sábado, 16 de fevereiro de 2013

FIASCO NA SÍRIA: Não há responsável em Washington



Na hora da sua retirada, a secretária de Estado Hillary Clinton defendeu o seu trabalho numa entrevista dada ao New York Times. [1]. Circunstancialmente, ela acrescentou em «off» algumas confidencias aos jornalistas que as introduziram num artigo em separado. [2].
Preocupada em conservar as suas “chances” para a eleição presidencial de 2016, ela esforçou-se em atirar a responsabilidade do seu falhanço na Síria sobre o presidente Barack Obama. Na esteira de dois anos de guerra secreta, os grupos armados encarregados de justificar uma intervenção da OTAN, depois incapazes de derrubar o regime por si mesmos, perderam a sua aura de «revolucionários» para aparecer como simples fanáticos. Vivo e dirigindo seu país, o presidente Bachar El Assad é um problema mais do que nunca incontornável. A diplomacia dos E.U. que anunciava a cada semana a «queda do tirano» saiu ridicularizada, enquanto a Rússia e a China, que a bateram por três vezes com os seus vetos, saíram como os grandes vencedores.
Tudo isto deriva, segundo a secretária de Estado cessante, de não a terem escutado devidamente. Com o seu antigo inimigo, tornado entretanto seu aliado, o director da CIA David Petraeus, ela tinha submetido à Casa-Branca, em fins de Junho de 2012, um plano de apoio militar aos grupos combatentes. Mas o presidente Obama, preocupado apenas com a sua reeleição, infelizmente rejeitou-o em proveito do Protocolo de Genebra negociado por Kofi Annan.
Ter-se-ia tratado de retomar as coisas em mão já que estavam mal orientadas pela França, pelo Reino-Unido e pelos Estados do Golfo. Estes, ainda por cima, apoiados em repulsivos jihadistas. Pelo contrário, a secretária de Estado trabalharia para «criar uma oposição legitima que teria servido, através de negociações, para deslegitimar o presidente el-Assad». Afim de reparar os erros dos outros (França, R. Unido e C.C.Golfo - NdT), ela teria pois proposto que os Estados-Unidos armassem e enquadrassem directamente os grupos combatentes.
Durante a sua audição pela Comissão das Forças armadas do Senado, o chefe de Estado-maior Martin Dempsey confirmou a existência deste plano. Ele acrescentou que o secretário da Defesa Leon Panetta e ele próprio apoiavam tal plano.
A verdade é menos poética. Partindo do princípio que ela trabalhou para derrubar o regime criando para tal «uma oposição legítima», quer dizer «democrática e multi-confessional», a Sra Clinton admite que tal oposição não existia e nem nunca chegou a existir até aos dias de hoje. Mais, ela admite que a legitimidade estava e permanece do lado do presidente el-Assad.
Tornando público que ela apresentou um plano de intervenção ao presidente Obama em Junho, ela admite que sempre se opôs ao Protocolo de Genebra. E tudo leva a crer que foi realmente ela e David Petraeus quem o sabotaram na altura. Contrariamente ao que ela declara, as preocupações eleitorais de Barack Obama não o pressionaram a rejeitar o plano, mas sim a não sancionar imediatamente os que sabotaram o Protocolo anunciado pelo comunicado de Genebra. A Casa-Branca esperou, pois, pelo dia seguinte à vitoria eleitoral para forçar o general Petraeus à demissão. Talvez também tenha (a Casa-Branca, NdT) tomado a iniciativa que se impunha para neutralizar Hillary Clinton e a manter um longo mês longe do seu gabinete.
As revelações do general Dempsey a propósito do seu apoio e do de Léon Panetta visam, também, esconder isto atrás de um biombo. Entretanto, como as responsabilidades são diferentes, eles agem de maneira diferente também. Para eles, declarar que estavam prontos a intervir mostra que não falharam e portanto não têm nenhuma responsabilidade no fiasco. Na realidade, foram eles quem, após os vetos russos e chineses, validaram a análise segundo a qual se podia derrubar o regime sírio utilizando para tal os «contras» em grande escala.
 Postado do http://www.voltairenet.org

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