Comitê de solidariedade a luta do povo palestino - RJ, Comitê catarinense de solidariedade ao povo palestino
quarta-feira, 29 de maio de 2024
quarta-feira, 22 de maio de 2024
Israel está falsificando a história palestina e roubando seu patrimônio cultural
Colonos israelenses reúnem-se em um local histórico na cidade de Nablus,na Cisjordânia ocupada, 22 de abril de 2019 [Shadi Jarar’ah/Apaimages] |
7 de novembro de 2019
A Palestina é um dos países mais ricos do mundo em termos de antiguidades, competindo com o Egito e o restante do mundo árabe. Ao menos 22 civilizações deixaram sua marca sobre a Palestina, a primeira das quais o povo cananeu. A presença de tais povo é evidente ainda hoje.
Desde 1948, sucessivos governos israelenses prestaram atenção particular à questão das antiguidades cuja identidade possui um caráter particularmente árabe ou palestino. Comitês de arqueólogos israelenses foram formados a fim de pesquisar todo o território palestino, sobre o qual foi fundado o Estado de Israel. O objetivo ainda é recriar uma narrativa histórica falsa ao judaizar as evidências arqueológicas palestinas. Monumentos históricos nas principais cidades palestinas, como Acre, Jaffa, Jerusalém e Tiberíades, não foram poupados deste processo.
Além disso, Israel utilizou diversas instituições cujo objetivo é judaizar o estilo histórico palestino por meio de expropriações culturais e fraudes sistemáticas. Mesmo receitas locais não foram poupadas. Israel participou de exibições internacionais nas quais apresentou elementos da herança e culinária palestinas sob a marca “israelense”.
É por meio de tais táticas que a história e a herança palestinas, datadas de milhares de anos, são roubadas pela ocupação israelense e pelas “máfias” que vendem e contrabandeiam antiguidades inestimáveis. Isso ocorre em um momento no qual os partidos palestinos realizam ações e apelos em nome da proteção ao seu legado, sua história e sua civilização.
Neste contexto, estudos indicaram que há mais de 3.300 sítios arqueológicos somente na Cisjordânia ocupada. Diversos pesquisadores confirmam que, em média, há um sítio arqueológico a cada meio quilômetro na Palestina, o que reafirma a verdadeira identidade e história desta terra.
É importante mencionar aqui os efeitos devastadores do muro da separação sobre o futuro das antiguidades e monumentos palestinos. As obras em curso para a construção do muro em terras palestinas na Cisjordânia irá levar, em último caso, à anexação de mais de cinquenta por cento do território ocupado. Também incluirá mais de 270 sítios arqueológicos de destaque, além de 2.000 localidades históricas e arqueológicas. Dezenas de locais e monumentos históricos serão destruídos no decorrer da construção do muro do apartheid.
Estudos especializados sobre as antiguidades palestinas sugerem que, desde junho de 1967, quando Israel passou a ocupar Gaza e Cisjordânia, o estado israelense realizou esforços para expropriar e vender cada vez mais artefatos palestinos originários da Cisjordânia histórica. Este fenômeno foi exacerbado pela eclosão da Intifada de Al-Aqsa, no fim de setembro do ano 2000.
O Departamento de Antiguidades e Patrimônio Cultural da Autoridade Palestina destaca que mais de 500 sítios arqueológicos e mais de 1.500 marcos históricos foram roubados e destruídos por saqueadores israelenses e forças da ocupação. É fato, como demonstrado pelo trabalho de mapeamento do território palestino feito pelo pesquisador Salman Abu Sitta, que mais de 500 cidades e aldeias palestinas foram destruídas e varridas do mapa por Israel desde 1948. O departamento histórico da Autoridade Palestina também confirma que recursos econômicos e culturais continuam a ser dilapidados por Israel.
Estudos palestinos indicam que a razão para a Nakba ainda vigente é o colapso de qualquer sistema capaz de proteger as áreas palestinas justamente devido ao controle israelense. Tal proteção é administrada pela própria ocupação, o que significa basicamente que o Exército de Israel é livre para destruir localidade históricas e patrimônios culturais palestinos, como ocorre em Jerusalém, Nablus, Hebron, Belém e outras cidades e aldeias palestinas.
O roubo arqueológico e a violação do patrimônio palestino é um dos maiores desafios impostos ao povo palestino, à medida que busca preservar sua cultura e presença física em sua própria pátria, sob ameaça de um processo intensivo de judaização e agressões sistemáticas executadas pelas políticas de Israel. Temos de conscientizar a comunidade palestina e internacional para que possamos enfrentar este desafio histórico ainda presente, imposto pela ocupação israelense.
Também devemos intensificar nossos esforços para combater o roubo de nossa história por Israel, em escala local, regional e internacional. Tais esforços devem ser reafirmados por meio da plena participação de representantes da Palestina em organizações internacionais de destaque, incluindo a UNESCO.
