sábado, 24 de novembro de 2012

O único remédio contra a ocupação é a resistência

  Forças israelenses protegidas por veículo blindado após manifestantes palestinos lançarem um coquetel Molotov durante confrontos no centro da cidade dividida  de Al-Khalil (Hebron) na Cisjordânia ocupada, em 19 de novembro de 2012.


19/11/2012, Ibrahim al-Amin (editor-chefe), Al-Akhbar (Editorial)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
“Nem resistência, nem negociações.” Essa foi a frase-chave do emir do Qatar, Hamad bin Khalifa al-Thani em recente visita à Faixa de Gaza. Usou a frase para insistir na urgência de reconciliação entre todos os grupos palestinos. Foi como se dissesse a eles: o campo da resistência de vocês não está resistindo e o campo da paz de vocês não está negociando. Assim sendo, por que não se acertam?
O emir do Qatar não explicou por que deveria haver reconciliação e em torno de quê. É como se não estivesse vendo a razão pela qual o campo da paz não está negociando – porque Israel, não os palestinos, não quer negociação nem paz. E quem disse ao emir do Qatar que o campo da resistência teria parado de resistir?
Talvez porque o Hamás é parte da Fraternidade Muçulmana, e a resistência não se inclui entre as prioridades da organização-mãe? Teria o emir querido dizer isso?
Essa obscura frase-chave começou a circular imediatamente depois da eclosão das revoluções árabes. O objetivo foi induzir as forças políticas ascendentes nos países árabes cujos ditadores foram derrubados – Egito, Tunísia e Líbia – a adotar políticas alinhadas com o que querem os patrocinadores ocidentais e árabes daquelas revoluções. E esses patrocinadores querem todos esses novos governos confinados às respectivas questões domésticas.
“Nem resistência, nem negociações” significa que os palestinos devem agir sob o pressuposto de que a ocupação seria fato consumado; e de que não contem com qualquer ajuda, só porque houve as revoluções. Funcionário de um dos países do Golfo comentou, com sarcasmo, que o presidente egípcio Mohamed Mursi provavelmente dissera ao líder do Hamás, Khaled Meshal: “Pare com isso! Não estamos conseguindo nem dar conta das ruas egípcias! Você quer o quê?! Desista. Suspenda o fogo e confie em Deus”.
Adnan Mansour 
O ministro das Relações Exteriores do Líbano, Adnan Mansour parecia deslocado na reunião de ministros árabes, na véspera. Assustou os presentes, ao usar linguajar “fora de moda” sobre boicotes e resistência. O linguajar em voga, a fala “da moda”, veio do ministro do Exterior do Qatar, que fez uma declaração de impotência e disse aos palestinos: "Conhecemos os limites de nossas capacidades e de nossas posições, e em nenhum caso iremos à guerra". Isso, pouco antes das indispensáveis juras de apoio aos resistentes da Faixa de Gaza.
“Nem resistência, nem negociações”. A frase foi enunciada não só para justificar a impotência, mas, também, para demarcar o real objetivo das revoluções árabes, a saber: conseguir uma mudança no poder. Nessa linha de pensamento, o único problema dos egípcios seria que Gamal Mubarak não cumpria os rituais da religião e não cultivava longas barbas. Resultado inicial desastroso dos protestos de massa no Egito foi que implantaram no poder réplicas dos antigos ditadores – só que sem as barbas.
Trocaram-se uns por outros assemelhados, enquanto as políticas seguem as mesmas, as políticas econômicas seguem as mesmas, as relações com Israel não mudaram e o papel do Egito como principal mediador entre o inimigo e o povo da Palestina ocupada não mudou.
Os proponentes da ideia de “nem resistência, nem negociações” cumprem um imundo papel.
Creem que a prioridade é esperar outras oportunidades. Dizem que não há resistência, porque escolheram retirar-se da batalha, desautorizar a resistência e mergulhar nas realidades da ocupação. Para defender essa posição, promovem divisões religiosas e acusam as forças da resistência de não aspirarem à libertação como objetivo principal.
Mas como a avaliação feita pelo ministro de Relações Exteriores do Qatar, para quem os árabes seriam impotentes para agir em Gaza, coaduna-se com a determinação com que o Qatar e outros estados do Golfo continuam a armar a oposição síria e garantir a ela apoio absoluto da mídia?
De onde extraíram a conclusão – e será que realmente contam com que alguém acredite? – que os palestinos não precisam também de idêntica atenção e apoio?
O que impediria esses países de continuar a apoiar a oposição síria e, ao mesmo tempo, de apoiar também os palestinos?
Como um povo com tão longa tradição de lutas – sobretudo palestinos que vivem sob o império dos governantes do Golfo – conseguirão justificar os laços com a santa aliança dos estados do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), os EUA e a Europa colonialista? Como os palestinos ativos na academia, na imprensa, em instituições diplomáticas controladas pelos estados do CCG conseguirão justificar, ante eles mesmos, tais políticas?
O que se vê acontecer na Palestina só atesta uma coisa: a ocupação continua e continuará. Isso implica necessariamente que a resistência continua e continuará. A cada momento, a resistência mais comprova que tem habilidade e capacidades para provocar impacto em Israel.
A alternativa é obedecer. Desnecessário construir frases oblíquas sobre isso, porque, seja o fraseado que for, o significado é sempre o mesmo: rendição.

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