Da geopolítica do petróleo para a do gás
Por Imad Fawzi Shueibi
Imad Fawzi Shueibi: geopolítico e filósofo. Presidente do centro de documentação e estudos estratégicos de Damasco - Síria.
A agressão
midiática e militar contra Síria está
diretamente relacionada com a concorrência global pelos recursos energéticos,
explica o Professor Imad Shuebi no magistral
artigo que apresentamos hoje.
Nesse
exato momento em que assistindo ao colapso da zona do euro, e que uma grave
crise econômica levou os Estados Unidos a acumular uma dívida superior a 14.940 bilhões de dólares; no momento em que a influência americana
declina em contraste com os países emergentes que conformam o Brics, se faz
evidente que a chave para o exito
econômico e o predomínio político reside principalmente no controle da energia do século XXI: o gás. A Síria tornou-se alvo justamente por estar no meio do mais importante reservatório de gás do planeta. O petróleo foi a causa das guerras do século XX. Hoje estamos vivendo o surgimento de uma nova era: a da guerras do gás.
Após a
queda da União Soviética, ficou claro para
os russos que a corrida armamentista havia
lhes prejudicado em demasia , sobretudo no campo energético, onde faltou a energia necessária ao processo de modernização industrial do país. Os Estados Unidos, por
outro lado, tinham conseguido se desenvolver e impor, sem muitas dificuldades, sua política internacional nesta área graças a sua presença por décadas nas áreas de petróleo. Os russos decidiram, em seguida, posicionar-se
nas fontes de energia, tanto nas que
produzem petróleo, como nas empresas de
produção de gás. Considerando que, devido à sua distribuição internacional, o
setor de petróleo não oferecia boas perspectivas, Moscou apostou pelo gás , por sua produção, seu transporte e sua
comercialização em larga escala. Tudo começou em 1995, quando Vladimir Putin
traçou a estratégia da Gazprom: partindo desde as áreas de produção de gás da Rússia até
Azerbaidjão, Turcomenistão, Irã (para comercialização), até o Oriente Médio. A
verdade é que os projetos North Stream
e South Stream demonstraram os esforços de Vladimir Putin e seu governo de situar a Rússia na arena internacional na área energética, que já desempenha um papel importante na economia européia, que, durante as próximas
décadas, dependerá do gás como
alternativa ao petróleo ou como complemento deste, quando deu prioridade ao
gás, em
detrimento do petróleo.
A partir desse contexto, era urgente para Washington
implementar seu próprio projeto: Nabbuco , uma estratégia que
concorria com a dos russos e
que jogava para desempenhar um papel decisivo na determinação da estratégia e
política energética para os próximos 100 anos.
Fato é que o gás será a principal fonte de energia do século XXI, uma
alternativa diante da redução das reservas mundiais de petróleo e, ao mesmo
tempo, uma fonte de energia limpa.O controle das zonas gasíferos no mundo disputado entre as antigas potências e as emergentes é o elemento que dá origem a um
conflito internacional com manifestações de caráter regional.
É evidente que a Rússia aprendeu com as lições do
passado, pelo menos no que se refere aquilo que, do ponto de vista da economia, contribuiu para o colapso
da União Soviética , que foi, precisamente,
a falta de controle dos recursos de energia indispensáveis para o
desenvolvimento da estrutura industrial.
A Rússia compreendeu que o gás
está destinado a ser a fonte de energia do próximo século.
A historia da “partida de xadrez” do gás
Vladimir Putin y Alexei Miller, presidente de Gazprom.
Um primeiro olhar para o mapa do gás revela que este
recurso está localizado nas seguintes regiões, o mapa diz respeito tanto à
situação dos depósitos como ao acesso as áreas de consumo:
1. Rússia: Vyborg e Beregvya
2. Anexo a Rússia: Turcomenistão
3. Nos arredores mais ou menos imediatos da Rússia: Azerbaidjão e Irã
4. Ex influência da Rússia: Geórgia
5. Mediterrâneo Oriental: Síria e Líbano
6. Catar e Egito.
1. Rússia: Vyborg e Beregvya
2. Anexo a Rússia: Turcomenistão
3. Nos arredores mais ou menos imediatos da Rússia: Azerbaidjão e Irã
4. Ex influência da Rússia: Geórgia
5. Mediterrâneo Oriental: Síria e Líbano
6. Catar e Egito.
Moscou trabalhou rapidamente sobre dois eixos: o
primeiro foi a criação de um projeto sino-russo de longo prazo, com bases no
crescimento econômico do Bloco de Shangai; o segundo foi garantir o
controle das reservas de gás. Com este desenho, foram assentadas as bases
dos projetos North Stream e
South Stream
que se confronta com o projeto americano Nabucco, projeto apoiado pela União
Europeia, com vistas ao gás do mar Negro e do Azerbaidjão. Uma corrida
estratégica para o controle das
reservas de gás se estabeleceu entre os dois projetos distintos.