A diversidade cultural na Palestina remete a milhares de anos. É uma vergonha que estejamos permitindo que nossa história sofra tamanho whitewashing (embranquecimento), à medida que Israel busca “provar” sua falsa narrativa de soberania do “Estado judeu”, em detrimento e exclusão do povo nativo da Palestina histórica.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.
https://www.monitordooriente.com/20191107-israel-esta-falsificando-a-historia-palestina-e-roubando-seu-patrimonio-cultural/
A Nakba: Relembrando o que se perdeu na Palestina em 1948
A terra hoje tomada pelo Estado de Israel já teve uma sociedade e economia próspera, construída através de milênios pelos palestinos nativos, com cultivos e indústrias tradicionais de laranjas, tabaco e outros.
15 de maio de 2024
Empacotamento de laranjas em uma tradicional oficina familiar de Jaffa, na Palestina, em 1907 [Bibliothèque nationale de France/Reprodução]
Nakba em árabe, catástrofe — desmantelou e fragmentou a terra e sociedade da Palestina histórica 76 anos atrás, em 15 de maio de 1948, através da destruição de 500 cidades e aldeias, o exílio forçado de metade da população nativa, a perda de proeminentes indústrias nacionais e a erradicação de importantíssimas tradições culturais e sociais que uniam palestinos de diversas raízes e crenças.
Para jamais se esquecer da Nakba e denunciar as atrocidades que sucederam desde então, o ato de preservar a história e a memória coletiva do povo palestino serve de exemplo de resiliência e dignidade, ao dar forma a toda a região apesar das ramificações do colonialismo britânico, cujo retrato atual é o regime militar sionista.
Ao honrar o legado do povo palestino, este ensaio ilustrado examina parte do que se perdeu no país, a começar pelos pomares de Bir Salem, uma das muitas aldeias históricas responsáveis por cultivar a célebre laranja de Jaffa, situada no subdistrito de Ramle, desenvolvida por camponeses palestinos em meados do século XIX.
LEIA: NAKBA: o povo palestino continuará resistindo.
A indústria de frutos cítricos na Palestina histórica era um de seus carros-chefes. As laranjas de Jaffa dominavam os mercados globais, sendo a principal exportação palestina no ano de 1900. Três décadas depois, a indústria de produtos cítricos já representava 77% das exportações da Palestina.

Laranjais de Jaffah, na Palestina histórica, entre o fim do século XIX e início do século XX [Biblioteca do Congresso/Reprodução]
Por todo o sul da Palestina, laranjais decoravam a paisagem, com cultivos familiares na maioria das aldeias. A indústria, no entanto, foi completamente destruída pelas forças sionistas durante a Nakba. Após os eventos de 1948, o destino das laranjas de Jaffa se pôs em debate. Em 1949, durante a Conferência de Lausanne, refugiados Palestinos solicitaram o direito de retorno a seus pomares, para que cultivassem devidamente a terra. No ano seguinte, o Estado supremacista de Israel impôs a chamada Lei de Propriedade Ausente, uma das dezenas de leis racistas do país, ao permitir a colonos que confiscassem as terras dos refugiados.
Os laranjais de Bir Salem foram destruídos. A aldeia, que abrigava 400 famílias e cores vibrantes, tornou-se um colonato cinzento logo em junho de 1948, rebatizado de Netzer Sereni, a fim de apagar a existência pregressa de uma população nativa. No lugar dos pomares, foi erguido uma estátua memorial do Holocausto, genocídio executado na Europa, a milhares de quilômetros de distância, instrumentalizado desde então pela ideologia colonial sionista.

Memorial do Holocausto em Bir Salem (Netzer Sereni), na Palestina [Wikimedia/Reprodução]
Durante toda a década de 1920, Haifa se consolidou como a capital administrativa da Palestina, um lugar onde novas indústrias começaram a florescer. Era também uma área proeminente na produção de tabaco, desenvolvida pelos camponeses palestinos nativos logo nos primeiros anos do Mandato Britânico. Um das primeiras e maiores fábricas da Palestina pertencia à Companhia de Cigarros Karaman, Dick & Salti.

Mulheres separam tabaco na cidade de Nazaré, na Palestina histórica, em meados de 1940 [Biblioteca do Congresso/Reprodução]
A empresa foi fundada por membros das tradicionais elites urbanas na Palestina histórica, como Hajj Tahir Karaman, um dos mais estimados empreendedores palestinos e um dos protagonistas no desenvolvimento da indústria nacional e da cidade de Haifa. Os palestinos eram incentivados a dar apoio às indústrias nacionais (“watani”), como a Karaman, Dick & Salti, para promover e robustecer os esforços nativos. Karaman foi ainda uma figura política de liderança na Palestina, como fundador do Partido Árabe Palestino e membro da Câmara de Comércio de Haifa, além de membro do Comitê Nacional que comandou a greve geral durante a Grande Revolta da década de 1930, contra o ditamos da colonização britânica.

Cidade de Haifa, na Palestina, em 1930 [Wikimedia/Reprodução]
A Companhia de Cigarros Karaman, Dick & Salti foi destruída durante a Nakba. A fábrica de Haifa ainda existe, como ruínas, destituída de sua eminência histórica.
