Por Pepe Escobar
EUA: a mágica terrorcrática
A guerra ao terror inventada pelo governo Bush é
como um maná que não para de cair do céu – por vias não exatamente muito
misteriosas.
Na mesma semana da Assembleia Geral da ONU – em
que competiam discursadores como o presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad e o
primeiro-ministro de Israel Bibi Netanyahu – o governo dos EUA tira da lista dos
grupos terroristas o grupo anti-Irã, com base no Iraque, conhecido
como Mujahideen-e-Khalq (MEK).
Jamal Abdi, diretor de política do Conselho
Nacional Americano Iraniano [orig.National Iranian American Council
(NIAC)] não precisou de muitas palavras para explicar do que se trata:
“A decisão abre o caminho para que o Congresso
aprove envio de dinheiro ao MEK para promover novos ataques terroristas
no Irã e tornar muito mais provável a guerra contra o Irã. Além disso, a decisão
agride diretamente o movimento pacífico pró-democracia no Irã e destrói alguma
boa imagem dos EUA que ainda haja entre os iranianos comuns.” [1]
Segundo o jornal iraniano
pró-democracia Kaleme – dirigido pelo Movimento Verde – “não há
organização, nem partido, nem culto mais infame que o MEK, na opinião
pública da nação iraniana”. Indiscutível. Milhões de iranianos desprezam grupos
de fanáticos armados, do tipo MEK, especialmente porque foram aliados
de Saddam Hussein durante a guerra Irã-Iraque, de 1980 a 1988.
Durante a guerra, a ideia fixa e obsessiva
dos MEK era destruir o Supremo Líder Aiatolá Khomeini. Nunca chegaram
nem perto de ter alguma chance, porque não passavam de exército de fanáticos
maltrapilhos reunido no Iraque, que lançou ofensiva patética em território do
Irã, em 1988.
Depois do cessar-fogo Teerã-Bagdá, negociado pela
ONU em 1988, o MEK continuou ativo no Iraque de Saddam durante os anos
1990s – já então dedicado a atacar os curdos iraquianos. Foi quando o governo
Clinton incluiu o grupo na lista de “terroristas” – responsável pelo assassinato
de cidadãos norte-americanos no Irã, antes da Revolução Islâmica.
Unha e carne com o pessoal do
Mossad
Uma das principais razões para a recente
‘promoção’ é que o MEK parece ter concordado em deixar sua base no
Iraque em Camp Ashraf[2] e está de mudança para um novo campo construído pelos
EUA próximo a Bagdá.
Apesar da catarata de desmentidos e negativas,
todos os botequins em todo o Oriente Médio sabem que os terroristas
do MEK são treinados – e pagos – por Washington e Telavive, o que
inclui treinamento em território dos EUA.
Porque o MEK e seu autodefinido “setor
político” – Conselho Nacional de Resistência do Irã [orig. National Council
of Resistance of Iran (NCRI) – são fontes conhecidas (extremamente pouco
fidedignas) de informação de inteligência, para os EUA, sobre o programa nuclear
iraniano.
Em fevereiro, a rede de televisão NBC News
admitiu que “atentados mortais contra cientistas nucleares iranianos” eram
executados por membros do MEK, “financiados, treinados e armados pelo
serviço secreto de Israel”. Muito previsivelmente, a rede NBC atentamente não
investigou qualquer conexão com os EUA.Também muito previsivelmente, o Congresso
dos EUA – cuja popularidade está em níveis muito baixos – irrompeu em
manifestações de alegria e felicidade e saudou a decisão do Departamento de
Estado, com especial destaque para os suspeitos de sempre como Dana Rohrabacher
(Republicano da California), Ileana Ros-Lehtinen (Republicano da Florida e
presidente da Comissão de Relações Internacionais da Câmara de Deputados) e Ted
Poe (Republicano do Texas). Todos esses saudaram o MEK como
“organização democrática”.
Quer dizer... Como se consegue ser promovido, de
terrorista, a democrata? Essa é fácil. Basta contratar a melhor equipe
de lobbying que o dinheiro possa comprar e investir pesado em “Relações
Públicas” eficazes.
No caso dos ex-terroristas e atuais democratas
do MEK, foi serviço de três grandes firmas de lobbying de
Washington: DLA Piper; Akin Gump Strauss Hauer & Feld; e DiGenova &
Toensing. As três embolsaram cerca de 1,5 milhão de dólares, ano passado, para
democratizar os MEK a qualquer custo.
Mais uma vez se comprova que esse é o meio certo
e provado para enterrar história sangrenta de atentados à bomba e assassinatos
que mataram, não só empresários norte-americanos e cientistas iranianos mas,
também, milhares de civis iranianos jamais contabilizados.
Nada como o toque cool de um
especialista em Relações Públicas – PR, em inglês, por favor, sempre –
para reformatar um bando de doidos assassinos e reapresentá-los como leais
aliados dos EUA na luta contra o regime de Teerã “do mal”. Deputados, senadores
e os proverbiais exércitos de “ex-ministros” e ex-altos funcionários de
ex-governos – onipresentes na mídia –, são os puxa-saco e mercenários que se
prestam a esse tipo de serviço.
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