Os Projetos da Rússia:
O projeto North Stream conecta diretamente a Rússia com a Alemanha através do mar Báltico, até Weinberg e Sassnitz, sem passar pela Bielorússia. O projeto South Stream começa na Rússia, atravessa o mar Negro até a Bulgária e se divide passando pela Grécia e pelo Sul da Itália, por um lado, e pela Hungria e a Áustria, por outro lado.
O projeto dos Estados Unidos:
O projeto Nabucco parte da Ásia Central e dos arredores do mar Negro, passando através da Turquia - onde situa-se a infra-estrutura de armazenamento - , e corta a Bulgária, passa pela Roménia, Hungria e chega até a Áustria, de onde é direcionado para a República Checa, Croácia, Eslovênia e Itália. Originalmente, deveria passar pela Grécia, idéia que foi abandonada devido à pressão da Turquia.
Por suposição, "Nabucco" deveria ser o
concorrente para os projetos dos russos. Nabucco estava previsto para 2014, mas
diversos problemas técnicos provocaram seu adiamento até 2017. A partir desse
adiamento, o projeto Russo começou a ganhar
a batalha pelo gás, mas cada
parte trata sempre de estender
seu próprio projeto para novas áreas.
Isso tem haver, por um lado com o gás iraniano,
que os Estados Unidos pretendia incorporar ao projeto Nabucco conectando-o ao ponto de
armazenamento de Erzurum, na
Turquia. E, também, com o gás vindo do Mediterrâneo Oriental, ou seja, Síria,
Líbano e Israel.
Em julho de 2011, Iran firmou vários acordos
para o transporte do seu gás através do Iraque e da Síria. Por conseguinte,
Síria tornou-se o principal centro de armazenagem e de produção, vinculado,
também, com as reservas do Líbano. Se
abre assim um espaço geográfico, estratégico e
energético completamente novo, que abarca Iran, Iraque, Síria e o
Líbano.
Os obstáculos
que esse novo projeto (Nabucco) enfrenta, há mais
de um ano, dão uma idéia do grau de intensidade na luta que o império está
travando pelo controle da Síria e do
Líbano. Ao mesmo tempo, esclarece o papel da França, que considera o
Mediterrâneo Oriental sua própria zona
de influência histórica, por conseguinte,
destinada a satisfazer os interesses franceses, logo, isso justifica
precisamente, recuperar o terreno perdido desde II Guerra Mundial. Em outras
palavras, a França pretende desempenhar um papel importante no mundo do gás, para isto já adquiriu um tipo de “seguro saúde”, com a Líbia, agora, pretende obter um «seguros de vida» que somente as riquezas da Síria e do
Líbano podem proporcionar. Turquia, por seu lado, se sente excluída desta
guerra do gás devido ao atraso do projeto Nabucco e porque não tem nada a ver com
os projetos South e North
Stream. O gás do Mediterrâneo Oriental parece lhe escapar
inexoravelmente a medida que se afasta do projecto Nabucco.
O Eixo Moscou-Berlim
Gerhard Schroeder e Alexei Miller. Em 30 de março de
2006, ex-chanceler alemão foi nomeado chefe da construção do North Stream.
Para realizar os dois projetos, Moscou
criou a empresa Gazprom, em 1990. Alemanha, ansiosa por se livrar de uma vez por todas das consequências
da Segunda Guerra
Mundial , se preparou para se juntar aos dois projetos, tanto em termos de
instalações e de revisão do gasoduto norte e as instalações de armazenamento do
duto de South Stream em sua área de influência,
principalmente na Áustria.
A empresa Gazprom foi fundada com a
colaboração de Hans-Joachim Gornig, um alemão conhecido em Moscou, ex-vice
presidente da Companhia alemã de Petróleo e gás industrial que supervisionou a
construção da rede de gasodutos RDA . Até outubro de 2011, o diretor da
Gazprom foi Vladimir Kotenev, ex-embaixador da Rússia na Alemanha.
