terça-feira, 22 de setembro de 2015

A intervenção militar da OTSC contra o ISIS chega ao Iraque e à Síria

A intervenção da OTSC contra o terrorismo no Iraque e na Síria pode constituir o início de uma ordem mundial fundada na cooperação e na defesa das populações civis ou, pelo contrário, de um período de enfrentamento Leste-Oeste com o Ocidente apoiando abertamente o terrorismo. Contrário  a crença generalizada, o objetivo da ação militar vai além da defesa do Iraque e da República Árabe Síria, mas  sobretudo a própria defesa dos  Estados-membros da OTSC. Por conseguinte, essa intervenção  não é negociável. Os debates na Assembleia Geral da Onu e no Conselho de Segurança  que se realizarão no dia 30 de setembro permitirão conhecer  a resposta de Washington e de seus aliados à iniciativa militar da OTSC. Seja como for, nada  mais será r como dantes.

Uma questão existencial para a OTSC

Recordemos que a OTSC é uma aliança militar clássica de seis antigos Estados membros da União Soviética: a Bielorússia, a Rússia, a Arménia, o Tajiquistão, o Cazaquistão, o Quirguistão. Ao contrário da Otan, e do que se passava no Pacto de Varsóvia, nos quais os Estados-membros perdem a sua soberania (em favor dos EUA e do Reino Unido na Otan, e da antiga URSS no Pacto de Varsóvia —o que viola a Carta das Nações Unidas—), os Estados membros da OTSC conservam a sua total soberania, não colocam os seus exércitos sob o comando da principal potência da sua aliança, e podem-se se dessolidarizar a qualquer momento desta aliança. O Azerbaijão, a Geórgia e o Usbequistão retiraram-se, assim, livremente desta organização para se virarem para o Guam e a Otan.
Desde os anos 80, —antes mesmo que existissem os Estados-membros da OTSC— os Estados Unidos e a Otan colocaram um sistema de mísseis, primeiro virado contra a URSS, que atualmente cerca a OTSC. Estes mísseis, supostamente capazes de conseguir destruir os mísseis intercontinentais inimigos na sua fase de lançamento, só podem, na realidade, destruir aeronaves operando a baixa velocidade, e de nenhum modo os mísseis hipersônicos russos. Apresentados pelo Pentágono como uma arma defensiva— o que seriam talvez na origem –, este «escudo anti-míssil» só pode, pois, ter uma utilização ofensiva. A OTSC é o único grupo de Estados no mundo a ser, assim, diretamente ameaçado por mísseis a si apontados, colocados à beira das suas fronteiras.
Desde a Segunda Guerra mundial, a URSS, depois os Estados-membros da OTSC, têm assistido ao recrutamento dos Irmãos Muçulmanos pela CIA, e ao emprego de alguns dos seus membros, ou antigos membros, pelos Estados Unidos para os desestabilizar [1]. Deste modo, os homens de Oussama Ben Laden (formado pelo irmão de Sayyid Qutb) e de Ayman al-Zaouahiri (o qual tinha aderido à Confraria um ano antes da prisão e execução de Sayyid Qutb) combateram a URSS no Afeganistão, depois a Rússia na Jugoslávia, e por fim sobre o seu próprio território, no Cáucaso [2].
Em 2011, os Estados-membros da OTSC assistiram a uma operação da Otan, a «Primavera Árabe», visando derrubar tanto os regimes inimigos como amigos no Médio-Oriente em proveito dos Irmãos Muçulmanos (Tunísia, Egito , Líbia, Síria). E, desde 2014, eles assistem ao triunfo do ideal da Irmandade Muçulmana, com a proclamação de um Califado colocando em causa tanto o direito internacional como os direitos humanos. Atualmente, este Califado confiou a maior parte dos seus cargos de chefia a islamitas vindos da antiga URSS, por vezes mesmo de países membros da OTSC.
A 1 de Agosto, a Ucrânia e a Turquia (membro da Otan) anunciaram a criação de uma «Brigada Islamista Internacional», formada de combatentes da al-Qaida e do Daesh, e estacionados em Kherson (na Ucrânia) [3]. Esta brigada propõe-se combater a Rússia na Crimeia.
Por outras palavras, salvo se agir já agora contra o terrorismo, a OTSC terá em breve que enfrentar, ao mesmo tempo, tanto um inimigo externo, a Otan e os seus mísseis, como um inimigo interno, os islamitas, desde o início preparados pela Otan.

