por Eric Draitser
A situação na Ucrânia evolui hora a hora. Ultra-nacionalistas de direita e seus colaboradores "liberais" tomaram o controle do Rada (parlamento ucraniano) e depuseram o democraticamente eleito, embora absolutamente corrupto e incompetente, presidente Yanukovich.
A antiga primeiro-ministro, e criminosa condenada, Yulia Tymoshenko foi libertada e agora está a fazer causa comum com o Sector Direita, o Svoboda e outros elementos fascistas, ao passo que líderes nominais da oposição tais como Arseny Yatsenyuk e Vitali Klitschko começam a desvanecer-se. Em Moscovo, o presidente russo Vladimir Putin certamente observa com ansiedade. Em Washington, Victoria Nuland e a administração Obama rejubilam. Contudo, talvez o desenvolvimento mais crítico de tudo isto esteja prestes a emergir na Europa, quando as forças do capital financeiro ocidentais se preparam para saudar a Ucrânia no seu seio. Eles darão à luz as habituais prendas neoliberais: austeridade e "liberalização econômica". Com o derrube do governo Yanukovich, os US$15 mil milhões da prometida assistência financeira russa à Ucrânia ficam em dúvida. Segundo a agência de classificação Moody's, "só em 2014 a Ucrânia exigirá US$24 mil milhões para cobrir um défice orçamental, reembolsos de dívida, contas de gás natural e pensões apenas". Sem a contínua compra de títulos por Moscovo e outras formas de ajuda financeira, em com forças pró UE tomando o controle do país e da política externa, não é difícil prever o resultado: um pacote de resgate da Europa com todas as habituais condições de austeridade impostas. Em troca de "ajuda" europeia, a Ucrânia será forçada a aceitar a redução de salários, cortes significativos no sector público e serviços sociais, além de aumentos em impostos sobre a classe trabalhadora e cortes de pensões. Além disso, o país será obrigado a concordar com um programa de liberalização que permitirá à Europa inundar de mercadorias o mercado ucraniano, com a desregulamentação e nova abertura do sector financeiro do país à especulação predatória e à privatização. Não é preciso ser adivinho para prever estes desenvolvimentos. Basta simplesmente olhar para a onda de austeridade em países europeus como a Grécia e Chipre. Além disso, países do Leste Europeu com condições econômicas e históricas semelhantes à Ucrânia – Letônia e Eslovênia, especificamente – proporcionar um roteiro daquilo que a Ucrânia deveria esperar. O modelo do "êxito" Quando a liderança pró UE da Ucrânia sob Tymoshenko & Co. (e a direita fascista) começar a olhar o futuro, ela imediatamente olhará para a Europa a fim de tratar as preocupações econômicas mais prementes. O povo ucraniano contudo faria bem em examinar o antecedente da Letônia para entender o que lhe está reservado. Como escreveram em 2012 o renomados economistas Michael Hudson e Jeffrey Sommers: O que permitiu à Lituânia sobreviver à crise foram salvamentos da UE e do FMI... Elites aparte, muitos emigraram... Demógrafos estimam que 200 mil abandonaram o país na década passada – aproximadamente 10 por cento da população... A Lituânia experimentou os efeitos plenos da austeridade e do neoliberalismo. As taxas de natalidade caíram durante a crise – como é o caso em quase toda a parte onde são impostos programas de austeridade. Ela continua a ter as mais altas taxas da Europa de suicídio e mortes na estrada provocadas pela condução em estado da ebriedade. O crime violento é elevado devido, confirmadamente, ao desemprego prolongado e a cortes no orçamento da polícia. Além disso, uma crescente drenagem de cérebros anda a par com a emigração dos colarinhos azuis. O mito da prosperidade que se segue à integração e salvamentos da UE é apenas isso, um mito. A realidade é dor e sofrimento numa escala muito maior do que a pobreza e o desemprego que a Ucrânia, especialmente na parte ocidental do país, já experimentou. O mais bem educados, aqueles mais aptos a assumir a liderança, fugirão em massa. Os líderes que permanecem no país encherão os seus bolsos e insinuar-se-ão junto a financeiros europeus e americanos que afluirão à Ucrânia como abutres para a carniça. Em suma, a corrupção e má administração do governo Yanukovich parecerão uma memória agradável. A "liberalização" que a Europa exige criará lucros maciços para especuladores, mas muito poucos empregos para o povo trabalhador. A melhor terra será vendida a corporações estrangeiras e especuladores de terra, enquanto os recursos, incluindo o altamente conceituado sector agrícola, serão despojados e vendidos no mercado mundial, deixando agricultores e habitantes das cidades irmanados na pobreza abjeta, com os seus filhos a irem para a cama com fome. Isto será o "êxito" da Ucrânia. É de estremecer pensar com o que se pareceria o fracasso. Na Eslovênia, outro país da Europa do Leste que experimentou o "êxito" aspirado pela Europa, a ditadura econômica de Bruxelas devastou o povo trabalhador do país e suas instituições. A Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (OCDE) emitiu o seu relatório de 2012 no qual recomendou que, como primeiro passo, a Eslovênia atue para "ajudar o sector bancário a se por de pé outra vez", acrescentando que, "medidas adicionais e radicais são necessárias tão logo quanto possível". Além disso, a OCDE recomendou a privatização completa de bancos e outros grandes firmas da Eslovênia, apesar de prever uma contração superior a 2% da sua economia. Em termos simples, a Europa recomenda que a Eslovênia se sacrifique e sacrifique o seu povo para as forças do capital financeiro internacional, nada menos. Tal é o custo da "integração" europeia. A Ucrânia está a ser submetida a uma transformação da pior espécie. Suas instituições políticas foram atropeladas por uma variegada coleção de liberais ilusórios, políticos ardilosos em fatos de bom corte e extremistas nazis. O tecido social está a dilacerar pelas costuras, com cada região à procura de uma solução local para os problemas do que costumava ser a sua nação. E, em meio a isto tudo, o espectro de financeiros em busca de lucro com sinais de dólar nos olhos é tudo o que o povo ucraniano pode esperar.
25/Fevereiro/2014
O original encontra-se em stopimperialism.org/articles/ukraines-sickness-europes-cure/ Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
Comitê de solidariedade a luta do povo palestino - RJ, Comitê catarinense de solidariedade ao povo palestino
segunda-feira, 3 de março de 2014
A doença da Ucrânia... e a cura europeia
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