Gazprom assinou diversas transações com empresas alemãs, em primeiro lugar com aquelas que cooperam com o projeto North Stream, como as gigantes E.ON, do setor de energia, e BASF, do setor da indústria química. No caso da E.ON, existem cláusulas que garantem tarifas preferenciais quando há alta dos preços. Isso significa uma espécie de subsídio “político” da Rússia às empresas de energia alemãs.
Gazprom assinou diversas transações com empresas alemãs, em primeiro lugar com aquelas que cooperam com o projeto North Stream, como as gigantes E.ON, do setor de energia, e BASF, do setor da indústria química. No caso da E.ON, existem cláusulas que garantem tarifas preferenciais quando há alta dos preços. Isso significa uma espécie de subsídio “político” da Rússia às empresas de energia alemãs.
Moscou aproveitou a liberalização dos
mercados europeus do gás para forçá-los a desconectar as rede de distribuição
das instalações de produção. Superados os
confrontos antigos entre a Rússia e Berlim , abriu-se uma fase de cooperação
econômica baseada em facilitar a enorme dívida que pesava sobre os ombros da
Alemanha, de uma Europa excessivamente
endividada pelo domínio americano. Se trata de uma Alemanha que
considera que o espaço germânico (Alemanha, Áustria, República Checa e Suíça)
está destinado a converter-se no centro da Europa, sem ter de suportar as
conseqüências do envelhecimento de todo o continente, ou da queda de outra
superpotência.
As
iniciativas alemãs de Gazprom empresa conjunta (joint venture) da Wingas com Wintershall, uma subsidiária da BASF, é a maior produtora de petróleo e gás da Alemanha e controla 18%
do mercado de gás. Gazprom outorgou aos seus principais parceiros alemãs participação em
seus ativos russos, nunca visto anteriormente. Assim, BASF e E.ON controlam cada
uma cerca de um quarto dos campos de
gás de Lujno-Rousskoie que alimentarão em grande parte o circuito
North Stream. Não será coincidência
se a equivalente alemã da Gazprom, chamado de "Gazprom a germânica"
chegar a ser proprietária de 40% da empresa austríaca Austrian Centrex Co,
especializada em armazenamento de gás e se destina a ampliar-se até Chipre.
Esta expansão não é certamente do agrado
da Turquia, país ansioso por sua
participação no projeto Nabucco . Participação que
consistiria em armazenar, comercializar
e transportar um volume de gás que chegaria a 31.000 milhões de metros cúbicos
de gás por ano, cifra que poderia crescer para 40.000 milhões ao ano, um projeto
que faz com que Ancara seja cada vez
mais dependente das decisões Washington e da OTAN , sobretudo tendo em conta as várias
recusas aos seus pedidos de adesão à União Européia.
Os vínculos estratégicos determinados pelo gás são cada vez mais decisivos na arena política : o lobby de Moscou junto ao Partido Social Democrata alemão, na Renânia do Norte-Westfália, onde há uma importante base industrial , centro do conglomerado alemão RWE, fornecedor de eletricidade e onde se situa uma subsidiária da E.ON
Hans-Joseph Fell, responsável pela
política de energia dos Verdes, reconheceu a existência dessa influência. Segundo ele, as 4 empresas alemãs
vinculadas à Rússia têm um papel importante na definição da política energética
alemã. Estas empresas
contam com a Comissão de Relações Econômicas da Europa Oriental, - isto é,
com empresas que mantêm contatos
econômicos muito próximo com a Rússia e com os países do antigo bloco soviético
- Comisão que dispõe , por sua vez, de
uma rede muito complexa de influências
sobre os ministros e a opinião pública. Na Alemanha, a discrição é a regra no que diz respeito à crescente influência
da Rússia, com base no princípio de que é altamente necessário melhorar a
"segurança energética" na Europa.
É interessante notar que a Alemanha
considera que a política da União Européia destinada a resolver a crise do euro
pode prejudicar os investimentos Germano-Russos . Esta razão, entre outras, explica a
relutância da Alemanha para o resgate do euro, moeda muito sobrecarregada pelas dívidas da Europa, apesar do bloco
germânico poder suportar essas dívidas. Além disso, sempre que os demais
países europeus se opõem à sua política
com a Rússia, a Alemanha declara que os planos utópicos da Europa não são
viáveis e que , inclusive,
poderiam levar a Rússia a vender seu gás na Ásia, o que colocaria em risco a
segurança energética da Europa.