A reunião da OTSC em Duchambé

A 15 de setembro, a OTSC realizou a reunião anual dos seus chefes de Estado em Duchambé (Tajiquistão). Tal como eu o havia anunciado há um mês [4], o presidente russo, Vladimir Putin, apresentou aos seus colegas as avaliações realizadas pelos seus exércitos sobre a possibilidade de combater, já agora, o califado, antes que ele se infiltre massivamente no território da OTSC.
O Presidente Putin tinha, previamente, conseguido convencer os seus parceiros que ele não pretendia envolvê-los no apoio a supostas ambições da Rússia na Síria, mas antes, sim, a responder a uma ameaça diretamente apontada contra a OTSC.
Em última análise, a OTSC decidiu intervir no Iraque e na Síria para lutar contra o conjunto dos jihadistas, quer eles afirmem apoiar o Daesh ou a al-Qaida. Esta operação é legal à luz do direito internacional, já que ela atende às resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas relativas à luta contra o terrorismo. Ela tem a mesma base legal da Coalizão formada pelos Estados Unidos unicamente contra o Daesh.
No entanto, ao contrário desta Coalizão, a OTSC mantêm boas relações, ao mesmo tempo, com os governos iraquiano e sírio, o que lhe permite pensar numa eficácia muito maior.
No marco dos preparativos para a intervenção militar da OTSC, um corredor aéreo foi instalado entre os países da  Organização e a Síria. Inicialmente previsto para passar sobre os Bálcãs, mas os aliados dos Estados Unidos opuseram-se ao corredor aéreo, à exceção da Grécia. Este corredor foi, pois, instalado no espaço aéreo do Irã e do Iraque. Em menos de uma semana enormes, e importantes quantidades de material e mais de 2 000 homens foram para lá transportados. Tecnicamente, a OTSC dispõe da capacidade para colocar até 50 000 homens em menos de duas semanas.

O fórum das Nações Unidas

Por preocupação com a eficácia, e sem condicionar a boa ou a má fé dos países ocidentais, os Chefes de Estado da OTSC preferiram intervir perante a Assembleia-geral da ONU (prevista para iniciar em 28 de setembro), afim de lançar um apelo à união de esforços da comunidade internacional contra o terrorismo.
Além disso, como a Rússia está na presidência do Conselho de Segurança da ONU, durante o mês de setembro, Vladimir Putin —que não visitava a sede da ONU há uma década— presidirá à sessão de 30 de setembro consagrada à luta contra o terrorismo no Iraque e na Síria.
No caso de se chegar um acordo entre a Coalizão, dirigida pelos EUA, e a OTSC, as forças de ambas poderiam realizar medidas conjuntas ou repartir as tarefas - a Coalizão atuaria no Iraque, enquanto a OTSC assumiria as operações na Síria. Em caso contrário, sem acordo, as duas organizações conduziriam campanhas separadas tratando cada uma de não se incomodar as operações da outra.
Do ponto de vista atlantista, (OTAN) a campanha da OTSC beneficiará a República Árabe Síria e garantirá o respeito ao mandato do presidente eleito pelos sírios, Bashar al-Assad, que a Otan desejava derrubar. No entanto, é falso pretender que esta intervenção foi concebida para salvar a Síria do Ocidente. Com efeito, durante a preparação da Conferência de Genebra, em Junho de 2012, o Presidente Putin cogitava a possibilidade de implantar a OTSC como força  de paz [5]. O General Hassan Tourekmani, na altura presidente do Conselho de Segurança Nacional Sírio, tinha tomado várias medidas para a acolher a ação militar, que não foi concretizada porque não havia ainda um acordo firmado a ONU [6], e, por outro lado, porque dois membros da OTSC não se sentiam então diretamente ameaçados pela situação na Síria.
Do ponto de vista da OTSC, a proposta apresentada aos Estados  Ocidentais irá forçá-los a clarificar a sua política. De fato, até à assinatura do acordo entre Washington e Teerã, a 14 de julho, a Coalizão encabeçada pelos EUA contra o Daesh, longe de lutar contra o terrorismo, lançou regularmente de para-quedas, e em grande escala, armas para os jihadistas. No entanto, no decurso das últimas semanas a Coalizão combateu efetivamente o Daesh. Assim, ela lançou, no final de julho, um bombardeio maciço em coordenação com o Exército Árabe Sírio e as suas milícias (o PYG kurdo e o Conselho militar Siriaco) para defender Hassake. Esta operação, que a Coalizão não publicizou, preferindo realizar discretamente, permitiu eliminar cerca de 3.000 jihadistas.
Além disso, a Casa Branca indicou já que estava receptiva «para as discussões táticas e práticas com os Russos». O Foreign Office (Ministério dos Estrangeiros Britânico- ndT) declarou não se opor mais a que «o presidente sírio permaneça no poder por um período de transição, se isto puder contribuir para resolver o conflito». Juntando-se ao movimento do trem em marcha, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros deu a entender que aceitaria deixar o presidente al-Assad terminar o mandato, que o seu povo lhe confiou, declarando: «Vamos dizer ao povo sírio que Bashar al-Assad ficará no poder executivo ao longo dos próximos quinze anos? Se dissermos isso, não há solução possível. Entre dizer isso e exigir a saída imediata de Bashar al-Assad há uma margem. Chama-se a isso diplomacia» [7].

