quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Projeto para Redefinir o Islã: A Turquia como o Novo Modelo e “Islã Calvinista”


by Mahdi Darius Nazemroaya

Como Washington e seu bando marcham para o Coração da Eurásia, eles têm tentado manipular o Islã como uma Ferramenta Geopolítica. Eles têm criado um caos politico e social no processo. No decorrer do caminho eles têm tentado redefinir o Islã e subordiná-lo aos interesses do capital global inaugurando uma nova geração que se diz islâmica, em sua maioria, entre os próprios árabes.

A Turquia em sua presente forma é apresentada como um modelo democrático a ser seguido pelas massas árabes rebeldes. É verdade que Ankara tem progredido se compararmos aos dias em que os Curdos eram proibidos de falar em público, mas, a Turquia não é uma democracia funcional, ela se parece muito mais com uma cleptocracia¹ com tendências fascistas.

Os militares continuam desempenhando um papel importante nos negócios governamentais e de Estado. O termo “Estado profundo” que denota um Estado dirigido secretamente do topo para baixo por incontáveis pessoas e organizações, de fato, se originou na Turquia. Os direitos civis continuam a ser desrespeitados na Turquia e os candidatos a cargos públicos precisam passar por aprovação do aparato estatal e do grupo que o controla, o que serve para tentar filtrar qualquer um que queira ir contra o status quo na Turquia.

A Turquia não tem sido apresentada como um modelo democrático para os árabes por suas qualidades. Ela é apresentada como um modelo político para os árabes por causa do seu projeto político e socioeconômico “bida” (inovação) que envolve a manipulação do Islã.

Embora seja muito popular, a Justiça Turca e o Partido do Desenvolvimento ou JDO (Adalet ve Kalkinma ou AKP) chegou ao poder em 2002, sem nenhuma oposição dos militares turcos e das cortes turcas. Antes deste partido chegar ao poder, a tolerância dos militares ao Islã político era muito baixa. O JDP/AKP foi fundado em 2001 e o tempo de sua fundação e sua vitória eleitoral em 2002 também estão amarrados ao objetivo de redesenhar o Sudoeste da Ásia e o Norte da África.

Este projeto de manipular e redefinir o Islã visa subordinar o Islã aos interesses da dominante Ordem Mundial capitalista através de uma nova onda de “islamismo político” assim como o JDP/AKP. Uma nova corrente do Islã está se moldando no que vem a ser chamado de “ Islã Calvinista” ou uma “Versão Muçulmana da Ética Protestante do Trabalho”. É este modelo que agora é alimentado na Turquia e que estão apresentando ao Egito e aos árabes por Washington e Bruxelas.

Este “Islã Calvinista” também não tem problemas com o “reba” ou sistema de juros, que é proibido pelo Islã. E é este sistema que é utilizado para escravizar os indivíduos e sociedades com as correntes do débito ao capitalismo global. E é neste contexto que o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (EBRD) está clamando pelas supostas “reformas democráticas” no Mundo Árabe.

As famílias dominantes da Arábia Saudita e os Sheiks Árabes do Petróleo também são parceiros na escravização do Mundo Árabe através do débito. A este respeito o Qatar e os sheikados árabes do Golfo Pérsico estão em um processo de criação de um Banco de Desenvolvimento do Oriente Médio, banco que pretende dar empréstimos aos países Árabes para apoiar sua “transição para a democracia”. A missão de promoção da democracia do Banco de Desenvolvimento do Oriente Médio é um tanto quanto irônica, pois, os países que o formam são todos ditaduras convictas.

É esta subordinação do Islã ao capitalismo global que tem causado os atritos internos no Irã.

Abrindo a Porta para uma Nova Geração de Islâmicos

A esperança em Washington é a de que o “Islã Calvinista” se enraíze através de uma nova geração de islâmicos sob a bandeira dos novos Estados democráticos. Estes governos irão efetivamente escravizar os seus países colocando-os mais em dívidas e vendendo ativos nacionais.

Tel Aviv também irá possuir uma larga influência entre esses novos Estados. De braços dados com esse projeto, diferentes formas de nacionalismo etnolinguísticos e intolerância religiosa também vem sendo promovida para dividir a região. A Turquia também desempenha um importante papel, pois, é um dos berços para essa nova geração de Islâmicos. A Arábia Saudita também desempenha seu papel apoiando a ala militante desses Islâmicos.