Este casamento por interesses entre os Germânicos e os russos está enraizado no legado da Guerra Fria: 3 milhões de russos vivem atualmente na Alemanha, representando a maior comunidade estrangeira desse país, depois da comunidade turca. Putin também era favorável a utilização da rede de responsáveis da RDA, que favoreceu os interesses das empresas russas na Alemanha, sem mencionar o recrutamento de ex-agentes da Stassi, como diretores de pessoal e finanças da Gazprom Germania, assim como o diretor financeiro do Consórcio North Stream, Warnig Matthias , quem, segundo o Wall Street Journal , ajudou Putin recrutar espiões em Dresde, na época em que o próprio Putin era agente da KGB. É certo, no entanto, que o uso que a Rússia tem dado as suas antigas relações não tem sido prejudicial para a Alemanha, uma vez que os interesses de ambas as partes têm sido beneficiados sem favoritismo para qualquer lado.
O projeto North Stream , a principal ligação entre a Rússia e a Alemanha, foi inaugurado recentemente com um condutor que custou 4,700 milhões de euros. Apesar deste condutor ligar a Rússia com a Alemanha, dado o reconhecimento dos europeus do fato de este projeto garantir a segurança energética da Europa, França e Holanda foram forçados a declarar que era de fato um "projeto europeu" . É importante mencionar, nesse sentido que o Sr.. Lindner, diretor-executivo do Comitê Alemão das Relações Econômicas com os Países da Europa Oriental declarou, com toda a seriedade do mundo que se tratava realmente de "um projeto europeu e não de um projeto alemão e que [o projeto] não encerraria a Alemanha em maior dependência da Rússia”. Esta declaração ressalta a inquietação provocada pelo aumento da influência russa na Alemanha. A verdade é que o projeto North Stream é, pela sua estrutura, moscovita e não europeu.
Os russos podem paralisar a sua vontade a distribuição de energia na Polônia e em vários países , isso sem falar que terão todas as condições de vender o gás para a melhor oferta. No entanto, a Alemanha é de muita importância para a estratégia da Rússia, como plataforma que necessita para desenvolver sua estratégia continental, especialmente considerando que a Gazprom Germania participa de 25 projetos cruzados, em países como a Grã-Bretanha, Itália , Turquia, Hungria, entre outros. Isto nos leva a crer que a Gazprom está prestes a se tornar, em pouco tempo, uma das maiores empresas do mundo, se não se tornar a mais importante.
Um novo mapa da Europa e, em seguida, um novo mapa do mundo
Os gasodutos North Stream,
South Stream y Nabucco
Os dirigentes da Gazprom não só desenvolveram seu projeto, como também conseguiram conter o projeto Nabucco. Gazprom detém 30% do projeto
envolvendo a construção de uma segunda linha condutora de gás para o leste,
seguindo aproximadamente a mesma rota prevista do projeto Nabucco. Os próprios partidários
dessa segunda condutora confessam que
se trata de um projeto
"político" destinado a proporcionar uma demonstração de força ao
travar e até mesmo bloquear o projecto Nabucco. Moscou se esforçou , também,
por comprar gás da Ásia central e no mar Cáspio para enterrar este projeto e
ridicularizar Washington politicamente, economicamente e estrategicamente.
Gazprom está explorando instalações vinculadas ao gás
na Áustria, ou seja, no entorno estratégico da Alemanha, além de alugar
instalações na Grã-Bretanha e na França. São, no entanto, as importantes
estruturas de armazenamento na Áustria, que serão usadas para redesenhar o mapa energético de Europa, já que irão prover a Eslovênia, a Eslováquia, a Croácia, a Hungria, a Itália e a Alemanha. A essas
instalações deve ser adicionado o centro de armazenamento que Gazprom está
construindo em Katrina, com a cooperação da Alemanha, capacitando desta forma a exportação de gás para os principais
centros de consumo na Europa Ocidental.
A Gazprom criou uma instalação comum de armazenamento com Sérvia para fornecer gás à Bósnia-Herzegovina e a própria Sérvia. Também em curso, a realização de estudos de viabilidade sobre métodos de armazenamento semelhantes na República Checa, Roménia, Bélgica, Grã-Bretanha, Eslováquia, Turquia, Grécia e, inclusive, na França.
