico e religioso» e que «2,6 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária imediata, e um de cada cinco centro-africanos se encontram internamente deslocados. Números que poderão aumentar à medida que o conflito coloca milhões de pessoas em situação de risco». (1) Mas, nada se diz das implicações das transnacionais francesas e do próprio estado francês por detrás do conflito que aquele país vive.

Poucos meios internacionais se preocuparam em destacar informações precisas que nos permitam interpretar o que realmente acontece hoje na República Centro-Africana. Existem interesses poderosos no mundo a quem convém que pouco ou nada se divulgue sobre a verdade dos conflitos que se suscitam na África negra. Para esses interesses e suas transnacionais mediáticas é necessário que a opinião pública mundial generalize e banalize a realidade que se apresenta em vários países daquele continente, fundamentalmente as fomes e os conflitos por disputa territorial entre as diversas comunidades étnicas, de forma que permita condicionar a opinião para justificar a intervenção militar da Europa e dos Estados Unidos sob pretextos «humanitários». 

Enquanto o sangue dos povos africanos é derramado em torrente, as companhias petrolíferas e mineiras das potências preparam-se para se apropriar das suas riquezas.
A crise económico-financeira que se vive em toda a União Europeia incita à rapina das potências contra a periferia capitalista. E como as coisas não têm andado bem para a França decadente, tem-se visto a necessidade de assaltar outras terras para amparar a sua crise e manter a sua hegemonia nas suas ex-colónias. Os dados económicos revelaram que o Produto Interno Bruto (PIB) da França vem caindo (2), marcando a mesma tendência nos últimos anos. Enquanto o desemprego já ultrapassa os números oficiais calculados em 11%.

As políticas internas e externas assumidas pelo regime francês para enfrentar a crise econômica acabaram por desmascarar o desprestigiado ultraliberal com máscara «socialista», o presidente François Hollande, que prometeu novos cortes na despesa pública superior a 50 mil milhões de euros (3), e simultaneamente pediu aos militares franceses para se alistarem numa nova aventura bélica contra outra ex-colônia francesa para «proteger» a população civil. Depois de o fazer na Costa do Marfim, Líbia e Mali, a França decidiu intervir militarmente na República Centro-africana para «levar a paz» a esse povo. Com efeito, Hollande não duvidou sequer em completar o envio de 1.600 «angelicais» soldados franceses para fazer «a paz» e salvar o povo centro-africano da suposta guerra étnica e religiosa.

A 6 de Dezembro de 2013, durante a Cúpula África-França, no Palácio do Eliseu, François Hollande declarou à imprensa que a operação militar na República Centro-Africana, denominada «Sanguiris», é a resposta a uma «situação catastrófica» que o seu povo vive, o qual pediu a ajuda da França (…) Os franceses devem estar orgulhosos por intervir em qualquer lugar desinteressadamente». E como era de esperar, a ONU votou rapidamente a Resolução 2127, que autorizou a intervenção militar gaulesa.

Desde 1960, o povo centro-africano sofreu 6 golpes de Estado promovidos por interesses transnacionais que o levaram à anarquia. Os sucessivos presidentes centro-africanos David Dacko, Bokassa I, André Kolingba, Ange F. Patasse, François Bozizé, Michel Djotodia, foram responsáveis conjuntamente com a França pelo desastre. Na opinião do famoso investigador Olivier A. Ndenkop, «a mão da França, potência colonizadora, foi sempre vista ou anunciada por detrás dos vários golpes de estado” (4).

No seu trabalho mais recente intitulado «As razões ocultas da intervenção francesa», Ndenkop assegura que a França sempre manteve interesses na República Centro-Africana. « (a França) Hoje em dia controla a economia centro-africana. Bolloré tem o monopólio da logística e do transporte fluvial. Castel reina sobre o mundo do mercado das bebidas e do açúcar. CFAO controla o comércio de veículos. A partir de 2007, a France Telecom entrou no baile. AREVA está presente na África Central embora, oficialmente, o gigante nuclear esteja apenas na fase de exploração. TOTAL reforça a sua hegemonia no armazenamento e na comercialização de petróleo.»

Ndenkop revela que a 4 de Dezembro de 2013, enquanto as tropas francesas se preparavam para tomar a direcção de Bangui, o ministro francês da economia, Pierre Moscovici, estava reunido com ministros, chefes de estado e com mais de 560 empresários franceses e africanos para tratar de salvar a posição da França na África.

Mas a pergunta crucial que muitos fazem — Porque procura a França por meio da guerra o que sempre conseguiu numa paz relativa? Para o investigador Olivier A. Ndenkop a resposta é: a China, a verdadeira ameaça para o Eliseu.

Desde que a China fez a sua entrada crucial na África em busca da matérias-primas, fundamentalmente hidrocarbonetos, uma espécie de feitiço conjurado pela França fez com que se atiçassem todos os conflitos étnicos e religiosos nesse e noutros países do continente para derrubar os governos que se aliaram ao gigante asiático. A maior parte dos investimentos estrangeiros concentraram-se na Nigéria, África do Sul, Sudão, Argélia, Zâmbia, Gana, República Democrática do Congo e Etiópia (5).
Ndenkop afirma que «François Bozizé, que teve o tempo de se fazer eleger presidente em 2005, não resistiu às propostas da China, que multiplicou as ajudas e aumentou os seus investimentos em todo o continente com menos condicionamentos. O que contrasta com a arrogância e o paternalismo dos “sócios tradicionais” da África»

Em Março de 2013, o deposto presidente François Bozizé revelaria à Rádio França Internacional o que muitos desconfiavam «Dei o petróleo aos chineses e isso tornou-se um problema (…) derrubaram-me por culpa do petróleo».

*Analista Internacional
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