Uma das muitas aldeias ancestrais da Palestina era Cesareia (Qisarya), antiga capital da Palestina romana e bizantina marcada por uma economia pesqueira. Qisarya, versão árabe do topônimo latino, serviu ainda como centro intelectual da região mediterrânea. A cidade milenar tinha uma longa história que remetia desde a era de Herodes à conquista mameluca, em 1265. Na história mais recente, se tornou aldeia de imigrantes de todo o mundo islâmico, em particular durante o Império Otomano.

Aldeia de Cesareia (Qisarya), na Palestina, em 1938 [Biblioteca do Congresso/Reprodução]
Em 1880, após a ocupação austro-húngara da Bósnia, Cesareia recebeu refugiados muçulmanos que tentavam escapar da perseguição supremacista europeia. A comunidade bósnia restituiu a aldeia em suas ruínas ancestrais e permaneceu ali até 1947, quando foi expulsa violentamente por milícias sionistas.

Mesquita bósnia de Cesareia (Qisarya), na Palestina, em 5 de outubro de 2014 [Wikimedia/Reprodução]
Um dos grandes eventos anuais da Palestina é o festival Nabi Rubin, que acontecia na aldeia de mesmo nome na região de Ramla. Todos os anos, entre julho e setembro, dezenas de milhares de residentes palestinos das aldeias próximas de Yaffa, Ramle e Lydd iam ao santuário de Rubin, filho do profeta Jacó (Yaqub), para participar das celebrações em sua homenagem. Durante o festival, com duração de um mês, tendas cercavam o santuário e tomavam as aldeias vizinhas para receber os peregrinos. Bazares, restaurantes e cafés instalavam estandes para o evento, ao lado de cerimônias religiosas e laicas, incluindo dança e contação de história.

Festival de Nabi Rubin, na aldeia homônima, na Palestina histórica, entre 1920 e 1933 [Biblioteca do Congresso/Reprodução]
Em 1935, foi exibido o primeiro filme no festival de Nabi Rubin, ao reafirmar a tradição moderna e cosmopolita da Palestina. Tão importante eram os eventos que reuniam todo os anos, em um ambiente notavelmente democrático, residentes dos campos e das cidades. O festival se tornou ainda um dos eventos culturais e religiosos mais prestigiosos do país.
LEIA: Israel está falsificando a história palestina e roubando seu patrimônio cultural
Sua última edição ocorreu em 1946. Após dois anos de investida violenta das gangues coloniais sionistas, que deram corpo ao exército de Israel, a aldeia de Nabi Rubin e suas terras adjacentes foram enfim capturadas e expropriadas pela milícia Haganah, dando fim — ao menos até então — a uma longa tradição cultural que conectava os palestinos uns com os outros por séculos e séculos. Hoje, um pouco mais a oeste, a região abriga o assentamento de Gan Soreq. Do festival e sua agitada vida cultural, sobrevivem as ruínas e a resiliente memória.

Santuário de Nabi Rubin, na Palestina histórica, em 2021 [Wikimedia/Reprodução]
https://www.monitordooriente.com/20240515-a-nakba-relembrando-o-que-se-perdeu-na-palestina-em-1948/
quarta-feira, 8 de maio de 2024
O sionismo explicado pelos sionistas: Como pensa e envelhece a “raça pura”!
Por: José Manuel Goulão é um jornalista português
Talvez não haja uma definição única do conceito de limpeza étnica. Isto, porém, deve ser das mais inspiradas e sinceras:
“Os goyim (não-judeus) nasceram para nos servir, apenas para servir o povo de Israel; sem isso não deveria haver lugar no mundo”.
( Ovadia Yussef, fundadora e chefe do partido governamental israelense Shass)
Os árabes e muçulmanos… Sempre os árabes e muçulmanos preocupados por tudo de mau que acontece aos judeus, a começar por quererem manter-se numa terra que não lhes pertence uma vez que, voltando a citar o ex-primeiro-ministro israelense Naftali Bennet em 2022, “ainda vocês trepavam às árvores já nós temos um Estado”. Esta é uma das essências do sionismo e do seu racismo fundamentalista. Não é que existam formas benignas de racismo mas, tal como o regime de apartheid – cujo ideólogo, Cecil Rhodes, foi tão enaltecido pelo fundador do sionismo –, a teoria e prática em que assentam o Estado de Israel são um caso extremo e psicopata de racismo cultivado num ambiente doentio em que se cruzam aberrações teológicas, a crueldade mística e sádica emanando do Antigo Testamento, os mitos do “povo escolhido” e da “terra prometida” encarados como preceitos divinos a conformidades acima de quaisquer leis terrenas e das decisões tomadas pelos humanos não-judeus, que afinal existem “apenas para nos servir”.
À resultante desta mistela de elucubrações tonificadas por uma ficção delirante na qual o ser humano que não seja “judeu” é a menor das preocupações de deus do sionismo, chama o Ocidente coletivo “a única democracia do Médio Oriente”.
A função de Israel como um “polo da civilização no meio da barbárie”, ou seja o argumento que está na base do papel colonial e geoestratégico imperial de que o regime de Telavive continua a desempenhar, com a crueldade inerente, vem dos primórdios do sionismo; Isto é, a componente mística e a nova cruzada na Palestina também tiveram no bojo os interesses económicos, financeiros e o controlo de rotas comerciais e questões-primas dos poderes mundiais dominantes, na altura do Império Britânico. Não é por acaso que este herdou o mandato internacional da Palestina, preparando o terreno para que o papel de colonizador transitasse para o sionismo.
Theodor Herzl especificou, no seu trabalho fundador, que um Estado judaico construído pelo sionismo será “um muro de defesa da Europa na Ásia, um posto avançado da civilização contra a barbárie (…) porque a Europa deverá garantir a nossa segurança”. Herzl tinha, por certo, veia de “profeta”, embora sem o mérito dos de antanho porque o desenvolvimento era previsível perante um quadro de relação de forças tão definido como o da época, tal como o atual – embora este seja bem mais periclitante. Aliás, Joseph Biden parece ter herdado uma costela de Herzl: nos anos oitenta, quando ainda não era guiado pelos auriculares e pelo teleponto, dizia que “o Estado de Israel se não existisse teria de ser inventado”. Não é por acaso que o atual presidente dos Estados Unidos se define como “um cristão sionista”. O sionismo garante os interesses em terrenos dominantes; uma religião, que afinal pode não ser apenas judaica, garante a mistificação da História e das realidades próprias do colonialismo, quando não do fascismo, independentemente das épocas. Um singelo exemplo doméstico: Dª Lucinda Ribeiro Alves, uma fundadora do Chega, diz-se uma “evangélica cristã sionista”, além de seguidora de Bolsonaro.
O sionismo é uma doutrina doentia, aberrante, oportunista e violenta que não pode, nem deve, ser confundida com o judaísmo e a cultura hebraica, muito menos com os povos semitas. O sionismo, seguindo a teoria e a prática dos seus mentores, é uma ideologia antissemita. David Ben Gurion, considerado o fundador do Estado de Israel, que se considerava laico e trabalhista, não deixou dúvidas quanto a isso ao afirmar que “as considerações sionistas prevalecem sobre os sentimentos judaicos e quando o digo não faço mais do que ter em conta os preços sionistas”
Os conceitos de “raça pura” e “povo escolhido” elevam, porém, o Estado de Israel para um patamar transcendente; são conceitos assustadores a todos os níveis e sob quaisquer perspectivas porque sustentam uma entidade desenvolvida dotada de imunidade, impunidade e de uma missão escatológica associada ao fim do mundo, o Armagedão, a luta final entre o bem e o mal biblicamente programada para o lugar de Meggido , por sinal no interior do território israelense. Não se acredita que estamos apenas diante de delírios místicos. Ariel Sharon, criminoso de guerra com o sangue dos mártires de Sabra e Chatila nas mãos e ex-primeiro ministro de Israel, garantiu numa entrevista ao jornal britânico “Guardian” que, em caso de confronto limitado no planeta, “temos capacidade para destruir o mundo e garanto que isso aconteça antes de Israel se afundar”.
Sharon nunca foi conhecida por ter muita garganta e ser um fanfarrão.
“Um projeto nacionalista, mais nada”
Sionismo e racismo são indissociáveis. Assentam na ficção mística e têm como objectivo a expansão do poder judaico de origem europeia, dotado de um estatuto civilizacional e humanista de que o Ocidente colectivo se declarou proprietário, através de vastas zonas de influência económica, estratégica e, sobretudo, militar do Médio Oriente.
Pode dizer-se que o Estado de Israel é um pequeno território. Pode até reclamar-se um desabafo da primeira-ministra sionista Golda Meir: “A única coisa que tenho contra Moisés é ele ter andado 40 anos no deserto para nos dirigir ao único lugar no Médio Oriente que não tem petróleo. Se Moisés tivesse virado à direita em vez de ter virado à esquerda teríamos petróleo e os árabes areia”.
O errado palpite geográfico de Moisés, no entanto, é uma coisa que se corrige. Segundo a mesma Golda Meir, “a fronteira de Israel é onde os judeus vivem, não onde existe uma linha no mapa”.
Considerações afins já tinham sido feridas por Ben Gurion vinte trinta anos antes de enunciar o dogma de que “a pedra de toque do sionismo é uma verdadeira colonização conduzida por judeus em todas as regiões da Terra de Israel”, um conceito que então ainda deixou em aberto. Posteriormente o primeiro primeiro-ministro de Israel avançou na concepção dessa ideia, embora sem desvendar ainda totalmente o jogo, ao declarar que “o Estado será apenas uma etapa na realização do sionismo e a sua tarefa é preparar uma expansão; o Estado deverá preservar a ordem, não apenas pregando a moralidade, mas também com capturas, se necessário”.
Dito e feito. No “protocolo de governo” quando se tornou primeiro-ministro, em 1948, Ben Gurion localizou que “devemos partir para a intervenção com o objectivo de esmagar o Líbano, a Transjordânia (actualmente Jordânia) e a Síria”. Citado por “Times of Israel”, o líder líder sionista e judeu desvendou a sua estratégia militar: “quando bombardearmos Amã eliminaremos também a Cisjordânia e então a Síria cairá; sem qualquer esforço militar especial que coloque em perigo as outras frentes, apenas usando as tropas já designadas para essa tarefa, poderemos limpar a Galileia”, no norte do território atual de Israel até à fronteira com o Líbano, o que implicou a expulsão de pelo menos 100 mil palestinos. Ben Gurion “limpou” a Galileia, é certo, mas outras disposições do programa continuam por cumprir – percebendo-se, no entanto, que não foram retiradas do pacote de ambições sionistas.
Num conselho ao então jovem oficial Ariel Sharon, dado no seguimento do massacre na aldeia de Qibya em 1953 – chacina de 70 pessoas, dois terços das quais eram mulheres e crianças, não faltaram mestres aos genocidas de agora em Gaza – Ben Gurion disse que “ a única coisa que interessa é podermos existir aqui na terra dos nossos antepassados; e que mostremos aos árabes que há um preço alto a pagar pelo assassinato de judeus”. “Existir” nesta terra, de acordo com o pensamento do primeiro chefe de um governo israelense, significa “que devemos aceitar as fronteiras de hoje, mas os limites das aspirações sionistas são uma questão do povo judaico e nenhum fator externo será capaz de limitá- eis”. Palavras que são todo um programa político-militar genocida inequívoco, ignorando deliberadamente o direito internacional.
O rabino Yeuda Leib Maimon, da Agência Judaica, foi mais explícito do ponto de vista geográfico ao depor perante as comissões de inquérito da ONU relacionadas com o processo de criação de Israel, no fim dos anos quarenta do século passado; trahu então o mapa genérico do Grande Israel como objectivo nacionalista do projecto sionista: “A terra prometida estende-se do Nilo ao Eufrates – integra parte da Síria e do Líbano”, e também do Egipto e do Iraque, se olharmos o mapa mais atentamente .
Através de declarações como estas cai por terra o argumento tantas vezes invocado e segundo o qual a necessidade de um “lar judaico” e a emigração judaica para a Palestina surgiu como consequência da violência contra os judeus na Europa, designadamente os pogroms em massa e a carnificina realizada pelo nazismo hitleriano. Chaim Weizman, o primeiro presidente do Estado de Israel, foi um modelo de pragmatismo ao confirmar essa falsidade perante a Organização Sionista Mundial: “O sionismo não é resposta a uma opressão, mas um projeto nacionalista, mais nada”.
Houve confirmações deste julgamento um pouco mais dramático porque revelaram até que ponto o projeto nacionalista deu prioridade aos interesses do sionismo, a colonização da Palestina pela elite asquenaze da Europa, e secundarizou o respeito pelas massas judaicas, olhares como peões dentro de uma estratégia para alcançar o objectivo expansionista pretendido.
Ben Gurion foi claro ao assumir que “se tivesse sido possível salvar todas as crianças judaicas na Alemanha e transferi-las para Inglaterra ou salvar metade e transferi-las para Israel escolheria esta última hipótese”. A “preferência” enunciada, embora apenas conjectural, diz-nos que o sionismo estaria disponível para sacrificar a vida de alguns milhões de crianças judaicas ao objectivo colonial
Para que não fiquem dúvidas em relação ao significado destas palavras, Ben Gurion insistiu posteriormente: “A catástrofe dos judeus europeus não é diretamente um assunto meu; a destruição dos judeus europeus é uma sentença de morte do sionismo”; ou seja, menos judeus asquenaze poderiam instalar-se na Palestina, o que subverteria o caráter elitista e segregacionista do projeto nacionalista.
Não encontramos nada de inovador nas práticas atuais de Israel em relação ao passado do sionismo, mesmo quando recuamos até os primórdios da doutrina. Nas palavras e nos atos dos teóricos, teólogos, ideólogos, dirigentes e operacionais que durante décadas desenvolveram e apuraram aquilo a que pode chamar-se “a essência do Estado de Israel” deparamos permanentemente, sem quaisquer preocupações autocríticas e respeito por opiniões alheias, com as práticas de genocídio, racismo, limpeza étnica e desprezo pela vida humana como pilares de um expansionismo colonial ao serviço de poderes imperiais entendidos como expressão natural e necessidade da cultura e civilização superiores do Ocidente.
O “povo de Deus” é puro e intocável
“Quando uma raça tem um caráter tão marcante, não deve fundir-se nas outras”, aconselhava, em 1900, o fundador da Organização Sionista Mundial, Max Nordau.
Essa raça deve ser “pura”, logo incompatível com misturas. Quase 120 anos depois de Nordau, em 2019, o ex-chefe do Partido Trabalhista e ministro da Economia e Indústria de Israel, Isaac Peretz, ficou alarmado durante uma visita aos Estados Unidos. De regresso a Israel declarou que “a assimilação de judeus no mundo, sobretudo nos Estados Unidos, é um segundo holocausto; com os casamentos mistos, o povo judeu perdeu seis milhões de pessoas durante os últimos 70 anos”.
À luz do sionismo deve entender-se o terror de Peretz perante tal hecatombe. Abraham Kook, que foi o grande rabino asquenaze da Palestina entre 1919 e 1935, explicou que “a diferença entre uma alma de Israel (…) e a alma de todos os não-judeus é maior e mais profunda do que a entre a alma de um homem e um animal”. Ou seja, existem “as almas de Israel” e, a grande distância, praticamente no mesmo patamar mas bem lá no fundo, estão os homens e os animais. Em 1948 foi entregue a Avraham Kook o monopólio dos assuntos civis no recém-nascido Estado “laico” de Israel.
O rabino Ovadia Yussef, que chefiou até à morte, em 2014, o partido governamental sefardita Shass, enriqueceu com numerosas expressões o carácter racista do regime. Uma das mais referências ensina-nos que “Os goyim (termo que designa gentios ou não-judeus) nasceram para nos servir, apenas para servir o povo de Israel; sem isso não deveria haver lugar no mundo”.
Este conceito foi muito recentemente inserido na Constituição Israelita. Como recordou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, “Israel não é um Estado de todos os cidadãos, é um Estado-nação do povo judeu e unicamente do povo judeu”.
A inclusão deste preceito na lei fundamental do Estado sionista é consequência natural do pensamento de Vladimir Jabotinsky, considerado fundador do movimento “revisionista” do sionismo em 1925, corrente que deu origem ao espectro de direita e extrema-direita absolutamente dominante em Israel desde meados dos anos anos noventa do século passado. Jabotinsky, que o próprio Ben Gurion definiu como “fascista”, foi um ucraniano muito bem relacionado ideologicamente e operacionalmente com Mussolini, além de ter sido um inspirador do nacionalismo e do nazismo na Ucrânia tanto entre 1918 e 1920, através da figura de Simon Petliura , um antissemita responsável pela morte de centenas de judeus em pogroms por ele organizados, como comodidade, durante os anos trinta, a ascensão de Stepan Bandera e outros colaboracionistas nazistas que são hoje como figuras de referência do regime filonazi de Kiev.
O secretário pessoal de Jabotinsky foi Benzion Netanyahu, pai do atual primeiro-ministro de Israel. Inspirando o conceito recentemente introduzido na Constituição israelense, aquele que é considerado “o segundo sionista mais importante depois de Herzl”, Vladimir Jabotinsky, definindo que “nação absoluta é um espectro social original, um território contínuo e claramente delimitado desde tempos imemoriais com uma língua original, uma religião autóctone e sem qualquer minoria estrangeira”, formulação que recomenda inequivocamente a realização de limpezas étnicas para purificar o Estado.
Vladimir Jabotinsky defendeu a tese de que “o Estado deve ser constituído pela força e de uma só vez” e, para isso, “não há alternativa: os árabes devem dar lugar aos judeus no Grande Israel”.
Jabotinsky, “pai” da direita israelense no poder e defensor confesso da limpeza étnica, como acabámos de ver, conviveu ideologicamente com o nazifascista alemão Leo Strauss que, uma vez nos Estados Unidos se transformou na referência ideológica dos neoconservadores que atualmente controlam o aparelho político do complexo militar-industrial-tecnológico. O secretário de Estado Anthony Blinken, o conselheiro de Segurança Nacional de Biden, Jake Sullivan, e a secretária adjunta demissionária de Estado, Victoria Nuland, todos eles ferozmente sionistas e envolvidos no golpe de Maidan em Kiev, rastilho da guerra na Ucrânia, são discípulos condenados do fascista Leo Strauss.
Há os sionistas e os animais
Se uma doutrina sionista se caracteriza pela definição de um judaísmo estratificado em camadas, por exemplo desde a “raça pura” asquenaze até às falachas de origem etíope, “a excluir”, podemos deduzir, sem o risco de sermos imprecisos, que os povos árabes , igualmente semitas, são mais do que “impuros” ou inoportunos ocupantes da “Terra de Israel”: o sionismo considera-os como animais a abater – os acontecimentos actuais e as práticas terroristas permanentes ao longo de três quartos de século demonstram-no sem equívocos desde que haja olhos para ver, autorizados, espírito humanista e respeito pelos direitos humanos, de todos os seres humanos.
Ezra Yachin, um veterano terrorista com mais de noventa anos que foi membro do grupo exterminador Lehi, autor de massacres em várias aldeias palestinianas, o mais conhecido dos quais é o de Deir Yassin, em 1948, foi escolhido para exortar os militares encarregados da chacina em curso em Gaza. E disse: “Esses animais não podem continuar a viver; todos os judeus devem empunhar uma arma e matá-los”.
Todos os entes que não são sionistas ou são animais ou andam lá próximos são um dogma da doutrina expansionista e genocida fundado por Herzl. Como vimos, os goyim, os não-judeus, têm uma “alma” mais próxima dos animais do que de uma “alma de Israel”. Existem “para servir os judeus”, especificam figuras proeminentes do regime israelense.
O professor Arnon Soffer, fundador da Universidade Hebraica de Haifa, destacado figura da elite acadêmica sionista e que foi conselheiro de Ariel Sharon na estratégia de confinar os mais de dois milhões de cidadãos de Gaza num campo de concentração a céu aberto, admitiu que as pessoas cercadas nesse território “tornar-se-ão animais mais do que já são hoje”.
O primeiro-ministro Netanyahu chamou-lhes “bestas humanas”, enquanto o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, garantiu que em Gaza “estamos a lutar contra animais humanos e acautelados em conformidade”.
Estas concepções sobre a singularidade de um “povo escolhido” reinando sobre as “almas” restantes do mundo que não foram agraciadas pelo sopro divino percorrem a história do sionismo desde os primórdios e são assumidas por todas as camadas da elite asquenaze – e algumas ortodoxias sefarditas – sejam descendentes direitistas dos “revisionistas” de Jabotinsky, sejam socialistas ou trabalhistas, patrões ou membros da Central Sindical Histadrut.
David Hacoen, proeminente dirigente desta agremiação, estipulou após a sua fundação, no final dos anos vinte do século passado, que “nunca aceitarei árabes no meu sindicato” porque “o sionismo é um sistema de desenvolvimento separado”. O regime segregacionista da África do Sul herdou este conceito como a definição do apartheid.
“Não admito que o cão no estábulo tenha o direito final sobre o estábulo mesmo que nele tenha dormido durante longo tempo”. A frase lapidar é de David Ben Gurion, trabalhista, “laico”, fundador do Estado de Israel e seu primeiro primeiro-ministro.
Esta figura de referência sionista e israelense “não admite” que “as peles vermelhas sofreram uma grande injustiça na América, nem os negros na Austrália. Não admito que tenha sido cometido um erro com esses povos”, insistiu, “porque uma raça mais forte, uma raça de maior qualidade, mais sofisticada, tenha vindo tomar o seu lugar”.
Talvez não haja uma definição única do conceito de limpeza étnica. Isto, porém, deve ser das mais inspiradas e sinceras.
https://strategic-culture.su/news/2024/05/03/o-sionismo-explicado-pelos-sionistas-como-pensa-e-age-a-raca-pura/
15 MAIO - NAKBA PALESTINO - 76 ANOS DE OCUPAÇÃO
Nakba Palestina – 76 anos de ocupação sionista na Palestina
7 meses de genocídio em Gaza
15/05 - 19h - Auditório da FECESC – Av. Mauro Ramos, 1624 – Centro – Florianópolis
Participe! Compartilhe este CONVITE! Somos todos palestinos!
terça-feira, 7 de maio de 2024
A cidade de Rafah será cemitério dos invasores sionistas, e muitas surpresas aguardam o inimigo
Comunicado de imprensa
“O contínuo bombardeamento brutal da cidade é uma tentativa falhada de pressionar a resistência e colocar o nosso povo de joelhos.”
🔴 Frente Popular: A cidade de Rafah será
cemitério dos invasores sionistas, e muitas surpresas aguardam o inimigo.
A Frente Popular para a
Libertação da Palestina confirmou que o anúncio feito, pelo derrotado e covarde
exército inimigo, do início de uma operação de evacuação da população a leste
da cidade de Rafah, coincidindo com um bombardeamento brutal e contínuo que
teve como alvo um grande número de cidadãos e suas casas lotadas de pessoas
deslocadas, surge no quadro da guerra de extermínio em curso contra o nosso
povo na Faixa de Gaza, e uma tentativa miserável de retaliação para subjugar o
nosso povo e quebrar a sua vontade E um meio falhado de pressionar a resistência
a fazer mais concessões.
A Frente sublinhou que o
fracassado inimigo sionista não será capaz, através da pressão militar sobre a
cidade de Rafah, de alcançar quaisquer conquistas no terreno que não sejam mais
matanças, massacres e a destruição sistemática de infraestruturas, e expandir a
gravidade da catástrofe catastrófica da crise humanitária que a cidade sofre a
níveis mais duros e graves, especialmente porque a área de operações incluirá
as travessias de Rafah e Karm Abu.
A Frente responsabilizou
totalmente a administração americana e a comunidade internacional pelos
próximos crimes sionistas a que os civis e as pessoas deslocadas estarão
expostos. Especialmente porque a administração americana está ciente dos planos
da ocupação para Rafah e existe coordenação no mais alto nível entre as duas partes
na gestão deste processo.
A Frente apelou aos apoiantes
do povo palestino em todo o mundo e aos movimentos de solidariedade em todo o
mundo para uma revolta global abrangente e contundente que não se limite às
universidades, mas inclua todos os sindicatos, instituições, comunidades e
movimentos árabes, palestinos e islâmicos para boicotar a ocupação e sair às
praças e ruas e sitiar instituições internacionais e embaixadas de agressão
para enviar mensagens fortes, denunciando a continuação do Holocausto e
pressionando para parar a agressão, especialmente agora dirigida contra civis
indefesos em Rafah.
A Frente concluiu a sua
declaração sublinhando que a cidade de Rafah será, como sempre foi, um cemitério
para os invasores sionistas. A heroica
operação em que a resistência teve como alvo um local militar que alberga o
comando de operações que gera agressão contra Rafah ontem, nada mais é do que
uma mensagem clara da resistência a este inimigo e aos seus líderes covardes de
que muitas surpresas os aguardam e que vocês não escaparão. Não há vitória em Rafah,
encontrarão mais decepção, fracasso
miserável, derrota e um colapso em seu poder de dissuasão.
Frente Popular para a
Libertação da Palestina
Departamento Central de
Informações
6-5-2024
https://pflp.ps/post/24103/
sábado, 4 de maio de 2024
Os defensores de Israel falam tanto sobre sentimentos porque não conseguem falar sobre fatos
Por Caitlin Johns Stone
O Guardian publicou um artigo intitulado “ Os israelenses expressam tristeza e desafio pelos protestos em Gaza nos campi dos EUA ”, com o subtítulo “As pessoas em Jerusalém expressam pouca simpatia pelos manifestantes anti-guerra, com alguns acusando-os de ódio por Israel”.
É exatamente o que parece: uma reportagem inteira sobre os sentimentos que alguns israelenses estão sentindo em relação aos protestos em outro país, do outro lado do mundo. Jason Burke, do The Guardian, perguntou a algumas pessoas aleatórias sobre seus sentimentos do lado de fora de um teatro em Jerusalém e, em seguida, apresentou essa coisa estranha e nada como uma reportagem relevante.
“Não sabíamos que tantas pessoas odiavam Israel”, teria dito algum guarda de segurança aleatório.
“Tais sentimentos parecem generalizados entre a maioria judaica em Israel, sete meses depois da guerra ter sido desencadeada por ataques surpresa lançados pelo Hamas no sul do país, nos quais cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, foram mortas e 250 feitas reféns”, escreve Burke.
“Os judeus israelitas entrevistados pelo Guardian esta semana atribuem a indignação no estrangeiro à desinformação, à ignorância, à hostilidade histórica de instituições internacionais como a ONU, aos 'padrões duplos' globais e ao anti-semitismo arraigado”, informa-nos Burke.
Mas foi exactamente assim que os últimos sete meses têm parecido nos meios de comunicação imperiais: uma fixação ininterrupta nos sentimentos em vez dos factos. Os israelenses estão perturbados com os protestos anti-genocídio. Os judeus ocidentais perturbaram os sentimentos dos manifestantes no campus. Biden perturbou os sentimentos em Netanyahu . Em Outubro passado, a comunicação social imperial subitamente ficou muito menos interessada em informar sobre os factos no terreno com Israel e Gaza, e muito mais interessada em informar sobre como alguns grupos de pessoas se sentem em relação a isso.
Repórteres, especialistas, políticos e funcionários ocidentais não podem parar de falar sobre isto. Os sentimentos dos israelitas e dos judeus ocidentais não só recebem mais importância do que os sentimentos dos palestinianos ou de qualquer outro grupo, como também recebem mais importância do que as vidas palestinas. Algum miúdo sionista que finja sentir-se “ameaçado” num campus da Ivy League terá mais cobertura do que os massacres diários que têm ocorrido na densamente povoada cidade de Rafah.
Assista ao último vídeo de Matt Orfalea sobre o dilúvio de mimos e arrulhos na cobertura mediática que foi dada a um activista sionista que falsamente fingiu ter sido “esfaqueado no olho” por um activista pró-Palestina para ter um bom exemplo deste comportamento:
Israel é a única questão onde a classe política e mediática ocidental trata os sentimentos das pessoas como uma questão de suprema importância.
Se você é um pai solteiro e estressado, lutando para pagar as contas e manter um teto sobre a cabeça dos seus filhos, eles não se importam com seus sentimentos.
Se você é um americano que foi lançado na miséria e na falta de moradia por causa de contas médicas, eles não se importam com seus sentimentos.
Se você é um palestino cujo complexo de apartamentos foi bombardeado com toda a sua família dentro, eles definitivamente não se importam com os seus sentimentos.
Mas se você é um sionista ocidental que não gosta da dissonância cognitiva que surge ao encontrar manifestantes anti-genocídio, ou mesmo se você é um israelense que está chateado com os protestos anti-genocídio em todo outro país do outro lado do planeta, eles estão muito, muito interessados em seus sentimentos.
Isto acontece, naturalmente, porque o apoio incondicional do Ocidente a Israel não pode ser defendido através de factos, pelo que o controlo narrativo precisa de se concentrar num apelo ininterrupto à falácia emocional . A sua posição é tão grosseira e indefensável que tudo o que lhes resta é tagarelar sobre algumas pessoas seleccionadas que têm sentimentos perturbadores e que consideram esses sentimentos mais importantes do que impedir um genocídio activo.
Os propagandistas e gestores de impérios não têm os factos do seu lado e não têm a moralidade do seu lado, por isso tentam manipular puxando os cordelinhos do coração usando simpatia e compaixão. Eles apelam para alguns dos impulsos mais saudáveis dentro de nós, a fim de nos induzir a apoiar algumas das ações mais malignas que o mundo já viu.
O que é uma coisa absolutamente nojenta de se fazer, naturalmente. Mas, novamente, é tudo o que resta a esses dementes.