A Gazprom reforça a posição de Moscou, provedor de 41% do gás consumido na Europa. Isto representa uma mudança substancial nas relações entre o Oriente e o Ocidente, a curto, médio e longo prazo. Também indica um declínio da influência estadunidense, representada pelos escudos antimísseis, e se verifica o estabelecimento de uma nova organização internacional cujo pilar fundamental será a gás. Tudo isso explica a intensificação da luta pelo gás, desde a costa oriental do Mediterrâneo até o Oriente Médio.
Nabucco y Turquia em dificuldades
Carente
de fontes de abastecimento e sem clientes identificados, Nabuccos segue em atraso
Era de supor que Nabucco transportaria gás até a Áustria
através de 3 900 km do território turco e que estava projetado para
fornecer anualmente, para os mercados europeus, 31 000 milhões de m3 de gás
natural provenientes do Oriente Médio e da bacia do mar Cáspio. A difícil situação da coalizão OTAN/EUA/França para
eliminar os obstáculos aos seus interesses em matéria de abastecimento de gás
no Oriente Médio, principalmente na Síria e no Líbano, reside na necessidade de
assegurar a estabilidade e o consentimento do entorno quando se fala de
infra-estruturas e investimentos que requerem a indústria do gás. A resposta
Síria foi firmar contrato que autoriza a passagem do gás iraniano em seu
território, passando através do Iraque. A batalha é, portanto, centrada em
torno do gás sírio e libanês. Ele irá alimentar a Nabucco ou South Stream ??
O consórcio Nabucco
é
composto por várias empresas: a alemã REW, a austríaca OML, a turca Botas, a búlgara Energy Holding Company e a
romena Transgaz. Há 5 Anos, os custos
iniciais foram estimados em 11.200 milhões de dólares, mas até o ano 2017
poderia chegar a 21.400 milhões. Isso levanta inúmeras questões à sua
viabilidade econômica já que Gazprom tem contratos com vários países que
deveriam alimentar a Nabucco,
que já não pode contar com os excedentes do Turcomenistão, sobretudo após as
tentativas sem sucesso para capturar o gás iraniano. Esse último fator é um dos
segredos que são desconhecidos sobre a batalha por Irã, país que
ultrapassou a linha vermelha em seu
desafio aos Estados Unidos e Europa ao escolher o Iraque e a Síria como rotas
para o trajeto de uma parte de seu gás.
Assim, a maior esperança de Nabucco é o abastecimento com o gás do Azerbaijão e o reserva de Shah Deniz, convertido em quase a única fonte de aprovisionamento de um projeto que parece ter fracassado sem ter começado. Isso é o que se segue, por um lado, da aceleração da assinatura de contratos que Moscou concluiu para a compra de fontes inicialmente destinadas a Nabucco e das dificuldades surgidas, por outro lado, ao tratar de impor mudanças geopolíticas no Irã, Síria e Líbano. E tudo isto ocorre num momento em que a Turquia reclama sua participação no projeto Nabucco, quer seja mediante um contrato com o Azerbaijão para a compra de 6.000 milhões de m ³ de gás em 2017 ou através da anexação da Síria e do Líbano, com a esperança de impedir o trânsito do petróleo iraniano ou receber uma parte da riqueza gasífera do Líbano e da Síria. Parece que a possibilidade de ter um lugar na nova ordem mundial exige prestar certa quantidade de serviços, que vão do apoio militar até servir de base ao dispositivo estratégico do escudo antimisseis.
Talvez a principal ameaça para o Nabucco seja a tentativa russa de faze-lo
fracassar através da negociação de contratos mais vantajosos a favor da Gazprom
para North Stream
e South Stream,
que invalidaria os esforços dos Estados Unidos e da Europa, diminuiria a
influência de ambos e perturbaria a política energética dessas concorrentes no
Irã e/ou no Mediterrâneo. Além disso, Gazprom poderia tornar-se um dos
investidores ou operadores mais importantes das novas reservasde gás na Síria e
no Líbano. Não por acaso, em 16 de agosto de 2011, o Ministro de Petróleo da
Síria anunciou a descoberta de um poço de gás em Qara perto de Homs, cuja
capacidade seria de 400 000 m ³ por dia (146 milhões de m ³ por ano), para não
mencionar a importância do gás Mediterrâneo existente.
A participação da China
A Organização de Cooperação de Shangai, conformada por Russia, China, Kazajstán, Kirguistán, Tayikistán y
Uzbekistán
A cooperação sino-russo no campo energético é o motor da parceria estratégica entre os
dois gigantes. De acordo com especialistas, constitue, inclusive, "base" do duplo veto em defesa da Síria no Conselho de Segurança.
