quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Amanhã será um grande dia (mesmo que nada aconteça!)

 Para começar, um rápido lembrete do que a máquina de propaganda anglo-saxônica anda a dizer (imagem):

Bem, então uma de duas coisas acontecerá amanhã:

Opção 1: nada acontece
Opção 2: alguma coisa acontece

Opção 1: Se nada acontecer, então, como Lavrov explicitou recentemente, a Administração Biden terá de declarar que "liderada pelos gloriosos e invencíveis EUA, e totalmente unido contra a agressão russa, o Ocidente dissuadiu Putin dos seus planos sanguinários". O problema com esta versão é que, considerando a abjecta e covarde fuga de todas as embaixadas e organizações ocidentais para Lvov ou mesmo para a UE, será difícil explicar como é que uma tal fuga em pânico "dissuadiu Putin". Só pessoas ignorantes e rematadamente estúpidas poderiam levar a sério esse tipo de disparate evidente.

A parte mais hilariante desta opção será que os Ukronazis TAMBÉM irão querer o título de "defensor da Civilização Branca Ocidental" e afirmarão que foram *os seus* gloriosos e invencíveis militares que dissuadiram Putin e salvaram a civilização ocidental das hordas asiáticas saqueadoras.

Quanto a Jens Stoltenberg (sempre com aparência constipada e aterrorizada), ele já declarou que o fim dos exercícios militares russos não prova nada: eles, os russos poderiam ter equipamento pré-posicionado perto da fronteira Ukie e que podem voltar num piscar de olhos. Sim, aquele imbecil ainda pensa que verá milhares de tanques russos a atravessar a fronteira como numa recriação histórica de uma famosa batalha de tanques do século XX...

Quanto aos gênios da CIA, provavelmente ainda estão a modelar se a temperatura amanhã vai congelar ou não (aparentemente, pensam que as condições meteorológicas Ukie podem limitar as operações dos tanques russos).

Portanto, se nada acontecer, o resultado final será vitória para a Rússia.

Opção 2: Se algo acontecer, o Ocidente irá culpar a Rússia, independentemente do que realmente tiver acontecido. Então a verborreia mudará para "liderada pelos gloriosos EUA, e totalmente unido contra a agressão russa, o Ocidente imporá sanções do inferno à Rússia e estará ao lado do povo heróico da Ucrânia". O menor problema aqui é que o Ocidente já impôs praticamente todas as sanções que podia e isso só fez prosperar a economia russa. O problema muito maior com essa opção será que isto arruinará a economia da UE, algo que os líderes americanos do Império não só desejam, mas de que precisam desesperadamente. Mas isso é também algo que terá um impacto verdadeiramente devastador na economia e atmosfera política da UE.

Aqui, mais uma vez, uma de duas coisas pode acontecer:

  • Opção 3: as LDNR mantêm a linha com um apoio russo mínimo (C4ISTAR) e talvez uma zona de interdição de voo (que a Rússia pode impor sem mover equipamento para as LDNR ou mesmo sem sair do espaço aéreo russo).

  • Opção 4: a provocação anglo-saxônica não deixa outra opção à Rússia senão a intervenção aberta.

Se a opção 3 acontecer, isto será um verdadeiro triunfo para a Rússia e um pesadelo tornado realidade para o Ocidente.

Será isto possível? Penso que sim, é (discuto isso  aqui).

No entanto, não podemos fazer tal suposição e precisamos examinar as consequências da opção 4.

Opção 4: se a Rússia for for forçada a intervir, então duas coisas acontecerão em simultâneo:

1. Os EUA e a OTAN terão tido êxito nos seus objectivos de forçar a Rússia a intervir e
2. O Ocidente recuará em terror quando vir o que os militares russos podem realmente fazer

Assim, se algo forçar a Rússia a intervir amanhã (ou no futuro), isto será um triunfo para os anglos, um desastre para a UE, e uma derrota política para a Rússia.

