quinta-feira, 7 de julho de 2016

Relatório sobre o terrível engajamento da Inglaterra na invasão e ocupação do Iraque ao lado dos EUA

Relatório Chilcot: o resumo desastroso da intervenção do Reino Unido no Iraque

mediaJohn Chilcot, presidente da comissão de investigação sobre o engajamento do Reino Unido na guerra do Iraque.AFP
Esperado há sete anos, o relatório de 12 volumes da comissão de investigação sobre o controverso engajamento do Reino Unido na guerra do Iraque em 2003 foi finalmente publicado nesta quarta-feira (6). As conclusões do documento, extremamente severas, criticam duramente a atuação do ex-primeiro-ministro Tony Blair e o papel dos serviços secretos britânicos.
Desde o início do relatório, o presidente da comissão, John Chilcot, descreve de forma devastadora a intervenção britânica no Iraque. Segundo ele, o governo decidiu entrar em guerra antes que todas as opções pacíficas fossem exploradas.
Chilcot é diplomata e ex-funcionário do ministério britânico para o Assuntos da Irlanda do Norte. A investigação e a elaboração do relatório começaram em 2009, quando as tropas britânicas se retiravam do Iraque. Os trabalhos foram autorizados pelo ex-primeiro ministro britânico Gordon Brown, depois da pressão das famílias dos soldados mortos na guerra.
O imenso documento, com 2,6 milhões de palavras, custou £ 10 milhões (cerca de R$ 43 milhões). Mais de 120 pessoas prestaram depoimento, entre eles, Blair, Brown, ministros e altos comandantes militares e dos serviços de inteligência do país. A investigação deveria durar um ano, mas foi estendida a sete, durante os quais faleceu um dos cinco integrantes da comissão de investigação.
Apoio incondicional aos EUA
A parte mais polêmica do documento é a que ele revela o apoio incondicional de Tony Blair a George Bush, presidente dos Estados Unidos na época da intervenção militar no Iraque. Em 28 de julho de 2002, oito meses antes da invasão do Iraque, o ex-premiê britânico escreveu em uma carta ao ex-chefe de Estado norte-americano: "Estamos com vocês, independentemente do que aconteça".
"Blair também não insistiu junto ao presidente Bush para obter garantias firmes sobre os planos americanos", sublinha o documento. Além disso, aponta o relatório, Blair envolveu seu país em uma atividade diplomática de tal comprometimento que teria sido "muito difícil para o Reino Unido retirar posteriormente seu apoio aos Estados Unidos".
Em um comunicado divulgado por Blair nesta quarta-feira, ele afirma ter agido "de boa fé" e em nome "dos interesses do país". "Tomamos uma boa decisão. Hoje o mundo está melhor e mais seguro", se defendeu.
Principais críticas
Entre as principais falhas da intervenção britânica no Iraque apontadas por Chilcot estão o fato do ditador iraquiano Saddam Hussein ter sido considerado uma ameaça em 2003, as consequências subestimadas da invasão do Iraque e a falha do governo britânico em cumprir seus objetivos.
"Em 2003, não havia nenhuma ameaça iminente de Saddam Hussein. Portanto, a estratégia de contenção poderia continuar por algum tempo", escreveu Chilcot. "Concluímos que o Reino Unido escolheu se juntar à invasão do Iraque antes que todas as opções pacíficas para um desarmamento fossem esgotadas. A intervenção militar não foi, portanto, o último recurso."
O relatório critica também o exército britânico por não ter fornecido suficientemente rápido equipamentos apropriados para proteger os soldados do país. "Constatamos que o ministério da Defesa foi lento para responder à ameaça representada por dispositivos explosivos improvisados e que os atrasos no fornecimento de veículos de patrulha blindados adequados não deveriam ter sido tolerados". No total, 179 soldados britânicos foram mortos no conflito durante os seis anos de participação do país na guerra, até 2009.
Outra reclamação é sobre a atuação dos serviços secretos do Reino Unido, que forneceram falsas informações e não verificaram suas fontes. "Está claro que a estratégia no Iraque foi concebida com base em informações e estimativas deficientes. Elas não foram criticadas, e deveriam ter sido".
Para Chilcot, a ameaça das armas de destruição de massa, apresentadas sob total certeza, também não foram justificadas. "Os responsáveis pela inteligência britânica deveriam ter apontado claramente a Blair que as informações não indicavam com certeza absoluta que o Iraque continuava a produzir armas químicas e biológicas, ou que os esforços para desenvolver armas nucleares continuavam", diz o documento.
Além disso, o presidente da comissão ressalta que os planos pós-Saddam se mostraram "completamente inadequados" quando os riscos já haviam sido identificados antes mesmo da invasão do Iraque. "O governo fracassou em levar em conta a dimensão da tarefa necessária para estabilizar, gerenciar e reconstruir o Iraque e as responsabilidades que recairiam sobre o Reino Unido", aponta Chilcot, reiterando que "o governo não estava preparado para o papel no qual o Reino Unido viu-se em abril de 2003. Muito do que aconteceu de mal se deu por esta falta de preparação".
“Reino Unido desrespeitou autoridade da UE”
Mesmo que o objetivo da comissão não seja estabelecer se a intervenção militar do Reino Unido no Iraque foi legal, Chilcot estima que a avaliação deste critério pelas autoridades britânicas não foi suficiente. Para ele, o país também desrespeitou a autoridade do Conselho de Segurança das Nações Unidas. "Apesar dos avisos, as consequências da invasão foram subestimadas", considera.
Na conclusão do relatório, Chilcot diz esperar que o documento dificulte, no futuro, "o engajamento em um conflito militar de tamanha importância e gravidade sem que antes se faça uma análise minuciosa dos riscos e, sobretudo, uma decisão política coletiva".
http://br.rfi.fr/europa/20160706-relatorio-chilcot-o-resumo-desastroso-da-intervencao-do-reino-unido-no-iraque

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