Esta
operação não tem que ver unicamente com
o abastecimento da China em condições preferenciais. China participa diretamente com a distribuição de gás,
através da aquisição de ativos e de
instalações, bem como em um projeto de controle conjunto das redes de
distribuição. Paralelamente, Moscou mostra sua flexibilidade nos preços do gás,
desde que tenha acesso ao ambicionado mercado interno chinês.Se tem garantido,
portanto, que os peritos russos e chineses trabalhem juntos nos seguintes campos: « Coordenação de estratégias energéticas, Previsão e
prospecção, Desenvolvimento dos
mercados, Eficiência energética e Fontes alternativas de energia».
Outros
interesses estratégicos comuns estão relacionados com os riscos que representa
o projeto americano de 'escudo antimísseis'. Washington tem envolvido não
apenas o Japão e Coréia do Sul, mas no início de setembro de 2011, convidou,
também, a Índia a aderir ao projeto.
Isto traz como conseqüência que as preocupações de ambos os países se cruzam no
momento que Washington trata de reativar sua estratégia na Ásia central ou em
seja na Rota da Seda
Essa estratégia é a mesma que George Bush havia
empreendido (o projeto da Grande Ásia Central) com vistas a contrariar, com a
colaboração da Turquia, a influência da
Rússia e da China, resolver a situação no Afeganistão até 2014 e impor a força militar da OTAN em toda região. O
Uzbequistão já sinalizou que poderia
acomodar a OTAN, e Vladimir Putin tem avaliado que o que poderia fazer fracassar as investidas do ocidente e
impedir que os Estados Unidos prejudique a Rússia seria a expansão do espaço
Russia-Kazajstán - Bielorrússia, em cooperação com Pequim.
O
panorama dos mecanismos da atual luta internacional dá idéia do processo existente de formação de uma nova ordem internacional, com
base na luta pela supremacia militar e cujo elemento central é a energia, com o gás em primeiro lugar.
O gás de Síria
A
«revolução siria» é uma encenação midiática que esconde a intervenção militar ocidental para a conquista do gás.
Quando Israel empreendeu a extração de petróleo e gás, a partir de 2009, ficou claro que a
bacia do Mediterrânea se havia somado
ao jogo e que haveria duas possibilidades: Síria seria alvo de um ataque ou toda a região viveria em paz, pois se supõe
que o século XXI seja o século da energia limpa.
De
acordo com o Washington Institute for Near East Policy (WINEP, Think-Tank do AIPAC), a bacia do Mediterrânea contém as maiores reservas
de gás e é, precisamente, na Síria onde
se localizam as mais importantes. Este mesmo Instituto também emitiu a hipótese
de que a batalha entre a Turquia e Chipre se
intensificará porque a Turquia não pode aceitar a perda do projecto Nabucco (apesar do contrato assinado com
Moscou em Dezembro de 2011 para o transporte de grande parte do gás de South
Stream através da Turquia).
A
revelação do segredo do gás sírio dá uma idéia da importância do que está
realmente em jogo. Quem tenha o controle da Síria poderá controlar o Médio
Oriente. E a partir da Síria, portão da Ásia, terá em suas mãos a chave da Rússia e, também, da China, através da
“Rota da Seda”, assim você poderá dominar o mundo neste século, já que é o
século do gás.
É esta a razão pela
qual os signatários do acordo de Damasco, que permite que o gás iraniano passe
pelo Iraque e chegue ao Mediterrâneo, criando um novo espaço geopolítico e
cortando a linha vital do Projeto Nabucco,
declararam na época que "A Síria é a
chave da nova era".
Artigos que tratam do mesmo tema na Red Voltaire:
«Suspende Estados Unidos sus planes de guerra convencional contra Damasco y Teherán», Red Voltaire, enero 2012.Fontes:
«¿Nueva guerra de Israel contra Líbano por el gas?», Alfredo Jalife-Rahme, Red Voltaire, 09 de agosto de 2010.
«La nueva importancia geopolítica de Lubmin», F. William Engdhal, Red Voltaire, 19 de septiembre de 2010.
«Cambio crucial en la geopolítica de oleoductos», M. K. Bhadrakumar, Red Voltaire, 08 de febrero de 2010
Original:La Syrie, centre de la guerre du gaz au Proche-OrientEn Español: Siria, centro de la guerra del gas en el Medio Oriente. por Imad Fawzi Shueibi |
Postado do sítio:http://ciaramc.org/ciar/boletines/cr_bol433.htm
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