O papel conivente dos mídia na propaganda de guerraNão seremos enganados outra vez?por David EdwardsQuando se lê acerca de crimes de estado ao longo de muitos anos, é tentador tentar compreender a mentalidade dos líderes políticos. O que se passa realmente nas suas cabeças quando ordenam sanções que matam centenas de milhares de crianças? O que estará nos seus corações quando travam guerras desnecessárias que estilhaçam milhões de vidas? Serão eles desesperadoramente cruéis, descuidadamente estúpidos? Imaginam eles que estão a viver numa espécie de inferno onde atos monstruosos têm de ser cometidos para evitar resultados ainda piores? Serão eles indiferentes, centrados nos seus ganhos políticos e econômicos a curto prazo? Serão eles moralmente resignados, sentindo-se como essencialmente impotentes face a forças políticas e econômicas invencíveis ("Se eu não fizer isto, algum outro o faria".)? Perguntas semelhantes vêm à mente quando os governos dos EUA e Reino Unidos, mais uma vez, levantam o espectro de "armas de destruição em massa" (WMD) para demonizar um alvo para a "mudança de regime", desta vez na Síria. O que realmente se passa nas mentes de pessoas que sabem exatamente que a mesma trama foi denunciada como uma fraude cínica há apenas uns poucos anos atrás? Será que vêm o público com desprezo? Estarão a rir-se de nós? Estarão a jogar a única carta que consideram disponível para eles; uma carta que sabem que funcionará de modo imperfeito mas que tem de ser jogada? Nos EUA, a NBC comentou:
O observador dos meios de comunicação estado-unidenses Fairness and Accuracy in Reporting (FAIR) perguntou : "Então de onde vem esta nova informação?" A resposta familiar e agourenta: "De responsáveis anônimos do governo a falarem para jornais como o New York Times ". Isto, por exemplo:
A FAIR comentou:
Assim é, na verdade. Em 26 de Maio de 2004, o New York Times publicou um humilde mea culpa intitulado: "The Times and Iraq". Os editores comentaram então:
Em consequência, o jornal publicou uma "Política de fontes confidenciais de notícias" , a qual incluía:
Evidentemente, tudo isto foi esquecido.
As mesmas afirmações acerca de WMD sírias foram também despejada nas mídias do Reino Unido. Um artigo principal em 5 de Dezembro em The Times intitulava-se: "O arsenal de Assad". A primeira linha do editorial:
Como sempre, os editores de Rupert Murdoch – e, sem dúvida, o patrão espreita sobre os seus ombros – lamentosamente declaravam que a "intervenção" militar ocidental pode vir a ser a única resposta: "também devemos esperar que os EUA e seus aliados tomariam qualquer ação que fosse considerada necessária para impedir o desastre humano e moral que seria causado pelo regime sírio ao tentar a sua saída final numa nuvem de gás mostarda".
A guerra, para o Ocidente, agora é tão normal quanto o ar que respiramos. Obviamente é a tarefa do Ocidente, com o seu historial ensopado em sangue, salvar os povos do mundo de tiranias que acontece estarem a obstruir seus objetivos estratégicos. Em Novembro de 2002, quando a guerra se avizinhava do Iraque, The Times relatava:
Em 2010, The Times publicou a afirmação de que o Irão pretendia desenvolver um "disparador" para uma arma nuclear. O jornalista de investigação Gareth Porter informou :
O especialista em contra-terrorismo Porter, comentou Philip Giraldi, tinha em mente:
Em Abril de 2011, The Times relatou da Líbia:
Não importa, The Times ainda pode ver uma "intervenção" estilo Líbia na Síria. The Guardian relata esta semana:
O governo do Reino Unido está a planejar combater com "rebeldes" apesar da prova clara de crimes de guerra e do envolvimento de numerosos mercenários estrangeiros armados e financiados por tiranos regionais. O governo sírio também é acusado de crimes espantosos .
Depósitos enferrujados de destruição em massa – Os especialistas da fantasia No Guardian, Matt Williams e Martin Chulov usaram linguagem dramática para relatar afirmações de que "o regime [sírio] está a considerar o desencadeamento de armas químicas sobre forças da oposição". O artigo do Guardian citava a CNN, a qual por sua vez citava "um responsável anónimo como a fonte da sua reportagem". Williams e Chulov não exprimiram nem uma palavra de cepticismo na sua peça jornalística, acrescentando uma negação do carácter "equilibrado" do muito demonizado "regime" sírio. Um artigo da BBC fez esta referência ao cepticismo:
Para seu crédito, Jonathan Marcus da BBC actuou melhor:
Apesar da cautela, Marcus promoveu a ideia de que ADMs sírias podem cair nas mãos "erradas" e que os EUA podem precisar intervir para impedir que isto aconteça.
No Independent, Robert Fisk foi muito mais longe, escarnecendo de tais afirmações:
Fisk acrescentou: "durante a semana passada, todos os habituais pseudo-peritos que não conseguem encontrar a Síria num mapa estiveram a advertir-nos outra vez do gás de mostarda, dos agentes químicos, dos agentes biológicos que a Síria pode possuir – e pode utilizar. E as fontes? Os mesmos especialistas da fantasia que não nos advertiram acerca do 11/Set mas que em 2003 insistiram em que Saddam tinha armas de destruição em massa: "fontes de inteligência militar não nomeadas" ... E, sim, Bashar provavelmente tem alguns produtos químicos em latas a enferrujarem algures na Síria".
Se correcto, as "latas ferrugentas" de Fisk tornam asneira a "considerável pressão" sobre "os EUA produzirem planos para garantir as armas sírias em caso de colapso do regime" descrito por Marcus. Alex Thomson do Channel 4 News escreveu uma peça excelente intitulada: "Síria, uma arma de engano em massa?"
Thomson apresentou um exemplo de pensamento racional raro nos media de referência:
Ele observou que "a história construída sobre o nada [tem sido] aceite como um facto global quando não há nada do género" e apresenta o ponto óbvio:
Portanto, em meio à enxurrada padrão de propaganda, um pequeno número de jornalistas aprendeu com o passado e está disposto a desafiar afirmações oficiais. Mas não deveríamos iludir-nos com estes admiráveis mas raros exemplos de discordância. A maioria esmagadora dos relatos dos media corporativos – nomeadamente os noticiários da TV que atingem milhões de pessoas – reflectem as afirmações do governo "imparcialmente", isto é, sem o mínimo sinal de pensamento independente ou comentário crítico. Os melhores jornalistas rejeitam uma tal versão obviamente comprometida de "profissionalismo" – mas são muito poucos
12/Dezembro/2012
O original encontra-se em www.medialens.org/... Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
Comitê de solidariedade a luta do povo palestino - RJ, Comitê catarinense de solidariedade ao povo palestino
sábado, 15 de dezembro de 2012
O golpe da "ameaça" síria com WMDs ( Armas de Destruição em Massa)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário