segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Você sabe o que significa Palestina Livre?



Por Rafiqa Salam

Palestina Livre! Muito antes desta expressão fazer parte das lutas de solidariedade ao povo palestino já era bradada pelos palestinos nas décadas que antecederam a invasão sionista que culminou na criação do Estado de Israel, sob resolução 181-ONU de 1947. Foi o hino na Guerra dos Seis Dias (1967), no massacre de Sabra e Chatila (1982), na Primeira Intifada (1987), na Segunda Intifada (2000) e em outras lutas de resistência, inclusive entoam na Marcha do Retorno, iniciada em 30 de março de 2018 marcando nossas sextas-feiras até o presente.
Palestina Livre é mais que uma expressão! 
Imprime a ideologia de uma luta, é a Palestina Livre do sionismo! 
Parece simples de entender, mas na prática não é. Apoiadores, simpatizantes, militantes, solidários da Causa Palestina com o símbolo de vitória nas mãos e cartazes nas manifestações gritam: Palestina Livre! Passou a ser dita por muitos, mas por vezes desatrelado do compromisso com o seu significado. 
Defender a Palestina Livre do sionismo requer defender a Palestina histórica, devolvendo o seu território de 27.000km², do rio Jordão ao mar Mediterrâneo! Requer defender Jerusalém como sua capital, assegurar o direito de retorno ou indenizações aos 6 milhões de refugiados e exigir a imediata libertação presos políticos, aproximadamente 7 mil. Requer defender a autodeterminação do povo palestino! 
É entender que a proposta de dois estados para dois povos não é equânime, não é justa e não é viável. E é a realidade que revela tal constatação! Estivemos durante o mês de outubro na Palestina. Esta foi a minha terceira viagem (estive em 2010 e 2014). Entre a beleza e o árduo trabalho da colheita da azeitona, da produção do puro azeite de oliva, contrastava a violência israelense cotidiana sobre os palestinos. Comparando os períodos que estive na Palestina, está viagem mostrou um cenário ainda mais desolador: check points israelenses móveis e fixos distribuídos por toda a Palestina; o muro da vergonha de mais de 700 km serpenteando as terras palestinas impedindo o direto de ir e vir dos palestinos; a invasão dos assentamentos judaicos nas áreas A e B (as áreas não contíguas descritas no fracassado Plano de Oslo como possível território para conformação do Estado palestino); prisões arbitrárias de crianças, adolescentes, mulheres, homens que lutam em defender o seu solo pátrio e por melhores condições de vida (muitos em prisões administrativas, sem julgamento); violências do exército israelense sobre os civis, sem respeitar as casas, escolas, hospitais e nem os lugares sagrados, retratando a brutalidade da limpeza étnica. Mas, também, mostrou a resistência palestina e, além dos gritos: Palestina Livre, a convicção de que a defesa de dois estados chegava ao fim: Como consolidar dois estados quando os direitos dos palestinos não são respeitados?
Hoje, a Palestina está 100% ocupada por Israel. A Autoridade Nacional Palestina (ANP) não tem autonomia política, econômica e nem geográfica: Cisjordânia parece um queijo suíço e Gaza está cercada e isolada. Realidade orquestrada pelo Estado Sionista de Israel e pelos Estados Unidos. 
Defender dois estados é assimilar as violações perpetradas por Israel nestes 71 anos. É ter a ilusão que Israel se retirará das áreas que ocupa ilegalmente, sendo que seu o propósito expansionista é conhecido por todos: do rio Nilo ao Eufrates! É não reconhecer que as negociações que aconteceram ao longo da história resultaram em fortalecimento do Estado de Israel e a depreciação do Estado Palestino. Passa a ser uma contradição gritar Palestina Livre e defender dois estados! O tempo urge e o silêncio da ANP, dos governos dos países árabes e do mundo não é mais aceitável.
Mais do que sangue nas veias palestinas corre a determinação em defender sua Pátria! A consolidação da Palestina Livre pressupõe a autodeterminação do povo palestino. O sionismo não é uma ameaça só à Palestina, mas para o mundo! A unidade nacional palestina e a solidariedade internacional são as fortalezas para a defesa da criação de um único Estado. Um país onde todos possam viver com equidade, direitos e justiça social. Uma Pátria sem segregação, sem perseguição religiosa e sem racismo é possível, pois estes são os sentimentos e a vontade do povo palestino. A conquista do Estado Palestino, laico, democrático, sobre seu solo Pátrio histórico, com Jerusalém capital é a Palestina Livre!
A vontade de compartilhar o significado da expressão revolucionária Palestina Livre aconteceu agora, no regresso desta viagem. Por muitos anos, no início da minha militância, tínhamos uma palavra de ordem que gritávamos: Palestina para os Palestinos! Compreendíamos que era a expressão mais justa do povo recuperar seu território saqueado. O tempo passou e a luta palestina se fortaleceu, ganhou mentes e corações. Passamos a gritar: Sionistas fora da Palestina. A minha palestinidade não está na minha descendência! Está na minha convicção por justiça! E, como disse Mandela, “nós sabemos muito bem que nossa liberdade é incompleta sem que haja liberdade para os palestinos”! Assim, é imprescindível entender o que significa Palestina Livre!
A Palestina Livre é uma construção coletiva, diária, de consciência e engajamento! 
E você é parte desta luta quando compreende, se envolve e se compromete com a consolidação deste direto!
 Somos todos palestinos e Viva a Palestina Livre!
Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino 
comitepalestinasc@gmail.com dez 2019

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