Consequências da intervenção da OTSC

Contrariamente a uma falsa imagem espalhada pela imprensa atlantista, a luta contra o terrorismo no Iraque e na Síria não será um problema de décadas, mas de alguns meses contanto que todos os Estados retirem o seu apoio clandestino aos jihadistas.
Em caso de desacordo na ONU, a imprensa ocidental deverá cumprir o papel de denegrir a ação da OTSC enfatizando as vítimas civis. Com efeito, apesar de todas as precauções, não é possível bombardear os terroristas sem causar  os «danos colaterais».
No caso contrário, se houver um acordo na ONU,  jamais se deverá ouvir falar das vítimas civis e a guerra deverá estar acabada na Síria pela altura do Natal, ainda que seja necessário um ano para estabilizar  por completo a situação sobre o conjunto do território.
Elementos fundamentais : 
- A OTSC intervirá, a partir de outubro de 2015, ao mesmo tempo no Iraque e na Síria, contra os indivíduos classificados como «terroristas» pela ONU, ou seja a al-Qaeda (Frente al-Nusra), o Daesh, ou ISIS e todos os grupos vinculados ou aliados dessas organizações. 
- A OTSC não visa vir respaldar os governos do Iraque de Haïder al-Abadi ou da Síria, de Bachar el-Assad, mas defender-se da ameaça que os grupos jihadistas representam para os Estados-membros dessa aliança militar.
- Os jihadistas não estão à altura de resistir, durante muito tempo, a uma aliança militar internacional  deste monte, se ocorrer simultaneamente no Iraque e na Síria. 
- Os Estados Unidos, que realizaram secretamente uma  operação conjunta com o Exército Árabe Sírio em Hassake, estão dispostos a um acordo com a OTSC. Os seus aliados britânico e francês estão também dispostos a  renunciar a derrubar a República Árabe Síria.

[1] A Mosque in Munich. Nazis, the CIA and the rise of the Muslim Brotherhood in the West, Ian Johnson, Houghton Mifflin Harcourt, 2010. La edición francesa, titulada Une Mosquée à Munich. Les nazis, la CIA et la montée des frères musulmans en Occident, fue publicada en 2011 por la casa Albin Michel.
[2] La Hermandad Musulmana fue fundada por Hassan al-Bana, quien quería reinstaurar el califato después de la caída del Imperio Otomano. Los miembros de la Hermandad Musulmana presentan el islam simultáneamente como una religión y como un sistema político totalitario mientras que rechazan toda dimensión espiritual en su lectura del Corán. Sayyid Qutb desarrolló teorías sobre el uso de la violencia –la yihad– como medio de alcanzar el poder. Aunque, después de su muerte, la Hermandad Musulmana condenó oficialmente sus escritos, Sayyid Qutb sigue siendo el pensador de referencia en el seno de esa cofradía.
[3] «Ucrania Turquía crean una brigada musulmana internacional»,Red Voltaire, 3 de agosto de 2015. Para más detalles, ver «Ucrania y Turquía han creado una brigada internacional islámica contra Rusia», por Thierry Meyssan, Red Voltaire, 15 de agosto de 2015.
[4] «El ejército ruso comienza a implicarse contra el terrorismo en Siria», por Thierry Meyssan, Red Voltaire, 24 de agosto de 2015.
[5] «Siria: Vladimir Putin propone una Fuerza de Paz de la OTSC»,Red Voltaire, 3 de junio de 2012.
[6] «La OTSC podrá desplegar “chapkas azules” por mandato de la ONU»,Red Voltaire, 29 de septiembre de 2012.
[7] «Audition de Laurent Fabius au Sénat sur les minorités persécutées au Moyen-Orient», por Laurent Fabius, Réseau Voltaire, 9 de septiembre de 2015.

Tradução Alva




Thierry Meyssan anuncia la intervención de la OTSC en un programa de la televisión siria

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