Para a Rússia, esta será uma vitória militar fácil, mas que terá um custo, incluindo:

  • Perdas militares e civis

  • A Rússia terá de pagar pela reconstrução de qualquer parte da Ucrânia que libertar

  • A Rússia terá de manter a lei e a ordem em qualquer parte da Ucrânia que libertar

  • A Rússia terá de alimentar, tratar e sustentar todos os civis Ukie que libertar

  • Os nazis em Kiev e os neocons em Washington DC terão uma grande oportunidade de culpar a Rússia de todas as suas crises (no plural)

  • Ao libertar x% da Ucrânia, a Rússia "colocará do outro lado da fronteira russa" muitos ucranianos anti-nazis que reduzirão o problema e uma ameaça potencial para os nazis em Kiev. A ideologia banderista atingirá um novo nível nas partes da Ucrânia que (por qualquer razão) a Rússia não tenha libertado

E, naturalmente, a UE também pagará custos muito reais, economicamente, com certeza (como pensa que os mercados reagirão a uma guerra real na Ucrânia?), mas também social e politicamente. Mas não há absolutamente nada que as "grandes geleias invertebradas supino protoplásmicas" da UE (para usar a expressão muito apropriada de BoJo) possam fazer acerca disso. Saberão que foram lixados, mas não serão capazes de fazer nada a esse respeito. As palavras que Putin dirigiu recentemente aos ucranianos ("não gostas? não gostas mesmo? bem, suporta a minha ousadia, suporta-a simplesmente!") poderiam muito bem ser dirigidas também à UE!

Afinal de contas, se os europeus não têm auto-respeito, porque é que alguém na Rússia lhes haveria de mostrar algum respeito?

Aqui está algo absolutamente crucial que temos de ter em mente, independentemente do que amanhã aconteça ou não:

O Ocidente *JÁ* PERDEU A UCRÂNIA!


Aquele "momento de Cabul" já aconteceu.

E aquela fuga vergonhosa já provou, para além de quaisquer dúvidas razoáveis, que:

  • 1. A Rússia é militarmente mais forte do que os EUA+NATO e todas as ameaças ocidentais são apenas isso, ameaças vazias. A "verdade real" é que os EUA e a OTAN temem os militares russos.

  • 2. Que ninguém combaterá pela Ucrânia e que todas as promessas que lhe foram feitas nas últimas três décadas pelo Ocidente foram tão falsas quanto todas as promessas feitas à Rússia nas mesmas três últimas décadas. O Império Anglo-sionista ficará na história como o "Império da hipocrisia e das mentiras".

  • 3. A OTAN é um tigre de papel cujo único objectivo é "manter os alemães em baixo e os ianques dentro", mas simplesmente não tem os meios para "manter os russos fora". Ainda bem que a Rússia não quer ter nada a ver com a UE. Que a UE "se divirta" com a imigração, a pobreza, as repressões do COVID, os protestos civis, etc, etc, etc.

  • 4. Os EUA querem impor ainda mais o seu domínio sobre a Europa, inclusive pela venda à UE de energia a preços imensamente inflacionados. Estão dispostos a incendiar a Ucrânia e a deixar a UE afundar numa espiral irrecuperável.

Os gigantes das TI dos EUA já estão a impor um bloqueio informativo sobre o Donbass e podemos ter a certeza de que os livres meios de comunicação social ocidentais irão imprimir exactamente o que lhe for dito para imprimirem. Assim, inicialmente, aqueles que ainda prestam atenção aos meios de propaganda ocidentais obterão uma imagem totalmente falsa do que está realmente a acontecer.

Mas esta é a era do smartphone e só por algum tempo os dominadores da Zona A poderão manter a sua grande muralha informativa, até a verdade vir à tona.

Foi fácil mentir sobre MH-17, os Skripals, Navalnyi ou Gouta. Mas em Cabul havia demasiadas pessoas na rua, e muitas delas tinham telemóveis com câmaras (mesmo as câmaras primitivas baratas eram suficientemente boas para a tarefa). E assim o gigantesco desastre americano em Cabul tornou-se famoso por todo o mundo.

Há ainda muitos mais telemóveis em Banderistão e nas LDNR, pelo que o Tio Shmuel não será capaz enfiar tudo debaixo do tapete e fingir que "está tudo bem, nós controlamos a situação".

Se/quando a provocação/ataque acontecer nas LDNR, será impossível parar o constante gotejamento de informação proveniente das LDNR e começarão a aparecer fissuras na propaganda do Ocidente. Isso, por sua vez, resultará em ainda mais denúncias, ameaças, acusações, mentiras e todo o resto do vômito verbal que os media de propaganda ocidentais têm produzido durante anos, séculos e mesmo milênios.

