segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A GUERRA DA MÍDIA

Síria, para além dos meios midiáticos






Martin Hacthoun
A cidade de Hama reflete visivelmente o que se passa pela Síria: Neste momento, um país submetido a intensa ofensiva política, uma violência terrorista imposta e atiçada do exterior, e uma investida midiática que não poupa distorções e falsidades da realidade.

Enquanto isso, o povo, que sente a tensão e os efeitos dos resultados desta campanha, leva sua vida sem perder as esperanças de que tudo voltará ao normal.

Esta cidade, Hama, capital da província homônima, no centro do país, foi praticamente tomada por grupos de extremistas armados acompanhados por turbas violentas de 31 de julho a 8 de agosto, dias em que cometeram saques, destruindo tudo que viam e cometendo crimes, como desmembramento dos corpos de 17 policiais mortos.

Os policiais foram surpreendidos às 05:30 (hora local) por um bando bem armado de indivíduos que os atacaram e destruíram sua sede no bairro de al-Hader, então os terroristas cortaram os corpos dos policiais e lançaram seus corpos da ponte no rio al-Assi , disseram os moradores do bairro aos jornalistas internacionais que visitaram a cidade.

Imagens deste horripilante fato foram transmitidas pelo canal Catari Al-Jazeera e outros.

Outras gangues destruíram e queimaram o clube dos oficiais, e fizeram o mesmo na sede do Tribunal Provincial, onde também fica o Cartório Notarial desta província de dois milhões e meio de habitantes. A destruição ainda hoje é visível.

Com grande dificuldades os trabalhadores do tribunal atendem ao público, mas só podem oferecer 30 por cento dos serviços comumente oferecidos, por causa da perda de registros e informações.

Eventos semelhantes ocorreram em Daraa, Idleb, Deir Ezzor e Homs. Neste momento, situação nessas localidade melhorou, inclusive em Deir Ezzor a situação já voltou a normalidade, mas seguem ocorrendo assaltos, ataques, seqüestros e outros abusos contra civis nas outras cidades, inclusive em Hama.

"Nós tivemos que chamar o auxílio do exército para poder livrar a cidade e sua população do terrorismo destes grupos armados", relatou aos jornalistas o governador de Hama, Dr. Anas A. Naem.

No tribunal, o procurador-geral Ismail Shafira afirmou que os danos materiais ao prédio, mobiliário, equipamento e saques totalizou 20 milhões 200 mil dólares, aos quais devemos acrescentar mais 510 000 pelas perda de informações dos processos e dos arquivos.

Tais eventos têm alterado a vida da cidade e trazido apreensão. O Jurista Shafira admite que ainda teme, porque eles podem ainda ser alvos desses grupos armados, que ainda rondam a região.

O governador Naem informou que a cidade agora está estável, mas todos ainda estão temerosos durante a noite, esclareceu que há casos de seqüestros e assassinatos em aldeias rurais e ataques noturnos esporádicos contra patrulhas policiais e postos militares.

A Síria foi criticada por usar o exército para conter os excessos violentos dos grupos terroristas armados, canais como a Al Jazeera e o saudita Al-Arabiya difundiram que áreas residenciais e hospitais em Hama foram destruídas pelo bombardeio das forças armadas. Mas, não foi essa a realidade vista pelos jornalistas que visitaram a cidade.

"Os militares estão aqui para nos proteger dos destruidores", disse Ibrahim Hidjo, um motorista que esperava ser atendido no Tribunal provincial. "Precisamos deles, quem poderia deter essa gente violenta?” Disse uma mulher que se identificou como Marian Mosret, e no mesmo sentido responderam outras pessoas que ali estavam presentes e falavam aos repórteres.

A campanha anti-Síria costuma dizer que essas gangues são opositores armados do governo do presidente Bashar al-Assad e que a integram, em sua maioria, os desertores do exército, no entanto, há cada vez mais evidências de que isso não é verdade; incluindo os aportes em confissões públicas feitas pelos membros presos, todas as provas dão conta que se trata de grupos providos de armas e munição do exterior e da qual participam muitos estrangeiros.

Inclusive, a diversidade e o poder das armas e, em particular, os sofisticados equipamentos de comunicação apreendidos pela forças pública da sírias, alguns cujo uso só são permitidos apenas pelos Ministérios da Defesa dos países fabricantes, e a Síria não os fabrica, sem sombra de dúvidas essa é uma das provas de que foram introduzidos no país.

Citando fontes de inteligência européias, a agência de notícias FARS e Cham Press divulgaram que mercenários foram treinados por especialistas dos EUA, em bases na Turquia e Qatar, com financiamento da Arábia Saudita, para serem infiltrados na Síria.

Nisso está envolvida, dizem essas fontes, a empresa Blackwater Worldwide/EUA, notória por seus laços estreitos com a CIA e pela participação de seus mercenários em vários cenários do planeta desde a sua criação na Carolina do Norte, há 10 anos.

Observadores concordam que a intenção dos centros de poder no Ocidente e dos países do Golfo que os apóiam é derrubar o governo de al-Assad. Uma incursão militar ao estilo da Líbia , dizem os políticos ocidentais, não é a opção mais desejada para eles.

Assim, estão concentrando todas as suas forças e recursos em atiçar e fornecer recursos para gerar focos de violência no país, criar confusão, instabilidade e enfraquecer o moral dos cidadãos e as suas forças de segurança do país.

Ao mesmo tempo, impõem sanções econômicas, incentivam e financiam grupos de oposição do exterior, até conseguirem divulgar a criação de um Exército de Libertação da Síria, o qual já neste ponto, a Turquia não negará que está em seu território, e, para completar, aumentarão a campanha na mídia.

Políticos, celebridades e líderes religiosos árabes comentam que tal ofensiva se deve a postura independente de Damasco, e sua firmeza na defesa de causas árabes, como a causa Palestina.


Eles, também, alertam que o que estamos assistindo é a nova forma de apresentar a política dos EUA de um “Novo Oriente Médio” que visa assegurar o controle das fontes de petróleo , alcançar uma maior proteção para o seu aliado Israel , e cujo objetivo final é o Iran.



Mas o analista político Nicola Nasser nos dá uma perspectiva muito mais global :
O jornalista e pesquisador nos assuntos do Oriente Médio advertiu na revista Middle East Online sobre a existência de fatores geopolíticos estratégicos regionais e internacionais, que estão convertendo a Síria na fronteira que pode pressagiar o surgimento de uma nova era de um mundo multipolar, que acabaria com a ordem unipolar hoje controlada pelos EUA e outros centros de poder ocidentais.


Neste contexto, teriam (os EUA) que compartilhar o controle com as chamadas nações emergentes, encabeçadas pela Rússia e pela China, que se projetam para ter mais voz nos projetos globais.


Esse mundo multipolar chegaria se a aliança comandada por Washington fracassasse em mudar o governo e o sistema na Síria, adverte Nasser. Se sua análise estiver correta, dá um bom argumento para explicar também a incisiva ofensiva contra Damasco e o Presidente al-Assad.


E, enquanto se desenrolam os acontecimentos, Najwa Alsaihi, uma moradora de Hama, organizar os papéis no cartório provincial para o casamento de seu filho, 01 de janeiro, e manifesta otimismo que até lá a sua cidade será muito mais segura.

Martin Hacthoun é correspondente da Prensa Latina, na Síria (De latino-americana Abstract )
http://lapupilainsomne. wordpress.com/2011/11/25 / sírio-além-de-media /

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