A Reestruturação de Washington no Tabuleiro Geoestratégico

Objetivar o Irã e a Síria também faz parte desta ampla estratégia de controlar a Eurásia. Os interesses chineses tem sido atacados em todos os locais do mapa global. O Suão foi balcanizado, e tanto o Sudão Norte, quanto o Sudão Sul estão caminhando para o conflito. A Líbia foi atacada e está em vias de ser balcanizada. Estão pressionando a Síria para que está se renda e entre na linha. Os EUA e a Inglaterra estão integrando seus conselhos de segurança, de modo comparável com os corpos Anglo-Americanos da Segunda Guerra Mundial.

O ato de focar o Paquistão também está ligado à neutralização do Iran e ao ataque aos interesses chineses e qualquer futura união na Eurásia. Acerca disso, os EUA e a OTAN tem militarizado as águas ao redor do Iêmen. Ao mesmo tempo, na Europa Oriental, os EUA estão construíndo fortificações na Polônia, na Bulgária e na Romênia, visando neutralizar a Rússia e os países da antiga União Soviética. Belarus e a Ucrânia também foram postos sob pressão. Todos esses passos são parte de uma estratégia que visa sitiar a Eurásia e também controlar os recursos energéticos ou a afluência energética para a China. Da mesma forma, Cuba e Venezuela estão sob crescente ameaça. O laço militar está sendo apertado globalmente por Washington. Tais governos servirão para subordinar seus respectivos Estados. O Pentágono, a OTAN, e Israel podem ainda selecionar algum destes novos governos para justificar novas guerras. Parece que os novos partidos islâmicos estão sendo formados e preparados pelos al-Sauds, com a ajuda da Turquia, para tomar o poder das capitais árabes.

É preciso mencionar que Norman Podhoretz, um membro original do Project for a New American Century (PNAC), em 2008 sugeriu um cenário futuro apocalíptico em que Israel lança uma guerra nuclear contra o Irã, a Síria e o Egito entre outros países vizinhos. Isto pode incluir o Líbano e a Jordânia. Podhoretz descreveu uma Israel expansionista e também sugeriu que os israelenses poderiam ocupar militarmente as regiões petrolíferas do Golfo Pérsico.

O que por outro lado veio como singular em 2008 foi a sugestão de Podhoretz, que foi influenciada pela análise estratégica do Center for Strategic and International Studies (CSIS), de que Tel Aviv poderia lançar um ataque nuclear em seus leais aliados egípcios no poder em Cairo sob o Presidente Mubarak. Apesar do fato do antigo regime ainda persistir, não é mais Mubarak quem está no poder. Os militares egípcios continuam dando ordens, mas, os islâmicos podem chegar ao poder. Isto está ocorrendo apesar do fato de o Islã continuar a ser demonizado pelos EUA e pela maioria dos aliados da OTAN.

Futuro Desconhecido: O que vem Depois?

Os Estados Unidos, a União Europeia e Israel estão tentando utilizar os protestos no Mundo Turco-Arábico-Iraniano para promover os seus próprios objetivos, incluindo a guerra na Líbia e o apoio à insurreição Islâmica na Síria. Juntamente com os al-Sauds, eles estão tentando difundir a “fitna” ou a divisão entre os povos do Sudoeste da Ásia e os do Norte da África. A estratégia Khaligi-Israelense, formada por Tel Aviv e as famílias árabes dominantes no Golfo Pérsico, é crucial para isso.

No Egito, as revoltas sociais estão longe de terminar e as pessoas estão se tornando mais radicais. Isto está resultando em concessões por parte da Junta Militar no Cairo. Os movimentos de protesto estão agora direcionando as críticas ao relacionamento entre a Junta Militar e Israel. Na Tunísia os movimentos sociais também estão caminhando para a radicalização.

Washington e seu bando estão brincando com fogo. Eles podem pensar que este período de caos lhes apresente uma ótima oportunidade para confrontar o Iran e a Síria. A confusão que vem se estabelecendo no Mundo Turco-Árabe-Irâninano terá resultados imprevisíveis. A resistência popular no Barein e no Iêmen às ameaças de crescimento da violência infringida pelo Estado indicam que a articulação dos movimentos de protesto anti-EUA e anti-Sionista está mais coesa.

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Traduzido para Diário Liberdade por E. R. Saracino.
O original encontra-se em (Global Research, 10 de Julho de 2011): The Powers of Manipulation: Islam as a Geopolitical Tool to Control the Middle East

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