Finalmente, temos de assumir que todos os governos da UE/OTAN, incluindo o dos EUA, irão reprimir a dissidência e empenhar-se-ão numa campanha sistemática para reprimir e silenciar qualquer um que se atreva a desobedecer às suas ordens. As coisas ficarão cada vez mais feias, especialmente com hiperinflação e estagflação a atacar. Putin até advertiu acerca de motins por comida mas, claro, ninguém no Ocidente prestou atenção ao seu aviso (não ouvir nada do que Putin diz é considerado o auge da perspicácia política no Ocidente).

Uma advertência final: não podemos deixar a árvore esconder a floresta!

A Ucrânia não é, repito, NÃO, o que preocupa a Rússia. A Rússia quer uma nova ordem internacional, multipolar, que inclua uma nova arquitetura de segurança coletiva na Europa.

Portanto, aconteça o que acontecer, ou não acontecer, amanhã, esta será apenas uma data após a qual nenhuma das questões-chave estará resolvida (não, a Rússia não tem qualquer intenção de "resolver" o problema ucraniano por invasão, isso é um disparate total).

Assim, embora o prazo para uma provocação esteja algures entre "qualquer segundo a partir de agora, amanhã ou talvez dentro de alguns dias", o processo de reforma da arquitetura de segurança da Europa será muito mais longo, vários meses no mínimo, e será apimentado com mais erupções e crises (reais ou imaginadas).

Em conclusão, peço a todos os leitores e comentadores que NÃO cheguem a conclusões, realmente a quaisquer conclusões, amanhã ou nos próximos dois ou três dias. Primeiro, porque não terão acesso nem sequer à informação mínima necessária para chegar a quaisquer conclusões, segundo, porque serão proactivamente visados pelos PSYOPs ocidentais para impedir que as vossas mentes cheguem à Zona A e, terceiro, mesmo que amanhã haja uma batalha de algum tipo, informativa e/ou cinética, o jogo estará muito longe, do fim.

Só conseguiremos aceder com precisão ao que vai acontecer daqui a semanas, se não meses, pois na realidade só vemos os resultados, não os processos!

Vou terminar este post com uma nova piada russa. Duas notas rápidas para esclarecer o contexto:
Nota 1: os Ukies gostam de chamar os russos de "asiáticos" e, no léxico Ukronazi, a palavra "Buriat" significa "negro asiático da neve" ou algo semelhante.
Nota 2: o dia 23 de Fevereiro é o do "Defensor da Pátria" russa.

"Os oficiais da 810º Brigada de Infantaria Naval da frota do Mar Negro telefonaram a um restaurante no centro de Kiev e reservaram uma mesa para a noite de 23 de Fevereiro, mas foi-lhes dito que todas as mesas já haviam sido reservadas pelos oficiais da 5ª Brigada de Tanques de Buryatia! Os russos estão agora a protestar veementemente contra a forma como ucranianos tortuosos estão a tentar introduzir uma cunha entre a irmandade de camaradas russos e de Buriat! Quanto a todos os outros restaurantes de Kiev, já haviam sido reservados pelos soldados e oficiais da Divisão Aerotransportada de Pskov"!

Bem, isto é apenas uma *piada*. A minha fervorosa esperança é que a Rússia não seja obrigada a intervir. Deixem os ucranianos resolverem sozinhos os seus próprios problemas. O que devemos a eles é exactamente e absolutamente *nada* (além, claro, do compromisso que assumimos de não permitir um genocídio nas LDNR).

Finalmente, mais uma vez, insto a que verifiquem as últimas notícias de Andrei Martyanov:  a Rússia enviou tanto o Tu-22M3 como MiG-31K com mísseis hipersónicos Kinzhal à Síria, vejam por si próprios aqui:
https://smoothiex12.blogspot.com/2022/02/messaging.html

15/Fevereiro/2022

[*] Analista militar.

O original encontra-se em thesaker.is/tomorrow-will-be-a-big-day-even-if-nothing-happens/

Este artigo encontra-se em resistir.info

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